“Do sítio sim, besta não!”: reciprocidade, dons e lutas simbólicas em jogo no turismo em Areia, Paraíba-Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: OLIVEIRA, Josilene Ribeiro de
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
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Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/32089
Resumo: O tema da presente tese são as lutas simbólicas entre citadinos e sitiantes, no contexto de reelaboração da ruralidade. O objetivo geral é analisar o processo de ressignificação das práticas camponesas a partir da participação dos sitiantes no desenvolvimento do turismo no município de Areia, na Paraíba. A pesquisa qualitativa tem caráter eminentemente etnográfico, privilegiando a observação das relações sociais na Comunidade Chã de Jardim e as estratégias de reconversão dos sitiantes. Os dados foram produzidos e coletados por meio da observação e de entrevistas semidirigidas ou dirigidas, realizadas com as artesãs, os trabalhadores do Restaurante Rural Vó Maria, os membros da Adesco, os empreendedores de turismo, em Areia, e os representantes das instâncias intermediárias – papel ocupado por entidades como o Senar, o Sebrae, a PBTur, o Cooperar, a Atura, dentre outras implicadas na formatação do turismo no espaço rural. Complementarmente, realizou-se uma pesquisa exploratória junto aos clientes do Restaurante, por meio de questionários e do acompanhamento de excursões, o que permitiu traçar um perfil e identificar as demandas do público consumidor. A análise articula categorias nativas e analíticas, mantendo em perspectiva as trocas simbólicas entre os sitiantes e os outros agentes. As solidariedades e os jogos de interesse que marcam as relações entre eles são tratados a partir da teoria da dádiva, de Marcel Mauss, da sociologia da dominação, de Pierre Bourdieu, e da noção de reciprocidade hierárquica de Marcos Lanna. Defende-se a tese que a participação dos sitiantes na produção da oferta turística viabiliza-se por meio de alianças, nos planos interno e externo, estabelecidas com base na troca de dons, seguindo o princípio da reciprocidade hierárquica. Por um lado, as trocas de dádivas com outros agentes tendem a promover o reconhecimento social e elevar a autoestima dos sitiantes; e, por outro lado, tendem a gerar diferenciação interna e novas hierarquias, naturalizando a subordinação e a dominação simbólica dos empregados aos patrões. Desse modo, as lutas simbólicas são compreendidas como lutas cotidianas por reconhecimento e dignidade, que visam à superação do processo de inferiorização e invisibilidade às quais os sitiantes e outros grupos mal posicionados no espaço social são submetidos na relação com as classes dominantes. Por muito tempo “invisibilizadas”, essas lutas só puderam ganhar a cena a partir da implantação de políticas públicas de enfrentamento à pobreza rural, do estímulo à educação no campo e de ações de desenvolvimento rural, que, além de elevar as condições de vida da população rural, permitiram a emergência e o fortalecimento de lideranças locais. Longe de ser um movimento em sentido único, que resulte em uma verdadeira reestruturação das posições no espaço social, as solidariedades e lutas observadas entre os agentes revelam-se um processo complexo e ambíguo, pleno de contradições, dentro do qual se estabelecem diferentes níveis de reciprocidade, seja dentro do microssistema comunitário, sejam nas trocas entre os sitiantes e os empreendedores do município, as instâncias intermediárias ou os consumidores, formando o que poderia ser considerado um circuito ampliado de circulação de dádivas no mercado turístico no Brejo Paraibano.
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Os dados foram produzidos e coletados por meio da observação e de entrevistas semidirigidas ou dirigidas, realizadas com as artesãs, os trabalhadores do Restaurante Rural Vó Maria, os membros da Adesco, os empreendedores de turismo, em Areia, e os representantes das instâncias intermediárias – papel ocupado por entidades como o Senar, o Sebrae, a PBTur, o Cooperar, a Atura, dentre outras implicadas na formatação do turismo no espaço rural. Complementarmente, realizou-se uma pesquisa exploratória junto aos clientes do Restaurante, por meio de questionários e do acompanhamento de excursões, o que permitiu traçar um perfil e identificar as demandas do público consumidor. A análise articula categorias nativas e analíticas, mantendo em perspectiva as trocas simbólicas entre os sitiantes e os outros agentes. As solidariedades e os jogos de interesse que marcam as relações entre eles são tratados a partir da teoria da dádiva, de Marcel Mauss, da sociologia da dominação, de Pierre Bourdieu, e da noção de reciprocidade hierárquica de Marcos Lanna. Defende-se a tese que a participação dos sitiantes na produção da oferta turística viabiliza-se por meio de alianças, nos planos interno e externo, estabelecidas com base na troca de dons, seguindo o princípio da reciprocidade hierárquica. Por um lado, as trocas de dádivas com outros agentes tendem a promover o reconhecimento social e elevar a autoestima dos sitiantes; e, por outro lado, tendem a gerar diferenciação interna e novas hierarquias, naturalizando a subordinação e a dominação simbólica dos empregados aos patrões. Desse modo, as lutas simbólicas são compreendidas como lutas cotidianas por reconhecimento e dignidade, que visam à superação do processo de inferiorização e invisibilidade às quais os sitiantes e outros grupos mal posicionados no espaço social são submetidos na relação com as classes dominantes. Por muito tempo “invisibilizadas”, essas lutas só puderam ganhar a cena a partir da implantação de políticas públicas de enfrentamento à pobreza rural, do estímulo à educação no campo e de ações de desenvolvimento rural, que, além de elevar as condições de vida da população rural, permitiram a emergência e o fortalecimento de lideranças locais. Longe de ser um movimento em sentido único, que resulte em uma verdadeira reestruturação das posições no espaço social, as solidariedades e lutas observadas entre os agentes revelam-se um processo complexo e ambíguo, pleno de contradições, dentro do qual se estabelecem diferentes níveis de reciprocidade, seja dentro do microssistema comunitário, sejam nas trocas entre os sitiantes e os empreendedores do município, as instâncias intermediárias ou os consumidores, formando o que poderia ser considerado um circuito ampliado de circulação de dádivas no mercado turístico no Brejo Paraibano.The theme of this thesis is the symbolic battles between towns people and ‘peasants’ in the context of the re-elaboration of rurality. The general aim is to analyze the reinterpretation process of countryside practices by the 'peasants' participation in the tourism development in the city of Areia - state of Paraíba. The qualitative research has an eminently ethnographic character, focusing on the observation of social relations in the Chã de Jardim Community and the small landowners reconversion strategies. The data were produced and collected through observation and structured and semi-structured interviews with craftsmen, workers of the Restaurante Rural Vó Maria, members of Adesco, tourism entrepreneurs in Areia, and representatives of intermediary bodies - a role played by entities such as Senar, Sebrae, PBTur, Cooperar, Atura, among others involved in modelling the tourism in rural areas. In addition, an exploratory survey was carried out among the customers of the restaurant through questionnaires and by monitoring excursions, which allowed to draw a profile and identify the demands of the consumers. The analysis links “native” (produced by the people studied) and analytical categories, keeping in perspective the symbolic exchanges between the small landowners and the other agents. The solidarities and games of interest which mark the relations between them, at the micro and macro social levels, are discussed by the theory of the gift of Marcel Mauss, the sociology of domination of Pierre Bourdieu, and the notion of hierarchical reciprocity of Marcos Lanna. This study defends the thesis that the participation of the small landowners in the production of the tourist offer is made possible by means of alliances at the internal and external level, established on the basis of the exchange of gifts, following the principle of hierarchical reciprocity. On the one hand, the exchanges of gifts with other agents tend to promote social recognition and raise the self-esteem of the small landowners; and, on the other hand, it generates internal differentiation and new hierarchies, “naturalizing” the subordination and symbolic domination of the employees towards their peasant bosses. In this sense, the symbolic battles are understood as daily struggles for recognition and dignity, aiming to overcome the process of inferiorization and invisibility to which 'peasants' and other groups, poorly placed in the social space, are submitted in their relationship with the dominant classes. For a long time "kept invisible", these struggles could only emerge through the implementation of public policies to confront rural poverty, stimulating rural education and rural development actions, which, in addition to improving the living conditions of the rural population, allowed the emergence and the strengthening of local leaderships. Far from being a one-directional movement that results in a real restructuring of positions in the social space, the observed solidarities and battles between the agents reveal themselves as a complex and ambiguous process, full of contradictions in which different levels of reciprocity are established, whether within the community microsystem or in the exchanges between the ‘peasants’ and the town entrepreneurs, the intermediary bodies or the consumers, forming what could be considered an extended circuit of circulation of gifts in the tourism market in Brejo Paraibano.porUniversidade Federal de PernambucoPrograma de Pos Graduacao em SociologiaUFPEBrasilAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessSociologiaTurismo ruralTurismo – Aspectos econômicosTurismo – Aspectos religiososCultura e turismoRelações culturaisDominaçãoTrocas simbólicasPráticas culturais“Do sítio sim, besta não!”: reciprocidade, dons e lutas simbólicas em jogo no turismo em Areia, Paraíba-Brasilinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisdoutoradoreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPETHUMBNAILTESE Josilene Ribeiro de Oliveira.pdf.jpgTESE Josilene Ribeiro de Oliveira.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1923https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/32089/5/TESE%20Josilene%20Ribeiro%20de%20Oliveira.pdf.jpg33e12d30e86e7a28c1743043aea3d555MD55ORIGINALTESE Josilene Ribeiro de Oliveira.pdfTESE Josilene Ribeiro de Oliveira.pdfapplication/pdf5795701https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/32089/1/TESE%20Josilene%20Ribeiro%20de%20Oliveira.pdfc8be449debd92a91a359b49f2f743d50MD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; 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