Aspectos reprodutivos de orquídeas em ambientes de Vereda do Cerrado

• Autor(a) principal: Cardoso, João Custódio Fernandes
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: eng
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFU
• Texto Completo: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/33968; http://doi.org/10.14393/ufu.te.2021.395
• topic: CNPQ::CIENCIAS BIOLOGICAS; Orchidaceae; Polinização por Engano; Ressupinação; Vereda; Pollination by Deception; Resupination; Vereda Wetlands; Ecologia; Orquídea - Polinização por insetos; Fertilização de plantas - Cerrados

As Veredas são ambientes únicos do bioma Cerrado, sendo responsáveis por abrigar grande diversidade e prover importantes serviços ecossistêmicos. Esses ambientes são particularmente diversos em Orchidaceae. Nessa tese, nós estudamos a biologia reprodutiva de orquídeas ameaçadas que ocorrem em Veredas com o intuito de demonstrar a diversidade de processos e o potencial de geração de conhecimento que esses ambientes abrigam. Cyrtopodium hatschbachii é uma espécie primariamente polinizada por abelhas, mas que apresenta taxas de frutificação baixas e até ausentes em alguns anos. Entretanto, nós demonstramos no primeiro capítulo como a herbivoria e a chuva, dois fatores que são detrimentais em separado, podem juntos facilitar a autogamia em uma planta e promover segurança reprodutiva. Phragmipedium vittatum é uma orquídea sapatinho que, para se reproduzir, aprisiona os polinizadores em seu interior. No segundo capítulo, nós demonstramos as várias estratégias que essas flores adotam que permitem o sucesso da polinização, desde a captura do polinizador, passando pelos movimentos intraflorais que eles são forçados a fazer, até a transferência de pólen e sua saída da flor. Para tanto, P. vittatum usa um sistema de mimetismo de afídeos que engana fêmeas grávidas de dípteros Syrphidae durante a entrada e saída da flor, já que elas estão a procura de sítios para oviposição onde suas larvas predadoras de afídeos irão se alimentar. Ainda estudando P. vittatum, encontramos que esta espécie trata-se de um modelo único no mundo pois apresenta variação intrapopulacional na ressupinação floral. Este processo trata-se do giro de aproximadamente 180º das flores, o que as deixa com o aspecto de estarem de cabeça para baixo. No terceiro capítulo, nós encontramos que aproximadamente 10% das flores da população não ressupinam. Nós testamos experimentalmente o papel da ressupinação no processo de reprodução das flores e encontramos que apenas flores com o labelo voltado para baixo apresentam sucesso reprodutivo masculino e feminino quando comparadas a flores com labelo posicionado para cima e para o lado. Esses resultados são importantes pois corroboram que a evolução da ressupinação provavelmente esteja relacionada a polinização, sendo que o labelo funciona como uma plataforma de pouso ou armadilha e a coluna voltada para baixo promove a deposição precisa de pólen. Por fim, no quarto capítulo demonstramos que a probabilidade das flores não ressupinarem está negativamente relacionada ao peso das mesmas. Essa é a primeira vez que se é demonstrado que o processo de ressupinação floral é dependente do peso. Em suma, esses resultados mostram a diversidade de diferentes histórias que esses organismos à beira do desaparecimento podem nos contar, bem como o potencial de geração de conhecimento. Assim, a conservação dessas espécies ameaçadas e dos seus respectivos ambientes é de extrema relevância para a manutenção de tais processos e interações, que certamente estão associados a um ambiente equilibrado e provedor de numerosos serviços ecossistêmicos.