Impacto clínico-histológico da infecção oculta pelo vírus da hepatite B em portadores crônicos do vírus da hepatite C

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carvalho-Filho, Roberto José de [UNIFESP]
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNIFESP
Texto Completo: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/23694
Resumo: Introdução: Define-se como infecção oculta pelo vírus da hepatite B (HBV) a detecção de HBV-DNA no soro ou tecido hepático de pacientes com HBsAg negativo. Estudos sugerem que portadores do vírus da hepatite C (HCV) com esta infecção exibem fibrose hepática mais extensa, pior resposta ao tratamento com interferon alfa e maior risco de desenvolvimento de hepatocarcinoma. Achados similares foram descritos em portadores de HCV com marcadores de infecção prévia pelo HBV (anti-HBc positivo, com ou sem anti-HBs), independentemente da detecção de HBV-DNA. Entretanto, tais estudos não exerceram controle adequado para variáveis associadas à progressão da fibrose na hepatite C, como tempo de infecção, etilismo e idade no momento da infecção. Objetivos: Determinar a prevalência e o impacto da infecção oculta e da infecção prévia pelo HBV nas características clínicas, bioquímicas, virológicas e histológicas de portadores de infecção crônica pelo HCV. Material e Métodos: Estudo caso-controle que avaliou pacientes não-etilistas com HBsAg e anti-HIV negativos e HCV-RNA positivo. Todos os casos possuíam exposição parenteral como provável modo de contaminação pelo HCV (antecedentes transfusionais ou drogadição). Amostras séricas coletadas em intervalo de até 6 meses da biópsia hepática foram submetidas à pesquisa de HBV-DNA por ensaio comercial baseado em PCR, com limite de detecção de 103 cópias/mL (Amplicor HBV MONITOR® Test, Roche). A classificação de METAVIR foi usada para análise histológica. Resultados: Cento e onze pacientes foram incluídos, sendo 46% do gênero masculino e 82% com transfusão prévia. As médias da idade na infecção e do tempo de infecção pelo HCV foram de 25,5+12,4 e 21,9+6,5 anos, respectivamente. O anti-HBc foi positivo em 31 indivíduos (28%) e nenhuma amostra foi positiva para o HBV-DNA. Pacientes com antiHBc positivo foram comparáveis aos com anti-HBc negativo com relação ao gênero, idade na infecção pelo HCV, tempo de infecção, raça, modo de aquisição do HCV e prevalência de descompensação hepática. A distribuição de genótipos do HCV foi semelhante entre os dois grupos. Entretanto, indivíduos com anti-HBc positivo mostraram níveis mais baixos de albumina (P = 0,001) e menor atividade de protrombina (P = 0,046) e maiores níveis de ALT (P = 0,052), AST (P = 0,004) e GGT (P = 0,010). Estes pacientes também demonstraram maior atividade histológica (P < 0,001), maior escore de fibrose hepática (P = 0,001) e taxa de progressão de fibrose (TPF) mais rápida (P = 0.002) do que aqueles com anti-HBc negativo. Na análise multivariada, ALT > 2 vezes o limite superior do normal (xLSN) (OR = 4,460; P = 0,002), GGT > 1,5 xLSN (OR = 7,582; P < 0,001) e anti-HBc positivo (OR = 4,009; P = 0,019) foram preditivos de atividade necroinflamatória moderada ou acentuada (A2/A3). A positividade do anti-HBc (OR = 3,364; P = 0,017) e a aquisição do HCV após 30 anos de idade (OR = 4,252; P = 0,002) foram independentemente associados à fibrose significativa (F2/F3/F4). Os fatores associados à rápida progressão da fibrose, definida como TPF > 0,133 unidade de fibrose/ano, foram idade na infecção > 30 anos (OR = 2,913; P = 0,033) e anti-HBc positivo (OR = 3,241; P = 0,015). O tempo esperado até o surgimento de cirrose hepática foi de 26 anos (20 a 44 anos) para indivíduos anti-HBcpositivo que se infectaram com o HCV com idade > 30 anos. Aqueles com anti-HBc negativo contaminados com menos de 30 anos de idade desenvolveriam cirrose após 80 anos de infecção (60 a 93 anos) (P < 0,001). Conclusões: A infecção prévia pelo HBV é encontrada em cerca de um terço dos portadores do HCV e pode exercer impacto negativo sobre a história natural da infecção crônica pelo HCV. Este efeito parece independer da presença da infecção oculta pelo HBV.
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spelling Impacto clínico-histológico da infecção oculta pelo vírus da hepatite B em portadores crônicos do vírus da hepatite CClinical and histological impact of occult hepatitis B infection in hepatitis C virus chronic carriersHepatite BHepatite CInfecçãoIntrodução: Define-se como infecção oculta pelo vírus da hepatite B (HBV) a detecção de HBV-DNA no soro ou tecido hepático de pacientes com HBsAg negativo. Estudos sugerem que portadores do vírus da hepatite C (HCV) com esta infecção exibem fibrose hepática mais extensa, pior resposta ao tratamento com interferon alfa e maior risco de desenvolvimento de hepatocarcinoma. Achados similares foram descritos em portadores de HCV com marcadores de infecção prévia pelo HBV (anti-HBc positivo, com ou sem anti-HBs), independentemente da detecção de HBV-DNA. Entretanto, tais estudos não exerceram controle adequado para variáveis associadas à progressão da fibrose na hepatite C, como tempo de infecção, etilismo e idade no momento da infecção. Objetivos: Determinar a prevalência e o impacto da infecção oculta e da infecção prévia pelo HBV nas características clínicas, bioquímicas, virológicas e histológicas de portadores de infecção crônica pelo HCV. Material e Métodos: Estudo caso-controle que avaliou pacientes não-etilistas com HBsAg e anti-HIV negativos e HCV-RNA positivo. Todos os casos possuíam exposição parenteral como provável modo de contaminação pelo HCV (antecedentes transfusionais ou drogadição). Amostras séricas coletadas em intervalo de até 6 meses da biópsia hepática foram submetidas à pesquisa de HBV-DNA por ensaio comercial baseado em PCR, com limite de detecção de 103 cópias/mL (Amplicor HBV MONITOR® Test, Roche). A classificação de METAVIR foi usada para análise histológica. Resultados: Cento e onze pacientes foram incluídos, sendo 46% do gênero masculino e 82% com transfusão prévia. As médias da idade na infecção e do tempo de infecção pelo HCV foram de 25,5+12,4 e 21,9+6,5 anos, respectivamente. O anti-HBc foi positivo em 31 indivíduos (28%) e nenhuma amostra foi positiva para o HBV-DNA. Pacientes com antiHBc positivo foram comparáveis aos com anti-HBc negativo com relação ao gênero, idade na infecção pelo HCV, tempo de infecção, raça, modo de aquisição do HCV e prevalência de descompensação hepática. A distribuição de genótipos do HCV foi semelhante entre os dois grupos. Entretanto, indivíduos com anti-HBc positivo mostraram níveis mais baixos de albumina (P = 0,001) e menor atividade de protrombina (P = 0,046) e maiores níveis de ALT (P = 0,052), AST (P = 0,004) e GGT (P = 0,010). Estes pacientes também demonstraram maior atividade histológica (P < 0,001), maior escore de fibrose hepática (P = 0,001) e taxa de progressão de fibrose (TPF) mais rápida (P = 0.002) do que aqueles com anti-HBc negativo. Na análise multivariada, ALT > 2 vezes o limite superior do normal (xLSN) (OR = 4,460; P = 0,002), GGT > 1,5 xLSN (OR = 7,582; P < 0,001) e anti-HBc positivo (OR = 4,009; P = 0,019) foram preditivos de atividade necroinflamatória moderada ou acentuada (A2/A3). A positividade do anti-HBc (OR = 3,364; P = 0,017) e a aquisição do HCV após 30 anos de idade (OR = 4,252; P = 0,002) foram independentemente associados à fibrose significativa (F2/F3/F4). Os fatores associados à rápida progressão da fibrose, definida como TPF > 0,133 unidade de fibrose/ano, foram idade na infecção > 30 anos (OR = 2,913; P = 0,033) e anti-HBc positivo (OR = 3,241; P = 0,015). O tempo esperado até o surgimento de cirrose hepática foi de 26 anos (20 a 44 anos) para indivíduos anti-HBcpositivo que se infectaram com o HCV com idade > 30 anos. Aqueles com anti-HBc negativo contaminados com menos de 30 anos de idade desenvolveriam cirrose após 80 anos de infecção (60 a 93 anos) (P < 0,001). Conclusões: A infecção prévia pelo HBV é encontrada em cerca de um terço dos portadores do HCV e pode exercer impacto negativo sobre a história natural da infecção crônica pelo HCV. Este efeito parece independer da presença da infecção oculta pelo HBV.Background: Occult hepatitis B virus (HBV) infection is defined by the presence of HBV-DNA by PCR in serum or liver tissue samples from HBsAg-negative individuals. Recent reports suggest that hepatitis C virus (HCV) carriers who also harbor this silent infection have more advanced liver fibrosis, reduced response to interferon, and increased risk of developing hepatocellular carcinoma. Similar findings have been described among chronic hepatitis C patients with serological markers of prior HBV infection (anti-HBc positive, with or without anti-HBs), irrespective of HBV-DNA detection. However, these studies have failed to appropriately control for factors known to impact HCV-related fibrogenesis including duration of infection, alcohol abuse, and age at infection. Aims: To assess the prevalence and impact of occult and previous HBV infection on clinical, biochemical, virological and histological features in patients with chronic hepatitis C from a liver clinic cohort. Methods: This case-control study included non-alcoholic subjects whose sera tested negative for HBsAg and anti-HIV, and positive for HCV-RNA. All patients had prior parenteral exposure as the probable source of HCV infection (blood transfusions or IV drug use). Serum samples were collected within 6 months of liver biopsy and were tested for HBV-DNA using a commercial PCR assay with sensitivity of 103 copies/mL (Amplicor HBV MONITOR® Test, Roche). METAVIR scoring system was applied for grading necroinflammatory activity and staging fibrosis. Results: One hundred and eleven patients were evaluated. Forty six percent were male and 82% reported past transfusion of blood derivates. The mean age at infection and the estimated duration of infection were 25.5 + 12.4 and 21.9 + 6.5 years, respectively. Thirty-one out of 111 patients (28%) tested positive for antiHBc. HBV-DNA was not detected in any sample. There were no differences between anti-HBc-positive and -negative patients concerning gender, age at infection, estimated duration of infection, ethnicity, source of HCV infection, and prevalence of hepatic decompensation. In addition, HCV genotyping distribution were not influenced by antiHBc status. However, anti-HBc-positive patients showed lower albumin levels (P = 0.001), lower prothrombin activity (P = 0.046) and higher levels of ALT (P = 0.052), AST (P = 0.004), and GGT (P = 0.010). These patients also showed higher histological grading (P < 0.001) and staging scores (P = 0.001), and higher rate of fibrosis progression (RFP) (P = 0.002) as compared to those who tested negative for anti-HBc. By multivariate analysis, ALT > 2x upper limit of normal (ULN) (OR = 4.460; P = 0.002), GGT > 1.5x ULN (OR = 7.582; P < 0.001) and anti-HBc-positivity (OR = 4.009; P = 0.019) were predictive of moderate to severe necroinflammatory activity (A2/A3). AntiHBc-positivity (OR = 3.364; P = 0.017) and age at infection > 30 years (OR = 4.252; P = 0.002) were independently associated with significantly hepatic fibrosis (F2/F3/F4). Likewise, independent predictors of rapid fibrosis progression, defined as a RFP > 0,133 fibrosis unit/year, were age at infection > 30 years (OR = 2.913; P = 0.033) and anti-HBc-positivity (OR = 3.241; P = 0.015). The median duration from HCV infection to cirrhosis was 26 years (20 to 44) in anti-HBc-positive patients who were infected with HCV when older than 30 years. On the other hand, among anti-HBc-negative subjects who acquired HCV before the age of 30, the expected time to cirrhosis was 80 years (60 to 93) (P < 0,001). Conclusions: Previous HBV infection is common among HCVinfected individuals and may exert a negative impact on the natural history of hepatitis C virus infection. This effect seems to be independent of the presence of occult HBV infection.BV UNIFESP: Teses e dissertaçõesFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)FAPESP: 2002/05260-6Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)Silva, Antonio Eduardo Benedito [UNIFESP]Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)Carvalho-Filho, Roberto José de [UNIFESP]2015-12-06T23:47:11Z2015-12-06T23:47:11Z2006info:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion160 f.application/pdfCARVALHO-FILHO, Roberto José de. Impacto clínico-histológico da infecção oculta pelo vírus da hepatite B em portadores crônicos do vírus da hepatite C. 2006. 160 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2006.Publico-23694.pdfhttp://repositorio.unifesp.br/handle/11600/23694porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNIFESPinstname:Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)instacron:UNIFESP2024-07-27T10:14:53Zoai:repositorio.unifesp.br/:11600/23694Repositório InstitucionalPUBhttp://www.repositorio.unifesp.br/oai/requestbiblioteca.csp@unifesp.bropendoar:34652024-07-27T10:14:53Repositório Institucional da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)false
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