A dicotomia entre corpo e mente e a sua influência no uso crescente e acentuado de psicofármacos na atualidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mota, Tiago Cupolillo
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRRJ
Texto Completo: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/14425
Resumo: O presente trabalho aborda o uso crescente e acentuado de psicofármacos, na atualidade, para o tratamento de sofrimentos psíquicos. Estes últimos, que outrora faziam parte do ato mesmo de viver, têm sido constantemente capturados pelo discurso da biomedicina, que os considera como resultado de desordens localizadas no corpo – no cérebro, mais especificamente –, reduzindo a amplitude possível das experiências humanas. Processo intenso de normatização produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. da vida que está relacionado ao papel fiscalista e normatizador transferido à medicina, antes responsabilidade do poder religioso, que visa, sobretudo, regular as relações sociais por meio de uma ética do trabalho que serve aos interesses do modo de produção capitalista. Diante desse cenário, aproximamos o constante avanço da jurisdição médica sobre as diversas manifestações da vida às críticas que Nietzsche direciona à filosofia e ciência moderna como produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. Para o autor, a tendência à cristalização dos saberes sobre a vida, diferenciando as suas manifestações entre Verdade e ilusão, está relacionada à herança da tradição filosófica socrática-platônica e do cristianismo sobre o pensamento e instituições da modernidade. Do ponto de vista da prática científica, a natureza múltipla (e o corpo múltiplo) e os caracteres secundários da matéria, foram postos à parte. Por outro lado, os caracteres primários, dado a sua constância e imutabilidade, além de serem matematizáveis, passaram a definir a realidade como um todo, fundamentando o paradigma mecanicista na investigação científica. A produção de unidade a qual se refere Nietzsche se refletiu na engenharia social inaugurada pela modernidade, que se manifesta no fenômeno da caça às bruxas, na monopolização e homogeneização dos saberes técnicos e no episteminicídio de outros, bem como na correção da realidade por meio da ortopedia social efetivada pelas técnicas disciplinares, à serviço do modo de sujeição capitalista. Por fim, como resultado dessa investigação, é possível afirmar que a defesa da existência de valores verdadeiros e, por isso, transcendentes à realidade imanente, deve ser pensada como um meio de efetivação do domínio e controle sobre as forças da vida. O desenvolvimento de tecnologias médico-farmacológicas pode ser entendido, portanto, como um processo de aprimoramento do controle social exercido pelos médicos profissionais e pelo saber da biomedicina, na manutenção e aprimoramento da exploração das forças corporais, que se fundamentam nos ideais de renúncia ao corpo e suas satisfações. Com base na filosofia de Espinosa, foi possível propor que parte da solução para o uso acentuado de psicofármacos na atualidade se refira à revalorização da experiência múltipla com o corpo e seus afetos; um resgate da experiência erótica, a partir da leitura de Foucault sobre as práticas de si da modernidade. Além disso, ao nos depararmos com o poder da indústria farmacêutica na manutenção do paradigma mecânico do sofrimento mental, que sustenta a terapêutica farmacológica, defendemos que sua superação deva ser vista igualmente como uma luta contra interesses mercadológicos no direito à saúde.
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Dissertação (Mestrado em Psicologia ) - Instituto de Educação, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2021 .https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/14425O presente trabalho aborda o uso crescente e acentuado de psicofármacos, na atualidade, para o tratamento de sofrimentos psíquicos. Estes últimos, que outrora faziam parte do ato mesmo de viver, têm sido constantemente capturados pelo discurso da biomedicina, que os considera como resultado de desordens localizadas no corpo – no cérebro, mais especificamente –, reduzindo a amplitude possível das experiências humanas. Processo intenso de normatização produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. da vida que está relacionado ao papel fiscalista e normatizador transferido à medicina, antes responsabilidade do poder religioso, que visa, sobretudo, regular as relações sociais por meio de uma ética do trabalho que serve aos interesses do modo de produção capitalista. Diante desse cenário, aproximamos o constante avanço da jurisdição médica sobre as diversas manifestações da vida às críticas que Nietzsche direciona à filosofia e ciência moderna como produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. Para o autor, a tendência à cristalização dos saberes sobre a vida, diferenciando as suas manifestações entre Verdade e ilusão, está relacionada à herança da tradição filosófica socrática-platônica e do cristianismo sobre o pensamento e instituições da modernidade. Do ponto de vista da prática científica, a natureza múltipla (e o corpo múltiplo) e os caracteres secundários da matéria, foram postos à parte. Por outro lado, os caracteres primários, dado a sua constância e imutabilidade, além de serem matematizáveis, passaram a definir a realidade como um todo, fundamentando o paradigma mecanicista na investigação científica. A produção de unidade a qual se refere Nietzsche se refletiu na engenharia social inaugurada pela modernidade, que se manifesta no fenômeno da caça às bruxas, na monopolização e homogeneização dos saberes técnicos e no episteminicídio de outros, bem como na correção da realidade por meio da ortopedia social efetivada pelas técnicas disciplinares, à serviço do modo de sujeição capitalista. Por fim, como resultado dessa investigação, é possível afirmar que a defesa da existência de valores verdadeiros e, por isso, transcendentes à realidade imanente, deve ser pensada como um meio de efetivação do domínio e controle sobre as forças da vida. O desenvolvimento de tecnologias médico-farmacológicas pode ser entendido, portanto, como um processo de aprimoramento do controle social exercido pelos médicos profissionais e pelo saber da biomedicina, na manutenção e aprimoramento da exploração das forças corporais, que se fundamentam nos ideais de renúncia ao corpo e suas satisfações. Com base na filosofia de Espinosa, foi possível propor que parte da solução para o uso acentuado de psicofármacos na atualidade se refira à revalorização da experiência múltipla com o corpo e seus afetos; um resgate da experiência erótica, a partir da leitura de Foucault sobre as práticas de si da modernidade. Além disso, ao nos depararmos com o poder da indústria farmacêutica na manutenção do paradigma mecânico do sofrimento mental, que sustenta a terapêutica farmacológica, defendemos que sua superação deva ser vista igualmente como uma luta contra interesses mercadológicos no direito à saúde.CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorThe present work deals with the growing and accentuated use of psychotropic drugs, nowadays, for the treatment of psychic suffering. The latter, which were once part of the very act of living, have been constantly captured by the discourse of biomedicine, which considers them as the result of disorders located in the body – in the brain, more specifically –, reducing the possible range of human experiences. Intense process of standardization of life that is related to the supervisory and normative role transferred to medicine, previously the responsibility of religious power, which aims, above all, to regulate social relations through a work ethic that serves the interests of the capitalist mode of production. Faced with this scenario, we bring the constant advance of medical jurisdiction over the diverse manifestations of life to the criticisms that Nietzsche directs to modern philosophy and science as producing values of unity over reality – its standardization. For the author, the tendency to crystallize knowledge about life, differentiating its manifestations between Truth and illusion, is related to the inheritance of the Socratic-Platonic philosophical tradition and Christianity on the thought and institutions of modernity. From the point of view of scientific practice, the multiple nature (and the multiple body) and the secondary characters of matter have been set aside. On the other hand, the primary characters, given their constancy and immutability, in addition to being mathematizable, began to define reality as a whole, basing the mechanistic paradigm on scientific investigation. The production of unity to which Nietzsche refers was reflected in the social engineering inaugurated by modernity, which is manifested in the phenomenon of witch hunts, in the monopolization and homogenization of technical knowledge and in the episteminicide of others, as well as in the correction of reality through social orthopaedics forces carried out by disciplinary techniques, at the service of the mode of capitalist subjection. Finally, as a result of this investigation, it is possible to affirm that the defence of the existence of true values and, therefore, transcending the immanent reality, should be thought of as a means of realizing the domain and control over the forces of life. The development of medical-pharmacological technologies can therefore be understood as a process of improving social control exercised by professional doctors and the knowledge of biomedicine, in maintaining and improving the exploitation of body forces, which are based on the ideals of renouncing the body and its satisfactions. Based on Espinosa's philosophy, it was possible to propose that part of the solution for the accentuated use of psychotropic drugs today refers to the revaluation of the multiple experience with the body and its affections; a rescue of the erotic experience, based on Foucault's reading of the practices of the self of modernity. Furthermore, when faced with the power of the pharmaceutical industry to maintain the mechanical paradigm of mental suffering, which supports pharmacological therapy, we argue that overcoming it should also be seen as a fight against market interests in the right to health.application/pdfporUniversidade Federal Rural do Rio de JaneiroPrograma de Pós-Graduação em PsicologiaUFRRJBrasilInstituto de EducaçãoCorpoSofrimento mentalPsicofármacosUnidadeMultiplicidadeMultiplicityBodyMental sufferingPsychotropic drugsUnityPsicologiaA dicotomia entre corpo e mente e a sua influência no uso crescente e acentuado de psicofármacos na atualidadeThe dichotomy between body and mind and its influence on the growing and accentuated use of psychotropic drugs todayinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5 Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ADORNO, T.W. & HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. 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description O presente trabalho aborda o uso crescente e acentuado de psicofármacos, na atualidade, para o tratamento de sofrimentos psíquicos. Estes últimos, que outrora faziam parte do ato mesmo de viver, têm sido constantemente capturados pelo discurso da biomedicina, que os considera como resultado de desordens localizadas no corpo – no cérebro, mais especificamente –, reduzindo a amplitude possível das experiências humanas. Processo intenso de normatização produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. da vida que está relacionado ao papel fiscalista e normatizador transferido à medicina, antes responsabilidade do poder religioso, que visa, sobretudo, regular as relações sociais por meio de uma ética do trabalho que serve aos interesses do modo de produção capitalista. Diante desse cenário, aproximamos o constante avanço da jurisdição médica sobre as diversas manifestações da vida às críticas que Nietzsche direciona à filosofia e ciência moderna como produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. Para o autor, a tendência à cristalização dos saberes sobre a vida, diferenciando as suas manifestações entre Verdade e ilusão, está relacionada à herança da tradição filosófica socrática-platônica e do cristianismo sobre o pensamento e instituições da modernidade. Do ponto de vista da prática científica, a natureza múltipla (e o corpo múltiplo) e os caracteres secundários da matéria, foram postos à parte. Por outro lado, os caracteres primários, dado a sua constância e imutabilidade, além de serem matematizáveis, passaram a definir a realidade como um todo, fundamentando o paradigma mecanicista na investigação científica. A produção de unidade a qual se refere Nietzsche se refletiu na engenharia social inaugurada pela modernidade, que se manifesta no fenômeno da caça às bruxas, na monopolização e homogeneização dos saberes técnicos e no episteminicídio de outros, bem como na correção da realidade por meio da ortopedia social efetivada pelas técnicas disciplinares, à serviço do modo de sujeição capitalista. Por fim, como resultado dessa investigação, é possível afirmar que a defesa da existência de valores verdadeiros e, por isso, transcendentes à realidade imanente, deve ser pensada como um meio de efetivação do domínio e controle sobre as forças da vida. O desenvolvimento de tecnologias médico-farmacológicas pode ser entendido, portanto, como um processo de aprimoramento do controle social exercido pelos médicos profissionais e pelo saber da biomedicina, na manutenção e aprimoramento da exploração das forças corporais, que se fundamentam nos ideais de renúncia ao corpo e suas satisfações. Com base na filosofia de Espinosa, foi possível propor que parte da solução para o uso acentuado de psicofármacos na atualidade se refira à revalorização da experiência múltipla com o corpo e seus afetos; um resgate da experiência erótica, a partir da leitura de Foucault sobre as práticas de si da modernidade. Além disso, ao nos depararmos com o poder da indústria farmacêutica na manutenção do paradigma mecânico do sofrimento mental, que sustenta a terapêutica farmacológica, defendemos que sua superação deva ser vista igualmente como uma luta contra interesses mercadológicos no direito à saúde.
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