Quem agenda a mídia : um estudo de agenda-setting a partir da tematização do aborto nas eleições de 2010

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mantovani, Denise Maria
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UnB
Texto Completo: http://repositorio.unb.br/handle/10482/17179
Resumo: Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, 2014.
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spelling Quem agenda a mídia : um estudo de agenda-setting a partir da tematização do aborto nas eleições de 2010Who sets the media agenda : a study of agenda-setting from the thematization of abortion in Brazil's 2010 presidential electionsJornalismo - aspectos políticosAbortoEleições - BrasilAnálise de conteúdo (Comunicação)Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, 2014.A questão central dessa tese tem origem no questionamento sobre como e por que o aborto tornou-se central na disputa entre os candidatos à Presidência no segundo turno das eleições de 2010. O estudo pretende demonstrar como se deu a competição entre os atores do campo político, religioso e jornalístico que determinaram a definição da temática sobre o aborto como a agenda central da cobertura eleitoral no segundo turno de 2010. A partir da análise dos textos noticiosos e de opinião publicados nos jornais O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo no período entre 11 de julho e 31 de outubro de 2010, pretende-se observar o mecanismo de agenda-setting e a complexidade da produção da agenda numa perspectiva que avance na compreensão de como se dá a construção do noticiário, sobretudo político, entendendo seu resultado como parte de tensões e interações, disputas e arranjos entre diferentes forças que competem entre si e com o campo jornalístico. A metodologia utilizada foi a análise qualitativa e quantitativa dos dados a partir da seleção de todos os textos em que a palavra “aborto” foi citada no período analisado, de forma a acompanhar o crescimento do assunto nos três jornais supracitados, identificando: a) os elementos que confirmam o agendamento do aborto como temática central; b) os contornos discursivos definidos pelo campo jornalístico; c) os limites das controvérsias e das vozes presentes na arena jornalística na abordagem sobre o aborto. Nossa hipótese considera que a temática do aborto tornou-se o centro da disputa eleitoral no final do primeiro turno, quando as pesquisas eleitorais indicaram uma queda nas intenções de voto da candidata Dilma Rousseff (PT), motivada pela mudança de posição do eleitorado religioso. É nesse momento que o campo jornalístico “descobre” que a temática do aborto vinha sendo usada em meios alheios à arena da mídia convencional com o objetivo de condenar e desestimular o voto na candidata do PT, por suas posições e as de seu partido sobre o aborto. Tal discurso vinha sendo propagado por setores das igrejas Católica e Evangélica – alguns deles diretamente vinculados à candidatura de José Serra (PSDB), em meios próprios de comunicação, utilizando ferramentas da internet (e-mails, mídias sociais como Facebook e Youtube, blogs etc.), canais próprios de televisão de suas igrejas, ou na comunicação direta a partir das missas, cultos, distribuição de panfletos, cartas aos fiéis etc.. Tal movimento ocorreu em paralelo à cobertura jornalística das eleições no primeiro turno e tornou-se “público” quando os jornais observados começam a explicar em reportagens, artigos ou colunas os possíveis motivos para a queda da candidata considerada favorita. É, também, na virada do primeiro para o segundo turno que o campo da mídia passa a “disputar” uma posição explícita, defendendo que o debate eleitoral tratasse das denúncias sobre corrupção e possíveis irregularidades cometidas no governo Lula, que também atingiriam a candidata governista, Dilma Rousseff, e não se concentrasse em discussões de cunho religioso e conservador sobre o aborto. Apesar dessa posição, os jornais ajustaram e reorientaram sua estratégia de cobertura eleitoral, tendo papel central na definição do aborto como assunto principal da cobertura jornalística e no debate eleitoral a partir de outubro. A análise quantitativa comprova o agendamento do aborto no segundo turno, já que mais de 80% dos 504 textos presentes nesta pesquisa foram publicados somente em outubro. Já a análise qualitativa dos enquadramentos e vozes predominantes no noticiário demonstra que os jornais não somente tiveram um papel relevante na definição do jogo político-eleitoral e da inclusão do aborto na agenda pública mas também contribuíram na legitimação de posições assimétricas sobre os papéis de gênero na política, reforçando hierarquias que colaboraram para o tratamento conservador e condenatório sobre a descriminalização do aborto. Nesse sentido, os jornais sustentaram como um discurso universal a visão masculina e patriarcal sobre o papel do Estado e das leis nessa questão. Além disso, os discursos e perspectivas que predominaram na cobertura jornalística reforçaram constrangimentos formais (religiosos ou legais) que inibiram o avanço do debate sobre o direito de a mulher decidir sobre seu corpo como indivíduo livre e de deliberar de forma autônoma sobre sua vida. ______________________________________________________________________________ ABSTRACTThis study aims to show how a competition between political, religious and journalistic actors took place in Brazil's 2010 presidential dispute, as this controversy defined abortion as a central theme in the coverage for the second round of the elections. Based on the analysis of news reports and columns published in three newspapers – O Globo, Folha de S.Paulo and O Estado de S. Paulo – from July 11 to October 31 of 2010, this dissertation observes agenda-setting mechanisms and the complexity of its production process, so as to develop a better understanding on the construction of news, especially political news, seeing the resulting process as part of the tensions and interactions, disputes and arrangements between different forces which compete with each other and with journalism itself. The methodology applied was qualitative and quantitative analysis of data from a selection of all texts in which the word “abortion” was mentioned during the period analyzed, be it merely as a reference or as the central theme in the text, in order to indentify the increasing incidence of the subject in the three aforementioned publications, recognizing: a) elements which confirm the choice of abortion as a central theme; b) the discoursive contours as defined by the press; c) the limits to controversial subjects and to actors in the journalistic arena regarding the approach to abortion. The crucial issue to this dissertation stems from the debate on “how and why has abortion become central to the presidential dispute in the second round of Brazil's 2010 elections.” Our hypothesis considers that the theme “abortion” was made the center of the dispute at the end of the first round, when polls showed a drop of candidate Dilma Rousseff (PT) caused by a change in religious voters' intentions. This is the moment when the press “discovers” that the subject of abortion was being used in places unfamiliar to the conventional media arena, with the object of reprobating – and discouraging believers' votes for – the candidate of the Workers' Party (PT), Dilma Rousseff, due to her and her party's stance towards abortion. Such discourse was being propagated by sectors of the Catholic and Evangelical Church – some of which directly tied to the candidacy of José Serra (PSDB) – through their own means of communication: on the internet (emails, social media such as Facebook, Youtube, blogs, etc.), on their television channels, or through direct communication – cults, masses, leafleting, letters to followers and so on. Such movement took place in parallel to the media coverage of the first round of the elections, and became “public” when the newspapers began to “explain” in their reports, articles or columns the possible reasons for the decline of the candidate considered favorite. It is also at the turn of the first round that the media begins to play an explicit role, arguing that the debate should not focus on discussions of religious and conservative nature on abortion, and should instead contemplate the accusations of corruption and possible wrongdoings in Lula's administration – which would also do harm to Dilma Rousseff's candidacy. Notwithstanding this stance, the traditional media adjusted and redirected its election coverage strategy, assuming a central role in the definition of abortion as the main subject both of media coverage and of the electoral debate from October on. Quantitative analysis proves the agenda-setting of abortion in the second round, as over 80% of the 504 texts present in this research were published in October only. For its part, the qualitative analysis of framing and of dominant actors in the these publications demonstrates not only that the newspapers had an important role in defining the political-electoral game and the inclusion of abortion on the public agenda, but also that they contributed to the legitimization of asymmetric stances as to gender roles in politics. Furthermore, they reinforced hierarchic notions which contributed to a conservative and judgmental treatment on the decriminalization of abortion. As such, these newspapers held a masculine, patriarchal view on the role of the state and of laws regarding this subject as a universal discourse. Thus, the prevailing discourses and perspectives in media coverage strengthened formal constraints – religious or legal – which inhibited further debate on the right of women to make choices about their own bodies, as free individuals – capable of deciding, independently, on their own lives.Instituto de Ciência Política (IPOL)Programa de Pós-Graduação em Ciência PolíticaTokarski, Flávia Millena BiroliMantovani, Denise Maria2014-12-02T13:11:46Z2014-12-02T13:11:46Z2014-12-022014-09-12info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfMANTOVANI, Denise Maria. Quem agenda a mídia: um estudo de agenda-setting a partir da tematização do aborto nas eleições de 2010. 2014. 234 f., il. Tese (Doutorado em Ciência Política)—Universidade de Brasília, Brasília, 2014.http://repositorio.unb.br/handle/10482/17179A concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições: Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.bce.unb.br, www.ibict.br, http://hercules.vtls.com/cgi-bin/ndltd/chameleon?lng=pt&skin=ndltd sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra disponibilizada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UnBinstname:Universidade de Brasília (UnB)instacron:UNB2024-02-01T16:23:58Zoai:repositorio.unb.br:10482/17179Repositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.unb.br/oai/requestrepositorio@unb.bropendoar:2024-02-01T16:23:58Repositório Institucional da UnB - Universidade de Brasília (UnB)false
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