Biologia da conservação do Bicudinho-do-brejo Stymphalornis acutitrostris (aves, Thamnophilidae)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bornschein, Marcos Ricardo
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPR
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1884/30611
Resumo: Resumo: Estudamos aspectos da biologia, ecologia e genética da conservação do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) (Aves: Thamnophilidae) para reunir informações que permitam traçar novas estratégias de conservação da espécie, ameaçada de extinção na categoria "em perigo" e endêmica de menos de seis mil hectares distribuídos em parte do litoral do Paraná ao litoral norte do Rio Grande do Sul. Realizamos os trabalhos de campo de janeiro de 2006 a fevereiro de 2013 no litoral do Estado do Paraná (baía de Guaratuba, município de Guaratuba). Encontramos 178 ninhos. Os ninhos contêm uma postura de dois ovos brancos com diversas manchas marrons irregulares dispersas por todo o ovo, mas concentradas no meio do ovo ou no pólo mais largo. A estratégia de fixação de ninhos em vegetação vertical usada pela espécie não era conhecida antes nos Thamnophilidae. Estimamos tamanhos médios de territórios de 0,69, 0,70, 0,79 e 1,22 ha por lugar. Os territórios da espécie são estáveis ao longo dos anos e variam em tamanho ao longo do gradiente altitudinal da planície de maré, sendo maiores em locais com mais baixa altitude e menores em locais com maior altitude. Maior riqueza em espécies de plantas, maior densidade de vegetação e menor tempo e altura de alagamento podem explicar a maior densidade de S. acutirostris observada nos locais situados em altitude mais elevada com relação à planície de maré. Somente quando Panicum cf. mertensii, uma espécie que provê suporte para nidificação, se estabeleceu em sobras de ambiente é que elas passaram a ser ocupadas ao longo dos anos pela espécie, sugerindo que a espécie seleciona como territórios locais que garantam a reprodução. A rápida alteração na abundância de P. cf. mertensii pode ter sido consequência de um evento climático extremo, evidenciando o potencial de alterações passíveis de ocorrerem nos ambientes estudados frente à mudança climática. A área de ocupação atual da espécie (5.481,5 ha) reduziu apenas 9,5% (578,5 ha) da estimativa anterior, mas o tamanho populacional atual (7.511 indivíduos), em função disso e principalmente em virtude de novos dados sobre a densidade da espécie em diferentes ambientes, reduziu 57,5%. Delimitamos cinco áreas para a conservação da espécie, sob um conceito aqui proposto, de "Zona Livre de Braquiária" (ZLB). As ZLBs representam os maiores setores com ocupação da espécie menos invadidos pelas exóticas Urochloa arrecta e U. mutica (Poaceae) e que devem ser manejados prioritariamente, visando o controle dessas invasoras. Totalizando 2.226,6 ha, as ZLBs perfazem 40,6% da área de ocupação do bicudinho-do-brejo. Verificamos haver superávit de indivíduos da espécie em três áreas estudadas e que em uma delas há um déficit, havendo mais mortes do que nascimentos (ralo). Para essa área ralo imigram indivíduos pelo menos de uma ilha com superávit (fonte), situada a somente 25 m de distância, além de um braço de rio. Ambos os lugares apresentam a mesma vegetação e outras características são semelhantes. Supomos que as causas do déficit populacional sejam maior predação, possivelmente por ratos e um Rallidae e, menos provavelmente, elevada mortalidade de jovens pelas marés, mas, nesse caso, somente se a área ralo situar-se em menor altitude do que a área fonte investigada. Registramos um macho da espécie com 16,2 anos, uma fêmea com 14,2 anos e um macho com 9,0 anos, dos quais os dois primeiros se reproduziram alguns poucos meses antes de não serem mais vistos. Estimamos entre 3,8 a 5,0 anos a idade média da população de um dos locais de estudo, a partir de 2010, sendo a idade média de machos e fêmeas semelhante. Pela primeira vez se estuda a filogeografia de uma ave ameaçada de extinção não florestal do Bioma Floresta Atlântica. Os resultados obtidos sugerem a estruturação das populações da espécie em uma linhagem a norte e outra a sul, com ambas apresentando uma baixa variabilidade genética. A datação sugere que as duas linhagens divergiram há cerca de 120 mil anos, coincidindo com um aumento no nível do mar, porém, a posterior redução do nível do mar durante o último máximo glacial parece ter propiciado fluxo gênico. Mesmo assim, o bicudinho-do-brejo apresenta um baixo número de haplótipos mitocondriais, comparável ao de espécies avaliadas em uma categoria de maior grau de ameaça de extinção. É possível que a translocação de indivíduos entre as populações da mesma linhagem auxilie no aumento da variabilidade genética. Trabalhamos com diferentes técnicas para o controle das exóticas U. arrecta e U. mutica (braquiárias-d'água) em brejos no litoral do Estado do Paraná. Em menos de um ano de manejo erradicamos as braquiárias-d'água nas áreas sob intervenção, o que foi possível pela aplicação de técnicas que foram de grande sucesso, pela constante retirada dos fragmentos das exóticas em regeneração e pela ausência de banco de sementes dessas exóticas nos locais estudados. O rastoreio mecânico raso foi a técnica que resultou maior sucesso no manejo das braquiárias-d'água. Sombreamento com lona plástica preta complementou a técnica. Estimamos custos para a erradicação das exóticas em um hectare nos valores de R$ 41.961,00 a R$ 92.110,00, dependendo da distância do local manejado. Tendo sido estimados 254,6 ha de áreas invadidas pelas exóticas, a erradicação das mesmas custaria o valor mínimo de R$ 10.682.293,00 (desconsiderando a contínua propagação das exóticas). Propomos ações de conservação da espécie para serem utilizadas no futuro Plano de Ação Nacional para Conservação do Bicudinho-do-brejo. A medidas mais relevantes propostas são o início imediato e um projeto de translocação, controle das braquiárias-d´água e criação de uma unidade de conservação na área de ocorrência da espécie em Laguna.
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A estratégia de fixação de ninhos em vegetação vertical usada pela espécie não era conhecida antes nos Thamnophilidae. Estimamos tamanhos médios de territórios de 0,69, 0,70, 0,79 e 1,22 ha por lugar. Os territórios da espécie são estáveis ao longo dos anos e variam em tamanho ao longo do gradiente altitudinal da planície de maré, sendo maiores em locais com mais baixa altitude e menores em locais com maior altitude. Maior riqueza em espécies de plantas, maior densidade de vegetação e menor tempo e altura de alagamento podem explicar a maior densidade de S. acutirostris observada nos locais situados em altitude mais elevada com relação à planície de maré. Somente quando Panicum cf. mertensii, uma espécie que provê suporte para nidificação, se estabeleceu em sobras de ambiente é que elas passaram a ser ocupadas ao longo dos anos pela espécie, sugerindo que a espécie seleciona como territórios locais que garantam a reprodução. A rápida alteração na abundância de P. cf. mertensii pode ter sido consequência de um evento climático extremo, evidenciando o potencial de alterações passíveis de ocorrerem nos ambientes estudados frente à mudança climática. A área de ocupação atual da espécie (5.481,5 ha) reduziu apenas 9,5% (578,5 ha) da estimativa anterior, mas o tamanho populacional atual (7.511 indivíduos), em função disso e principalmente em virtude de novos dados sobre a densidade da espécie em diferentes ambientes, reduziu 57,5%. Delimitamos cinco áreas para a conservação da espécie, sob um conceito aqui proposto, de "Zona Livre de Braquiária" (ZLB). As ZLBs representam os maiores setores com ocupação da espécie menos invadidos pelas exóticas Urochloa arrecta e U. mutica (Poaceae) e que devem ser manejados prioritariamente, visando o controle dessas invasoras. Totalizando 2.226,6 ha, as ZLBs perfazem 40,6% da área de ocupação do bicudinho-do-brejo. 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Os resultados obtidos sugerem a estruturação das populações da espécie em uma linhagem a norte e outra a sul, com ambas apresentando uma baixa variabilidade genética. A datação sugere que as duas linhagens divergiram há cerca de 120 mil anos, coincidindo com um aumento no nível do mar, porém, a posterior redução do nível do mar durante o último máximo glacial parece ter propiciado fluxo gênico. Mesmo assim, o bicudinho-do-brejo apresenta um baixo número de haplótipos mitocondriais, comparável ao de espécies avaliadas em uma categoria de maior grau de ameaça de extinção. É possível que a translocação de indivíduos entre as populações da mesma linhagem auxilie no aumento da variabilidade genética. Trabalhamos com diferentes técnicas para o controle das exóticas U. arrecta e U. mutica (braquiárias-d'água) em brejos no litoral do Estado do Paraná. 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