Diversidade de habitats, conectividade e impactos humanos em recifes costeiros : uma análise integrada para o Planejamento Espacial Marinho

• Autor(a) principal: SILVEIRA, Camila Brasil Louro da
• Data de Publicação: 2019
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
• Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38011
• topic: Oceanografia; Imagens de satélite; Recifes de coral; MaxEnt; Plataforma continental

O mapeamento da geobiodiversidade é um importante passo no processo de identificação de áreas prioritárias para o manejo e conservação. O sensoriamento remoto (mais especificamente, imagens de satélite) tem sido considerado uma metodologia segura para investigar habitats bentônicos, se calibrado com dados de campo confiáveis. No entanto, a aplicação destas ferramentas para áreas recifais no Atlântico Sul ainda é insuficiente, principalmente em regiões como o Nordeste brasileiro, que acumula limitações financeiras e topográficas para a utilização do sensoriamento remoto no meio marinho (e.g. baixa qualidade ou ausência de dados in situ para calibração, relevo marinho complexo, heterogeneidade de substratos). O complexo recifal de Tamandaré, na APA Costa dos Corais, abriga um mosaico de habitats interconectados, que inclui recifes de coral, gramíneas e manguezais. Em todo o mundo, esses ambientes costeiros sofrem impactos crônicos como poluição, sedimentação e erosão, e uso humano, que podem levar a perda ou transformação do ecossistema. Apesar de sua importância socioeconômica e ecológica, há uma escassez de mapeamento batimétrico e de cobertura dos recifes de Tamandaré e plataforma adjacente. Neste estudo, aplicamos uma abordagem de relativo baixo custo, com técnicas de sensoriamento remoto em diferentes resoluções para mapear os habitats bentônicos da zona costeira e identificar paleocanais e recifes mesofóticos na plataforma continental. Uma cena Worldview-03 (2 metros/pixel) foi utilizada no mapeamento dos habitas do ecossistema recifal, usando classificação supervisionada com o método Vector Machine Classifier e aproximadamente 1500 pontos de verdade de campo (acurácia média = 79%). Esta mesma cena foi utilizada para obter um modelo batimétrico da área e camadas derivativas adicionais (e.g. diversidade de habitats/área, rugosidade). Foi possível identificar áreas de elevada complexidade de habitats, como a atual ZPVM (conhecida como “área fechada”) de Tamandaré (máximo de 14 habitats/0.01km²). Utilizamos também o software MaxEnt para verificar a influência de dezoito variáveis ambientais na distribuição do coral Millepora alcicornis. O modelo resultante (AUC>0.98) revelou fatores ecológicos e topográficos atuantes na distribuição da espécie na região. Mapas de uso (turismo e pesca) mostraram também que além das variáveis ambientais, impactos antrópicos podem definir a presença ou ausência de grandes colônias de Millepora alcicornis nos recifes de Tamandaré, mesmo em uma APA. Adicionalmente, após extensivo processamento, imagens Landsat-8 OLI (30 metros/pixel) foram usadas para detectar feições de fundo na plataforma continental entre Alagoas e Pernambuco. Foi possível visualizar a paisagem marinha em uma área total de 9700 km², em regiões de profundidade média de 45 metros. Detectamos 14 paleocanais nas imagens, 9 dos quais ainda não mapeados por métodos tradicionais. Estes canais são conhecidos como áreas de pesca importantes, com ocorrência de agregações reprodutivas de peixes. Os resultados alcançados evidenciam a complexidade topográfica e ecológica da zona costeira de Tamandaré e plataforma adjacente. Ademais, geram subsídios para o planejamento espacial marinho da APA Costa dos Corais, uma vez que fornecem um mapeamento detalhado da área e a descrição de metodologias e ferramentas avançadas para a obtenção de dados futuros.