Quando a vida teima a persistência : uma etnografia com mulheres sobreviventes da prisão no sertão
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Data de Publicação: | 2023 |
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Texto Completo: | https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/55770 |
Resumo: | Esta tese se constitui enquanto uma etnografia prisional, que se edifica a partir do seguinte questionamento: Como as experiências de mulheres sobreviventes do cárcere podem friccionar os circuitos violentos e desumanizantes de tais instituições? Para tanto, o principal terreno aqui investigado foi uma Cadeia Pública Feminina, localizada no sertão pernambucano. A instituição, mesmo depois de ter passado por uma recente reforma, ainda se configura enquanto uma estrutura punitiva improvisada, que longe de se assemelhar às grandes fortalezas prisionais de segurança máxima, traz consigo as marcas da precariedade de um espaço que parece mais uma prisão em forma de cortiço, um cortiço-prisão, como nomeia Santos (2018). Apesar deste ser o principal sítio para a colheita dos dados aqui salientados, essa pesquisa também aposta no entendimento de que o cárcere é um espaço produzido a partir de uma relação porosa, que descortina a ideia de um total isolamento entre o mundo de dentro com o mundo de fora, pois a prisão também está nas comunidades empobrecidas, nos procedimentos de controle sobre territórios de circulação e recreação negra, no estabelecimento de metas de aprisionamentos da polícia a partir da constituição de indivíduos puníveis. Ela está na cooptação daquela infância que desde cedo tem de aprender certas regras do jogo, no ventre de um bebê prestes a nascer do outro lado da grade e também na constituição das histórias dessas tantas mulheres que cruzei em momentos distintos das minhas incursões nesse campo. Na confluência entre duas importantes técnicas de pesquisa (história de vida e observação-participante), pude durante os anos de 2015, 2017 e 2021, acompanhar mais de perto os roteiros que organizaram a vida de quatro mulheres: Socorro, Fátima, Maria e Carolina. Nem todas estavam ali posicionadas desde o lugar de “presas”, mas todas tiveram o encarceramento como um circuito de amplificação das suas formas de sofrer. Pretas ou pardas, pobres, trabalhadoras, mães ou filhas, jovens e adultas, sonhadoras, mulheres que em sua grande maioria, mataram o tempo ocioso da tranca, para seguir vivendo depois dela. Nem todas escaparam. Nessa peça que articula o fim do mundo e o seu adiamento, a sobrevivência prisional se mostrou um importante mecanismo de preservação da vida durante a passagem pela reclusão, pois se intersecta a uma política de reconstrução de mundo que se ancora na constatação primeira de que para vencer a guerra é preciso antes de tudo estar vivo. Muitas são as táticas que se acoplam à produção de tal categoria, que a partir de uma teimosa ética da persistência e continuidade, faz com que indivíduos e comunidades resistam, mesmo quando todas as forças pedem o contrário, sendo a vida aquilo que possibilita uma vingança da morte através dela mesma. |
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SANTOS, Laerte de Paula Borgeshttp://lattes.cnpq.br/2100750501780323http://lattes.cnpq.br/9817218308880476NASCIMENTO, Luis Felipe Rios do2024-04-09T13:28:44Z2024-04-09T13:28:44Z2023-12-20SANTOS, Laerte de Paula Borges. Quando a vida teima a persistência: uma etnografia com mulheres sobreviventes da prisão no sertão. 2023. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2023.https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/55770ark:/64986/0013000005f34Esta tese se constitui enquanto uma etnografia prisional, que se edifica a partir do seguinte questionamento: Como as experiências de mulheres sobreviventes do cárcere podem friccionar os circuitos violentos e desumanizantes de tais instituições? Para tanto, o principal terreno aqui investigado foi uma Cadeia Pública Feminina, localizada no sertão pernambucano. A instituição, mesmo depois de ter passado por uma recente reforma, ainda se configura enquanto uma estrutura punitiva improvisada, que longe de se assemelhar às grandes fortalezas prisionais de segurança máxima, traz consigo as marcas da precariedade de um espaço que parece mais uma prisão em forma de cortiço, um cortiço-prisão, como nomeia Santos (2018). Apesar deste ser o principal sítio para a colheita dos dados aqui salientados, essa pesquisa também aposta no entendimento de que o cárcere é um espaço produzido a partir de uma relação porosa, que descortina a ideia de um total isolamento entre o mundo de dentro com o mundo de fora, pois a prisão também está nas comunidades empobrecidas, nos procedimentos de controle sobre territórios de circulação e recreação negra, no estabelecimento de metas de aprisionamentos da polícia a partir da constituição de indivíduos puníveis. Ela está na cooptação daquela infância que desde cedo tem de aprender certas regras do jogo, no ventre de um bebê prestes a nascer do outro lado da grade e também na constituição das histórias dessas tantas mulheres que cruzei em momentos distintos das minhas incursões nesse campo. Na confluência entre duas importantes técnicas de pesquisa (história de vida e observação-participante), pude durante os anos de 2015, 2017 e 2021, acompanhar mais de perto os roteiros que organizaram a vida de quatro mulheres: Socorro, Fátima, Maria e Carolina. Nem todas estavam ali posicionadas desde o lugar de “presas”, mas todas tiveram o encarceramento como um circuito de amplificação das suas formas de sofrer. Pretas ou pardas, pobres, trabalhadoras, mães ou filhas, jovens e adultas, sonhadoras, mulheres que em sua grande maioria, mataram o tempo ocioso da tranca, para seguir vivendo depois dela. Nem todas escaparam. Nessa peça que articula o fim do mundo e o seu adiamento, a sobrevivência prisional se mostrou um importante mecanismo de preservação da vida durante a passagem pela reclusão, pois se intersecta a uma política de reconstrução de mundo que se ancora na constatação primeira de que para vencer a guerra é preciso antes de tudo estar vivo. Muitas são as táticas que se acoplam à produção de tal categoria, que a partir de uma teimosa ética da persistência e continuidade, faz com que indivíduos e comunidades resistam, mesmo quando todas as forças pedem o contrário, sendo a vida aquilo que possibilita uma vingança da morte através dela mesma.FACEPEThis thesis is a prison ethnography, based on the following question: How can the experiences of women who have survived imprisonment disrupt the violent and dehumanizing circuits of these institutions? To this end, the main site investigated here was a Women's Public Prison, located in the Pernambuco hinterland. The institution, even after undergoing a recent renovation, is still a makeshift punitive structure, which far from resembling the great maximum security prison fortresses, bears the marks of precariousness of a space that looks more like a tenement prison, a tenement-prison, as Santos (2018) calls it. Although this is the main site for collecting the data highlighted here, this research is also based on the understanding that the prison is a space produced from a porous relationship, which reveals the idea of total isolation between the world inside and the world outside, because the prison is also in impoverished communities, in the control procedures over territories of circulation and black recreation, in the establishment of police imprisonment targets based on the constitution of punishable individuals. It is in the co-optation of that childhood that has to learn certain rules of the game from an early age, in the womb of a baby about to be born on the other side of the fence and also in the constitution of the stories of so many women I came across during different moments of my incursions into this field. At the confluence of two important research techniques (life history and participant observation), during 2015, 2017 and 2022, I was able to take a closer look at the scripts that organized the lives of four women: Socorro, Fátima, Maria and Carolina. Not all of them were positioned there as "prisoners", but they all had incarceration as a circuit that amplified their ways of suffering. Black or brown, poor, workers, mothers or daughters, young and old, dreamers, women who, for the most part, killed the idle time of the lockup in order to continue living afterwards. Not all of them escaped. In this play that articulates the end of the world and its postponement, prison survival has proved to be an important mechanism for preserving life during the passage through confinement, as it intersects with a policy of reconstruction that is anchored in the first realization that it is necessary to stay alive. There are many tactics involved in the production of this category, which, based on an ethic of stubborn persistence and continuity, enables individuals and communities to resist, even when all forces call for the opposite, with life being what makes it possible to avenge death through itself.porUniversidade Federal de PernambucoPrograma de Pos Graduacao em PsicologiaUFPEBrasilAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessPsicologiaPrisõesSobrevivênciaRaçasGêneroSertãoQuando a vida teima a persistência : uma etnografia com mulheres sobreviventes da prisão no sertãoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisdoutoradoreponame:Repositório Institucional da UFPEinstname:Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)instacron:UFPELICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-82362https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/55770/3/license.txt5e89a1613ddc8510c6576f4b23a78973MD53ORIGINALTESE Laerte de Paula Borges Santos.pdfTESE Laerte de Paula Borges Santos.pdfapplication/pdf1524907https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/55770/1/TESE%20Laerte%20de%20Paula%20Borges%20Santos.pdfe0b946d1ca668af2e74a614295af678cMD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; 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