Sobre a construção das ideias científicas ou Darwin e seus demônios

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sousa, Jair Moisés de
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRN
Texto Completo: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/23958
Resumo: Daimons são obsessões cognitivas inconscientes que dominam os pensamentos dos sujeitos. Eles são frutos de experiências vividas, da educação escolar e familiar e dos traumas que marcam a história de vida das pessoas. Considerando a ciência uma prática humana, a construção das ideias científicas não está imune às interferências dos daimons. Daí porque problematizamos hoje o mito da neutralidade científica. A ciência é fortemente implicada pelas marcas pessoais dos sujeitos. O desejo maior que moveu esta tese foi minha obsessão de intuir os daimons de Charles Darwin, as marcas que o fizeram pensar o que pensou sobre a evolução das espécies. Para isso, lançamos mão da correspondência trocada por ele durante toda a sua vida, disponibilizada pelos projetos: Darwin online e Darwin correspondence; dos cadernos de anotações B, C, D, E, M e N e da obra A origem das espécies. Não segui um método rígido. As estratégias de método mudavam conforme informações novas exigiam um caminho novo. Revisitei minha história de vida, minhas experiências pessoais e escolares, mediante um exercício de exegese inspirado por Edgar Morin em Meus demônios, no intuito de compreender porque me tornei biólogo e porque resolvi trabalhar com as ideias darwinianas. Por meio do material de pesquisa aludido, me foi possível intuir, construir e formular três daimons de Darwin. Primeiro, o daimon do materialismo oriundo do pensamento positivista que marcou a época em que viveu. Foi com base nessa obsessão pela quantidade de provas, e pela robustez de fatos capazes de explicar um dado fenômeno relacionado à vida, que Darwin levantou fortes argumentos que corroboravam suas teorias transmutacionais das espécies. Dessa possessão resultou o rigor que sempre o acompanhou. O segundo daimon, que denominei de desvios, direcionou os olhares de Darwin para as características desprezadas pelos naturalistas de sua época, pois, para eles, não passavam de imperfeições. Porém, para Darwin, refletiam uma linguagem da natureza. Outros caminhos desviantes o acompanharam. A negação da existência de Deus e dos princípios que fundavam a fé anglicana foi essencial para a proposição da Seleção Natural como uma linguagem da natureza desvinculada dos desígnios divinos. O terceiro daimon chamei de migração conceitual e foi talvez o mais importante. Essa terceira obsessão permitiu ampliar o entendimento da vida, das ideias e dos argumentos de outras áreas da ciência e dos saberes. Foi assim com a noção de luta pela sobrevivência, vinda das teorias econômicas; da ideia de gradualidade e lentidão da ação das forças que originam novas espécies, oriunda da Geologia, e do conceito de seleção natural, proveniente dos saberes dos criadores de pombos, cavalos, cães e agricultores. A ação mútua desses três daimons permitiu a Darwin formular a teoria da transmutação das espécies e o fizeram pensar o que pensou. Quanto a mim, outra ciência, mas também outro sujeito emergiu. Darwin e o Grecom foram o casulo que conduziram minha transformação em direção a uma Biologia da complexidade.
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Eles são frutos de experiências vividas, da educação escolar e familiar e dos traumas que marcam a história de vida das pessoas. Considerando a ciência uma prática humana, a construção das ideias científicas não está imune às interferências dos daimons. Daí porque problematizamos hoje o mito da neutralidade científica. A ciência é fortemente implicada pelas marcas pessoais dos sujeitos. O desejo maior que moveu esta tese foi minha obsessão de intuir os daimons de Charles Darwin, as marcas que o fizeram pensar o que pensou sobre a evolução das espécies. Para isso, lançamos mão da correspondência trocada por ele durante toda a sua vida, disponibilizada pelos projetos: Darwin online e Darwin correspondence; dos cadernos de anotações B, C, D, E, M e N e da obra A origem das espécies. Não segui um método rígido. As estratégias de método mudavam conforme informações novas exigiam um caminho novo. Revisitei minha história de vida, minhas experiências pessoais e escolares, mediante um exercício de exegese inspirado por Edgar Morin em Meus demônios, no intuito de compreender porque me tornei biólogo e porque resolvi trabalhar com as ideias darwinianas. Por meio do material de pesquisa aludido, me foi possível intuir, construir e formular três daimons de Darwin. Primeiro, o daimon do materialismo oriundo do pensamento positivista que marcou a época em que viveu. Foi com base nessa obsessão pela quantidade de provas, e pela robustez de fatos capazes de explicar um dado fenômeno relacionado à vida, que Darwin levantou fortes argumentos que corroboravam suas teorias transmutacionais das espécies. Dessa possessão resultou o rigor que sempre o acompanhou. O segundo daimon, que denominei de desvios, direcionou os olhares de Darwin para as características desprezadas pelos naturalistas de sua época, pois, para eles, não passavam de imperfeições. Porém, para Darwin, refletiam uma linguagem da natureza. Outros caminhos desviantes o acompanharam. A negação da existência de Deus e dos princípios que fundavam a fé anglicana foi essencial para a proposição da Seleção Natural como uma linguagem da natureza desvinculada dos desígnios divinos. O terceiro daimon chamei de migração conceitual e foi talvez o mais importante. Essa terceira obsessão permitiu ampliar o entendimento da vida, das ideias e dos argumentos de outras áreas da ciência e dos saberes. Foi assim com a noção de luta pela sobrevivência, vinda das teorias econômicas; da ideia de gradualidade e lentidão da ação das forças que originam novas espécies, oriunda da Geologia, e do conceito de seleção natural, proveniente dos saberes dos criadores de pombos, cavalos, cães e agricultores. A ação mútua desses três daimons permitiu a Darwin formular a teoria da transmutação das espécies e o fizeram pensar o que pensou. Quanto a mim, outra ciência, mas também outro sujeito emergiu. Darwin e o Grecom foram o casulo que conduziram minha transformação em direção a uma Biologia da complexidade.Daimons are cognitive unconscious obsessions which dominate the thoughts of the subjects. They are the fruit of life experiences, of school and family education and of the trauma which mark the life history of people. Considering science as a human practice, the construction of scientific ideas is not immune to daimons interference. That is the reason why, nowadays, we discuss the myth of scientific neutrality. The desire which motivated this thesis was my obsession to intuit Charles Darwin daimons, the marks which made him think what he thought about the evolution of the species. In this regard, we used the correspondence exchanged by him along his life, which was made available by the projects: Darwin Online and Darwin Correspondence; from notebooks B, C, D, E, M and N and from the work The origin of the species. I did not follow a strict method. The method strategies changed as new information demanded a new path. I revisited my history, my personal and school experiences, through an exegesis exercise inspired by Edgar Morin in My demons, in an attempt to understand why I became a biologist and why I decided to work with Darwinian ideas. Through the research material mentioned, it was possible for me to intuit, build and formulate three of Darwin’s daimons. First, the materialism daimon, derived from the positivist thought which marked the time he lived in. It was based on the obsession for the amount of proof and the strength of facts capable to explain a certain phenomenon related to life, that Darwin raised strong arguments which corroborate his transmutation of the species theories. From this obsession, derived the discipline which had always accompanied him. The second daimon, which I denominated deviation, directed Darwin’s views to the characteristics once despised by the naturalists from his time, because, for them, they were nothing but imperfections. However, to Darwin, they reflected nature’s language. Other deviant paths followed him. The denial of God’s existence and the principles which grounded the Anglican faith were essential to the proposition of Natural Selection as a language of nature detached from divine purposes. The third daimon which I called conceptual migration was, perhaps, the most important. This third obsession allowed to expand the understanding of life, of the ideas and of the arguments of other areas of science and knowledge. That is how it happened with the fight for survival, originated from economic theories; from the idea of gradualness and slowness of the action of strength which create new species, derived from Geology, and from the concept of natural selection, which come from dove, horses and dogs breeders as well as farmers. The mutual action of these three daimons allowed Darwin to formulate the transmutation of the species theory and made him think what he thought. As for me, another science but also another subject emerged. Darwin and the GRECOM were the cocoon which conducted my transformation towards the Biology of complexity.porCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAOComplexidadeImplicação do sujeito na ciênciaCharles DarwinMetamorfoseSobre a construção das ideias científicas ou Darwin e seus demôniosAbout the construction of scientific ideas or Darwin and his demonsinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃOUFRNBrasilinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UFRNinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)instacron:UFRNORIGINALSobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdfSobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdfapplication/pdf2758512https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23958/1/SobreConstru%c3%a7%c3%a3oIdeias_Sousa_2017.pdf9c4ec62eea4922b4425e854b55211c6bMD51TEXTJairMoisesDeSousa_TESE.pdf.txtJairMoisesDeSousa_TESE.pdf.txtExtracted texttext/plain334940https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23958/4/JairMoisesDeSousa_TESE.pdf.txt33459715a8001291ed4e38b57f341636MD54SobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdf.txtSobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdf.txtExtracted texttext/plain334784https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23958/6/SobreConstru%c3%a7%c3%a3oIdeias_Sousa_2017.pdf.txt252b1f4fbdc3e499a55bc07ea1df7c3cMD56THUMBNAILJairMoisesDeSousa_TESE.pdf.jpgJairMoisesDeSousa_TESE.pdf.jpgIM Thumbnailimage/jpeg6911https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23958/5/JairMoisesDeSousa_TESE.pdf.jpg72259254589bbf0655568fbc838fde17MD55SobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdf.jpgSobreConstruçãoIdeias_Sousa_2017.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1816https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23958/7/SobreConstru%c3%a7%c3%a3oIdeias_Sousa_2017.pdf.jpgbe082237b30c726fcc595e0e6d54f6e7MD57123456789/239582019-06-16 02:21:00.831oai:https://repositorio.ufrn.br:123456789/23958Repositório de PublicaçõesPUBhttp://repositorio.ufrn.br/oai/opendoar:2019-06-16T05:21Repositório Institucional da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)false
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