"A viagem de volta" : o reconhecimento de indígenas no sul do Brasil como um evento crítico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Victora, Ceres Gomes
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/148441
Resumo: O presente artigo enfoca a problemática do reconhecimento étnico de indígenas por parte do Estado, sugerindo que este pode ser pensado como um evento crítico, no sentido de que transforma percepções, ações e relações entre diferentes agentes envolvidos nos processos de territorialização, além de possibilitar a construção de memórias que tecerão discursos e narrativas específicos. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada junto à comunidade Charrua da Aldeia Polidoro de Porto Alegre (Brasil), abordo inicialmente a historiografia dos índios Charrua do Uruguai que ressalta fundamentalmente a extinção da etnia, contrapondo a isso as suas narrativas que assumem a ótica da sobrevivência, condição de possibilidade para seu reconhecimento no Brasil atual. Na sequência apresento situações e discursos que considero reveladores da conflituosa relação deles com alguns agentes públicos que se veem confrontados com a agenda e a agência políticas desse “novo” povo indígena. Por fim, sugiro que, em parte, esses conflitos estão relacionados a diferentes formas de experienciar o tempo. Para os indígenas, por um lado, a construção narrativa que lhes dá possibilidade de se reconhecerem e serem reconhecidos como tais implica a corporificação da interprenetação dos tempos passado e presente e, nesse sentido, sua espera pela promoção de seus direitos constitucionais é contabilizada desde tempos muito remotos. Por outro lado, para os agentes públicos, o reconhecimento étnico oficial é um ponto específico no presente, a partir do qual estes iniciam um processo lento e gradual de reconhecimento da condição de indígenas, dentro do “tempo da burocracia” no qual estão imersos cotidianamente.
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Na sequência apresento situações e discursos que considero reveladores da conflituosa relação deles com alguns agentes públicos que se veem confrontados com a agenda e a agência políticas desse “novo” povo indígena. Por fim, sugiro que, em parte, esses conflitos estão relacionados a diferentes formas de experienciar o tempo. Para os indígenas, por um lado, a construção narrativa que lhes dá possibilidade de se reconhecerem e serem reconhecidos como tais implica a corporificação da interprenetação dos tempos passado e presente e, nesse sentido, sua espera pela promoção de seus direitos constitucionais é contabilizada desde tempos muito remotos. Por outro lado, para os agentes públicos, o reconhecimento étnico oficial é um ponto específico no presente, a partir do qual estes iniciam um processo lento e gradual de reconhecimento da condição de indígenas, dentro do “tempo da burocracia” no qual estão imersos cotidianamente.This article focuses on the ethnic recognition of indigenous groups by the State in Brazil and suggests that this may be thought of as a critical event in the sense that it promotes changes in perceptions, actions and relations between different actors involved in the processes of territorialization, in addition to allowing the construction of memories that weave specific discourses and narratives. Drawing on an ethnographic study carried out among the Charrua Community of the Polidoro Village in Porto Alegre (Brazil)., the first part of this paper is an introduction to the historiography of the Charrua Indians of Uruguay that highlights the group’s genocide. To that I compare to the indigenous people’s narratives that take on the perspective of survival, a condition of possibility for their recognition as indigenous in the present. After that, I introduce situations that I find revealing of their contentious relationship with some State agents who are faced with the political agenda and agency of this “new” indigenous people. Finally, I suggest that, in part, these conflicts are related to different ways of experiencing time. On the one hand, for the indigenous people, the narrative that gives them possibility to recognize themselves and be recognized as such implies the embodiment of an interpenetrated past and present time. Therefore, for those who record time since a distant past, the wait for the granting of their Constitutional rights by State agents seems always too long. On the other hand, for the public agents, State recognition happens at a specific point in the present, from which they start a slow and gradual processes of recognition of the indigenous people’s situation, within the “time of the bureaucracy”, in which they are immersed in their everyday.El presente artículo se enfoca en la problemática del reconocimiento étnico de indígenas por parte del Estado. Sugiere que este proceso puede ser pensado como un evento crítico, en el sentido de que transforma percepciones, acciones y relaciones entre diferentes agentes involucrados en los procesos de territorialización, además de posibilitar la construcción de memorias que han de tejer discursos y narrativas específicas. A partir de una investigación etnográfica realizada junto a la comunidad Charrua de la Aldea Polidoro, en Porto Alegre (Brasil), abordo inicialmente la historiografía de los indios Charrua del Uruguay, que resalta fundamentalmente la extinción de la etnia, para contraponer después sus narrativas, que asumen la óptica de la supervivencia, condición de posibilidad para su reconocimiento en el Brasil actual. Posteriormente, presentaré situaciones y discursos que considero reveladores de la conflictiva relación de estos indígenas con algunos agentes públicos que se ven confrontados con la agenda y la agencia políticas de este “nuevo” pueblo. Finalmente, sugeriré que, en parte, esos conflictos estén relacionados con maneras diferentes de experienciar el tiempo. Para los indígenas, por un lado, la construcción narrativa que les da la posibilidad de reconocerse y ser reconocidos como tales implica la corporificación de la interpenetración de los tiempos pasado y presente y, en este sentido, su espera por la promoción de sus derechos constitucionales es contada desde un tiempo muy remoto. Por otro lado, para los agentes públicos, el reconocimiento étnico oficial es un punto específico en el presente, a partir del cual inician un lento y gradual proceso de reconocimiento de aquella condición de indígenas, reforzados por el “tiempo de la burocracia” en el cual están inmersos cotidianamente.application/pdfporSociedade e cultura : revista de pesquisas e debates em ciências sociais. Goiânia, GO. Vol. 14, n. 2 (jul./dez. 2011), p. 299-309População indígenaReconhecimentoEtniaCritical eventConstruction of narrativesEthnic recognitionIndigenous peoplesTimeEvento críticoConstrucción narrativaReconocimiento étnicoPoblaciones indígenasTiempo"A viagem de volta" : o reconhecimento de indígenas no sul do Brasil como um evento crítico“The return journey” : the ethnic recognition of indigenous people in southern Brazil as a critical event“El viaje de regreso” : el reconocimiento étnico de indígenas en el sur de Brasil como un evento críticoinfo:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/otherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000835569.pdf000835569.pdfTexto completoapplication/pdf251199http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/148441/1/000835569.pdfd0453ddd23f408451c241bbfa6ed7cb5MD51TEXT000835569.pdf.txt000835569.pdf.txtExtracted Texttext/plain55599http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/148441/2/000835569.pdf.txt5a3b8fe8266dc216fa7c40c515e4e88bMD52THUMBNAIL000835569.pdf.jpg000835569.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1761http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/148441/3/000835569.pdf.jpg3ea87eefd5dd3d020802849804f6d8d1MD5310183/1484412023-08-18 03:40:44.816703oai:www.lume.ufrgs.br:10183/148441Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2023-08-18T06:40:44Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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