Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia (1912-1918)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNIFESP |
Texto Completo: | https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/68558 |
Resumo: | A vida e a luta pela sobrevivência de imigrantes espanhóis em São Paulo no início do século 20 são contadas a partir dos relatos do Diario Español, um jornal escrito em língua espanhola que circulava na capital e interior do estado, de segunda a sábado. A cada episódio destacado nessa trajetória do jornal, dirigido pelo galego Eiras Garcia, abrem-se janelas para esmiuçar acontecimentos decisivos da história da imigração espanhola na então terra do café e na incipiente metrópole. Essas são as matérias-primas da dissertação “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia (1912-1918)”, escrita pelo jornalista e historiador Isaías Dalle Nogare Liebana, como fruto do mestrado em História desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre 2020 e 2023. O cruzamento de fontes oficiais e de outros jornais do período com as notícias evocadas pelo Diario Español dá corpo a passagens até então não abordadas pela historiografia e amplifica a compreensão sobre o significado de eventos que são, dessa forma, narrados por diferentes vozes. A partir de 1912, quando a imigração espanhola para São Paulo atingiu seu maior volume na série histórica, até 1918, ano que marca o final da Guerra Europeia e a passagem da gripe espanhola, o texto evoca e dá concretude a diferentes dramas. Estão ali o trabalho nas fazendas de café – em muitos aspectos análogo à escravidão – a errância de espanhóis e espanholas pelas cidades paulistas, os esquemas fraudulentos da elite cafeeira para obter mão-de-obra barata, as dificuldades de sobrevivência na capital assolada pela carestia e empregos precários, habitações insalubres e perseguição da polícia. De outro lado, a dissertação destaca a luta e as tentativas coletivas de enfrentamento a todos esses obstáculos pela colônia espanhola que vivia em São Paulo, num período marcado pela criminalização da atividade política de estrangeiros, pela repressão à organização operária, que a despeito disso ganhava força e construía episódios como a Greve Geral de 1917, e pela condição clandestina, não-documentada, de grande parte da colônia espanhola em São Paulo. Os espanhóis e espanholas que vinham para o Brasil, muitos dos quais por intermédio da imigração subsidiada e à margem da lei, num esquema construído pela elite cafeeira paulista com apoio do Estado, tentavam fugir não apenas da pobreza em seu país de origem, mas também da possibilidade de seus filhos serem convocados para a guerra em que a Espanha havia se envolvido no Marrocos. Por conta de fatores como esses, parte significativa da comunidade espanhola que vivia em São Paulo optava, ou era forçada, a permanecer incógnita. Tal condição explica, em parte, a pouca visibilidade da imigração espanhola em comparação a outras mais destacadas na história de São Paulo e do Brasil, como a italiana. Frente a isso, ganha especial importância a dissertação “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia”, cuja banca de avaliação destacou a “originalidade do tema e a pesquisa exaustiva da fonte”. O trabalho de mestrado põe em cena um jornal voltado à comunidade espanhola que era praticamente desconhecido e que nunca havia sido tema de estudo semelhante. Durante sua existência, o Diario Español pretendeu promover e documentar a presença espanhola em São Paulo e estimular, quiçá, sua permanência posterior entre aquelas que estavam construindo a história. Apesar de ter se lançado explicitamente a essa missão, dentre outras de que se julgava portador, esse periódico não atingiu a mesma notoriedade de outros jornais de colônias imigrantes, como o italiano Fanfulla. Ao trazer o Diario Español à luz, esse trabalho do jornalista e agora mestre em História permite também visualizar contradições no seio da própria comunidade que o jornal pretendia representar e retratar. Empreendimento comercial, sem filiação a partidos ou proximidade orgânica a movimentos políticos, o Diario Español equilibrava-se entre a defesa do progresso preconizado pelo projeto das elites cafeeiras, a crença de que a imigração era mais promissora que a vida sem perspectivas nos campos e aldeias da Espanha, o sonho de sucesso acalentado pelo próprio criador do jornal e a expectativa de posteridade e, quando desafiado por acontecimentos que agudamente frustravam essas crenças, lançava-se ao ataque contra os abusos patronais e policiais, contra hipocrisia das camadas abastadas da sociedade e contra a inércia dos poderes públicos espanhol e brasileiro. No fio da navalha, entre a sobrevivência, a adesão e o protesto, como a própria comunidade estrangeira da que fazia parte. Muitas vezes, pagando alto preço pelas críticas. Questões como essas vêm à tona suscitadas por histórias reais de pessoas comuns que o Diario Español narra e que a pesquisa da Isaías Dalle entretece com o panorama doméstico e internacional do período, às voltas com uma guerra sem precedentes e uma pandemia traiçoeira. Histórias ocultadas pelo tempo e que têm forte apelo dramático, como a fuga frustrada de uma família aos trabalhos forçados de uma fazenda de café, a violência policial contra a dona de um armazém na capital, a morte de operários nas obras da Catedral da Sé, os protestos operários em pleno cemitério do Araçá, greves, adoecimentos, ações coletivas de solidariedade e os temores a respeito do mundo que se forjaria após a 1ª Guerra Mundial. A história da imigração espanhola ao Brasil e da imprensa ganha um novo e empolgante capítulo nas 200 páginas da pesquisa “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia”. |
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Essas são as matérias-primas da dissertação “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia (1912-1918)”, escrita pelo jornalista e historiador Isaías Dalle Nogare Liebana, como fruto do mestrado em História desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre 2020 e 2023. O cruzamento de fontes oficiais e de outros jornais do período com as notícias evocadas pelo Diario Español dá corpo a passagens até então não abordadas pela historiografia e amplifica a compreensão sobre o significado de eventos que são, dessa forma, narrados por diferentes vozes. A partir de 1912, quando a imigração espanhola para São Paulo atingiu seu maior volume na série histórica, até 1918, ano que marca o final da Guerra Europeia e a passagem da gripe espanhola, o texto evoca e dá concretude a diferentes dramas. Estão ali o trabalho nas fazendas de café – em muitos aspectos análogo à escravidão – a errância de espanhóis e espanholas pelas cidades paulistas, os esquemas fraudulentos da elite cafeeira para obter mão-de-obra barata, as dificuldades de sobrevivência na capital assolada pela carestia e empregos precários, habitações insalubres e perseguição da polícia. De outro lado, a dissertação destaca a luta e as tentativas coletivas de enfrentamento a todos esses obstáculos pela colônia espanhola que vivia em São Paulo, num período marcado pela criminalização da atividade política de estrangeiros, pela repressão à organização operária, que a despeito disso ganhava força e construía episódios como a Greve Geral de 1917, e pela condição clandestina, não-documentada, de grande parte da colônia espanhola em São Paulo. 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O trabalho de mestrado põe em cena um jornal voltado à comunidade espanhola que era praticamente desconhecido e que nunca havia sido tema de estudo semelhante. Durante sua existência, o Diario Español pretendeu promover e documentar a presença espanhola em São Paulo e estimular, quiçá, sua permanência posterior entre aquelas que estavam construindo a história. Apesar de ter se lançado explicitamente a essa missão, dentre outras de que se julgava portador, esse periódico não atingiu a mesma notoriedade de outros jornais de colônias imigrantes, como o italiano Fanfulla. Ao trazer o Diario Español à luz, esse trabalho do jornalista e agora mestre em História permite também visualizar contradições no seio da própria comunidade que o jornal pretendia representar e retratar. 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A história da imigração espanhola ao Brasil e da imprensa ganha um novo e empolgante capítulo nas 200 páginas da pesquisa “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia”.Não recebi financiamentoUniversidade Federal de São PauloCosta, Wilma Peres [UNIFESP]http://lattes.cnpq.br/1353008197382462http://lattes.cnpq.br/3298703025993053Liebana, Isaías Dalle Nogare [UNIFESP]2023-07-12T14:36:40Z2023-07-12T14:36:40Z2023-05-25info:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion205 f.application/pdfhttps://repositorio.unifesp.br/handle/11600/68558porUniversidade Federal de São Paulo. 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O cruzamento de fontes oficiais e de outros jornais do período com as notícias evocadas pelo Diario Español dá corpo a passagens até então não abordadas pela historiografia e amplifica a compreensão sobre o significado de eventos que são, dessa forma, narrados por diferentes vozes. A partir de 1912, quando a imigração espanhola para São Paulo atingiu seu maior volume na série histórica, até 1918, ano que marca o final da Guerra Europeia e a passagem da gripe espanhola, o texto evoca e dá concretude a diferentes dramas. Estão ali o trabalho nas fazendas de café – em muitos aspectos análogo à escravidão – a errância de espanhóis e espanholas pelas cidades paulistas, os esquemas fraudulentos da elite cafeeira para obter mão-de-obra barata, as dificuldades de sobrevivência na capital assolada pela carestia e empregos precários, habitações insalubres e perseguição da polícia. De outro lado, a dissertação destaca a luta e as tentativas coletivas de enfrentamento a todos esses obstáculos pela colônia espanhola que vivia em São Paulo, num período marcado pela criminalização da atividade política de estrangeiros, pela repressão à organização operária, que a despeito disso ganhava força e construía episódios como a Greve Geral de 1917, e pela condição clandestina, não-documentada, de grande parte da colônia espanhola em São Paulo. Os espanhóis e espanholas que vinham para o Brasil, muitos dos quais por intermédio da imigração subsidiada e à margem da lei, num esquema construído pela elite cafeeira paulista com apoio do Estado, tentavam fugir não apenas da pobreza em seu país de origem, mas também da possibilidade de seus filhos serem convocados para a guerra em que a Espanha havia se envolvido no Marrocos. Por conta de fatores como esses, parte significativa da comunidade espanhola que vivia em São Paulo optava, ou era forçada, a permanecer incógnita. Tal condição explica, em parte, a pouca visibilidade da imigração espanhola em comparação a outras mais destacadas na história de São Paulo e do Brasil, como a italiana. Frente a isso, ganha especial importância a dissertação “Diario Español, entre as guerras e a gripe: um jornal hispânico na Pauliceia”, cuja banca de avaliação destacou a “originalidade do tema e a pesquisa exaustiva da fonte”. O trabalho de mestrado põe em cena um jornal voltado à comunidade espanhola que era praticamente desconhecido e que nunca havia sido tema de estudo semelhante. Durante sua existência, o Diario Español pretendeu promover e documentar a presença espanhola em São Paulo e estimular, quiçá, sua permanência posterior entre aquelas que estavam construindo a história. Apesar de ter se lançado explicitamente a essa missão, dentre outras de que se julgava portador, esse periódico não atingiu a mesma notoriedade de outros jornais de colônias imigrantes, como o italiano Fanfulla. Ao trazer o Diario Español à luz, esse trabalho do jornalista e agora mestre em História permite também visualizar contradições no seio da própria comunidade que o jornal pretendia representar e retratar. Empreendimento comercial, sem filiação a partidos ou proximidade orgânica a movimentos políticos, o Diario Español equilibrava-se entre a defesa do progresso preconizado pelo projeto das elites cafeeiras, a crença de que a imigração era mais promissora que a vida sem perspectivas nos campos e aldeias da Espanha, o sonho de sucesso acalentado pelo próprio criador do jornal e a expectativa de posteridade e, quando desafiado por acontecimentos que agudamente frustravam essas crenças, lançava-se ao ataque contra os abusos patronais e policiais, contra hipocrisia das camadas abastadas da sociedade e contra a inércia dos poderes públicos espanhol e brasileiro. No fio da navalha, entre a sobrevivência, a adesão e o protesto, como a própria comunidade estrangeira da que fazia parte. 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