Porque eu ainda tô me autorreconhecendo : compreensões e resistências à imposição cultural

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Correia, Maria Inês Carvalho, 1967-
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFPR
Texto Completo: https://hdl.handle.net/1884/77809
Resumo: Orientadora: Profa. Dra Clóris Porto Torquato
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spelling Correia, Maria Inês Carvalho, 1967-Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em LetrasTorquato, Clóris Porto2022-08-15T14:53:27Z2022-08-15T14:53:27Z2022https://hdl.handle.net/1884/77809Orientadora: Profa. Dra Clóris Porto TorquatoTese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Letras. Defesa : Curitiba, 17/05/2022Inclui referências: p. 197-200Resumo: A proposta desta escrevivência (EVARISTO, 2017) considera que a tríade linguagem dialógica, cronotopo como espaçotemporal (geográfico-simbólico) indissociado (BAKHTIN, 2018) e relações étnico-raciais, como categorias teóricas instrinsecamente relacionadas, forma a base para pensar em dois pontos principais a serem aprofundados. O primeiro é refletir sobre as compreensões que nós, negras e negros - frequentadoras/es das aulas de redação em 2018, no Cursinho Pré-Vestibular Itinerante Popular Ubuntu - temos das situações nas quais identificamos a tentativa de imposição cultural (FANON, 2020) causada pela visão eurocentrada branca sobre o nosso ser negro no cronotopo Curitiba, a cidade mais branca do país; o segundo é entender de que forma o espaço do cursinho, mais precisamente as aulas de redação, pode contribuir no processo de percepção de tais compreensões. Considerando essas duas intenções, tomo como base empírica relatos-confissões (hooks, 2017) meus, das e dos estudantes e da professora de redação do grupo, que, em sua maioria, foram produzidos nas interações ocorridas nas aulas de redação registradas em 2018. Essas narrativas evocam situações nas quais identificamos marcas do racismo cotidiano na relação com o outro, melhor dizendo, na relação com uma determinada branquitude privilegiada no cronotopo Curitiba, a cidade mais branca do Brasil. Os dados foram gerados sob o viés da Etnografia da Linguagem (COPLAND&CREESE, 2015), e para me guiarem em sua interpretação, dialoguei com alguns conceitos como dialogismo (linguagem e sujeito dialógico), cronotopo, heterodiscurso dialogizado, enunciado, bivocalidade da palavra, olhar exotópico, gênero discursivo (Círculo de Bakhtin); descolonialidade/decolonialidade ampliada (SMITH, 2018; BERNARDINOCOSTA& MALDONADO-TORRES&GROSFOGUEL, 2020); transgressão (hooks, 2017); racismo estrutural/racismo cultural (KILOMBA, 2019; ALMEIDA, 2020; GONZÁLEZ, 2020); alienação e imposição cultural (FANON, 2020[2008]). Do percurso feito, é possível identificar que o cronotopo homogeneizante, Curitiba a cidade mais branca do Brasil, é apenas mais um cronotopo, em meio a vários outros possíveis, que constitui a capital paranaense. Aponto que para se sustentar nesse cronotopo, o Cursinho Pré-Vestibular Itinerante Ubuntu, como um desses cronotopos, que contrapõe com suas vozes marginais, em sua maioria negras, esse discurso estruturante e hegemônico, é obrigado a circular por vários outros cronotopos no espaço central da cidade mais branca do Brasil, e em cada um desses cronotopos é possível notar as várias visões de mundo, os vários modos de ser e estar na cidade mais branca do Brasil. E no cursinho Ubuntu não é diferente, é possível notar que, mesmo sendo constituído, em sua maioria, por sujeitas negras e sujeitos negros, refratamos discursivamente de modos diferentes a imposição cultural a que somos submetivos, e isto é revelado nas refrações discursivas verificadas nos relatos-confissões analisados. Ou seja, não somos iguais, não percebemos e nem compreendemos a tentativa de imposição cultural sobre nosso ser negro a partir do mesmo ângulo. Isto posto, aponto que o processo de constituição de nossa subjetividade na cidade mais branca do Brasil, como sujeitas negras e sujeitos negros participantes desta escrevivência, é múltiplo, já que nossas experiências de ser negro em Curitiba são perpassadas por relações étnico-raciais e sociais diferenciadas. Por fim, aponto que as aulas de redação registradas foram marcadamente um espaço, dentro do cursinho, que contribuiu para a reflexão, problematização e ampliação de nossos conhecimentos sobre a imposição cultural que a branquitude privilegiada quer impor sobre nosso ser negro na cidade mais branca do Brasil.Abstract: This research, deemed an escrevivência (EVARISTO, 2017), was based on the concepts (1) dialogical language, (2) chronotope as inseparable spatiotemporal (geographic-symbolic) categories (BAKHTIN, 2018), and (3) ethnic-racial relations. Such intrinsically related theoretical categories formed the basis for thinking about two main arguments explored throughout this investigation. The first one entailed the reflection on how we, Black women and men - who, in 2018, attended Writing classes at Cursinho Pré-Vestibular Itinerante Popular Ubuntu (a type of free-of-charge, volunteer-based cram school) - interpreted the situations in which we identified any attempt at cultural imposition (FANON, 2020) promoted by a white Eurocentric view of our being Black in the chronotope Curitiba, the whitest city in Brazil. The second one urged the need to learn how the space of the Writing classes in the Cursinho Ubuntu could contribute to fostering such critical views. In order to do so, I drew from personal narratives (hooks, 2017) written by me, a Black scholar, the students, and their Writing teacher, which, for the most part, were produced in the interactions taking place in the Writing classes recorded in 2018. These narratives evoked situations in which we identified marks of everyday racism in the relationship with the other, a certain privileged whiteness in the chronotope Curitiba, the whitest city in Brazil. The data were generated according to the perspective of Linguistic Ethnography (COPLAND; CREESE, 2015). As for data interpretation, I engaged with concepts such as dialogism (dialogic language and subject), chronotope, dialogic heterodiscourse, utterance, double-voiced discourse, exotopic position, discourse genre (Bakhtin Circle), expanded decoloniality (SMITH, 2018; BERNARDINOCOSTA; MALDONADO-TORRES; GROSFOGUEL, 2020), transgression (hooks, 2017), structural racism/cultural racism (KILOMBA, 2019; ALMEIDA, 2020; GONZÁLEZ, 2020), alienation, and cultural imposition (FANON, 2020[2008]). As results, I identified that the homogenizing chronotope Curitiba, the whitest city in Brazil was just one among a myriad of other chronotopes that constituted Curitiba, the capital city of Paraná. In order for the Cursinho Ubuntu to exist/resist in such chronotope, being itself a chronotope that contrasts this structuring and hegemonic discourse with marginal voices, it is forced to circulate through several other chronotopes in the central space of the whitest city in Brazil. In each chronotope, different views of the world and different ways of existing and being in the whitest city in Brazil coexist. In a similar manner, the Cursinho Ubuntu, constituted mostly by Black women and men, was the space in which we discursively and in different ways refracted the cultural imposition to which we were subjected, something confirmed in the discursive refractions verified in the personal narratives analyzed. In other words, we, Black people, are neither alike nor do we experience or understand the attempt at cultural imposition on our being Black from the same perspective. In addition, the analysis indicated that the process of constitution of our subjectivity in the whitest city in Brazil, as Black subjects participating in this escrevivência, was multiple, since our experiences of being Black in Curitiba were permeated by distinct social and ethnic-racial relations. Finally, the Writing classes in the Cursinho Ubuntu were markedly a space that contributed to the reflection, problematization, and expansion of our knowledge about the cultural imposition that some privileged whiteness wants to impose on our being Black in the whitest city in Brazil.1 recurso online : PDF.application/pdfRelações étnico-raciaisLetrasPorque eu ainda tô me autorreconhecendo : compreensões e resistências à imposição culturalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisporreponame:Repositório Institucional da UFPRinstname:Universidade Federal do Paraná (UFPR)instacron:UFPRinfo:eu-repo/semantics/openAccessORIGINALR - T - MARIA INES CARVALHO CORREIA.pdfapplication/pdf4424946https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/1884/77809/1/R%20-%20T%20-%20MARIA%20INES%20CARVALHO%20CORREIA.pdf5fc0c3254d1a977190ea2a0eba8061d7MD51open access1884/778092022-08-15 11:53:27.832open accessoai:acervodigital.ufpr.br:1884/77809Repositório de PublicaçõesPUBhttp://acervodigital.ufpr.br/oai/requestopendoar:3082022-08-15T14:53:27Repositório Institucional da UFPR - Universidade Federal do Paraná (UFPR)false
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