Padrões alimentares e fatores associados em crianças pré-púberes (Estudo PASE)

• Autor(a) principal: Rocha, Naruna Pereira
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: LOCUS Repositório Institucional da UFV
• Texto Completo: http://locus.ufv.br//handle/123456789/25815
• topic: Crianças - Nutrição; Comportamento alimentar; Sistema cardiovascular - Doenças; Saúde Pública

O excesso de peso infantil é considerado um grave problema de saúde pública. Dentre os vários fatores associados ao excesso de peso e às doenças crônicas, a dieta consiste em um fator modificável. A identificação de padrões alimentares (PA) é amplamente utilizada nos estudos populacionais e tem sido útil para identificar a associação entre dieta e diferentes desfechos em saúde. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi identificar os padrões alimentares e suas associações com as características sociodemográficas, comportamentais, cardiometabólicas, inflamatórias e imunológicas em crianças. Trata-se de um estudo transversal, com 378 crianças de 8 e 9 anos, matriculadas em escolas urbanas públicas e privadas do município de Viçosa-MG. As variáveis sociodemográficas foram avaliadas pela aplicação de questionário semiestruturado, testado em estudo piloto. O consumo alimentar foi avaliado por três recordatórios 24 horas, aplicados em dias não consecutivos, sendo um referente ao final de semana. Os alimentos consumidos pelas crianças foram agrupados conforme a semelhança nutricional, considerando as possíveis hipóteses nas relações dieta- doença. O estado nutricional foi avaliado pelo índice de massa corporal e pelo percentual de gordura corporal total, avaliado pelo DEXA. Os perímetros da cintura e do pescoço foram aferidos com fita métrica inelástica. Com os dados da cintura e da estatura, foi calculada a relação cintura/estatura. Foram analisadas as concentrações séricas de colesterol total e frações, triglicerídeos, glicose e insulina de jejum, ácido úrico, proteína C reativa ultra- sensível, leptina, homocisteína, apolipoproteína A1 e B, e células brancas. Conforme a distribuição das variáveis, os testes paramétricos e não paramétricos foram realizados. As variáveis foram testadas nos modelos ajustados de regressão quando apresentaram associação com o desfecho na análise univariada (p<0,20). O nível de significância adotado foi de 5%. As análises dos PA foram realizadas pela Análise de Componentes Principais (ACP). Cinco PA foram identificados: PA não saudável, PA lanche, PA tradicional, PA industrializado e PA saudável. O PA não saudável esteve associado ao sexo masculino (OR: 2,35; IC95%: 1,35- 4,10), à maior escolaridade materna (OR: 2,09; IC95%: 1,12-3,90), ao comportamento sedentário (OR:1,93; IC95%: 1,04-3,58) e às concentrações aumentadas de leucócitos e monócitos. O padrão lanche esteve inversamente associado a omissão do café da manhã (OR: 0,26; IC95%: 0,13-0,55), à presença da criança em escola privada (OR:0,21; IC95%: 0,08-0,49), à prevalência de hipercolesterolemia (RP: 0,50; IC95%: 0,28-0,88) e ao LDL-c aumentado (RP: 0,40; IC95%: 0,19-0,84). Porém, esteve diretamente associado a hiperglicemia (RP: 1,07; IC95%: 2,93-3,87). Houve associação do maior consumo do PA tradicional com as concentrações séricas aumentadas de PCR-us (RP: 2,49; IC95%: 1,30- 4,74) e de leucócitos (RP: 1,75; IC95%: 1,06-2,89). No entanto, a menor adesão a este PA esteve associada ao excesso de gordura corporal (RP:1,32; IC95%: 1,01-1,72), à maior escolaridade materna (OR: 2,19; IC95%: 1,20-4,02) e ao tipo de escola (privada) (OR: 3,80; IC95%: 1,73-8,37). O PA industrializado associou-se à omissão do café da manhã (OR: 2,03; IC95%: 1,07-3,85), à prática de realizar as refeições em frente a televisão ou computador (OR:1,76; IC95%: 1,02-3,01), ao excesso de peso (RP:1,38; IC95%: 1,02-1,87) e de gordura corporal (RP:1,32; IC95%: 1,07-1,64), e à hiperglicemia (RP: 4,55; IC95%: 1,28-16,14). O menor consumo do PA saudável esteve associado ao baixo HDL-c (RP: 1,52; IC95%: 1,01- 2,28). Conclui-se que os PA obesogênicos (não-saudável e industrializado) estiveram associados a maior escolaridade materna, a estilo de vida inadequados e ao maior risco cardiometabólico, inflamatório e imunológico nas crianças. Esses resultados são importantes para que avaliações precoces do hábito alimentar de crianças e de suas famílias sejam realizadas por profissionais de saúde, como monitoramento do estado de saúde, para prevenção de doenças e comorbidades associadas.