Das práticas desinformacionais ao regime de desinformação: as narrativas do governo Bolsonaro na pandemia de Covid-19

• Autor(a) principal: Marques, Juliana Ferreira
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFPB
• Texto Completo: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/27112
• topic: CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::CIENCIA DA INFORMACAO; Coronavírus - Bolsonaro; Regime de desinformação; Práticas desinformacionais; Desinfodemia; Disinformation regime; Disinformation practices; Disinfodemy

Permeadas por uma conjuntura informacional que contempla relações humanas e sistemas de inteligência artificial, as redes que se estabelecem nas plataformas sociodigitais operam, na contemporaneidade, sob a influência de um contexto de desinformação. No cenário brasileiro, durante a pandemia de COVID-19, com evidência nos dois primeiros anos, a propagação de informação de forma superficial, descontextualizada, tendenciosa, enganosa, foi uma característica marcante na conduta adotada pelo Governo Federal, sobretudo nas declarações e posturas adotadas pelo Presidente Jair Bolsonaro. Diante deste cenário, foi concebida essa pesquisa, que parte da seguinte questão: De que modo pode ser compreendida a correlação entre as práticas desinformacionais e a perspectiva de constituição de um regime de desinformação associado à pandemia de COVID -19, a partir das entrevistas concedidas pelo Presidente Jair Bolsonaro, entre 2020 e 2022? Esse estudo apresenta a tese de que as categorias de desinformação relacionadas à desinfodemia de COVID -19 e disseminadas pelo Presidente Jair Bolsonaro, entendidas nesse trabalho como práticas desinformacionais, contribuíram para a constituição de um regime de desinformação que, situado no ambiente social da pós-verdade, é caracterizado por um jogo de necropolítica instrumentalizado por uma produção informacional com viés neofascista, voltado à constituição e preservação de uma imagem hiper dimensionada do Presidente Jair Bolsonaro, para escamotear os engodos da gestão federal na saúde e nos âmbitos político-econômico e social, com o emprego de artimanhas estratégicas, possivelmente, para esconder erros na gestão governamental, preservar status ou conquistar apoio popular. Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza como empírica, correlacional, de abordagem qualitativa, com método de análise de conteúdo, a partir do modelo misto de sistematização das categorias. O recorte empírico selecionado versa sobre as categorias de desinformação verificadas pela agência de fact-checking ―Aos Fatos‖, com selo de falso, que integram o especial ―Todas as declarações de Bolsonaro checadas‖, filtradas pela categoria ―Coronavírus‖, e com o rastreio apenas nas entrevistas divulgadas nas plataformas sociodigitais ou coletadas durante atividades públicas nos primeiros dois anos de pandemia. Como resultado, a pesquisa culminou em uma rede conceitual da desinfodemia de COVID-19 no Brasil, perscrutando as práticas desinformacionais utilizadas pelo Presidente Jair Bolsonaro relacionadas ao descrédito de autoridades científicas, às distorções sobre a gravidade da doença, medidas de combate, eficácia de vacinas, indicação de medicamentos e tratamentos sem efeito comprovado, compondo uma desinfodemia e configurando o regime de desinformação brasileiro. Do ponto de vista epistemológico esse estudo oferece novos olhares para dois conceitos da Ciência da Informação: regime de informação e práticas informacionais, na tentativa de adequá-los a um ambiente social no qual a desinformação opera na transformação de estruturas e de noções estabelecidas ao longo do tempo. Além disso, esse conteúdo pode se configurar como um dossiê, que se soma a alguns outros relatórios produzidos por órgãos políticos e judiciários do país, com relatos de negligência e necropolítica praticada no Brasil por meio da desinfodemia de COVID-19.