Bulimulus tenuissimus (Mollusca) como um novo hospedeiro experimental para Angiostrongylus cantonensis (Nematoda), um estudo morfológico e fisiológico da interação parasito-hospedeiro

• Autor(a) principal: Martins, Florence Goncalves
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRRJ
• Texto Completo: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/9598
• topic: Bulimulidae; Angiostrongilíase Neural; hospedeiro molusco; Bulimulidae; Metastrogylidae; Snail host; Medicina Veterinária

Os moluscos são um requisito essencial para a conclusão do ciclo de vida pelo nematoide metastrogilídeo Angiostrongylus cantonensis, o agente causador de infecções em animais domésticos e selvagens, principalmente roedores, e também de angiostrongilíase neural ou meningite eosinofílica em humanos. O gastrópode terrestre Bulimulus tenuissimus é amplamente distribuído no território brasileiro e há outras espécies do mesmo gênero que ocorrem no Brasil e outros países, sobrepondo-se às regiões em que há relatos à ocorrência de A. cantonensis e angiostrongilíase. Apesar disso, não há registro na literatura, acerca desta espécie como hospedeiro intermediário para A. cantonensis. O presente estudo teve como objetivo infectar experimentalmente o molusco B. tenuissimus, utilizando larvas L1 de A. cantonensis, em condições laboratoriais, e acompanhar as alterações fisiológicas ocorridas. Para tal, durante o período do estudo, foram analisados os parâmetros da biologia reprodutiva de B. tenuissimus, metabolismo de carboidratos, produtos nitrogenados e cálcio. Também foram realizados estudos morfológicos, utilizando técnicas de histologia e microscopia eletrônica. Três semanas após a exposição às larvas L1, foi possível recuperar 17,2% das larvas L3 utilizadas para a exposição dos moluscos (1.200 larvas L1). As larvas foram observadas na massa cefalopediosa (pé), ovotestis e nos tecidos do manto, dentro de uma estrutura granulomatosa constituída por infiltração hemocitária, mas não houve deposição de cálcio ou colágeno nessas estruturas em quantidade significativa. Os caracóis infectados apresentaram redução no tecido muscular fibroso na região do pé, perda da organização acinar na glândula digestiva, com aumento de material amorfo dentro dos ácinos e perda do padrão epitelial da organização nuclear nas células acinares. No entanto, o ovotestis, mesmo apresentando larvas em desenvolvimento, não foi afetado pela infecção, uma vez que houve um grande número de oócitos em desenvolvimento e espermatozóides em diferentes estágios de formação. Nos parâmetros reprodutivos estudados, os moluscos infectados apresentaram um pequeno aumento (+7%) no número total de ovos postos na primeira semana de infecção e uma queda de 5,4 % no número de moluscos eclodidos na segunda semana de infecção em relação aos não infectados. O conteúdo de galactogênio mostrou uma relação negativa com o tempo de infecção. O conteúdo de glicose na hemolinfa aumentou (+71,56%) na primeira semana pós-exposição, diminuindo na segunda (-4,92%) e terceira (+13,74%) semanas. A atividade da lactato desidrogenase (LDH) aumentou na primeira semana (11,00±4.62U/L) e mais ainda na segunda semana (14,00±5,30U/L) pós-exposição, mas as variações não foram estatisticamente significativas quando comparadas ao grupo controle (10,00±0,56U/L). As reservas de glicogênio da massa cefalopediosa e da glândula digestiva foram reduzidas nas três semanas pós-exposição. O conteúdo de ácido pirúvico na hemolinfa de moluscos infectados foi reduzido na primeira (41,52%) e segunda (45.66%) semanas pós-exposição, e de ácido oxálico, aumentou (33,53 mg/g) em relação ao grupo controle (28,05mg/g). Contudo, v as variações não foram significativas. A concentração de proteínas totais aumentou na primeira semana (19,56%), retornando a valores próximos aos observados para o grupo controle, o que pareceu estar relacionado à lise dos tecidos, uma vez que o mesmo padrão de variação foi observado para as atividades da AST e ALT. Associado a isto, uma inversão do padrão excretor, passando a predominantemente uricotélico foi observado na segunda semana pós exposição, retornando ao padrão ureotélico no final do período pré patente. A infecção provocou hipercalcificação na concha de B. tenuissimus infectado com A. cantonensis, com aumento de 242% na concentração de CaCO3, ao final do período pré patente; e hipercalcemia, sobretudo no final da terceira semana de infecção (+18,51%) em relação ao grupo controle. Os resultados revelam que B. tenuissimus é um hospedeiro experimental potencial, que apresenta um padrão de resposta fisiológica à infecção com A. cantonensis robusto, sendo capaz de manter seus processos fisiológicos básicos, além de suprir a demanda do parasito em desenvolvimento.