Conselhos às mães: manuais de puericultura como estratégia biopolítica na constituição de infâncias saudáveis e normais
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista Textura - ULBRA |
Texto Completo: | http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/1252 |
Resumo: | Essa pesquisa tem por objetivo investigar como manuais de puericultura de meados do século XX promoveram biopolíticas dirigidas às mães para a constituição de infâncias saudáveis e normais. Ressalto o quanto os manuais analisados desempenharam uma função pedagógica, ensinando mães e pais a como agir com suas/seus filhas/filhos, como devem alimentá-los, que ambientes e brinquedos lhes devem proporcionar, assim produzindo subjetividades, identidades e saberes. Para a realização da análise, foram utilizados, como referencial teórico, os Estudos Culturais, a partir de um olhar pós-estruturalista, e os Estudos de Michel Foucault, principalmente os conceitos de biopolítica, governamento, saber/poder e disciplina. Como material de análise foi utilizado os manuais A Vida do Bebê de Rinaldo De Lamare (edições de 1944 e 1963), Manual das Mães de Ladeira Marques (1945), Higiene e Puericultura de Valdemar de Oliveira (1956), Conselhos às Mães de Rubens Nelson (1964) e Meus Filhos de Alfons Balbach (1967), procurando-se enfatizar por meio de quais estratégias discursivas os autores dos livros, investidos do saber médico, conduzia as condutas maternas e paternas; quais os saberes e os poderes colocados em circulação na subjetivação materna e paterna para a promoção de crianças normais e saudáveis; como os manuais aqui analisados constituíram-se como tecnologias para o governo das famílias e das infâncias ao longo de décadas e através de que estratégias os especialistas promoviam biopolíticas dirigidas às mães; como eram caracterizados os sujeitos infantis tidos como normais e anormais e quais eram os modelos de família, mãe, pai, educação e criança promovidos nas publicações. A partir da análise verificou-se a força do discurso médico e da psicologia como forma de subjetivar as mães, com desconsideração de outras fontes, especialmente outras mulheres; o investimento na saúde e na alimentação materna; a exaltação da amamentação como forma de alimentar física e “emocionalmente” o bebê; a maternidade como “missão” e como destino natural de toda mulher (plenitude da beleza feminina); o hospital como instituição moderna dotada de recursos científicos para acompanhar o parto (e não mais o local para onde se vai para morrer); a centralidade da mãe na vida do bebê, sendo esta responsabilizada por tudo que ocorrer com a criança; a presença do discurso religioso (cristão) para justificar ou explicar acontecimentos; o endereçamento da publicação a mães heterossexuais, casadas, brancas, de classe média e alta e urbanas; e, por fim, a visão evolutiva do desenvolvimento da criança normal na publicação ora objeto de estudo, que objetiva “garantir crianças robustas” nas palavras do pediatra Nelson (1964). |
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