Regeneração natural em fragmentos florestais de Porto Alegre e sua relação com o Bugio-ruivo (Alouatta fusca - Atelidae)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Liesenfeld, Marcus Vinicius Athaydes
Data de Publicação: 1999
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/281002
Resumo: A regeneração natural das espécies arbóreas está entre os diversos fatores que contribuem para o entendimento da dinâmica das florestas em geral e particularmente da Mata Atlântica. Os elementos constituintes destes processos (plantas adultas, dispersores, etc.), suas interrelações e características limitantes em sintonia com as condições ambientais e interespecíficas, são importantes para uma melhor compreensão da dinâmica sucessional em ecossistemas maduros. Na zona sul de Porto Alegre podemos encontrar fragmentos relativamente conservados, de fito-fisionomias que outrora dominavam toda região metropolitana (ex.: restinga, banhado, butiazais, maricazal, etc.). O estudo foi realizado em dois morros do município que exibem fragmentos de mata de encosta com forte influência pluvial atlântica. O primeiro deles, o morro São Pedro (30°S, 51°W - 289m de altitude) de formação granítica, é o que possui a maior extensão de floresta (692,7ha) e a presença de importantes elementos da fauna local, como o bugio-ruivo (Alouatta fusca), primata ameaçado de extinção. Nos vales nascem arroios componentes de duas importantes microbacias hidrográficas que desaguam no Rio Guaíba, O outro morro, o da Ponta Grossa tem altitude máxima de 145m e está localizado no bairro de mesmo nome, às margens do Guaíba. Possui uma área total de 120ha, sendo 62,45ha desta com mata nativa, que há 15 anos o bugio-ruivo deixou de habitar para sempre. Estes morros, como tantos outros, sofreram o impacto exploratório de saibreiras e pedreiras de granito alterando desta forma seus processos naturais de sucessão. Este trabalho objetiva estudar a composição florística da regeneração natural, que atualmente está crescendo nas áreas que antes eram pedreiras, no São Pedro e na Ponta Grossa. Para tanto foi realizado um levantamento florístico de todos representantes jovens de espécimes vegetais componentes do estrato arbóreo, que possuíssem entre 0,3 m e 0,7 m de altura, em unidades amostrais circulares com área de 100 m², na mata secundária de encosta dos morros, em diferentes situações de alteração e de luminosidade; no Morro São Pedro em luminosidade com clareira (classe 3), luminosidade intermediaria (classe 2) e sombreamento máximo (classe 1, talvegues com mato alta); e na Ponta Grossa nas trilhas e borda do mato, luminosidade intermediário (classe 2). Foi amostrada uma área total de 1,8 km², onde os resultados para o morro São Pedro, indicam a presença de 53 espécies dividas em 25 famílias, sendo que para a Ponta Grossa, tomaram parte na amostragem um número consideravelmente menor de espécies: 25 em 20 gêneros e 14 famílias. No Morro São Pedro, Myrtaceae é a família que contribui com o maior número de espécies (8 spp. ou 14,54%) enquanto na Ponta Grossa, é Euphorbiaceae que contribui com a maior riqueza específica, com um número de 4 espécies (16%). Na amostragem da Ponta Grossa, Sapindaceae mostrou-se mais abundante que as outras famílias, com 51 indivíduos amostrados de um total de 198 (25,75%). No morro São Pedro, a familia que contribui com o maior número de indivíduos na regeneração, de um total de 780 indivíduos amostrados, é Moraceae, com 168 indivíduos amostrados, ou 21,53% do total. A presença da família Sapindaceae, como mais expressiva em abundância de indivíduos a Ponto Grosso, confere a esta área um caráter de mata secundária jovem enquanto que para o São Pedro, a presença de representantes jovens da Família Lauraceae (principalmente Nectandra megapotamica) na regeneração, e também a espécie Gymnanthes concolor, uma maior riqueza de espécies de Myrtaceae e as Psycothrya spp. de sub-bosque, permitem afirmar que as áreas amostradas neste local estariam em franca recuperação. A maior representatividade das Myrtaceae quanto ao número de espécies é relevante para o morro São Pedro, sugerindo encontrarem-se os trechos amostrados passando a uma etapa sucessional mais madura, indicando uma relativa boa conservação das áreas fornecedoras de propágulos e também uma boa ação dos dispersores. Entretanto os dados da Ponta Grossa refletem uma situação de uma área isolada, com muitas espécies secundárias iniciais e pioneiras e sem frugívoros de grande porte, ou seja sem potenciais dispersores de grandes sementes (algumas Myrtaceae), O estabelecimento de espécies na regeneração e o sucesso desta é ditado por variáveis complexas, com uma série de fatores interagindo dentro das populações de plantas. A existência e a sobrevivência de primatas em florestas alteradas é também determinada por variáveis complexas, desde composição florística até tamanho do fragmento. Não obstante, estas complexidades revelam uma outra intricada teia de interações, com os primatas tendo nas árvores frutíferas uma importante fonte de recursos e muitas destas confiando aos primatas sua fonte de dispersão, e isto associado ao fato dos primatas removerem um grande número de sementes, de tipicamente não diminuírem a viabilidade das sementes pelo manuseio dos frutos e de defecarem ou cuspirem ou cuspirem as sementes em locais propícios à germinação, sugere que a existência destes primatas é crítica para regeneração das florestas tropicais. À luz destes fatos consideramos o bugio-ruivo, presente no São Pedro, um dispersor em potencial de muitas espécies da área e, portanto, é considerada de extrema importância a presença deste primata e a continuidade desta presença, para que a dinâmica dos processos sucessionais continuem a ocorrer naturalmente, a fim de não prejudicar espécies dependentes deste dispersor.
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O estudo foi realizado em dois morros do município que exibem fragmentos de mata de encosta com forte influência pluvial atlântica. O primeiro deles, o morro São Pedro (30°S, 51°W - 289m de altitude) de formação granítica, é o que possui a maior extensão de floresta (692,7ha) e a presença de importantes elementos da fauna local, como o bugio-ruivo (Alouatta fusca), primata ameaçado de extinção. Nos vales nascem arroios componentes de duas importantes microbacias hidrográficas que desaguam no Rio Guaíba, O outro morro, o da Ponta Grossa tem altitude máxima de 145m e está localizado no bairro de mesmo nome, às margens do Guaíba. Possui uma área total de 120ha, sendo 62,45ha desta com mata nativa, que há 15 anos o bugio-ruivo deixou de habitar para sempre. Estes morros, como tantos outros, sofreram o impacto exploratório de saibreiras e pedreiras de granito alterando desta forma seus processos naturais de sucessão. 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Entretanto os dados da Ponta Grossa refletem uma situação de uma área isolada, com muitas espécies secundárias iniciais e pioneiras e sem frugívoros de grande porte, ou seja sem potenciais dispersores de grandes sementes (algumas Myrtaceae), O estabelecimento de espécies na regeneração e o sucesso desta é ditado por variáveis complexas, com uma série de fatores interagindo dentro das populações de plantas. A existência e a sobrevivência de primatas em florestas alteradas é também determinada por variáveis complexas, desde composição florística até tamanho do fragmento. 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