A ironia de Machado em Dom Casmurro : reflexão sobre a cordialidade anti-trágica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rosenfield, Kathrin Holzermayr Lerrer
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/169680
Resumo: Em Dom Casmurro, Machado ironiza os pendores românticos e trágicopatéticos da cultura brasileira. Ele impõe uma modulação burlesca à tradição narrativa de Flaubert, que este estudo confronta a algumas variantes européias dessa desconstrução – Nietzsche, Kafka e Musil. O distanciamento do foco narrativo e o sarcasmo burlesco da enunciação inscrevem-se no viés anti-trágico da tradição luso-brasileira. Em vez de focalizar um “antes” idílico, idade de ouro, perdida “depois” da descoberta da suposta infidelidade, procuramos mostrar que o “Mal” machadiano se prepara nas constelações da timidez, da moleza dos sentidos e do espírito. Nesta perspectiva, Dom Casmurro é uma versão moderna da temida acedia melancólica que Machado desenha, com um misto de ironia e ternura, a fisionomia moderna do vício, que Dürer fixou na sua famosa litografia “A Melancolia”. No acanhamento tímido desaparece a transgressão positiva ou passional e, no lugar de uma ação fatal, surge a entrega passiva ao que é dado – o gosto indulgente da repetição e o ressentimento.
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