O poder da invisibilidade
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Anuário Antropológico (Online) |
Texto Completo: | https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582 |
Resumo: | Durante minha pesquisa de campo na Guiné-Bissau em 1987-1988 e em 1992, ouvi muitas vezes estórias que versavam sobre os poderes especiais que tinham certos líderes nacionalistas e combatentes na luta pela libertação nacional. Dentre esses poderes, o que mais chamou a minha atenção foi a capacidade que os heróis da pátria tinham de ficar invisíveis em situações de contato armado com as forças portuguesas. Este artigo representa um esforço para analisar essas narrativas. Pretendo demonstrar que elas são uma expressão simbólica do estado liminar da sociedade crioula da Guiné-Bissau. Creio não haver qualquer dificuldade em perceber que o período da guerra colonial (1963-1974), com toda a violência e com toda a desestruturação que uma tal situação acarreta, foi de fato um período de passagem, de liminaridade. No entanto, passados vinte anos da independência do país, essas estórias continuam a circular em Bissau e em outras cidades da Guiné, indicando que elas permanecem portadoras de significação para aqueles que as contam e as ouvem. Meu argumento é que elas continuam a fazer sentido porque, ainda hoje, a mensagem que veiculam permanece sendo basicamente a mesma que veiculavam nos anos da guerra e imediatamente após a independência. Em outras palavras, a liminaridade que penso caracterizar a sociedade crioula não é um atributo específico de um momento histórico particular, mas algo inerente e constante a essa sociedade, a despeito das inúmeras transformações nela ocorridas nestes últimos vinte anos. |
id |
UNB-23_4c8075b9b5bc62b82c6a709a6d53484f |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:ojs.pkp.sfu.ca:article/6582 |
network_acronym_str |
UNB-23 |
network_name_str |
Anuário Antropológico (Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
O poder da invisibilidadeAntropologiaDurante minha pesquisa de campo na Guiné-Bissau em 1987-1988 e em 1992, ouvi muitas vezes estórias que versavam sobre os poderes especiais que tinham certos líderes nacionalistas e combatentes na luta pela libertação nacional. Dentre esses poderes, o que mais chamou a minha atenção foi a capacidade que os heróis da pátria tinham de ficar invisíveis em situações de contato armado com as forças portuguesas. Este artigo representa um esforço para analisar essas narrativas. Pretendo demonstrar que elas são uma expressão simbólica do estado liminar da sociedade crioula da Guiné-Bissau. Creio não haver qualquer dificuldade em perceber que o período da guerra colonial (1963-1974), com toda a violência e com toda a desestruturação que uma tal situação acarreta, foi de fato um período de passagem, de liminaridade. No entanto, passados vinte anos da independência do país, essas estórias continuam a circular em Bissau e em outras cidades da Guiné, indicando que elas permanecem portadoras de significação para aqueles que as contam e as ouvem. Meu argumento é que elas continuam a fazer sentido porque, ainda hoje, a mensagem que veiculam permanece sendo basicamente a mesma que veiculavam nos anos da guerra e imediatamente após a independência. Em outras palavras, a liminaridade que penso caracterizar a sociedade crioula não é um atributo específico de um momento histórico particular, mas algo inerente e constante a essa sociedade, a despeito das inúmeras transformações nela ocorridas nestes últimos vinte anos.Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia2018-02-02info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240Anuário Antropológico; Vol. 18 Núm. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240Anuário Antropológico; v. 18 n. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-2402357-738X0102-4302reponame:Anuário Antropológico (Online)instname:Universidade de Brasília (UnB)instacron:UNBporhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582/7558Copyright (c) 1994 Anuário Antropológicohttps://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessTrajano Filho, Wilson2023-06-14T17:49:51Zoai:ojs.pkp.sfu.ca:article/6582Revistahttps://journals.openedition.org/aa/PUBhttps://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/oairevista.anuario.antropologico@gmail.com || Revista.anuario.antropologico@gmail.com2357-738X0102-4302opendoar:2023-06-14T17:49:51Anuário Antropológico (Online) - Universidade de Brasília (UnB)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
O poder da invisibilidade |
title |
O poder da invisibilidade |
spellingShingle |
O poder da invisibilidade Trajano Filho, Wilson Antropologia |
title_short |
O poder da invisibilidade |
title_full |
O poder da invisibilidade |
title_fullStr |
O poder da invisibilidade |
title_full_unstemmed |
O poder da invisibilidade |
title_sort |
O poder da invisibilidade |
author |
Trajano Filho, Wilson |
author_facet |
Trajano Filho, Wilson |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Trajano Filho, Wilson |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Antropologia |
topic |
Antropologia |
description |
Durante minha pesquisa de campo na Guiné-Bissau em 1987-1988 e em 1992, ouvi muitas vezes estórias que versavam sobre os poderes especiais que tinham certos líderes nacionalistas e combatentes na luta pela libertação nacional. Dentre esses poderes, o que mais chamou a minha atenção foi a capacidade que os heróis da pátria tinham de ficar invisíveis em situações de contato armado com as forças portuguesas. Este artigo representa um esforço para analisar essas narrativas. Pretendo demonstrar que elas são uma expressão simbólica do estado liminar da sociedade crioula da Guiné-Bissau. Creio não haver qualquer dificuldade em perceber que o período da guerra colonial (1963-1974), com toda a violência e com toda a desestruturação que uma tal situação acarreta, foi de fato um período de passagem, de liminaridade. No entanto, passados vinte anos da independência do país, essas estórias continuam a circular em Bissau e em outras cidades da Guiné, indicando que elas permanecem portadoras de significação para aqueles que as contam e as ouvem. Meu argumento é que elas continuam a fazer sentido porque, ainda hoje, a mensagem que veiculam permanece sendo basicamente a mesma que veiculavam nos anos da guerra e imediatamente após a independência. Em outras palavras, a liminaridade que penso caracterizar a sociedade crioula não é um atributo específico de um momento histórico particular, mas algo inerente e constante a essa sociedade, a despeito das inúmeras transformações nela ocorridas nestes últimos vinte anos. |
publishDate |
2018 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2018-02-02 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582 |
url |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6582/7558 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
Copyright (c) 1994 Anuário Antropológico https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
Copyright (c) 1994 Anuário Antropológico https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0 |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia |
publisher.none.fl_str_mv |
Brasília DF: Universidade de Brasília Instituto de Ciências Sociais Departamento de Antropologia |
dc.source.none.fl_str_mv |
Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240 Anuário Antropológico; Vol. 18 Núm. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240 Anuário Antropológico; Vol. 18 No. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240 Anuário Antropológico; v. 18 n. 1 (1994): Anuário Antropológico; 205-240 2357-738X 0102-4302 reponame:Anuário Antropológico (Online) instname:Universidade de Brasília (UnB) instacron:UNB |
instname_str |
Universidade de Brasília (UnB) |
instacron_str |
UNB |
institution |
UNB |
reponame_str |
Anuário Antropológico (Online) |
collection |
Anuário Antropológico (Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Anuário Antropológico (Online) - Universidade de Brasília (UnB) |
repository.mail.fl_str_mv |
revista.anuario.antropologico@gmail.com || Revista.anuario.antropologico@gmail.com |
_version_ |
1797225472511180800 |