"É mais fácil esquecer" : uma análise enunciativa do testemunho em Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Nicolini, Alessandra
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/253887
Resumo: Este trabalho propõe-se a empreender uma análise enunciativa do testemunho no Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, publicado em 2009 em Portugal, chegando ao Brasil em 2018 pela editora Todavia. Para isso, em um primeiro momento, parte-se da noção de testemunho conforme desenvolvida por Agamben (2008), assumindo a existência de dois tipos fundamentais de testemunha, testis e superstes, que são perpassados por fluxos de subjetivação e dessubjetivação durante a enunciação de seu testemunho. Sendo a reflexão agambeniana inspirada pela teoria enunciativa de viés benvenistiano, em um segundo momento, faz-se a leitura de alguns dos célebres artigos que integram a segunda e a quinta partes — “A comunicação” e “O homem na língua” — dos dois tomos dos Problemas de linguística geral ([1966] 1989; [1974] 2020), de Émile Benveniste, em um corpus textual de pesquisa baseado na seleção de escritos feita por Agamben (2005; 2008). Em consonância com as fontes, estabelecendo um diálogo entre linguística e filosofia, cujo ponto de encontro é a linguagem, discute-se a posição de testemunho enquanto posição de enunciação na qual, para propor-se como sujeito na e pela linguagem, o locutor tem de abdicar de sua referência como indivíduo psicossomático da realidade extralinguística para inserir-se na língua posta em funcionamento como o “eu” da enunciação, cuja realidade intralinguística é garantida na autorreferencialidade do discurso. Nesse processo de passagem do modo semiótico ao modo semântico, isto é, da língua-sistema à língua-discurso, depara-se com o hiato que separa os dois modos de ser forma e sentido na linguagem e que impõe a impossibilidade de tudo dizer, evidenciando a lacuna entre a potência de dizer e o dito. Disso resulta o inenarrável ou intestemunhável presente no Caderno de memórias coloniais, que, assim como outros testemunhos, tem seu valor justamente por aquilo que lhe falta. Uma vez que o hiato que separa o semiótico e o semântico perpassa toda a língua, não apenas o discurso resultante do testemunho, por fim, suscitamos a hipótese de que a posição de testemunho é inerente à condição do falante, que está sempre a dar testemunho de algo e a deparar-se com o abismo da palavra que foge e que funda o inenarrável próprio da língua.
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Sendo a reflexão agambeniana inspirada pela teoria enunciativa de viés benvenistiano, em um segundo momento, faz-se a leitura de alguns dos célebres artigos que integram a segunda e a quinta partes — “A comunicação” e “O homem na língua” — dos dois tomos dos Problemas de linguística geral ([1966] 1989; [1974] 2020), de Émile Benveniste, em um corpus textual de pesquisa baseado na seleção de escritos feita por Agamben (2005; 2008). Em consonância com as fontes, estabelecendo um diálogo entre linguística e filosofia, cujo ponto de encontro é a linguagem, discute-se a posição de testemunho enquanto posição de enunciação na qual, para propor-se como sujeito na e pela linguagem, o locutor tem de abdicar de sua referência como indivíduo psicossomático da realidade extralinguística para inserir-se na língua posta em funcionamento como o “eu” da enunciação, cuja realidade intralinguística é garantida na autorreferencialidade do discurso. Nesse processo de passagem do modo semiótico ao modo semântico, isto é, da língua-sistema à língua-discurso, depara-se com o hiato que separa os dois modos de ser forma e sentido na linguagem e que impõe a impossibilidade de tudo dizer, evidenciando a lacuna entre a potência de dizer e o dito. Disso resulta o inenarrável ou intestemunhável presente no Caderno de memórias coloniais, que, assim como outros testemunhos, tem seu valor justamente por aquilo que lhe falta. Uma vez que o hiato que separa o semiótico e o semântico perpassa toda a língua, não apenas o discurso resultante do testemunho, por fim, suscitamos a hipótese de que a posição de testemunho é inerente à condição do falante, que está sempre a dar testemunho de algo e a deparar-se com o abismo da palavra que foge e que funda o inenarrável próprio da língua.Este trabajo se propone a emprender un análisis enunciativo del testimonio en Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, publicado en 2009 en Portugal, llegando a Brasil en 2021 por la editorial Todavia. Así, en un primer momento, se parte de una noción de testimonio conforme la desarrolló Agamben (2008), asumiendo la existencia de dos tipos fundamentales de testigos, testis y superstes, a través de los que se pasan flujos de subjetivación y desubjetivación a lo largo de la enunciación de su testimonio. Puesto que la reflexión agambeniana se inspira en la teoría enunciativa de sesgo benvenistiano, en un segundo momento, se hace la lectura de algunos de los notorios artículos que forman parte de la segunda y de la quinta partes — “A comunicação” y “O homem na língua” — de los dos tomos de Problemas de linguística geral ([1966] 1989; [1974] 2020), de Émile Benveniste, en un corpus textual de investigación basado en la selección de escritos hecha por Agamben (2005; 2008). En conformidad con las fuentes, estableciendo un diálogo entre lingüística y filosofía, cuyo punto de encuentro es el lenguaje, se discute la posición de testimonio como posición de enunciación en la que, para proponerse como sujeto en y por el lenguaje, el locutor hay que abdicar de su referencia como individuo psicosomático de la realidad extralingüística para introducirse en la lengua puesta en acción como el “yo” de la enunciación, cuya realidad intralingüística se garantiza en la autorreferencialidad del discurso. En ese proceso de pasaje del modo semiótico al modo semántico, es decir, de la lengua-sistema a la lengua-discurso, se encuentra con el hiato que separa los dos modos de ser forma y sentido en el lenguaje y que le impone la imposibilidad de decirlo todo, evidenciando la brecha entre la potencia de decir y lo dicho. De ahí resulta el inenarrable o intestimoniable presente en Caderno de memórias coloniais, que, tal como otros testimonios, tiene su valor justo por lo que le falta. Una vez que la brecha que separa el semiótico del semántico pasa por toda la lengua, no sólo el discurso resultante del testimonio, por fin, suscitamos la hipótesis de que la posición de testimonio es inherente a la condición de hablante, que está siempre a dar testimonio de algo y a mirar el abismo de la palabra que huye y que funda el inenarrable propio de la lengua.application/pdfporBenveniste, Emile, 1902-1976Agamben, Giorgio, 1942-EnunciaçãoSemióticaSemânticaÉmile BenvenisteGiorgio AgambenTestimonioEnunciaciónSemiótico y semántico"É mais fácil esquecer" : uma análise enunciativa do testemunho em Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPorto Alegre, BR-RS2022Letras: Português e Espanhol: Licenciaturagraduaçãoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001159569.pdf.txt001159569.pdf.txtExtracted Texttext/plain179968http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/253887/2/001159569.pdf.txtb56760d1fe351b255e80134fe2202317MD52ORIGINAL001159569.pdfTexto completoapplication/pdf1082813http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/253887/1/001159569.pdf90b7fccc732da7477f97ef303e50b504MD5110183/2538872023-01-22 05:58:32.203264oai:www.lume.ufrgs.br:10183/253887Repositório de PublicaçõesPUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestopendoar:2023-01-22T07:58:32Repositório Institucional da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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