A "execução francesa": uma leitura sobre a psicanálise na França (2003-2005)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Machado, Letícia Vier
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFSC
Texto Completo: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/168008
Resumo: Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2016
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spelling A "execução francesa": uma leitura sobre a psicanálise na França (2003-2005)PsicologiaPsicanáliseFrançaDissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2016A exceção francesa é uma expressão representativa da forma particular de implantação e difusão da psicanálise na França, tributária da relação que estabeleceu com a cultura e com diversos campos do saber. Associada naquele país à ideia de um saber subversivo, disseminado por Lacan na década de 1950, essa condição privilegiada não se conserva até hoje, adentrando mesmo, a partir dos anos 2000, em um campo de batalha. Em 2003, o deputado Bernard Accoyer propôs uma emenda parlamentar a fim de regulamentar o uso do título de psicoterapeuta. Concebida pelos psicoterapeutas como uma psicoterapia entre outras, a psicanálise estaria incluída na regulamentação, um ineditismo na saúde pública que se estendeu à própria colocação do Estado como terceiro na relação paciente-terapeuta. Em 2004, um instituto de pesquisas da área da saúde foi requisitado pelo Estado para produzir um relatório de avaliação da eficácia terapêutica de três abordagens de psicoterapias: cognitivo comportamental, psicoterapia familiar e de casal e psicoterapia psicodinâmica, na qual a psicanálise estava incluída. Os resultados concluíram pela ineficácia da psicanálise em relação às demais abordagens e os psicanalistas se articularam ao Ministro da Saúde, a fim de retirar o documento de circulação. Em 2005 o debate sai da esfera institucional e estatal para alcançar o público leigo, com o lançamento de O Livro Negro da Psicanálise, que atacava o movimento psicanalítico a partir de um ponto de vista ético, epistemológico e político. Os autores anunciavam o fim da exceção francesa, apresentada como um atraso em matéria de ciências psicológicas, se comparada aos países anglo-saxões. Esses três acontecimentos sucessivos produziram um deslocamento dos lugares comuns que os psicanalistas franceses costumam ocupar, de diálogo exclusivo com os pares de sua própria instituição, para se dirigirem a uma prestação de contas de sua prática. Tendo como objetivo descrevê-los, esta dissertação buscou delinear seu terreno político-institucional, e problematizar algumas das críticas que lhe foram dirigidas nesse contexto a partir de elementos da própria teoria psicanalítica e/ou da literatura sobre a psicanálise. A pesquisa foi de caráter teórico-bibliográfico, e a investigação psicanalítica implicou em uma concepção de sujeito, sustentada pela hipótese do inconsciente. Conclui-se que para enfrentar a força reguladora do Estado, a hipervalorização da imagem do perito e do especialista e a hegemonia dos discursos que tomam hoje o lugar de prestígio que a psicanálise outrora ocupou, sobretudo na França, é preciso destituir-se de toda soberania e reconstruir a necessária aliança entre clínica e política. <br>Résumé : L exception française est une expression répresentative de la façon particulière d implantation et de diffusion de la psychanalyse en France, tributaire du rapport qu elle a établi avec la culture et avec plusieurs domaines du savoir. Associée dans ce pays à l idée d un savoir subversif, disseminé par Lacan dans les années 1950, cette condition de privilèges ne se mantient plus aujourd hui, au point même d entrer, à partir des années 2000, dans un champ de bataille. En 2003, le député Bernard Accoyer a proposé un amendement parlementaire à fin de réglementer l usage du titre de psychothérapeute. Conçue par les psychothérapeutes comme une psychothérapie parmi d autres, la psychanalyse serait incluse dans la réglementation, un fait inédit dans la santé publique qui s est étendu à l introduction même de l État comme un tiers dans le rapport patient-thérapeute. En 2004, un institut de recherches du domaine de la santé a été recquis par l État à fin de produire un rapport d évaluation de l efficacité thérapeutique de trois approches en psychothérapie: cognitivo-comportamentale, psychothérapie familiale et de couple et psychothérapie psychodynamique, dans laquelle la psychanalyse était incluse. Les résultats ont conclu que la psychanalyse était inneficace par rapport aux autres approches évaluées et les psychanalystes se sont articulés au Ministre de la Santé à fin de retirer de circulation le document. En 2005 le débat quitte le champ institutionnel et ce de l État pour atteindre le grand public, avec l apparition de Le Livre Noir de la Psychanalyse, lequel attaquait le mouvement psychanalytique à partir d un point de vue éthique, épistémologique et politique. Les auteurs annonçaient la fin de l exception française, présentée comme un retard en matière de sciences psychologiques si comparée aux pays anglo-saxons. Ces trois événements successifs ont produit un déplacement des lieux communs que les psychanalystes occupent d habitude, soit d un dialogue exclusif avec les paires de leur propre institution, pour rendre compte de sa pratique. Ayant comme objectif les décrire, ce mémoire de master a essayé de refaire son terrain politique et institutionnel, et problématiser à partir d éléments de la théorie psychanalytique et/ou de la littérature sur la psychanalyse quelques critiques qui se sont orientées vers elle dans ce contexte. La recherche a été théorique et bibliographique et l investigation psychanalytique a supposé une conception de sujet soutenue par l hipothèse de l inconscient. Il se conclut que pour faire face à la force régulatrice de l État, à l hypervalorisation de l image de l expert et à l hégémonie des discours qui occupent aujourd hui le lieu de prestige que la psychanalyse a une fois occupé, surtout en France, il faut se défaire de toute souveraineté et reconstruire l alliance nécessaire entre clinique et politique.Sousa, Fernando Aguiar Brito deLhullier, Louise AmaralUniversidade Federal de Santa CatarinaMachado, Letícia Vier2016-09-20T04:44:07Z2016-09-20T04:44:07Z2016info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis220 p.| tab.application/pdf340561https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/168008porreponame:Repositório Institucional da UFSCinstname:Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)instacron:UFSCinfo:eu-repo/semantics/openAccess2016-09-20T04:44:07Zoai:repositorio.ufsc.br:123456789/168008Repositório InstitucionalPUBhttp://150.162.242.35/oai/requestopendoar:23732016-09-20T04:44:07Repositório Institucional da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)false
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