Assistência veterinária à fauna silvestre em contexto urbano amazônico: Descompassos entre legislação, práticas locais e ação institucional conservacionista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: RUAS, Robertho Marconi Santos
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRA
Texto Completo: http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1692
Resumo: A tese analisa as condições de prestação de assistência veterinária a animais silvestres em contexto urbano na Amazônia. Reconhece que a rica sociobiodiversidade da região implica variadas modalidades de relações entre grupos sociais específicos e fauna silvestre, e que a dicotomia jurídica entre práticas legais e ilegais de uso da fauna não reflete adequadamente as particularidades dessas formas de intercurso. Destaca que a diversidade socioambiental da região também se expressa em sua malha urbana, devido à contiguidade de suas cidades às áreas verdes interioranas e rurais e aos movimentos de migração interna. Além do quadro de injustiça social suscitado pela rotulação de segmentos populares diversos como infratores, a tese sugere que a reprodução acrítica da visão legalista prejudica a própria consecução do objetivo de proteção da fauna, basilar ao ordenamento jurídico ambiental. Pretendeu-se, então, demonstrar o modo como a imposição da lógica jurídica à atuação no âmbito de um Hospital Universitário Veterinário (HUV) tem levado à ruptura das relações da citada instituição com os segmentos populares que atualizam práticas de intercurso com a fauna. Realizou-se trabalho de campo com viés antropológico em um HUV em contexto urbano da Amazônia oriental, com emprego de observação participante do cotidiano da instituição, entrevistas semiestruturadas com sua equipe técnica e análise de prontuários dos atendimentos ali realizados de 2013 a 2016. Pôde-se, desse modo, registrar um gradual distanciamento da esfera formal de proteção à fauna em relação a importantes circuitos populares de usuários desse bem ambiental. Constatou-se, ainda, que o distanciamento ocorreu em paralelo à intensificação do intercâmbio da equipe do HUV com agentes de órgãos ambientais e à parcial adesão a seu universo classificatório binário. Os dados indicaram que os segmentos populares que antes acorriam ao HUV não se constituíam como traficantes de animais, nem atualizavam práticas predatórias – eram, ao contrário, em geral, adeptos da criação doméstica de animais silvestres em quintais. Assim, a tese argumenta que a cisão entre esferas formais e segmentos populares, na circunstância descrita, se mostrou contraproducente ao objetivo de proteção da fauna, pois tem restringido a prestação de assistência veterinária aos animais silvestres, obstaculizando a conservação das populações naturais distribuídas nas áreas verdes periurbanas. Indica, por isso, a necessidade de que os médicos veterinários que atuam na área de animais silvestres e os sistemas públicos de proteção à fauna se distanciem de análises estritamente ecologizantes ou legalistas e adotem perspectiva socioambiental, contribuindo para a valorização da sociobiodiversidade e inclusive tornando mais efetivas suas ações.
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Além do quadro de injustiça social suscitado pela rotulação de segmentos populares diversos como infratores, a tese sugere que a reprodução acrítica da visão legalista prejudica a própria consecução do objetivo de proteção da fauna, basilar ao ordenamento jurídico ambiental. Pretendeu-se, então, demonstrar o modo como a imposição da lógica jurídica à atuação no âmbito de um Hospital Universitário Veterinário (HUV) tem levado à ruptura das relações da citada instituição com os segmentos populares que atualizam práticas de intercurso com a fauna. Realizou-se trabalho de campo com viés antropológico em um HUV em contexto urbano da Amazônia oriental, com emprego de observação participante do cotidiano da instituição, entrevistas semiestruturadas com sua equipe técnica e análise de prontuários dos atendimentos ali realizados de 2013 a 2016. Pôde-se, desse modo, registrar um gradual distanciamento da esfera formal de proteção à fauna em relação a importantes circuitos populares de usuários desse bem ambiental. Constatou-se, ainda, que o distanciamento ocorreu em paralelo à intensificação do intercâmbio da equipe do HUV com agentes de órgãos ambientais e à parcial adesão a seu universo classificatório binário. Os dados indicaram que os segmentos populares que antes acorriam ao HUV não se constituíam como traficantes de animais, nem atualizavam práticas predatórias – eram, ao contrário, em geral, adeptos da criação doméstica de animais silvestres em quintais. Assim, a tese argumenta que a cisão entre esferas formais e segmentos populares, na circunstância descrita, se mostrou contraproducente ao objetivo de proteção da fauna, pois tem restringido a prestação de assistência veterinária aos animais silvestres, obstaculizando a conservação das populações naturais distribuídas nas áreas verdes periurbanas. Indica, por isso, a necessidade de que os médicos veterinários que atuam na área de animais silvestres e os sistemas públicos de proteção à fauna se distanciem de análises estritamente ecologizantes ou legalistas e adotem perspectiva socioambiental, contribuindo para a valorização da sociobiodiversidade e inclusive tornando mais efetivas suas ações.This thesis analyzes the conditions for veterinary assistance to wild animals in an urban context in the Amazon. It recognizes that the rich sociobiodiversity found in the region implies multiple modes of relationship between specific social groups and wildlife, and that the juridical dichotomy between legal and illegal practices of fauna use does not adequately reflect the particularities of such intercourse configurations. It emphasizes that the socioenvironmental diversity of the region is also expressed in its urban areas, due to the connections between its cities and the green spaces of the countryside, and due to internal migration. Aside the social injustice caused by the labeling of several popular segments as criminals, the thesis suggests that the naive reproduction of the legalistic discourse threatens the ultimate goal of fauna protection, basal for the environmental juridical order. It intended to demonstrate how the imposition of the legal mindset on the work of a University Veterinary Hospital (UVH) has led to the rupture of relations between this institution and the popular segments that performed practices of fauna usage. Fieldwork with anthropological perspective was carried out in a UVH in an urban context of eastern Amazonia and employed participant observation of the institution routine, semi-structured interviews with its technical staff and analysis of medical records referred to the patients attended from 2013 to 2016. In this way, it was registered a gradual distancing from the formal sphere of wildlife protection in relation to important popular circuits of fauna users. Additionally, such distancing was found to occur in parallel to the intensification of interactions involving the UVH staff and officials of environmental agencies, with partial adherence to their binary classification scheme. Data indicated that the popular segments previously related to the UVH were not animal traffickers nor updated predatory practices – contrarily, they were generally adepts to domestic rearing of wild animals in urban backyards. Thus, the thesis argues that the disruption between formal spheres and popular segments, in the described context, was counterproductive to reach the goal of fauna protection, because it has restricted the provision of veterinary assistance to wild animals, hindering the conservation of wildlife populations in the green periurban areas. Therefore, it indicates that veterinarians working with wild animals and public systems of animal protection should avoid strictly ecological or legalistic analyzes and adopt a socioenvironmental perspective, contributing to legitimate sociobiodiversity values and even to make conservationist actions more effective.UFRA - Campus Belémhttp://lattes.cnpq.br/2794753357251149DOMINGUES, Sheyla Farhayldes SouzaGUERRA, Gutemberg Armando Dinizhttp://lattes.cnpq.br/4262726973211880RUAS, Robertho Marconi Santos2022-09-19T17:33:58Z2022-09-19T17:33:58Z2018-11-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfRUAS, Robertho Marconi Santos. Assistência veterinária à fauna silvestre em contexto urbano amazônico: Descompassos entre legislação, práticas locais e ação institucional conservacionista. Orientador: Sheyla Farhayldes Souza Domingues. 2018. 117 f. Tese (Doutorado em Saúde e Produção Animal na Amazônia) - Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2018. Disponível em: http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1692. Acesso em: .CDD – 636.08321http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1692Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 United Stateshttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/us/info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFRAinstname:Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)instacron:UFRA2022-09-19T17:36:25Zoai:repositorio.ufra.edu.br:123456789/1692Repositório Institucionalhttp://repositorio.ufra.edu.br/jspui/PUBhttp://repositorio.ufra.edu.br/oai/requestrepositorio@ufra.edu.br || riufra2018@gmail.comopendoar:2022-09-19T17:36:25Repositório Institucional da UFRA - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)false
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