Plotino e o problema da mistura
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2010 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista Archai (Online) |
Texto Completo: | https://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928 |
Resumo: | A mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim à s infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia. |
id |
UNB-18_48d0d42517f11c0598ba5eafa26611a4 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:ojs.pkp.sfu.ca:article/2928 |
network_acronym_str |
UNB-18 |
network_name_str |
Revista Archai (Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
Plotino e o problema da misturaPlotinoAlexandre de AfrodísiasPorfírioEstóicosMisturaA mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim à s infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia.Cátedra UNESCO Archai (Universidade de Brasília); Imprensa da Universidade de Coimbra, Portugal; Annablume Editora, São Paulo, Brasil2010-12-20info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionArticlesArtigosapplication/pdfhttps://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928Revista Archai; No. 5 (2010): Revista Archai nº5 (julho, 2010); 37-48Archai Journal; n. 5 (2010): Revista Archai nº5 (julho, 2010); 37-481984-249X2179-4960reponame:Revista Archai (Online)instname:Universidade de Brasília (UnB)instacron:UNBporhttps://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928/2630Groisard, Jocelyninfo:eu-repo/semantics/openAccess2017-09-17T17:52:13Zoai:ojs.pkp.sfu.ca:article/2928Revistahttps://periodicos.unb.br/index.php/archaiPUBhttps://periodicos.unb.br/index.php/archai/oai||archaijournal@unb.br|| cornelli@unb.br1984-249X1984-249Xopendoar:2017-09-17T17:52:13Revista Archai (Online) - Universidade de Brasília (UnB)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Plotino e o problema da mistura |
title |
Plotino e o problema da mistura |
spellingShingle |
Plotino e o problema da mistura Groisard, Jocelyn Plotino Alexandre de Afrodísias Porfírio Estóicos Mistura |
title_short |
Plotino e o problema da mistura |
title_full |
Plotino e o problema da mistura |
title_fullStr |
Plotino e o problema da mistura |
title_full_unstemmed |
Plotino e o problema da mistura |
title_sort |
Plotino e o problema da mistura |
author |
Groisard, Jocelyn |
author_facet |
Groisard, Jocelyn |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Groisard, Jocelyn |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Plotino Alexandre de Afrodísias Porfírio Estóicos Mistura |
topic |
Plotino Alexandre de Afrodísias Porfírio Estóicos Mistura |
description |
A mistura era um tema bastante debatido na filosofia grega antiga e Plotino, provavelmente sob a influência de Alexandre de Afrodísias, não permaneceu indiferente a esse problema. Ele chegou a dedicar-lhe um tratado inteiro, Enéadas II 7, no qual compara as teorias dos Peripatéticos e dos Estóicos acerca da mistura e, sem escolher entre elas, tenta fornecer uma nova solução para o problema transferindo-o do domínio da física para o da metafísica: não importa como os ingredientes se relacionam no corpo misturado porque qualquer corpo ultimamente deriva sua forma de princípio superior incorpóreo, e não de seus constituintes físicos. Plotino também recorreu à mistura em uma demonstração da natureza incorpórea da alma: se nós supusermos que a alma é corpórea, então ela deveria necessariamente estar misturada ao corpo, mas, se nenhum esquema de mistura é capaz de dar conta da união entre os dois, então nós deveríamos revisar nossa hipótese e concluir que a alma não é corpórea. Paradoxalmente, esse argumento negativo, ao dizer que a alma não pode estar misturada se ela é um corpo, sugere que, uma vez que de fato ela não é um corpo, ela pode estar misturada ao corpo de um modo bastante especial, que é perpassando-o completamente, do mesmo modo como os Estóicos argumentavam que os corpos perpassavam completamente uns aos outros quando se misturam. Assim, Plotino tentou ao mesmo tempo colocar um fim à s infindáveis controvérsias acerca do tema físico da mistura e calçou o caminho para o uso de esquemas de mistura fora da física para entes incorpóreos, tais como a alma, um movimento que foi feito mais explicitamente por Porfírio e que se tornou imensamente influente no uso do conceito de mistura na metafísica neoplatônica tardia. |
publishDate |
2010 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2010-12-20 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion Articles Artigos |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928 |
url |
https://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/archai/article/view/2928/2630 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Cátedra UNESCO Archai (Universidade de Brasília); Imprensa da Universidade de Coimbra, Portugal; Annablume Editora, São Paulo, Brasil |
publisher.none.fl_str_mv |
Cátedra UNESCO Archai (Universidade de Brasília); Imprensa da Universidade de Coimbra, Portugal; Annablume Editora, São Paulo, Brasil |
dc.source.none.fl_str_mv |
Revista Archai; No. 5 (2010): Revista Archai nº5 (julho, 2010); 37-48 Archai Journal; n. 5 (2010): Revista Archai nº5 (julho, 2010); 37-48 1984-249X 2179-4960 reponame:Revista Archai (Online) instname:Universidade de Brasília (UnB) instacron:UNB |
instname_str |
Universidade de Brasília (UnB) |
instacron_str |
UNB |
institution |
UNB |
reponame_str |
Revista Archai (Online) |
collection |
Revista Archai (Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Revista Archai (Online) - Universidade de Brasília (UnB) |
repository.mail.fl_str_mv |
||archaijournal@unb.br|| cornelli@unb.br |
_version_ |
1798319943518781440 |