Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Floriane Abreu da
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/271075
Resumo: A presente pesquisa busca indagar como a experiência da Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965) ajuda-nos a compreender a relação entre língua portuguesa, colonização e resistência. O trabalho é guiado por um aporte teórico pós-colonial, buscando expor a discussão do uso da língua portuguesa, por um lado, como ferramenta de colonização, e por outro, como possível de ser apropriada ou transformada para fins de resistência anticolonial. Assumem-se dois pressupostos teóricos, inspirados em Kwame Appiah e Édouard Glissant, respectivamente: I) a língua do colonizador assume um papel de "agente duplo" da Metrópole e do mundo colonizado, não podendo estar completamente fora de suspeita; e II) as línguas são "ilhas abertas", construídas em relação com as outras línguas e com o mundo, em que fechá-las seria correr o risco de reproduzir uma concepção europeia de provincialismo. Os pressupostos teóricos são testados em uma análise documental de duas obras publicadas pela CEI: “Poetas Angolanos” (1962) e “Consciencialização na Literatura Caboverdiana” (1963). Pôde-se inferir da análise documental que a língua portuguesa de fato constituiu agente duplo: por um lado, criou uma barreira linguística e foi língua incontornável para compreender a literatura que parte das camadas intelectualizadas do mundo colonizado. Por outro lado, os escritores da CEI transformaram-na e tornaram-na aliada dos projetos políticos e culturais anticoloniais. Acerca do pressuposto da língua portuguesa como "ilha aberta", foi confirmado parcialmente. A despeito da intenção portuguesa, não foi possível fechá-la a influências diversas, que perpassam elementos linguísticos tanto europeus quanto advindos dos territórios colonizados. As assimetrias coloniais, no entanto, fizeram com que a língua portuguesa tivesse um acesso limitado no mundo colonizado; e com que a produção literária da CEI portasse limites representativos enquanto produzida por uma classe elitizada. A experiência da CEI, porém, indicou a possibilidade de resistência ao colonizador português, a partir do uso da língua e de sua instrumentalização na luta anticolonial.
id UFRGS-2_4052395c96dd4698172da406973d09bc
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/271075
network_acronym_str UFRGS-2
network_name_str Repositório Institucional da UFRGS
repository_id_str
spelling Silva, Floriane Abreu daMarques, Pâmela Marconatto2024-01-25T03:51:40Z2023http://hdl.handle.net/10183/271075001193990A presente pesquisa busca indagar como a experiência da Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965) ajuda-nos a compreender a relação entre língua portuguesa, colonização e resistência. O trabalho é guiado por um aporte teórico pós-colonial, buscando expor a discussão do uso da língua portuguesa, por um lado, como ferramenta de colonização, e por outro, como possível de ser apropriada ou transformada para fins de resistência anticolonial. Assumem-se dois pressupostos teóricos, inspirados em Kwame Appiah e Édouard Glissant, respectivamente: I) a língua do colonizador assume um papel de "agente duplo" da Metrópole e do mundo colonizado, não podendo estar completamente fora de suspeita; e II) as línguas são "ilhas abertas", construídas em relação com as outras línguas e com o mundo, em que fechá-las seria correr o risco de reproduzir uma concepção europeia de provincialismo. Os pressupostos teóricos são testados em uma análise documental de duas obras publicadas pela CEI: “Poetas Angolanos” (1962) e “Consciencialização na Literatura Caboverdiana” (1963). Pôde-se inferir da análise documental que a língua portuguesa de fato constituiu agente duplo: por um lado, criou uma barreira linguística e foi língua incontornável para compreender a literatura que parte das camadas intelectualizadas do mundo colonizado. Por outro lado, os escritores da CEI transformaram-na e tornaram-na aliada dos projetos políticos e culturais anticoloniais. Acerca do pressuposto da língua portuguesa como "ilha aberta", foi confirmado parcialmente. A despeito da intenção portuguesa, não foi possível fechá-la a influências diversas, que perpassam elementos linguísticos tanto europeus quanto advindos dos territórios colonizados. As assimetrias coloniais, no entanto, fizeram com que a língua portuguesa tivesse um acesso limitado no mundo colonizado; e com que a produção literária da CEI portasse limites representativos enquanto produzida por uma classe elitizada. A experiência da CEI, porém, indicou a possibilidade de resistência ao colonizador português, a partir do uso da língua e de sua instrumentalização na luta anticolonial.This research seeks to investigate how the experience of the House of Students of the Empire (HSE) (1944-1965) helps us understand the relationship between the Portuguese language, colonization and resistance. The work is guided by a postcolonial theoretical lens, seeking to expose the discussion of the use of the Portuguese language, on the one hand, as a colonization tool, and on the other, as possible to be appropriated or transformed for purposes of anti-colonial resistance. Two theoretical assumptions are taken, inspired by Kwame Appiah and Édouard Glissant, respectively: I) the colonizer's language assumes a role of "double agent" of the Metropolis and the colonized world, and therefore cannot be completely beyond suspicion; and II) languages are "open islands", built in relation to other languages and the world, in which to close them would run the risk of reproducing a European conception of provincialism. The theoretical assumptions are tested in a documental analysis of two works published by the HSE: “Angolan Poets” (1962) and “Awareness in Cape Verdean Literature” (1963). It can be inferred from the analysis that the Portuguese language in fact constituted a double agent: on the one hand, it created a language barrier and it was an unavoidable language to understand the literature that comes from the intellectualized layers of the colonized world. On the other hand, the writers of the HSE transformed it and made it an ally of anti-colonial political and cultural projects. Regarding the methodological assumption of the Portuguese language as an "open island", it was partially confirmed. Despite the colonizer’s intention, it was not possible to close it to diverse influences, which pervade linguistic elements both European and coming from the colonized territories. Colonial asymmetries, however, meant that the Portuguese language had limited access in the colonized world; and that the literary production of the HSE had representative limits as produced by an elite class. The HSE's experience, however, indicated the possibility of resistance to the Portuguese colonizer, based on the use of the language and its instrumentalization in the anti-colonial resistance.application/pdfporColonizaçãoLíngua portuguesaPortuguese languagePostcolonialismHouse of students of the empireAnti-colonial resistanceLíngua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Ciências EconômicasPorto Alegre, BR-RS2023/1Relações Internacionaisgraduaçãoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001193990.pdf.txt001193990.pdf.txtExtracted Texttext/plain143540http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/271075/2/001193990.pdf.txt139de33eaa15d97056c35cf33ff06ff5MD52ORIGINAL001193990.pdfTexto completoapplication/pdf8997642http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/271075/1/001193990.pdf97449c41409e48449dc7d5945be495bfMD5110183/2710752024-01-26 05:45:31.913562oai:www.lume.ufrgs.br:10183/271075Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2024-01-26T07:45:31Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
title Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
spellingShingle Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
Silva, Floriane Abreu da
Colonização
Língua portuguesa
Portuguese language
Postcolonialism
House of students of the empire
Anti-colonial resistance
title_short Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
title_full Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
title_fullStr Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
title_full_unstemmed Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
title_sort Língua portuguesa, colonização e resistência na casa dos estudantes do Império (1944-1965)
author Silva, Floriane Abreu da
author_facet Silva, Floriane Abreu da
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Silva, Floriane Abreu da
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Marques, Pâmela Marconatto
contributor_str_mv Marques, Pâmela Marconatto
dc.subject.por.fl_str_mv Colonização
Língua portuguesa
topic Colonização
Língua portuguesa
Portuguese language
Postcolonialism
House of students of the empire
Anti-colonial resistance
dc.subject.eng.fl_str_mv Portuguese language
Postcolonialism
House of students of the empire
Anti-colonial resistance
description A presente pesquisa busca indagar como a experiência da Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965) ajuda-nos a compreender a relação entre língua portuguesa, colonização e resistência. O trabalho é guiado por um aporte teórico pós-colonial, buscando expor a discussão do uso da língua portuguesa, por um lado, como ferramenta de colonização, e por outro, como possível de ser apropriada ou transformada para fins de resistência anticolonial. Assumem-se dois pressupostos teóricos, inspirados em Kwame Appiah e Édouard Glissant, respectivamente: I) a língua do colonizador assume um papel de "agente duplo" da Metrópole e do mundo colonizado, não podendo estar completamente fora de suspeita; e II) as línguas são "ilhas abertas", construídas em relação com as outras línguas e com o mundo, em que fechá-las seria correr o risco de reproduzir uma concepção europeia de provincialismo. Os pressupostos teóricos são testados em uma análise documental de duas obras publicadas pela CEI: “Poetas Angolanos” (1962) e “Consciencialização na Literatura Caboverdiana” (1963). Pôde-se inferir da análise documental que a língua portuguesa de fato constituiu agente duplo: por um lado, criou uma barreira linguística e foi língua incontornável para compreender a literatura que parte das camadas intelectualizadas do mundo colonizado. Por outro lado, os escritores da CEI transformaram-na e tornaram-na aliada dos projetos políticos e culturais anticoloniais. Acerca do pressuposto da língua portuguesa como "ilha aberta", foi confirmado parcialmente. A despeito da intenção portuguesa, não foi possível fechá-la a influências diversas, que perpassam elementos linguísticos tanto europeus quanto advindos dos territórios colonizados. As assimetrias coloniais, no entanto, fizeram com que a língua portuguesa tivesse um acesso limitado no mundo colonizado; e com que a produção literária da CEI portasse limites representativos enquanto produzida por uma classe elitizada. A experiência da CEI, porém, indicou a possibilidade de resistência ao colonizador português, a partir do uso da língua e de sua instrumentalização na luta anticolonial.
publishDate 2023
dc.date.issued.fl_str_mv 2023
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2024-01-25T03:51:40Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/bachelorThesis
format bachelorThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/271075
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 001193990
url http://hdl.handle.net/10183/271075
identifier_str_mv 001193990
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Repositório Institucional da UFRGS
collection Repositório Institucional da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/271075/2/001193990.pdf.txt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/271075/1/001193990.pdf
bitstream.checksum.fl_str_mv 139de33eaa15d97056c35cf33ff06ff5
97449c41409e48449dc7d5945be495bf
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801224673520779264