Os contextos de uso do crack: representações e práticas sociais entre usuários

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: ACIOLI NETO, Manoel Lima
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPE
dARK ID: ark:/64986/00130000085ks
Texto Completo: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10316
Resumo: O objetivo desse estudo foi compreender contextos de uso do crack, a partir da análise das práticas e representações sociais relacionadas, buscando o modo como se constroem nas redes interacionais de seus usuários. Para tanto, foram realizadas entrevistas entre 14 usuários de diferentes contextos e padrões de consumo. O consumo de crack é atualmente um tema de ampla repercussão pública, tratado como um problema social grave que necessita de intervenções urgentes. A ênfase dada ao problema é remetida a um determinismo farmacológico, responsável pela produção de efeitos individuais e sociais diversos, tais como a dependência e o envolvimento com a criminalidade, existindo poucas discussões acerca dos aspectos sociais e culturais envolvidos no fenômeno do consumo. As concepções predominantes sobre o assunto situam que o usuário da substância tende a perder o controle do consumo, voltando-se à compulsão de usá-la, desvinculando-se de suas atividades cotidianas, com prejuízos profissionais e pessoais, além de perda do contato com seus grupos sociais de pertença. Esses efeitos têm sido atribuídos à fissura que a droga pode provocar no usuário, considerada um fator crítico para o desenvolvimento do uso compulsivo e da dependência. Os dados foram analisados através de análise temática de conteúdo e sugerem que as representações encontradas nesses contextos situavam o crack como droga da destruição, responsável pelo fracasso de planos de vida, desconstrução familiar, carreira profissional, etc. Esse aspecto destruidor apareceu também no modo de consumir a droga, que implicava em episódios de ingestão intensa, com deterioração orgânica e prejuízos para a saúde. As práticas de cuidado no consumo se tornavam despercebidas, apesar de presentes, somente sendo focalizado o caráter nocivo da experiência. Diante dessa concepção, a dependência foi apresentada como um reforçador desse modo de lidar com a droga. Ao afirmar que se encontrava doente, dependente do crack, o usuário demonstrava não ter mais preocupações em mediar o consumo, tornando-se “escravo” da droga. Contudo, a experiência do consumo era sempre mediada por algum tipo de controle, mesmo quando o usuário considerava que a droga havia tomado conta de seu ser. Assim sendo, perante essa compreensão da dependência, os usuários consideravam que o envolvimento com a criminalidade era uma consequência do consumo do crack. Nesse âmbito, apesar dos usuários não se limitarem a realizar escolhas diante dessa ética do crime, as representações hegemônicas partilhadas em seus contextos de uso remetem essas características como verdades sobre o crack. Dessa forma, mesmo vivenciando outras experiências com a droga, acreditam que seu uso remete ao âmbito do prazer destrutivo, da impossibilidade de ação voluntária, na encarnação de uma figura de repulsa. As normas sociais vigentes na informalidade desses campos convocam os usuários a se tornarem dependentes, criminosos, incapazes de construir planos de vida. Nesse âmbito, os padrões de controle devem ser evidenciados, pois foram unânimes entre os usuários. A tendência a se destacar os padrões de consumo, demarcando limites de uso, que situam usuários como controlados ou compulsivos, termina por não atentar para a existência de controles sociais mediadores da relação com o crack.
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