O mundo coberto de penas: uma análise cronotópica de Vidas secas, de Graciliano Ramos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lopes, Lucas Jose de Mello
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRN
Texto Completo: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/55046
Resumo: Esta dissertação se debruça sobre o romance Vidas secas [1938], de Graciliano Ramos. A obra ambienta-se no espaço rural do Nordeste brasileiro, com personagens aferradas a uma situação climática desfavorável e a relações de poder definidas pelo latifúndio. O foco da pesquisa está no modo como a realidade do espaço rural, com base no contexto de produção, se reduz estruturalmente e se irradia para a composição da obra. Objetiva analisar a construção do espaço-tempo rural em Vidas secas e as suas implicações para outros elementos da narrativa. Especificamente, almeja: a) recuperar o processo social-literário que enformou a obra; b) analisar a imagem de ser humano que surge da vinculação entre personagens, espaço, tempo e relações de poder; e c) verificar o desenvolvimento de atributos do gênero romance na obra. Para tal, foi realizada pesquisa bibliográfica e análise literária com base nos pressupostos da crítica integrativa de Antonio Candido, da teoria bakhtiniana do romance — especialmente do conceito de cronotopo — e da teoria dos modos de Northrop Frye. O exercício revelou que a elaboração do espaço-tempo dialoga com a realidade do país no momento de escrita: Graciliano Ramos, diante de um Brasil pautado na descrença, concebe um cronotopo circular que retoma formas pré-romanescas que contradizem a liberdade e a iniciativa criadora típica do romance moderno. Nesse cronotopo, denominado aqui de cronotopo da bolandeira e fundamentado num princípio de oposição, o tempo cíclico e o espaço marcado por relações de poder opressoras aprisionam Fabiano e sua família numa miséria aparentemente inescapável. Essas personagens, entretanto, são dotadas de uma consciência de si e do mundo que as eleva em meio a esse universo reificado. Embora não possam alterar significativamente o mundo negativo em que circulam, elas resistem e não se deixam contaminar pelo modus operandi do opressor. Assim, Ramos estabelece uma forma literária que, ao mesmo tempo que se alimenta do sentimento de desencanto e fracasso de sua geração, também o tensiona ao apontar um caminho de humanização contrário à barbárie civilizatória de sua época a partir de personagens aparentemente primitivas.
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A obra ambienta-se no espaço rural do Nordeste brasileiro, com personagens aferradas a uma situação climática desfavorável e a relações de poder definidas pelo latifúndio. O foco da pesquisa está no modo como a realidade do espaço rural, com base no contexto de produção, se reduz estruturalmente e se irradia para a composição da obra. Objetiva analisar a construção do espaço-tempo rural em Vidas secas e as suas implicações para outros elementos da narrativa. Especificamente, almeja: a) recuperar o processo social-literário que enformou a obra; b) analisar a imagem de ser humano que surge da vinculação entre personagens, espaço, tempo e relações de poder; e c) verificar o desenvolvimento de atributos do gênero romance na obra. Para tal, foi realizada pesquisa bibliográfica e análise literária com base nos pressupostos da crítica integrativa de Antonio Candido, da teoria bakhtiniana do romance — especialmente do conceito de cronotopo — e da teoria dos modos de Northrop Frye. O exercício revelou que a elaboração do espaço-tempo dialoga com a realidade do país no momento de escrita: Graciliano Ramos, diante de um Brasil pautado na descrença, concebe um cronotopo circular que retoma formas pré-romanescas que contradizem a liberdade e a iniciativa criadora típica do romance moderno. Nesse cronotopo, denominado aqui de cronotopo da bolandeira e fundamentado num princípio de oposição, o tempo cíclico e o espaço marcado por relações de poder opressoras aprisionam Fabiano e sua família numa miséria aparentemente inescapável. Essas personagens, entretanto, são dotadas de uma consciência de si e do mundo que as eleva em meio a esse universo reificado. Embora não possam alterar significativamente o mundo negativo em que circulam, elas resistem e não se deixam contaminar pelo modus operandi do opressor. Assim, Ramos estabelece uma forma literária que, ao mesmo tempo que se alimenta do sentimento de desencanto e fracasso de sua geração, também o tensiona ao apontar um caminho de humanização contrário à barbárie civilizatória de sua época a partir de personagens aparentemente primitivas.This dissertation focuses on the novel Barren lives [1938], by Graciliano Ramos. The work takes place in the rural space of the Brazilian Northeast, with characters attached to an unfavorable climate and the power relations defined by land property. The focus of the research is on how the reality of the rural chronotope, based on the context of production, is structurally reduced and radiates into the composition of the work. It aims to analyze the construction of rural space-time in Barren lives and its implications on other elements of the narrative. Specifically, it aims to: a) recover the social-literary process that shaped the work; b) analyze the image of the human being that arises from the connection between characters, space, time and power relations; and c) verify the development of attributes of the novel genre in the work. To this end, bibliographical research and literary analysis were carried out based on Antonio Candido's integrative criticism, Bakhtin's theory of the novel — especially the concept of chronotope — and Northrop Frye's theory of modes. The exercise revealed that the elaboration of spacetime dialogues with the reality of the country at the time of writing: Graciliano Ramos, faced with a Brazil based on disbelief, conceives a circular chronotope that assumes pre-novelistic forms that contradict the freedom and the creative initiative typical of the modern novel. In this chronotope, called here the bolandeira chronotope and based on a principle of opposition, cyclical time and space marked by oppressive power relations imprison Fabiano and his family in an apparently inescapable emergency. These characters, however, are endowed with an awareness of themselves and the world that elevates them in the midst of this reified universe. Although they cannot significantly alter the negative world in which they circulate, they resist and do not allow themselves to be contaminated by the oppressor's modus operandi. Thus, Ramos establishes a literary form that, while feeding on the feeling of disenchantment and failure of his generation, also tensions it by seeking a path of humanization contrary to the civilizing barbarism of his time based on apparently primitive charactersUniversidade Federal do Rio Grande do NortePrograma de Pós-graduação em Estudos da LinguagemUFRNBrasilhttps://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt-brinfo:eu-repo/semantics/openAccessliteratura brasileiraVidas secasromancecronotopoO mundo coberto de penas: uma análise cronotópica de Vidas secas, de Graciliano Ramosinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisporreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALMundoCobertoPenas_Lopes_2023.pdfapplication/pdf1034779https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/55046/1/MundoCobertoPenas_Lopes_2023.pdf6cf6b8ddf4bae1e17599b36f72b80f0cMD51123456789/550462023-12-07 12:07:50.758oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/55046Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2023-12-07T15:07:50Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false
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