A gente acostuma os olhos : como os pescadores artesanais de tarrafa reconhecem os botos da Barra e percebem as paisagens no estuário do Rio Tramandaí
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Trabalho de conclusão de curso |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/215025 |
Resumo: | Paisagem é um conceito amplo que busca descrever leituras sobre os espaços, na busca por um entendimento mais integral do mundo que nos cerca. Estudos das relações entre pessoas e natureza atuam como instrumentos de compreensão das afetividades e percepções que envolvem complexas teias de relações, o que possibilita atravessar o limiar entre humanos e não humanos para pensarmos numa unidade dinâmica a partir de ambos. As percepções das paisagens remetem a três fundamentos principais: o ponto de vista; a parte e o conjunto, onde esses elementos unidos possibilitam que a paisagem narrada "fale a quem assiste-a". No sul do Brasil um formato peculiar de interação entre animais humanos e não humanos ocorre: a pesca cooperativa. Pesca ritualizada e tradicional que consagra a Barra de Tramandaí, na costa do Rio Grande do Sul, como uma das duas localidades mundiais onde sistematicamente essa prática acontece. Botos do gênero Tursiops e pescadores artesanais de tarrafa cooperam na pesca da tainha (Mugil liza). O boto exerce um movimento característico com a cabeça, e sinaliza o momento apropriado para o pescador jogar sua tarrafa na água, otimizando a atividade de pesca e a energia despendida por ambos. A relação estabelecida entre homem e animal é composta por um forte grau de reconhecimento, quando estes pescadores dão nomes aos botos ainda filhotes - o nome mantém-se o mesmo ao longo da vida do animal, e é através dele que os pescadores se referem aos botos, quando os reconhecem individualmente no estuário da Barra. A área de estudo localiza-se na Barra do Rio Tramandaí, um estuário no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. As considerações metodológicas foram traçadas aproximando-se consideravelmente do campo antropológico, que utiliza metodologia consistente para entender as manifestações culturais presentes nas sociedades estudadas. Através da observação participante, buscamos nos inserir na comunidade dos pescadores artesanais, membros da pesca cooperativa, para compreendermos como eles reconhecem a paisagem a que estão inseridos, e como individualizam os botos da Barra, reconhecendo-os. Aplicamos um questionário aberto e semiestruturado, e através de métodos qualitativos, analisamos os resultados obtidos. A paisagem é lida por estes trabalhadores a partir de experiências portadoras de significados, que repercutem em toda a visão de cada 6 pescador sobre a paisagem que ele pratica e sobre as afetividades que esse espaço desperta. Além disso, o reconhecimento dos botos pelos pescadores artesanais se dá através da convivência diária dos trabalhadores com os animais, quando a partir de um olhar cotidiano eles conseguem traçar "jeitos" e personalidades que distinguem cada um dos botos da Barra entre si. Toda a percepção descrita é construída sobre forte influência do conhecimento dito tradicional, além do conhecimento desempenhado por cada pescador nas suas percepções próprias da paisagem e sua relação particular com os botos. |
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Silva, Emanuelly Martins daMoreno, Ignacio Maria Benites2020-11-13T04:21:30Z2019http://hdl.handle.net/10183/215025001110680Paisagem é um conceito amplo que busca descrever leituras sobre os espaços, na busca por um entendimento mais integral do mundo que nos cerca. Estudos das relações entre pessoas e natureza atuam como instrumentos de compreensão das afetividades e percepções que envolvem complexas teias de relações, o que possibilita atravessar o limiar entre humanos e não humanos para pensarmos numa unidade dinâmica a partir de ambos. As percepções das paisagens remetem a três fundamentos principais: o ponto de vista; a parte e o conjunto, onde esses elementos unidos possibilitam que a paisagem narrada "fale a quem assiste-a". No sul do Brasil um formato peculiar de interação entre animais humanos e não humanos ocorre: a pesca cooperativa. Pesca ritualizada e tradicional que consagra a Barra de Tramandaí, na costa do Rio Grande do Sul, como uma das duas localidades mundiais onde sistematicamente essa prática acontece. Botos do gênero Tursiops e pescadores artesanais de tarrafa cooperam na pesca da tainha (Mugil liza). O boto exerce um movimento característico com a cabeça, e sinaliza o momento apropriado para o pescador jogar sua tarrafa na água, otimizando a atividade de pesca e a energia despendida por ambos. A relação estabelecida entre homem e animal é composta por um forte grau de reconhecimento, quando estes pescadores dão nomes aos botos ainda filhotes - o nome mantém-se o mesmo ao longo da vida do animal, e é através dele que os pescadores se referem aos botos, quando os reconhecem individualmente no estuário da Barra. A área de estudo localiza-se na Barra do Rio Tramandaí, um estuário no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. As considerações metodológicas foram traçadas aproximando-se consideravelmente do campo antropológico, que utiliza metodologia consistente para entender as manifestações culturais presentes nas sociedades estudadas. Através da observação participante, buscamos nos inserir na comunidade dos pescadores artesanais, membros da pesca cooperativa, para compreendermos como eles reconhecem a paisagem a que estão inseridos, e como individualizam os botos da Barra, reconhecendo-os. Aplicamos um questionário aberto e semiestruturado, e através de métodos qualitativos, analisamos os resultados obtidos. A paisagem é lida por estes trabalhadores a partir de experiências portadoras de significados, que repercutem em toda a visão de cada 6 pescador sobre a paisagem que ele pratica e sobre as afetividades que esse espaço desperta. Além disso, o reconhecimento dos botos pelos pescadores artesanais se dá através da convivência diária dos trabalhadores com os animais, quando a partir de um olhar cotidiano eles conseguem traçar "jeitos" e personalidades que distinguem cada um dos botos da Barra entre si. Toda a percepção descrita é construída sobre forte influência do conhecimento dito tradicional, além do conhecimento desempenhado por cada pescador nas suas percepções próprias da paisagem e sua relação particular com os botos.Landscape is a broad concept which aims to describe readings concerning spaces, in the search for a more integral understanding of the world that surrounds us. Studies regarding relations between people and nature act as instruments of comprehension of affectivity and perceptions that involve a network of relations, which allows us to cross the threshold between humans and non-humans to think about a dynamic unity from both ones. The perceptions concerning landscapes refer to three principal fundaments: the point of view; the part and the whole/set, where these elements together enable the landscape narrated "to talk to who watch it". In southern Brazil takes place a peculiar interaction between humans and non-humans animals: the cooperative fishing. Ritualized and traditional fishing that establishes Barra do Rio Tramandaí, in Rio Grande do Sul, as one of the two world localities where this practice exists. Porpoises belonging to the genus Tursiops and cast net artisanal fishermen collaborate on the mullet (Mugil liza) fishing. The porpoise executes a characteristic movement with its head and signalizes the appropriate moment for the thrown of the cast net by the fisherman in the water, optimizing the fishing activity and the energy expended by both. The relation established between man and animal is composed by a strong degree of recognition, when these fishermen give names to the porpoises when they are still pups – the name is maintained during the life of the animal, and through it the fishermen refer to the porpoises when they recognize them individually at the estuary of Barra. The study area is located in Barra do Rio Tramandaí, an estuary at the North Coast of Rio Grande do Sul. The methodological considerations were outlined approximating considerably to the anthropological field, which uses a consistent methodology to understand the cultural manifestations present in the societies studied. Through participant observation, we aimed to insert ourselves in the artisanal fisherman community, members of the cooperative fishing, to understand how they recognize the landscape in which they are inserted, and how they individualize the Barra's porpoises, consequently recognizing them. We applied an open and semistructured questionnaire and, through qualitative methods, we analyze the results obtained. The landscape is read by these workers from 8 significance bearer experiences, which impact on the whole vision of each fisherman about the landscape in which he practices and the affectivities that this space arouses. Furthermore, the recognition of the porpoises by the fisherman takes place through the daily interaction of the workers with the animals, in which, from a routine look, they can trace "manners" and personalities that distinguish each porpoise of the Barra. All this perception is described and built under a strong influence of the so-called tradition knowledge, as well as the knowledge played by each fisherman on his perceptions of the landscape and his particular relationship with the porpoises.application/pdfporPesca cooperativaPaisagemCooperative fishingLandscapeIndividual recognitionPorpoisesArtisanal fishermanA gente acostuma os olhos : como os pescadores artesanais de tarrafa reconhecem os botos da Barra e percebem as paisagens no estuário do Rio Tramandaíinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de BiociênciasPorto Alegre, BR-RS2019Biotecnologiagraduaçãoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001110680.pdf.txt001110680.pdf.txtExtracted Texttext/plain95704http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/215025/2/001110680.pdf.txtc91af36cb2f81f4726ef0f5290b115b8MD52ORIGINAL001110680.pdfTexto completoapplication/pdf641006http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/215025/1/001110680.pdf18c276557a109120a74deb55befc6ed0MD5110183/2150252022-07-02 05:13:35.020196oai:www.lume.ufrgs.br:10183/215025Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2022-07-02T08:13:35Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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