Intelectuais à pernambucana : a revista O Lyrio como espaço emancipatório da produção intelectual feminina no Recife (1902-1904)
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Resumo: | O ano de 1902 encerrou-se deixando no ar um doce perfume floral. Numa época em que os discursos fundadores da República, da modernidade e do higienismo se mesclavam na massa orgânica que iria adubar o solo do Brasil, um grupo de mulheres resolveu que aquele era o momento de semear lírios. Era um jardim de ideias com diferentes cores, texturas e odores, versões distintas de um mesmo propósito: abrir espaços de participação e poder para as mulheres na sociedade brasileira da época. No dia 5 de novembro desse ano, o primeiro número d’O Lyrio ganhou vida através da Editora Imprensa Industrial. Mensalmente disponibilizada aos recifenses, a partir do segundo mês, a tarefa de impressão foi dada à tipografia do jornal A Província, que recriou um novo layout para a Revista. A nova marca permaneceu a mesma até junho de 1904, quando o último número saiu do prelo — totalizando 20 edições postas em circulação. Dito isso, o objetivo deste trabalho é entender a Revista enquanto plataforma de promoção de opiniões, exercício literário e espaço de ensaio para propostas e ideias acerca da emancipação intelectual feminina. Tarefa que se justifica, na medida em que, apesar de haver uma produção historiográfica expressiva sobre a inserção das mulheres, os aspectos ligados ao trabalho intelectual ainda carecem de mais investigação — sobretudo enquanto ocupação que contribuiu para a luta de emancipação e conquista de direitos civis femininos. Por essa razão, é crucial analisarmos o processo de escolarização e a coexistente ampliação do mercado editorial voltado para o público feminino. Assim, procuramos descrever a relação entre o aumento no número de leitoras e o alargamento das possibilidades profissionais dadas às mulheres, seja por sua maior instrução, e consequente adesão aos postos antes masculinos, seja pela criação de novas profissões. Para tanto, usufruímos como referencial teórico dos trabalhos de Sérgio Miceli, Michel Foucault, Joan Scott, Michelle Perrot, Alcileide Cabral, Marcus de Carvalho, bem como artigos, teses e dissertações de outros pesquisadores. Diante disso, nossa tese inicial presumia que esse periódico seria a fotografia de um tempo pré-modernista em que as mulheres escavavam o lugar social que seria usufruído, por exemplo, pelas sufragistas dos anos 1920. Felizmente, encontramos um pouco mais do que isso. Pois os textos d’O Lyrio demonstram que os ambientes político, social e cultural que culminaram nas décadas seguintes não só estavam praticamente prontos, como eram resultado de lutas ainda anteriores às daquelas mulheres. |
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Era um jardim de ideias com diferentes cores, texturas e odores, versões distintas de um mesmo propósito: abrir espaços de participação e poder para as mulheres na sociedade brasileira da época. No dia 5 de novembro desse ano, o primeiro número d’O Lyrio ganhou vida através da Editora Imprensa Industrial. Mensalmente disponibilizada aos recifenses, a partir do segundo mês, a tarefa de impressão foi dada à tipografia do jornal A Província, que recriou um novo layout para a Revista. A nova marca permaneceu a mesma até junho de 1904, quando o último número saiu do prelo — totalizando 20 edições postas em circulação. Dito isso, o objetivo deste trabalho é entender a Revista enquanto plataforma de promoção de opiniões, exercício literário e espaço de ensaio para propostas e ideias acerca da emancipação intelectual feminina. Tarefa que se justifica, na medida em que, apesar de haver uma produção historiográfica expressiva sobre a inserção das mulheres, os aspectos ligados ao trabalho intelectual ainda carecem de mais investigação — sobretudo enquanto ocupação que contribuiu para a luta de emancipação e conquista de direitos civis femininos. Por essa razão, é crucial analisarmos o processo de escolarização e a coexistente ampliação do mercado editorial voltado para o público feminino. Assim, procuramos descrever a relação entre o aumento no número de leitoras e o alargamento das possibilidades profissionais dadas às mulheres, seja por sua maior instrução, e consequente adesão aos postos antes masculinos, seja pela criação de novas profissões. Para tanto, usufruímos como referencial teórico dos trabalhos de Sérgio Miceli, Michel Foucault, Joan Scott, Michelle Perrot, Alcileide Cabral, Marcus de Carvalho, bem como artigos, teses e dissertações de outros pesquisadores. Diante disso, nossa tese inicial presumia que esse periódico seria a fotografia de um tempo pré-modernista em que as mulheres escavavam o lugar social que seria usufruído, por exemplo, pelas sufragistas dos anos 1920. Felizmente, encontramos um pouco mais do que isso. Pois os textos d’O Lyrio demonstram que os ambientes político, social e cultural que culminaram nas décadas seguintes não só estavam praticamente prontos, como eram resultado de lutas ainda anteriores às daquelas mulheres.CNPqThe year of 1902 ended with a sweet floral scent in the air. At a time when the Republic's founding speeches, of modernity and of hygienism were mixed in the organic mass that would fertilize the soil of Brazil, a group of women decided that this was the time to sow lilies. It was a garden of ideas with different colors, textures and scents, different versions of the same purpose: to open spaces of participation and power for women in the Brazilian society of the time. On November 5 of that year, the first issue of O Lyrio came to life through Editora Imprensa Industrial. Monthly available to the residents of Recife, from the second month on, the printing task was given to the typography of the newspaper A Província, which recreated a new layout for the magazine. The new brand remained the same until June 1904, when the last issue came out of print - totaling 20 issues put into circulation. With that said, the objective of this work is to understand the Magazine as a platform for the promotion of opinions, a literary exercise and an essay space for proposals and ideas about female intellectual emancipation. Task that is justified, inasmuch as, despite there being an expressive historiographical production on the insertion of women, aspects related to intellectual work still need further investigation - especially as an occupation that contributed to the struggle for emancipation and the conquest of women's civil rights. For this reason, it is crucial to analyze the schooling process and the coexistent expansion of the editorial market aimed at the female audience. That way, we seek to describe the relationship between the increase in the number of readers and the widening of the professional possibilities given to women, either for his greater education, and consequent adherence to formerly male positions, or for the creation of new professions. For that, we used as theoretical reference of the works of Sérgio Miceli, Michel Foucault, Joan Scott, Michelle Perrot, Alcileide Cabral, Marcus de Carvalho, as well as articles, theses and dissertations by other researchers. Finally, our initial thesis assumed that this journal would be a photograph of a pre-modernist time in which women excavated the social place that would be enjoyed, for example, by the suffragettes of the 1920s. Fortunately, we found a little more than that. Because the texts of O Lyrio demonstrate that the political, social and cultural environments that culminated in the following decades were not only practically ready, as they were the result of struggles even before those women.porUniversidade Federal de PernambucoPrograma de Pos Graduacao em HistoriaUFPEBrasilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessPernambuco – HistóriaMulheres – HistóriaMulheres intelectuais – Recife (PE) – Séc. XXPeriódicos brasileiros – Recife (PE) – Séc. XXIntelectuais à pernambucana : a revista O Lyrio como espaço emancipatório da produção intelectual feminina no Recife (1902-1904)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesismestradoreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPEORIGINALDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdfDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdfapplication/pdf1892265https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39813/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Gilv%c3%a2nia%20C%c3%a2ndida%20da%20Silva.pdffb3f91b5507e0c0e54558e3bd892fbaaMD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; charset=utf-8811https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39813/2/license_rdfe39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34MD52LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-82310https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39813/3/license.txtbd573a5ca8288eb7272482765f819534MD53TEXTDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdf.txtDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdf.txtExtracted texttext/plain300301https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39813/4/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Gilv%c3%a2nia%20C%c3%a2ndida%20da%20Silva.pdf.txt53a6481be48ed2912255a48a4e1fd566MD54THUMBNAILDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdf.jpgDISSERTAÇÃO Gilvânia Cândida da Silva.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1223https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39813/5/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Gilv%c3%a2nia%20C%c3%a2ndida%20da%20Silva.pdf.jpg94b044d3025ddd5ea0eb11760de8f0e9MD55123456789/398132021-04-21 02:13:57.986oai:repositorio.ufpe.br:123456789/39813TGljZW7Dp2EgZGUgRGlzdHJpYnVpw6fDo28gTsOjbyBFeGNsdXNpdmEKClRvZG8gZGVwb3NpdGFudGUgZGUgbWF0ZXJpYWwgbm8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgKFJJKSBkZXZlIGNvbmNlZGVyLCDDoCBVbml2ZXJzaWRhZGUgRmVkZXJhbCBkZSBQZXJuYW1idWNvIChVRlBFKSwgdW1hIExpY2Vuw6dhIGRlIERpc3RyaWJ1acOnw6NvIE7Do28gRXhjbHVzaXZhIHBhcmEgbWFudGVyIGUgdG9ybmFyIGFjZXNzw612ZWlzIG9zIHNldXMgZG9jdW1lbnRvcywgZW0gZm9ybWF0byBkaWdpdGFsLCBuZXN0ZSByZXBvc2l0w7NyaW8uCgpDb20gYSBjb25jZXNzw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhIG7Do28gZXhjbHVzaXZhLCBvIGRlcG9zaXRhbnRlIG1hbnTDqW0gdG9kb3Mgb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgYXV0b3IuCl9fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fX19fXwoKTGljZW7Dp2EgZGUgRGlzdHJpYnVpw6fDo28gTsOjbyBFeGNsdXNpdmEKCkFvIGNvbmNvcmRhciBjb20gZXN0YSBsaWNlbsOnYSBlIGFjZWl0w6EtbGEsIHZvY8OqIChhdXRvciBvdSBkZXRlbnRvciBkb3MgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMpOgoKYSkgRGVjbGFyYSBxdWUgY29uaGVjZSBhIHBvbMOtdGljYSBkZSBjb3B5cmlnaHQgZGEgZWRpdG9yYSBkbyBzZXUgZG9jdW1lbnRvOwpiKSBEZWNsYXJhIHF1ZSBjb25oZWNlIGUgYWNlaXRhIGFzIERpcmV0cml6ZXMgcGFyYSBvIFJlcG9zaXTDs3JpbyBJbnN0aXR1Y2lvbmFsIGRhIFVGUEU7CmMpIENvbmNlZGUgw6AgVUZQRSBvIGRpcmVpdG8gbsOjbyBleGNsdXNpdm8gZGUgYXJxdWl2YXIsIHJlcHJvZHV6aXIsIGNvbnZlcnRlciAoY29tbyBkZWZpbmlkbyBhIHNlZ3VpciksIGNvbXVuaWNhciBlL291IGRpc3RyaWJ1aXIsIG5vIFJJLCBvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZSAoaW5jbHVpbmRvIG8gcmVzdW1vL2Fic3RyYWN0KSBlbSBmb3JtYXRvIGRpZ2l0YWwgb3UgcG9yIG91dHJvIG1laW87CmQpIERlY2xhcmEgcXVlIGF1dG9yaXphIGEgVUZQRSBhIGFycXVpdmFyIG1haXMgZGUgdW1hIGPDs3BpYSBkZXN0ZSBkb2N1bWVudG8gZSBjb252ZXJ0w6otbG8sIHNlbSBhbHRlcmFyIG8gc2V1IGNvbnRlw7pkbywgcGFyYSBxdWFscXVlciBmb3JtYXRvIGRlIGZpY2hlaXJvLCBtZWlvIG91IHN1cG9ydGUsIHBhcmEgZWZlaXRvcyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBwcmVzZXJ2YcOnw6NvIChiYWNrdXApIGUgYWNlc3NvOwplKSBEZWNsYXJhIHF1ZSBvIGRvY3VtZW50byBzdWJtZXRpZG8gw6kgbyBzZXUgdHJhYmFsaG8gb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgZGV0w6ltIG8gZGlyZWl0byBkZSBjb25jZWRlciBhIHRlcmNlaXJvcyBvcyBkaXJlaXRvcyBjb250aWRvcyBuZXN0YSBsaWNlbsOnYS4gRGVjbGFyYSB0YW1iw6ltIHF1ZSBhIGVudHJlZ2EgZG8gZG9jdW1lbnRvIG7Do28gaW5mcmluZ2Ugb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgb3V0cmEgcGVzc29hIG91IGVudGlkYWRlOwpmKSBEZWNsYXJhIHF1ZSwgbm8gY2FzbyBkbyBkb2N1bWVudG8gc3VibWV0aWRvIGNvbnRlciBtYXRlcmlhbCBkbyBxdWFsIG7Do28gZGV0w6ltIG9zIGRpcmVpdG9zIGRlCmF1dG9yLCBvYnRldmUgYSBhdXRvcml6YcOnw6NvIGlycmVzdHJpdGEgZG8gcmVzcGVjdGl2byBkZXRlbnRvciBkZXNzZXMgZGlyZWl0b3MgcGFyYSBjZWRlciDDoApVRlBFIG9zIGRpcmVpdG9zIHJlcXVlcmlkb3MgcG9yIGVzdGEgTGljZW7Dp2EgZSBhdXRvcml6YXIgYSB1bml2ZXJzaWRhZGUgYSB1dGlsaXrDoS1sb3MgbGVnYWxtZW50ZS4gRGVjbGFyYSB0YW1iw6ltIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGN1am9zIGRpcmVpdG9zIHPDo28gZGUgdGVyY2Vpcm9zIGVzdMOhIGNsYXJhbWVudGUgaWRlbnRpZmljYWRvIGUgcmVjb25oZWNpZG8gbm8gdGV4dG8gb3UgY29udGXDumRvIGRvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZTsKZykgU2UgbyBkb2N1bWVudG8gZW50cmVndWUgw6kgYmFzZWFkbyBlbSB0cmFiYWxobyBmaW5hbmNpYWRvIG91IGFwb2lhZG8gcG9yIG91dHJhIGluc3RpdHVpw6fDo28gcXVlIG7Do28gYSBVRlBFLCBkZWNsYXJhIHF1ZSBjdW1wcml1IHF1YWlzcXVlciBvYnJpZ2HDp8O1ZXMgZXhpZ2lkYXMgcGVsbyByZXNwZWN0aXZvIGNvbnRyYXRvIG91IGFjb3Jkby4KCkEgVUZQRSBpZGVudGlmaWNhcsOhIGNsYXJhbWVudGUgbyhzKSBub21lKHMpIGRvKHMpIGF1dG9yIChlcykgZG9zIGRpcmVpdG9zIGRvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZSBlIG7Do28gZmFyw6EgcXVhbHF1ZXIgYWx0ZXJhw6fDo28sIHBhcmEgYWzDqW0gZG8gcHJldmlzdG8gbmEgYWzDrW5lYSBjKS4KRepositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufpe.br/oai/requestattena@ufpe.bropendoar:22212021-04-21T05:13:57Repositório Institucional da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)false |
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