Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Souza, Alana Tamires Fernandes de
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRN
Texto Completo: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44812
Resumo: É possível enxergar nossa sociedade sem a interferência da ciência? É possível separar a ciência da política? Em tempos de pandemia, podemos ver como a ciência é capaz de apresentar soluções para problemas de saúde pública, além disso, perceber como essa atuação se dá de forma bastante imbricada com interesses políticos e econômicos. A área de educação científica tem modificado suas abordagens na tentativa de oferecer um ensino de ciências que supere a mera abordagem de conteúdos, trazendo aspectos contextuais históricos, filosóficos e sociológicos que elucidam outros elementos que compõe o fazer científico. Neste trabalho, nos ancoramos nos estudos que pautam um Saber sobre Ciências ou Natureza da Ciência (NdC) para pensar a utilização de um caso histórico que possibilite uma discussão históricoepistemológica sobre a prática científica. Para isso, recorremos ao episódio vivenciado pela bióloga estadunidense Rachel Carson (1907- 1964), que foi acusada de pseudocientista ao publicar o livro Primavera Silenciosa (1962). Ao denunciar os riscos por trás da utilização indiscriminada de agrotóxicos nos Estados Unidos do pós-guerra, Rachel é alvo de diversas críticas que buscavam deslegitimar a validade de seu trabalho, no entanto, a disseminação da obra se deu de maneira tão expressiva que até hoje Rachel é considerada como mãe do movimento ambiental moderno. Em nossa análise, nos orientamos pela perspectiva sobre as ciências defendida pelo filósofo Bruno Latour, que ao afirmar que jamais fomos modernos, abre margem para que as concepções de progresso e constituição de uma ciência neutra, dissociada da cultura e integralmente objetiva sejam questionados. As ideias de Latour nos ajudam a perceber outros elementos do caso Rachel Carson, ao propor sua Teoria Ator-Rede (TAR) como exercício de olhar para os eventos sociais incorporando atores humanos e não-humanos. Nossa análise é ampliada e corrobora os argumentos defendidos por Latour, quando trazemos, num segundo momento, algumas considerações defendidas pela ecofeminista Carolyn Merchant em diálogo com o Manifesto Ciborgue de Donna Haraway. Merchant apresenta sua concepção de morte da natureza ao esboçar as formas como a Revolução Científica e seus representantes mobilizaram formas distintas de lidar com a natureza, priorizando os ideais mecanicistas. O percurso que trilhamos nesse texto tem a intenção de estabelecer um diálogo analítico entre os autores consultados com a conturbada passagem de Rachel pelo universo das ciências. Compreendemos que esse caso é mobilizador de vários tópicos de discussão que interessam aos defensores de uma educação científica que paute o fazer científico de forma mais complexa e crítica, evidenciando as formas como a ciência se relaciona com aspectos da subjetividade, da política e do feminino.
id UFRN_088b7a68c94d27d65df942a3ecd91ae0
oai_identifier_str oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/44812
network_acronym_str UFRN
network_name_str Repositório Institucional da UFRN
repository_id_str
spelling Souza, Alana Tamires Fernandes dehttp://lattes.cnpq.br/8000415533809093http://lattes.cnpq.br/2557880242678680Peron, Thiago da Silvahttp://lattes.cnpq.br/1487436314335217Moraes, Andréia Guerra dehttp://lattes.cnpq.br/4240715075311404Morey, Bernadete Barbosahttp://lattes.cnpq.br/7554818862651491Souza, Cimone Rozendo dehttp://lattes.cnpq.br/8227598190372706Martins, André Ferrer Pinto2021-11-08T17:54:36Z2021-11-08T17:54:36Z2021-08-31SOUZA, Alana Tamires Fernandes de. Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências. 2021. 162f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44812É possível enxergar nossa sociedade sem a interferência da ciência? É possível separar a ciência da política? Em tempos de pandemia, podemos ver como a ciência é capaz de apresentar soluções para problemas de saúde pública, além disso, perceber como essa atuação se dá de forma bastante imbricada com interesses políticos e econômicos. A área de educação científica tem modificado suas abordagens na tentativa de oferecer um ensino de ciências que supere a mera abordagem de conteúdos, trazendo aspectos contextuais históricos, filosóficos e sociológicos que elucidam outros elementos que compõe o fazer científico. Neste trabalho, nos ancoramos nos estudos que pautam um Saber sobre Ciências ou Natureza da Ciência (NdC) para pensar a utilização de um caso histórico que possibilite uma discussão históricoepistemológica sobre a prática científica. Para isso, recorremos ao episódio vivenciado pela bióloga estadunidense Rachel Carson (1907- 1964), que foi acusada de pseudocientista ao publicar o livro Primavera Silenciosa (1962). Ao denunciar os riscos por trás da utilização indiscriminada de agrotóxicos nos Estados Unidos do pós-guerra, Rachel é alvo de diversas críticas que buscavam deslegitimar a validade de seu trabalho, no entanto, a disseminação da obra se deu de maneira tão expressiva que até hoje Rachel é considerada como mãe do movimento ambiental moderno. Em nossa análise, nos orientamos pela perspectiva sobre as ciências defendida pelo filósofo Bruno Latour, que ao afirmar que jamais fomos modernos, abre margem para que as concepções de progresso e constituição de uma ciência neutra, dissociada da cultura e integralmente objetiva sejam questionados. As ideias de Latour nos ajudam a perceber outros elementos do caso Rachel Carson, ao propor sua Teoria Ator-Rede (TAR) como exercício de olhar para os eventos sociais incorporando atores humanos e não-humanos. Nossa análise é ampliada e corrobora os argumentos defendidos por Latour, quando trazemos, num segundo momento, algumas considerações defendidas pela ecofeminista Carolyn Merchant em diálogo com o Manifesto Ciborgue de Donna Haraway. Merchant apresenta sua concepção de morte da natureza ao esboçar as formas como a Revolução Científica e seus representantes mobilizaram formas distintas de lidar com a natureza, priorizando os ideais mecanicistas. O percurso que trilhamos nesse texto tem a intenção de estabelecer um diálogo analítico entre os autores consultados com a conturbada passagem de Rachel pelo universo das ciências. Compreendemos que esse caso é mobilizador de vários tópicos de discussão que interessam aos defensores de uma educação científica que paute o fazer científico de forma mais complexa e crítica, evidenciando as formas como a ciência se relaciona com aspectos da subjetividade, da política e do feminino.Is it possible to watch our society without the interference of science? Is it possible to split science from politics? In times of pandemics, we can see how science is able to provide solutions to public health policy issues, in addition to realize how this action takes place intertwined with political and economic interests. The science education field has changed its approaches in an attempt to offer a science teaching that surpasses the merely content, bringing historical, philosophical, and sociological contexts that elucidate other elements that comprise the scientific practic. In this work, we focused on studies guiding a Knowledge about Science or Nature of Science (NoS) to think about the use of a historical case which enables a historicalepistemological discussion about scientific practice. For this aim, we resorted to the episode experienced by the American biologist Rachel Carson (1907-1964), who was accused of being a pseudoscientist after publishing her Silent Spring (1962) book. By denouncing the risks behind the unsystematic use of pesticides in the postwar United States, Rachel became a target of several criticisms that sought to delegitimize the validity of her work. However, the diffusion of her work took place in such an expressive way that until nowadays Rachel is considered mother of the modern environmental movement. In our analysis, we are guided by the science perspective defended by the philosopher Bruno Latour, who by stating that we were never modern, leaves room for inquiring about the conceptions of progress and constitution of a neutral, dissociated from culture, and fully objective science. Latour’s ideas help us to perceive other elements of Rachel Carsons’ case by proposing his Actor-Network Theory (ANT) as an exercise of looking at social events incorporating humans and non-human actors. Our analysis is expanded and corroborates the arguments defended by Latour, when we bring, in a second moment, some considerations endorsed by the ecofeminist Carolyn Merchant, dialoguing with Donna Haraway’s Cyborg Manifest. Merchant presents her conception of nature death by outlining how Scientific Revolution and its representatives mobilized different ways of dealing with nature, prioritizing mechanistic ideals. The path followed in this text is intended to establish an analytical dialogue among the consulted authors with Rachel’s troubled passage through the universe of science. We understand that this case mobilizes several discussion topics that are of interest to defenders of a scientific education that guides scientific work in a more complex and critical way, pointing the ways in which science relates to aspects of subjectivity, politics, and feminine.Universidade Federal do Rio Grande do NortePROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃOUFRNBrasilRachel CarsonBruno LatourSaber sobre CiênciasEnsino de CiênciasPrimavera silenciosaFundamentos da EducaçãoRachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciênciasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALRachelCarsonprimavera_Souza_2021.pdfapplication/pdf2446552https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/44812/1/RachelCarsonprimavera_Souza_2021.pdfc4912d5ebad09f0ce2d53d11865579f9MD51123456789/448122022-05-02 12:24:17.132oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/44812Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2022-05-02T15:24:17Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
title Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
spellingShingle Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
Souza, Alana Tamires Fernandes de
Rachel Carson
Bruno Latour
Saber sobre Ciências
Ensino de Ciências
Primavera silenciosa
Fundamentos da Educação
title_short Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
title_full Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
title_fullStr Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
title_full_unstemmed Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
title_sort Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências
author Souza, Alana Tamires Fernandes de
author_facet Souza, Alana Tamires Fernandes de
author_role author
dc.contributor.authorLattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/8000415533809093
dc.contributor.advisorLattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/2557880242678680
dc.contributor.referees1.none.fl_str_mv Peron, Thiago da Silva
dc.contributor.referees1Lattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/1487436314335217
dc.contributor.referees2.none.fl_str_mv Moraes, Andréia Guerra de
dc.contributor.referees2Lattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/4240715075311404
dc.contributor.referees3.none.fl_str_mv Morey, Bernadete Barbosa
dc.contributor.referees3Lattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/7554818862651491
dc.contributor.referees4.none.fl_str_mv Souza, Cimone Rozendo de
dc.contributor.referees4Lattes.pt_BR.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/8227598190372706
dc.contributor.author.fl_str_mv Souza, Alana Tamires Fernandes de
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Martins, André Ferrer Pinto
contributor_str_mv Martins, André Ferrer Pinto
dc.subject.por.fl_str_mv Rachel Carson
Bruno Latour
Saber sobre Ciências
Ensino de Ciências
Primavera silenciosa
Fundamentos da Educação
topic Rachel Carson
Bruno Latour
Saber sobre Ciências
Ensino de Ciências
Primavera silenciosa
Fundamentos da Educação
description É possível enxergar nossa sociedade sem a interferência da ciência? É possível separar a ciência da política? Em tempos de pandemia, podemos ver como a ciência é capaz de apresentar soluções para problemas de saúde pública, além disso, perceber como essa atuação se dá de forma bastante imbricada com interesses políticos e econômicos. A área de educação científica tem modificado suas abordagens na tentativa de oferecer um ensino de ciências que supere a mera abordagem de conteúdos, trazendo aspectos contextuais históricos, filosóficos e sociológicos que elucidam outros elementos que compõe o fazer científico. Neste trabalho, nos ancoramos nos estudos que pautam um Saber sobre Ciências ou Natureza da Ciência (NdC) para pensar a utilização de um caso histórico que possibilite uma discussão históricoepistemológica sobre a prática científica. Para isso, recorremos ao episódio vivenciado pela bióloga estadunidense Rachel Carson (1907- 1964), que foi acusada de pseudocientista ao publicar o livro Primavera Silenciosa (1962). Ao denunciar os riscos por trás da utilização indiscriminada de agrotóxicos nos Estados Unidos do pós-guerra, Rachel é alvo de diversas críticas que buscavam deslegitimar a validade de seu trabalho, no entanto, a disseminação da obra se deu de maneira tão expressiva que até hoje Rachel é considerada como mãe do movimento ambiental moderno. Em nossa análise, nos orientamos pela perspectiva sobre as ciências defendida pelo filósofo Bruno Latour, que ao afirmar que jamais fomos modernos, abre margem para que as concepções de progresso e constituição de uma ciência neutra, dissociada da cultura e integralmente objetiva sejam questionados. As ideias de Latour nos ajudam a perceber outros elementos do caso Rachel Carson, ao propor sua Teoria Ator-Rede (TAR) como exercício de olhar para os eventos sociais incorporando atores humanos e não-humanos. Nossa análise é ampliada e corrobora os argumentos defendidos por Latour, quando trazemos, num segundo momento, algumas considerações defendidas pela ecofeminista Carolyn Merchant em diálogo com o Manifesto Ciborgue de Donna Haraway. Merchant apresenta sua concepção de morte da natureza ao esboçar as formas como a Revolução Científica e seus representantes mobilizaram formas distintas de lidar com a natureza, priorizando os ideais mecanicistas. O percurso que trilhamos nesse texto tem a intenção de estabelecer um diálogo analítico entre os autores consultados com a conturbada passagem de Rachel pelo universo das ciências. Compreendemos que esse caso é mobilizador de vários tópicos de discussão que interessam aos defensores de uma educação científica que paute o fazer científico de forma mais complexa e crítica, evidenciando as formas como a ciência se relaciona com aspectos da subjetividade, da política e do feminino.
publishDate 2021
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2021-11-08T17:54:36Z
dc.date.available.fl_str_mv 2021-11-08T17:54:36Z
dc.date.issued.fl_str_mv 2021-08-31
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.citation.fl_str_mv SOUZA, Alana Tamires Fernandes de. Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências. 2021. 162f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44812
identifier_str_mv SOUZA, Alana Tamires Fernandes de. Rachel Carson e a primavera silenciosa: análise histórico-epistemológica para um saber sobre ciências. 2021. 162f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.
url https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/44812
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio Grande do Norte
dc.publisher.program.fl_str_mv PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFRN
dc.publisher.country.fl_str_mv Brasil
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio Grande do Norte
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFRN
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
instacron:UFRN
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
instacron_str UFRN
institution UFRN
reponame_str Repositório Institucional da UFRN
collection Repositório Institucional da UFRN
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/44812/1/RachelCarsonprimavera_Souza_2021.pdf
bitstream.checksum.fl_str_mv c4912d5ebad09f0ce2d53d11865579f9
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1802117823156191232