Entre a enxada e a caneta: reflexões sobre as práticas de leitura e a partilha de saberes no contexto rural

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Firmiano, Rosana de Paula
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: LOCUS Repositório Institucional da UFV
Texto Completo: http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/6384
Resumo: O interesse pelo tema surgiu da necessidade de discutir as práticas sociais de leitura no contexto rural, visto que se percebe uma tendência de sobrevalorização dos conhecimentos científicos e da cultura urbana nos estudos acadêmicos, de uma maneira geral, em detrimento dos saberes de caráter mais rural. Objetivamos, dessa forma, ampliar a noção de leitura, de maneira a percebê-la em outros suportes que não apenas o livro. Entendida dessa forma, foi possível pensar na prática da leitura também como uma prática de leitura de mundo, de compartilhamento de saberes entre indivíduos. Essa troca de saberes costuma ser realizada tanto através da escrita, em diferentes suportes, quanto por meio da oralidade. Entretanto, como nossa sociedade tende a sobrevalorizar a cultura escrita, comunidades que têm uma forte base oral ou que não compartilham do acervo cultural escrito e acadêmico tendem a sofrer os efeitos dessa hierarquização simbólica. Elegemos uma comunidade rural específica, o distrito de Ubari, MG, para, através de entrevistas com dez idosos e dez jovens, investigarmos suas práticas de leitura. Partimos da hipótese de que o compartilhamento de saberes no contexto rural seria de base predominantemente oral, sendo os idosos os principais responsáveis pelo perpetuamento destes entre gerações. Nesse sentido, supúnhamos que o espaço para a leitura de livros seria reduzido, circunscrevendo-se apenas ao contexto dos mais jovens, em decorrência de exigências escolares. Constatamos que a oralidade não é mais uma característica marcante do compartilhamento de saberes na comunidade rural. Os jovens têm procurado como fonte de informação e lazer principalmente os suportes tecnológicos, onde também exercem a prática da leitura, principalmente de textos mais ligados ao lazer e à diversão. Os idosos, por sua vez, mostraram-se nostálgicos em relação aos tempos em que a oralidade era uma prática mais comum para difusão de saberes, principalmente tendo como iv base a prática de ouvir os mais velhos. Apesar de não sentirem o interesse dos jovens em ouvir os conhecimentos que têm a transmitir, exercem práticas específicas de leitura, como leitura bíblica e atividades religiosas, simpatias, benzeções, prática de escrita de memórias pessoais etc. Quando se pensa no lugar que a leitura de livros acadêmicos tem no espaço rural, pudemos perceber que esse tipo de leitura, apesar de estar envolvida por uma áurea de reverência e respeito, matem-se distante das práticas cotidianas. Constatamos que reconhecer que ler é importante para a inserção social do cidadão não é suficiente para que um grupo de pessoas leia os textos que a escola e a universidade elegem como fundamentais; a leitura só se transforma em prática efetiva se condizer com a realidade e as necessidades do indivíduo. Lê-se com mais frequência, por exemplo, entre os mais velhos, textos de caráter religioso; leitura essa que parte do interesse deles e que vai ao encontro de seus anseios e valores. Entre os jovens, a leitura de revistas de variedades e sites da internet também representa o anseio por uma leitura voluntária e, consequentemente, prazerosa.
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spelling Firmiano, Rosana de PaulaLopes, Elisa Cristina2015-10-22T15:26:32Z2015-10-22T15:26:32Z2015-03-24FIRMIANO, Rosana de Paula. Entre a enxada e a caneta: reflexões sobre as práticas de leitura e a partilha de saberes no contexto rural . 2015. 129 f. Dissertação(Mestrado em Letras) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2015.http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/6384O interesse pelo tema surgiu da necessidade de discutir as práticas sociais de leitura no contexto rural, visto que se percebe uma tendência de sobrevalorização dos conhecimentos científicos e da cultura urbana nos estudos acadêmicos, de uma maneira geral, em detrimento dos saberes de caráter mais rural. Objetivamos, dessa forma, ampliar a noção de leitura, de maneira a percebê-la em outros suportes que não apenas o livro. Entendida dessa forma, foi possível pensar na prática da leitura também como uma prática de leitura de mundo, de compartilhamento de saberes entre indivíduos. Essa troca de saberes costuma ser realizada tanto através da escrita, em diferentes suportes, quanto por meio da oralidade. Entretanto, como nossa sociedade tende a sobrevalorizar a cultura escrita, comunidades que têm uma forte base oral ou que não compartilham do acervo cultural escrito e acadêmico tendem a sofrer os efeitos dessa hierarquização simbólica. Elegemos uma comunidade rural específica, o distrito de Ubari, MG, para, através de entrevistas com dez idosos e dez jovens, investigarmos suas práticas de leitura. Partimos da hipótese de que o compartilhamento de saberes no contexto rural seria de base predominantemente oral, sendo os idosos os principais responsáveis pelo perpetuamento destes entre gerações. Nesse sentido, supúnhamos que o espaço para a leitura de livros seria reduzido, circunscrevendo-se apenas ao contexto dos mais jovens, em decorrência de exigências escolares. Constatamos que a oralidade não é mais uma característica marcante do compartilhamento de saberes na comunidade rural. Os jovens têm procurado como fonte de informação e lazer principalmente os suportes tecnológicos, onde também exercem a prática da leitura, principalmente de textos mais ligados ao lazer e à diversão. Os idosos, por sua vez, mostraram-se nostálgicos em relação aos tempos em que a oralidade era uma prática mais comum para difusão de saberes, principalmente tendo como iv base a prática de ouvir os mais velhos. Apesar de não sentirem o interesse dos jovens em ouvir os conhecimentos que têm a transmitir, exercem práticas específicas de leitura, como leitura bíblica e atividades religiosas, simpatias, benzeções, prática de escrita de memórias pessoais etc. Quando se pensa no lugar que a leitura de livros acadêmicos tem no espaço rural, pudemos perceber que esse tipo de leitura, apesar de estar envolvida por uma áurea de reverência e respeito, matem-se distante das práticas cotidianas. Constatamos que reconhecer que ler é importante para a inserção social do cidadão não é suficiente para que um grupo de pessoas leia os textos que a escola e a universidade elegem como fundamentais; a leitura só se transforma em prática efetiva se condizer com a realidade e as necessidades do indivíduo. Lê-se com mais frequência, por exemplo, entre os mais velhos, textos de caráter religioso; leitura essa que parte do interesse deles e que vai ao encontro de seus anseios e valores. Entre os jovens, a leitura de revistas de variedades e sites da internet também representa o anseio por uma leitura voluntária e, consequentemente, prazerosa.The interest in the subject started from the need to discuss social reading practices in the rural context, because you can notice an overvaluation trend of scientific knowledge and urban culture in academic studies, in general, in contrast to the rural knowledge . Our aim is to expand the notion of reading in order to see it in other resources that not only the book. This way, it was possible to think of the practice of reading also as a world of reading practice, sharing the knowledge among individuals. This exchange of knowledge is usually done either through writing, using a variety of tools, and through orality. However, as our society tends to overestimate the written culture, communities that have a strong oral basis or who do not share the writing and academic cultural knowledge tend to suffer the effects of symbolic hierarchy. We chose a specific rural community, the Ubari district, MG, through interviews with ten elderly and ten young people, to investigate their reading practices and share knowledge. Our hypothesis is that when sharing knowledge in the rural context it occurs orally, through speaking, the elderly are the main responsible for the perpetuation of this knowledge between generations. In this context, we imagined that the space for reading books would be reduced and limited only to the youngest, because of school requirements. We found that orality is not a distinctive feature of the knowledge sharing in the rural community anymore. Young people have looked for technological supports, where they can practice the reading as a source of information and entertainment, especially the ones linked to leisure and fun texts. The elderly, in turn, were nostalgic in relation to the times in which orality was a common practice for dissemination of knowledge, mainly based on the practice of listening to the older ones. Although not feeling young people's interest in hearing the knowledge they have to transmit, they still perform specific reading practices such as Bible reading and religious activities, sympathies, blessing, writing practice of personal memories vi etc. When we think about the place that reading of academic books have in rural areas, we realize that this kind of reading, despite being surrounded by an aura of reverence and respect, is really away from the daily practices. To conclude recognizing that reading is important for the social integration of the citizen is true,but it is not enough to make a group of people read the texts that the school and the university elected as fundamental; reading only becomes an effective practice when it matches the realities and needs of the individual. For example, among older, faith-based texts are read more often; because it‘s part of their interest and matches their expectations and values. Among young people, reading magazines varieties and internet sites also represent the desire for a voluntary and therefore enjoyable reading.Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas GeraisporUniversidade Federal de ViçosaLeituraEducação ruralPopulação rural - ContextoLiteratura BrasileiraEntre a enxada e a caneta: reflexões sobre as práticas de leitura e a partilha de saberes no contexto ruralBetween the hoe and the pen : reflections on the reading practices and the sharing of knowledge in the rural contextinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal de ViçosaDepartamento de LetrasMestre em LetrasViçosa - MG2015-03-24Mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:LOCUS Repositório Institucional da UFVinstname:Universidade Federal de Viçosa (UFV)instacron:UFVLICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81748https://locus.ufv.br//bitstream/123456789/6384/2/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD52ORIGINALtexto completo.pdftexto completo.pdfTexto completoapplication/pdf1217916https://locus.ufv.br//bitstream/123456789/6384/3/texto%20completo.pdf1bac97b99b0d01fc5cd31905ef0d5773MD53TEXTtexto completo.pdf.txttexto completo.pdf.txtExtracted texttext/plain295918https://locus.ufv.br//bitstream/123456789/6384/4/texto%20completo.pdf.txta593ace54280f93e073face49e1ff3caMD54THUMBNAILtexto completo.pdf.jpgtexto completo.pdf.jpgIM Thumbnailimage/jpeg3578https://locus.ufv.br//bitstream/123456789/6384/5/texto%20completo.pdf.jpg8a3281a2fca369d4231f085be64ba988MD55123456789/63842022-06-28 11:42:43.32oai:locus.ufv.br:123456789/6384Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://www.locus.ufv.br/oai/requestfabiojreis@ufv.bropendoar:21452022-06-28T14:42:43LOCUS Repositório Institucional da UFV - Universidade Federal de Viçosa (UFV)false
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