Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Maurente, Vanessa Soares
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Informática na Educação: teoria & prática
Texto Completo: https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073
Resumo: Esta tese foi inspirada no desejo de aprofundar modos de pesquisar e intervir através da foto- grafia e no reconhecimento das condições de possibilidade de construção de novas práticas no campo da saúde mental. Realizou-se no contexto do projeto de pesquisa e extensão Oficinando em Rede – parceria entre Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Centro Integrado de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes (CIAPS) do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Tal projeto realiza oficinas tecnológicas – internet, robótica, fotografia e vídeo – junto aos trabalhadores e usuários do local. Nas oficinas de fotografia, observamos que a entrega de câmeras aos jovens, para que fotografassem livremente, produzindo suas próprias inscrições, era algo estranho no contexto, pois as práticas discursivas em hospitais psiquiátricos geralmente colocam usuários em uma posição de objeto do olhar médico-especializado. Isto se deu em função da fotografia manter uma relação de similaridade perceptiva com a realidade, o que a diferencia de outras práticas artísticas em saúde mental, como pintura, escrita e desenho. Por outro lado, se a legitimidade da fotografia é garantida por uma crença na possibilidade de reprodução do real, os exercícios de autoria muitas vezes ficam invisíveis. Nosso objetivo foi problematizar as vias de exercícios de autoria no âmbito institucional, assim como estudar a experiência de si de trabalha- dores e jovens em relação aos discursos e práticas em saúde mental. Neste âmbito, formulamos quatro proposições para esta tese. A primeira delas, teórica, é baseada nas noções de Michel Fou- cault e consiste em estabelecer relações entre experiência de si e exercícios de autoria. A segunda, também teórica, busca aprofundar a discussão sobre as peculiaridades da fotografia através da teoria de Gilbert Simondon e consiste em analisar os processos de individuação da fotografia. A terceira, designada como metodológica, é produzir conhecimento acerca da fotografia enquanto estratégia de pesquisa e intervenção. A quarta, empírica, consiste em construir vias de exercícios de autoria através de oficinas de fotografia no CIAPS. O trabalho de campo se deu a partir da re- alização de oficinas de fotografia dirigidas aos trabalhadores (equipe fixa e terceirizada) e jovens (ambulatório e internação) do CIAPS. Elas eram divididas em três etapas: 1) sensibilização para a condição simbólica da imagem e possibilidade de exercícios de autoria através da fotografia; 2) solicitação de que os sujeitos fotografassem a partir da questão – como você percebe o CIAPS? – e 3) expressão verbal sobre a experiência e as imagens. As análises incidiram sobre a forma como a proposta foi recebida, o processo de fotografar, as possibilidades de exercícios de autoria no re- gime no local e as diversas leituras dos sujeitos e pesquisadores acerca das imagens produzidas. As imagens e discussões abordaram o aprisionamento, as contradições nas políticas públicas em saúde mental e o questionamento à lógica manicomial. A fotografia se mostrou potente não apenas pela condição simbólica, que enfatizava exercícios de autoria, mas também pelas posições icônica e indiciária, que permitiram análises e discussões com o comitê de ética, trabalhadores e jovens. Em função disso, entende-se que a potencialidade de trabalhar com fotografia em pesquisa e in- tervenção reside na construção de estratégias que abarquem sua complexidade epistemológica.
id UFRGS-7_fe419b7e6ab19977066895e00e4f5715
oai_identifier_str oai:seer.ufrgs.br:article/21073
network_acronym_str UFRGS-7
network_name_str Informática na Educação: teoria & prática
repository_id_str
spelling Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervençãoEsta tese foi inspirada no desejo de aprofundar modos de pesquisar e intervir através da foto- grafia e no reconhecimento das condições de possibilidade de construção de novas práticas no campo da saúde mental. Realizou-se no contexto do projeto de pesquisa e extensão Oficinando em Rede – parceria entre Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Centro Integrado de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes (CIAPS) do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Tal projeto realiza oficinas tecnológicas – internet, robótica, fotografia e vídeo – junto aos trabalhadores e usuários do local. Nas oficinas de fotografia, observamos que a entrega de câmeras aos jovens, para que fotografassem livremente, produzindo suas próprias inscrições, era algo estranho no contexto, pois as práticas discursivas em hospitais psiquiátricos geralmente colocam usuários em uma posição de objeto do olhar médico-especializado. Isto se deu em função da fotografia manter uma relação de similaridade perceptiva com a realidade, o que a diferencia de outras práticas artísticas em saúde mental, como pintura, escrita e desenho. Por outro lado, se a legitimidade da fotografia é garantida por uma crença na possibilidade de reprodução do real, os exercícios de autoria muitas vezes ficam invisíveis. Nosso objetivo foi problematizar as vias de exercícios de autoria no âmbito institucional, assim como estudar a experiência de si de trabalha- dores e jovens em relação aos discursos e práticas em saúde mental. Neste âmbito, formulamos quatro proposições para esta tese. A primeira delas, teórica, é baseada nas noções de Michel Fou- cault e consiste em estabelecer relações entre experiência de si e exercícios de autoria. A segunda, também teórica, busca aprofundar a discussão sobre as peculiaridades da fotografia através da teoria de Gilbert Simondon e consiste em analisar os processos de individuação da fotografia. A terceira, designada como metodológica, é produzir conhecimento acerca da fotografia enquanto estratégia de pesquisa e intervenção. A quarta, empírica, consiste em construir vias de exercícios de autoria através de oficinas de fotografia no CIAPS. O trabalho de campo se deu a partir da re- alização de oficinas de fotografia dirigidas aos trabalhadores (equipe fixa e terceirizada) e jovens (ambulatório e internação) do CIAPS. Elas eram divididas em três etapas: 1) sensibilização para a condição simbólica da imagem e possibilidade de exercícios de autoria através da fotografia; 2) solicitação de que os sujeitos fotografassem a partir da questão – como você percebe o CIAPS? – e 3) expressão verbal sobre a experiência e as imagens. As análises incidiram sobre a forma como a proposta foi recebida, o processo de fotografar, as possibilidades de exercícios de autoria no re- gime no local e as diversas leituras dos sujeitos e pesquisadores acerca das imagens produzidas. As imagens e discussões abordaram o aprisionamento, as contradições nas políticas públicas em saúde mental e o questionamento à lógica manicomial. A fotografia se mostrou potente não apenas pela condição simbólica, que enfatizava exercícios de autoria, mas também pelas posições icônica e indiciária, que permitiram análises e discussões com o comitê de ética, trabalhadores e jovens. Em função disso, entende-se que a potencialidade de trabalhar com fotografia em pesquisa e in- tervenção reside na construção de estratégias que abarquem sua complexidade epistemológica.Universidade Federal do Rio Grande do Sul2011-06-28info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionResumo de Teseapplication/pdfapplication/pdfhttps://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/2107310.22456/1982-1654.21073Computers in education: theory & practice; Vol. 13 No. 1 (2010): Work, Technology and SubjectivityInformática na educação: teoria & prática; v. 13 n. 1 (2010): Trabalho, Tecnologias e Subjetivação.1982-16541516-084Xreponame:Informática na Educação: teoria & práticainstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSporhttps://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073/12077https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073/12078Maurente, Vanessa Soaresinfo:eu-repo/semantics/openAccess2011-06-28T19:46:30Zoai:seer.ufrgs.br:article/21073Revistahttps://seer.ufrgs.br/InfEducTeoriaPraticaPUBhttps://seer.ufrgs.br/InfEducTeoriaPratica/oai||revista@pgie.ufrgs.br1982-16541516-084Xopendoar:2011-06-28T19:46:30Informática na Educação: teoria & prática - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.none.fl_str_mv Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
title Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
spellingShingle Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
Maurente, Vanessa Soares
title_short Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
title_full Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
title_fullStr Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
title_full_unstemmed Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
title_sort Imagens do Hospício Vazio: fotografia, pesquisa e intervenção
author Maurente, Vanessa Soares
author_facet Maurente, Vanessa Soares
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Maurente, Vanessa Soares
description Esta tese foi inspirada no desejo de aprofundar modos de pesquisar e intervir através da foto- grafia e no reconhecimento das condições de possibilidade de construção de novas práticas no campo da saúde mental. Realizou-se no contexto do projeto de pesquisa e extensão Oficinando em Rede – parceria entre Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Centro Integrado de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes (CIAPS) do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Tal projeto realiza oficinas tecnológicas – internet, robótica, fotografia e vídeo – junto aos trabalhadores e usuários do local. Nas oficinas de fotografia, observamos que a entrega de câmeras aos jovens, para que fotografassem livremente, produzindo suas próprias inscrições, era algo estranho no contexto, pois as práticas discursivas em hospitais psiquiátricos geralmente colocam usuários em uma posição de objeto do olhar médico-especializado. Isto se deu em função da fotografia manter uma relação de similaridade perceptiva com a realidade, o que a diferencia de outras práticas artísticas em saúde mental, como pintura, escrita e desenho. Por outro lado, se a legitimidade da fotografia é garantida por uma crença na possibilidade de reprodução do real, os exercícios de autoria muitas vezes ficam invisíveis. Nosso objetivo foi problematizar as vias de exercícios de autoria no âmbito institucional, assim como estudar a experiência de si de trabalha- dores e jovens em relação aos discursos e práticas em saúde mental. Neste âmbito, formulamos quatro proposições para esta tese. A primeira delas, teórica, é baseada nas noções de Michel Fou- cault e consiste em estabelecer relações entre experiência de si e exercícios de autoria. A segunda, também teórica, busca aprofundar a discussão sobre as peculiaridades da fotografia através da teoria de Gilbert Simondon e consiste em analisar os processos de individuação da fotografia. A terceira, designada como metodológica, é produzir conhecimento acerca da fotografia enquanto estratégia de pesquisa e intervenção. A quarta, empírica, consiste em construir vias de exercícios de autoria através de oficinas de fotografia no CIAPS. O trabalho de campo se deu a partir da re- alização de oficinas de fotografia dirigidas aos trabalhadores (equipe fixa e terceirizada) e jovens (ambulatório e internação) do CIAPS. Elas eram divididas em três etapas: 1) sensibilização para a condição simbólica da imagem e possibilidade de exercícios de autoria através da fotografia; 2) solicitação de que os sujeitos fotografassem a partir da questão – como você percebe o CIAPS? – e 3) expressão verbal sobre a experiência e as imagens. As análises incidiram sobre a forma como a proposta foi recebida, o processo de fotografar, as possibilidades de exercícios de autoria no re- gime no local e as diversas leituras dos sujeitos e pesquisadores acerca das imagens produzidas. As imagens e discussões abordaram o aprisionamento, as contradições nas políticas públicas em saúde mental e o questionamento à lógica manicomial. A fotografia se mostrou potente não apenas pela condição simbólica, que enfatizava exercícios de autoria, mas também pelas posições icônica e indiciária, que permitiram análises e discussões com o comitê de ética, trabalhadores e jovens. Em função disso, entende-se que a potencialidade de trabalhar com fotografia em pesquisa e in- tervenção reside na construção de estratégias que abarquem sua complexidade epistemológica.
publishDate 2011
dc.date.none.fl_str_mv 2011-06-28
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
Resumo de Tese
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073
10.22456/1982-1654.21073
url https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073
identifier_str_mv 10.22456/1982-1654.21073
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073/12077
https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21073/12078
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio Grande do Sul
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio Grande do Sul
dc.source.none.fl_str_mv Computers in education: theory & practice; Vol. 13 No. 1 (2010): Work, Technology and Subjectivity
Informática na educação: teoria & prática; v. 13 n. 1 (2010): Trabalho, Tecnologias e Subjetivação.
1982-1654
1516-084X
reponame:Informática na Educação: teoria & prática
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Informática na Educação: teoria & prática
collection Informática na Educação: teoria & prática
repository.name.fl_str_mv Informática na Educação: teoria & prática - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv ||revista@pgie.ufrgs.br
_version_ 1799766182577831936