Geografias do despojo em “estados de guerra” : paradoxos da reparação territorial de campesinos e indígenas na Serra Nevada de Santa Marta – Caribe colombiano

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: BERNAL RESTREPO, Andrés Felipe
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/48427
Resumo: A formação regional do Caribe Colombiano se deu num contexto de interações e relações étnico-rurais, numa estrutura desigual de concentração e mercantilização da terra, resultado da instauração do desenvolvimento do modelo primário exportador neocolonial. Na Colômbia e em vários países latino-americanos, a alternativa de superação da crise das Repúblicas de finais dos anos oitenta e começo dos noventa, causada pelo saque histórico do comércio internacional, se baseio numa ideia de um Estado multicultural do tipo neoliberal. A nova concepção redentora buscou a inclusão legal e política dos grupos tradicionalmente marginalizados dos processos de formação da nação. Na Colômbia isto se materializou na formulação de um amplo catálogo de direitos e mecanismos diferenciais étnicos para sua proteção, mas, ao mesmo tempo, configurou uma série de conflitos e hierarquizações paradoxais entre os diversos grupos e culturas do campo historicamente subalternizados, que favoreceram a consolidação do modelo agrário baseado no latifúndio e a agroindústria definida por uma política econômica neoliberal. Esses paradoxos se agudizariam no complexo cenário de luta pela terra em territórios voláteis pelo conflito armado entre grupos guerrilheiros, traficantes, mercenários contra insurgentes e as forças armadas do Estado. Através de minha experiência como funcionário público no Escritório de Terras do Departamento de Magdalena, das conversas com campesinos/as, indígenas e funcionários/as do escritório, analiso como a reconfiguração do espaço e do sujeito campesino das áreas serranas dos municípios de Fundación e Aracataca na Serra Nevada de Santa Marta (SNSM), resultado dos anos da guerra contra insurgente de meados dos anos noventa, se deu paralelo ao auge de políticas e programas estatais e de organizações internacionais fundamentados nos blocos de direitos diferenciais étnicos do Estado multicultural. Isto facilitou a visibilidade das agendas das demandas territoriais indígenas através da criação de povos indígenas e a compra de terras, mas, paradoxalmente, sobre as realidades das geografias marginalizadas e precárias de famílias campesinas espoliadas e deslocadas forçadamente, em territórios de continuas atualizações da violência nas que os dispositivos da memória da guerra se ativam como papel aniquilador tanto do subjetivo como do coletivo e organizativo. Ditas consequências políticas do não reconhecimento campesino como sujeito especial de direitos que contrastam com o sistema de direitos diferenciais étnicos promovidos pela Constituição Política da Colômbia de 1991, aparecessem no decorrer da política de reparação e restituição de direitos territoriais da Lei 1448 de 2011, estruturando imagens contrapostas entre indígenas e campesinos na SNSM fundamentadas no multiculturalismo neoliberal, que terminaram, por uma parte, negando a reparação territorial e a restituição das terras a um significativo número de famílias campesinas das localidades montanhosas dos municípios de Fundación e Aracataca; e, por outra parte, favorecendo o modelo fundiário de acumulação e concentração da propriedade.
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Na Colômbia e em vários países latino-americanos, a alternativa de superação da crise das Repúblicas de finais dos anos oitenta e começo dos noventa, causada pelo saque histórico do comércio internacional, se baseio numa ideia de um Estado multicultural do tipo neoliberal. A nova concepção redentora buscou a inclusão legal e política dos grupos tradicionalmente marginalizados dos processos de formação da nação. Na Colômbia isto se materializou na formulação de um amplo catálogo de direitos e mecanismos diferenciais étnicos para sua proteção, mas, ao mesmo tempo, configurou uma série de conflitos e hierarquizações paradoxais entre os diversos grupos e culturas do campo historicamente subalternizados, que favoreceram a consolidação do modelo agrário baseado no latifúndio e a agroindústria definida por uma política econômica neoliberal. Esses paradoxos se agudizariam no complexo cenário de luta pela terra em territórios voláteis pelo conflito armado entre grupos guerrilheiros, traficantes, mercenários contra insurgentes e as forças armadas do Estado. Através de minha experiência como funcionário público no Escritório de Terras do Departamento de Magdalena, das conversas com campesinos/as, indígenas e funcionários/as do escritório, analiso como a reconfiguração do espaço e do sujeito campesino das áreas serranas dos municípios de Fundación e Aracataca na Serra Nevada de Santa Marta (SNSM), resultado dos anos da guerra contra insurgente de meados dos anos noventa, se deu paralelo ao auge de políticas e programas estatais e de organizações internacionais fundamentados nos blocos de direitos diferenciais étnicos do Estado multicultural. Isto facilitou a visibilidade das agendas das demandas territoriais indígenas através da criação de povos indígenas e a compra de terras, mas, paradoxalmente, sobre as realidades das geografias marginalizadas e precárias de famílias campesinas espoliadas e deslocadas forçadamente, em territórios de continuas atualizações da violência nas que os dispositivos da memória da guerra se ativam como papel aniquilador tanto do subjetivo como do coletivo e organizativo. Ditas consequências políticas do não reconhecimento campesino como sujeito especial de direitos que contrastam com o sistema de direitos diferenciais étnicos promovidos pela Constituição Política da Colômbia de 1991, aparecessem no decorrer da política de reparação e restituição de direitos territoriais da Lei 1448 de 2011, estruturando imagens contrapostas entre indígenas e campesinos na SNSM fundamentadas no multiculturalismo neoliberal, que terminaram, por uma parte, negando a reparação territorial e a restituição das terras a um significativo número de famílias campesinas das localidades montanhosas dos municípios de Fundación e Aracataca; e, por outra parte, favorecendo o modelo fundiário de acumulação e concentração da propriedade.CNPqLa formación regional del Caribe colombiano se dio en un contexto de interacciones y relaciones de diversos grupos étnico-rurales, en una estructura desigual de concentración y mercantilización de la tierra, resultado de la instauración del desarrollo de un modelo primario exportador neocolonial. En Colombia y latino américa, la alternativa de superación de la crisis de las Repúblicas de finales de los años ochenta y comienzos de los noventa, causada por el saqueo histórico del comercio internacional, se basó en la idea de un Estado multicultural de corte neoliberal. La nueva concepción redentora buscó la inclusión legal y política de los grupos tradicionalmente marginalizados de los procesos formación de la nación. En Colombia, esto se materializó en la formulación de un amplio catálogo de derechos y mecanismos diferenciales étnicos para su protección que, al mismo tiempo, configuró una serie de conflictos y jerarquizaciones paradójicas entre los diversos grupos étnicos y rurales históricamente subalternizados, que terminaron favoreciendo en últimas, la consolidación del modelo agrario basado en la concentración de la tierra y la agroindustria, definida por unas políticas económicas de corte neoliberal. Estas paradojas se agudizarían en el complejo contexto de la lucha por la tierra en territorios volátiles como consecuencia del conflicto armado entre grupos armados de guerrillas, traficantes, mercenarios contrainsurgentes y fuerzas armadas del Estado. A través de mi experiencia como funcionario público de la Oficina de Restitución de Tierras del Departamento del Magdalena y de las charlas con campesinos/as, indígenas, funcionarios/as, analizo como la reconfiguración del espacio y del sujeto campesino de la sierra en los municipios de Fundación y Aracataca, resultado de los años de la guerra contrainsurgente de mediados de los años noventa, se dio paralelo al auge de políticas y programa estatales, así como agendas de organizaciones internacionales, fundamentados en los bloques de derechos diferenciales étnicos del Estado multicultural neoliberal. Lo anterior permitió posicionar las demandas territoriales indígenas a través de la creación de pueblos indígenas y las compras de tierras, paradójicamente, sobre las realidades marginalizadas y precarizadas de las familias campesinas despojadas y desplazadas forzadamente, en territorios de continuas actualizaciones de la violencia en las que los dispositivos de la memoria de la guerra se activan como papel aniquilador tanto de lo subjetivo como en lo colectivo y organizativo. Estas consecuencias políticas del no reconocimiento campesino como sujeto especial de derechos que contrastan con el sistema de derechos diferenciales étnicos promovidos por la Constitución Política de Colombia de 1991, aparecen en el decorrer de la política de reparación y restitución de derechos territoriales de la Ley 1448 de 2011 que terminaría por reforzar esas imágenes contrapuestas entre indígenas y campesinos en la Sierra Nevada de Santa Marta (SNSM) que terminaron, por una parte, negando la restitución de un significativo número de las tierras campesinas; pero, por otra, favoreciendo el modelo y la lógica de acumulación y concentración de la propiedad de las elites locales.porUniversidade Federal de PernambucoPrograma de Pos Graduacao em GeografiaUFPEBrasilAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessGeografiaTerritorialidadeCamponesesIndígenasNevada de Santa Marta, Serra (Colômbia)Geografias do despojo em “estados de guerra” : paradoxos da reparação territorial de campesinos e indígenas na Serra Nevada de Santa Marta – Caribe colombianoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesismestradoreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPETEXTDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdf.txtDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdf.txtExtracted texttext/plain904217https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/48427/4/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Andr%c3%a9s%20Felipe%20Bernal%20Restrepo.pdf.txta738947294bb78e85300bac632f527f2MD54THUMBNAILDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdf.jpgDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1269https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/48427/5/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Andr%c3%a9s%20Felipe%20Bernal%20Restrepo.pdf.jpg8047ab3be3352ac18fbed08cf12b2a4eMD55ORIGINALDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdfDISSERTAÇÃO Andrés Felipe Bernal Restrepo.pdfapplication/pdf8631980https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/48427/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Andr%c3%a9s%20Felipe%20Bernal%20Restrepo.pdf40cb5903aba4fa4d1d464747cfa830f0MD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; 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