Entre os riscos e a coragem de dizer a verdade sobre si: os discursos das sobreviventes de estupro a partir da prática da confissão no Facebook

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Nery, Luciana Fernandes
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPB
Texto Completo: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/22645
Resumo: This thesis has as general objective to investigate the dicourses and modes of subjectivation of women, rape survivors, in confession practices on Facebook. Specifically, we intend to: discuss, from Foucault’s Discursive Studies, the conditions of possibility that legitimize this practice of confession; check out how the discourses around the supremacy of the male sexual power affect the female body and contribute to the naturalization/normalization of rape; trace a historical course of rape in Brazil, in order to understand the jurisdictionalization and a institutionalization of certain discourses around this crime; analyze in a public group of the Facebook the parrhesiastic saying of rape survivors and how they constitute themselves while ethical subjects. We used the archegenealogical method to subsidize our analysis, with emphasis in the third phase of Foucault’s work, but also we used theoretical input of Vigarello (1998, 2012); Schritzmyer e Pandjiarjian (1998), Perrot (2019), Corbin; Courtine (2012), and others. Our research is qualitative with a descriptive-interpretative nature. We selected, as corpus, the confessions presented in the Facebook group “The incredible women that will die twice: survivors’ network”. We collected 86 statements ( 26 in the form of comments) and chose for analysis a total of 52, based on regularity and uniqueness of the statements. We also consider the discursive events with the greatest repercussion in the national scene around rape from 2016 to 2020, the laws, statistics data, public policies and campaigns to combat the violence against women. We verified that the practice of survivors’ confession to the rape represents an act of resistance, an ethical practice of liberty. In addition, the parrhesiastic saying through self-writing relate with self-care and the other and it is surrounded by an ethical responsibility that seeks to encourage other women to report their abusers. At the survivors’ confession, we noticed that the way as these subjects are objectified/subjectified are determined by the relationship that they establish with themselves and with the other and by the relationship with the body and with the sexuality. There are in the survivors’ discourses principles of obedience to the government of the other that contribute to the silencing of rape. The analysis of the corpus presented that the predominance of family members among the rapists can be considered a justification for that women do not report the case to the police and also by the preference for anonymity in the Facebook. We concluded that the discursive practice of confession by rape survivors is not just about talking about themselves, but thinking as the act of saying the truth can provoke fissures in a misogynist and sexist society. We hope that our research can contribute to greater visibility of the rape survivors’ confessions and that their voices to be heard.
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Specifically, we intend to: discuss, from Foucault’s Discursive Studies, the conditions of possibility that legitimize this practice of confession; check out how the discourses around the supremacy of the male sexual power affect the female body and contribute to the naturalization/normalization of rape; trace a historical course of rape in Brazil, in order to understand the jurisdictionalization and a institutionalization of certain discourses around this crime; analyze in a public group of the Facebook the parrhesiastic saying of rape survivors and how they constitute themselves while ethical subjects. We used the archegenealogical method to subsidize our analysis, with emphasis in the third phase of Foucault’s work, but also we used theoretical input of Vigarello (1998, 2012); Schritzmyer e Pandjiarjian (1998), Perrot (2019), Corbin; Courtine (2012), and others. Our research is qualitative with a descriptive-interpretative nature. We selected, as corpus, the confessions presented in the Facebook group “The incredible women that will die twice: survivors’ network”. We collected 86 statements ( 26 in the form of comments) and chose for analysis a total of 52, based on regularity and uniqueness of the statements. We also consider the discursive events with the greatest repercussion in the national scene around rape from 2016 to 2020, the laws, statistics data, public policies and campaigns to combat the violence against women. We verified that the practice of survivors’ confession to the rape represents an act of resistance, an ethical practice of liberty. In addition, the parrhesiastic saying through self-writing relate with self-care and the other and it is surrounded by an ethical responsibility that seeks to encourage other women to report their abusers. At the survivors’ confession, we noticed that the way as these subjects are objectified/subjectified are determined by the relationship that they establish with themselves and with the other and by the relationship with the body and with the sexuality. There are in the survivors’ discourses principles of obedience to the government of the other that contribute to the silencing of rape. The analysis of the corpus presented that the predominance of family members among the rapists can be considered a justification for that women do not report the case to the police and also by the preference for anonymity in the Facebook. We concluded that the discursive practice of confession by rape survivors is not just about talking about themselves, but thinking as the act of saying the truth can provoke fissures in a misogynist and sexist society. We hope that our research can contribute to greater visibility of the rape survivors’ confessions and that their voices to be heard.Pró-Reitoria de Pós-graduação da UFPB (PRPG/UFPB)Esta tese tem como objetivo geral investigar os discursos e os modos de subjetivação das mulheres, sobreviventes ao estupro, em práticas da confissão no Facebook. Especificamente, pretendemos: discutir, a partir dos Estudos Discursivos Foucaultianos, as condições de possibilidade que legitimam esta prática da confissão; averiguar como os discursos em torno da supremacia do poder sexual masculino incidem sobre o corpo feminino e contribuem para a naturalização/normalização do estupro; traçar um percurso histórico do estupro no Brasil, a fim de compreender o processo de jurisdicionalização e a institucionalização de determinados discursos em torno deste crime; analisar o dizer parresiástico das sobreviventes de estupro e como elas se constituem enquanto sujeitas éticas. Utilizamos o método arqueogenealógico para subsidiar nossas análises, com ênfase na terceira fase da obra de Foucault, mas também nos servimos do aporte teórico de Vigarello (1998, 2012), Schritzmyer e Pandjiarjian (1998), Perrot (2019), Corbin; Courtine (2012) dentre outros, para discutirmos sobre a história do estupro, os movimentos feministas e o corpo discursivo. Nossa pesquisa é qualitativa de cunho descritivo-interpretativista. Selecionamos, como corpus, as confissões apresentadas no grupo do Facebook “As incríveis mulheres que vão morrer duas vezes: rede de sobreviventes”. Coletamos 86 depoimentos ( 26 em forma de comentário) e elegemos para análise um total de 52, a partir da regularidade e singularidade dos enunciados. Consideramos também os acontecimentos discursivos de maior repercussão no cenário nacional em torno do estupro de 2016 a 2020, assim como as leis, os dados estatísticos, as políticas públicas e as campanhas de enfrentamento à violência contra a mulher. Verificamos que a prática da confissão das sobreviventes ao estupro representa um ato de resistência, uma prática de liberdade ética. Além disso, o dizer parresiástico, através da escrita de si, relaciona-se com o cuidado de si e do outro e está circundado por uma responsabilidade ética, que busca encorajar outras mulheres, para que denunciem os seus agressores. Diante da confissão das sobreviventes, constatamos que os modos como estas sujeitas são objetivadas/subjetivadas são determinados pela relação que estabelecem consigo e com o outro e pela relação com o corpo e com a sexualidade. Há, nos discursos das sobreviventes, princípios de obediência ao governo do outro, que contribuem para a interdição do dizer e, consequentemente, para a ocultação da verdade e silenciamento do estupro. As análises do corpus mostraram que a predominância de familiares entre os estupradores pode ser considerada uma justificativa para que as mulheres não denunciem o caso à polícia e também pela preferência ao anonimato no Facebook. Concluímos que a prática discursiva da confissão das sobreviventes de estupro, não se trata apenas de falar sobre si, mas pensar como o ato de dizer a verdade pode provocar fissuras em uma sociedade misógina e machista. Esperamos que a nossa pesquisa possa contribuir para uma maior visibilidade das confissões das sobreviventes de estupro e que as suas vozes sejam ouvidas.Universidade Federal da ParaíbaBrasilLinguísticaPrograma de Pós-Graduação em LinguísticaUFPBLeite, Maria Regina Baracuhyhttp://lattes.cnpq.br/8282967979790845Nery, Luciana Fernandes2022-04-06T14:19:45Z2022-01-272022-04-06T14:19:45Z2021-09-10info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesishttps://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/22645porAttribution-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPBinstname:Universidade Federal da Paraíba (UFPB)instacron:UFPB2022-04-07T17:15:23Zoai:repositorio.ufpb.br:123456789/22645Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://repositorio.ufpb.br/PUBhttp://tede.biblioteca.ufpb.br:8080/oai/requestdiretoria@ufpb.br|| diretoria@ufpb.bropendoar:2022-04-07T17:15:23Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPB - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)false
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