Entimema and textualization

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bertrand, Denis
Data de Publicação: 2010
Outros Autores: da Cruz Jr. (Tradutor), Dilson Ferreira
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Texto Completo: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/2282
Resumo: A questão central deste artigo refere-se às relações existentes entre o conceito retórico de entimema e o conceito semiótico de textualização. Este pode ser aproximado do entimema e mesmo considerado uma definição desse fenômeno discursivo, central na retórica aristotélica? Em que as proposições atuais da “retórica tensiva” podem sugerir uma resposta? O estatuto do entimema na história da retórica — situado entre a abordagem argumentativa do conceito realizada por Aristóteles e o enfoque da lógica de Port Royal — leva à articulação entre o parâmetro lógico (a categorização implícita que é projetada) e o parâmetro pragmático, que delega o implícito ao enunciatário e solicita sua participação na interpretação. Torna-se possível, então, estabelecer uma aproximação com a textualização semiótica: sua definição, o espaço de enunciação liberado, seus limites como operação discursiva do agenciamento e da assunção dos dados elípticos e previsíveis do discurso. Somos, desse modo, levados a refletir sobre o aporte da retórica tensiva para a abordagem semiótica da textualização, e a enfatizar especialmente os modos de co-presença das significações na assunção do sentido pelo sujeito interpretativo. Essa análise nos convida a isolar a componente tímica que se encontra no coração do entimema (a en-timia) e a visar à passagem do entimema em um sentido estrito (estrutura cognitiva da argumentação) para o entimema em uma acepção abrangente (integrante de direito da componente tímica da assunção e da dimensão passional do discurso). Seu desenvolvimento na direção dos discursos figurativos permitirá, enfim, propor a noção de “entimema figurativo”, cuja problemática será discutida e explorada por meio da teoria da leitura de Proust, a qual é compreendida como um ato de textualização que se funda sobre uma série de categorias que são correlacionadas a partir do material–imagem: correlação entre o perceptivo e o discursivo, entre o crer cognitivo e a incorporação do sensível na emoção, entre a criação textual e a leitura. A renovação do pensamento semiótico acerca da retórica está menos relacionada à reparação de uma falta — por que a semiótica preteriu o edifício retórico ao longo de seu desenvolvimento? — que a uma evolução das orientações de sua pesquisa. Voltada agora para apreensão do discurso em ato, a semiótica esforça-se para descrever, na base de seus fundamentos teóricos, a construção do sentido de um modo mais próximo da enunciação viva. Em tal perspectiva, a semiótica não podia deixar de interrogar novamente a retórica, enfocando-a, evidentemente, como um todo; isto é, rejeitando toda a divisão histórica entre retórica da argumentação e retórica dos tropos para tentar restabelecer a reflexão sobre a base comum em que originariamente ambas foram fundadas. No centro dessa nova abordagem, as hipóteses analíticas da “retórica tensiva” foram avaliadas essencialmente em um reexame tropológico. Diferentemente de uma abordagem substitutiva da figura, em que um conteúdo “figurado” substitui um conteúdo “próprio”, a retórica tensiva retoma as análises de Ricoeur e de Prandi e postula, na manifestação da figura, uma co-presença, tensa e concorrencial, de vários modos de existência da significação correlacionados uns aos outros em razão da convocação feita pelo enunciado. Um dos desafios de tal competição semântica é a articulação das relações entre as vertentes sensível, inteligível, passional e interpretativa da significação tropológica. Ora, pode-se considerar que essa hipótese tem um alcance global e diz respeito à dimensão discursiva geral da retórica e não apenas às figuras tomadas de forma isolada. Exercício do fazer persuasivo, tradicionalmente a retórica é, por excelência, “o lugar de encontro do homem e do discurso”, segundo a fórmula de Meyer. Em sua rica introdução à Retórica de Aristóteles , o autor se propõe a defini-la a partir de uma dupla polaridade: de um lado, ela trata “da problemática no discurso” , ocupa-se do que é provável, incerto, contestável, do que poderia ser diferente ou mesmo não ser; assim, determina o espaço da palavra frágil e a realidade de outras formas de discursividade que não as do apodíctico (o necessário, o intangível da lógica). De outro, a retórica surge como “a negociação da distância entre os sujeitos”, e chama necessariamente a atenção para as instâncias de enunciação e, mais além, marca sua implicação sensível nos atos de fala (nos quais se podem inferir, a partir de um enunciado descritivo, efeitos pragmáticos e passionais, tais como ameaça/benevolência, inveja/generosidade, etc.). Nesse sentido, a retórica “modaliza, escreve Meyer, o questionamento do outro, questionamento que revela uma ou outra paixão” . No coração da retórica instala-se, portanto, ao mesmo tempo, de um lado, pela ausência (o elíptico, o oculto, o incerto), o espaço do sentido, e, de outro, o engajamento, a inscrição do sujeito — instância de enunciação sensibilizada — que vem, interpretativa e passionalmente, “preencher” esse espaço (segundo a figura correntemente utilizada por Proust). Como se articulam essas duas dimensões, a vacância de uma significação imperfeita e a ocupação desse espaço pelo sujeito? Essa interrogação está no centro de nosso estudo e será desenvolvida em três momentos: inicialmente, evocaremos a figura do entimema, essencial na retórica clássica, uma vez que define um modo de raciocínio específico e recobre precisamente a dupla polaridade definicional; em seguida, aproximaremos a concepção semiótica da textualização da concepção retórica do entimema para enfocar as interferências e as oposições entre os domínios abertos por esses conceitos; enfim, considerando a leitura como um ato de textualização, nos esforçaremos para mostrar como a dupla dimensão da leitura, segundo Proust, simultaneamente interpretativa e emocional, constitui uma variedade de entimema, “o entimema figurativo”. Essa hipótese de trabalho será examinada mediante a análise de um trecho de Combray.
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Torna-se possível, então, estabelecer uma aproximação com a textualização semiótica: sua definição, o espaço de enunciação liberado, seus limites como operação discursiva do agenciamento e da assunção dos dados elípticos e previsíveis do discurso. Somos, desse modo, levados a refletir sobre o aporte da retórica tensiva para a abordagem semiótica da textualização, e a enfatizar especialmente os modos de co-presença das significações na assunção do sentido pelo sujeito interpretativo. Essa análise nos convida a isolar a componente tímica que se encontra no coração do entimema (a en-timia) e a visar à passagem do entimema em um sentido estrito (estrutura cognitiva da argumentação) para o entimema em uma acepção abrangente (integrante de direito da componente tímica da assunção e da dimensão passional do discurso). Seu desenvolvimento na direção dos discursos figurativos permitirá, enfim, propor a noção de “entimema figurativo”, cuja problemática será discutida e explorada por meio da teoria da leitura de Proust, a qual é compreendida como um ato de textualização que se funda sobre uma série de categorias que são correlacionadas a partir do material–imagem: correlação entre o perceptivo e o discursivo, entre o crer cognitivo e a incorporação do sensível na emoção, entre a criação textual e a leitura. A renovação do pensamento semiótico acerca da retórica está menos relacionada à reparação de uma falta — por que a semiótica preteriu o edifício retórico ao longo de seu desenvolvimento? — que a uma evolução das orientações de sua pesquisa. Voltada agora para apreensão do discurso em ato, a semiótica esforça-se para descrever, na base de seus fundamentos teóricos, a construção do sentido de um modo mais próximo da enunciação viva. Em tal perspectiva, a semiótica não podia deixar de interrogar novamente a retórica, enfocando-a, evidentemente, como um todo; isto é, rejeitando toda a divisão histórica entre retórica da argumentação e retórica dos tropos para tentar restabelecer a reflexão sobre a base comum em que originariamente ambas foram fundadas. No centro dessa nova abordagem, as hipóteses analíticas da “retórica tensiva” foram avaliadas essencialmente em um reexame tropológico. Diferentemente de uma abordagem substitutiva da figura, em que um conteúdo “figurado” substitui um conteúdo “próprio”, a retórica tensiva retoma as análises de Ricoeur e de Prandi e postula, na manifestação da figura, uma co-presença, tensa e concorrencial, de vários modos de existência da significação correlacionados uns aos outros em razão da convocação feita pelo enunciado. Um dos desafios de tal competição semântica é a articulação das relações entre as vertentes sensível, inteligível, passional e interpretativa da significação tropológica. Ora, pode-se considerar que essa hipótese tem um alcance global e diz respeito à dimensão discursiva geral da retórica e não apenas às figuras tomadas de forma isolada. Exercício do fazer persuasivo, tradicionalmente a retórica é, por excelência, “o lugar de encontro do homem e do discurso”, segundo a fórmula de Meyer. Em sua rica introdução à Retórica de Aristóteles , o autor se propõe a defini-la a partir de uma dupla polaridade: de um lado, ela trata “da problemática no discurso” , ocupa-se do que é provável, incerto, contestável, do que poderia ser diferente ou mesmo não ser; assim, determina o espaço da palavra frágil e a realidade de outras formas de discursividade que não as do apodíctico (o necessário, o intangível da lógica). De outro, a retórica surge como “a negociação da distância entre os sujeitos”, e chama necessariamente a atenção para as instâncias de enunciação e, mais além, marca sua implicação sensível nos atos de fala (nos quais se podem inferir, a partir de um enunciado descritivo, efeitos pragmáticos e passionais, tais como ameaça/benevolência, inveja/generosidade, etc.). Nesse sentido, a retórica “modaliza, escreve Meyer, o questionamento do outro, questionamento que revela uma ou outra paixão” . No coração da retórica instala-se, portanto, ao mesmo tempo, de um lado, pela ausência (o elíptico, o oculto, o incerto), o espaço do sentido, e, de outro, o engajamento, a inscrição do sujeito — instância de enunciação sensibilizada — que vem, interpretativa e passionalmente, “preencher” esse espaço (segundo a figura correntemente utilizada por Proust). Como se articulam essas duas dimensões, a vacância de uma significação imperfeita e a ocupação desse espaço pelo sujeito? Essa interrogação está no centro de nosso estudo e será desenvolvida em três momentos: inicialmente, evocaremos a figura do entimema, essencial na retórica clássica, uma vez que define um modo de raciocínio específico e recobre precisamente a dupla polaridade definicional; em seguida, aproximaremos a concepção semiótica da textualização da concepção retórica do entimema para enfocar as interferências e as oposições entre os domínios abertos por esses conceitos; enfim, considerando a leitura como um ato de textualização, nos esforçaremos para mostrar como a dupla dimensão da leitura, segundo Proust, simultaneamente interpretativa e emocional, constitui uma variedade de entimema, “o entimema figurativo”. Essa hipótese de trabalho será examinada mediante a análise de um trecho de Combray.A questão central deste artigo refere-se às relações existentes entre o conceito retórico de entimema e o conceito semiótico de textualização. Este pode ser aproximado do entimema e mesmo considerado uma definição desse fenômeno discursivo, central na retórica aristotélica? Em que as proposições atuais da “retórica tensiva” podem sugerir uma resposta? O estatuto do entimema na história da retórica — situado entre a abordagem argumentativa do conceito realizada por Aristóteles e o enfoque da lógica de Port Royal — leva à articulação entre o parâmetro lógico (a categorização implícita que é projetada) e o parâmetro pragmático, que delega o implícito ao enunciatário e solicita sua participação na interpretação. Torna-se possível, então, estabelecer uma aproximação com a textualização semiótica: sua definição, o espaço de enunciação liberado, seus limites como operação discursiva do agenciamento e da assunção dos dados elípticos e previsíveis do discurso. Somos, desse modo, levados a refletir sobre o aporte da retórica tensiva para a abordagem semiótica da textualização, e a enfatizar especialmente os modos de co-presença das significações na assunção do sentido pelo sujeito interpretativo. Essa análise nos convida a isolar a componente tímica que se encontra no coração do entimema (a en-timia) e a visar à passagem do entimema em um sentido estrito (estrutura cognitiva da argumentação) para o entimema em uma acepção abrangente (integrante de direito da componente tímica da assunção e da dimensão passional do discurso). Seu desenvolvimento na direção dos discursos figurativos permitirá, enfim, propor a noção de “entimema figurativo”, cuja problemática será discutida e explorada por meio da teoria da leitura de Proust, a qual é compreendida como um ato de textualização que se funda sobre uma série de categorias que são correlacionadas a partir do material–imagem: correlação entre o perceptivo e o discursivo, entre o crer cognitivo e a incorporação do sensível na emoção, entre a criação textual e a leitura. A renovação do pensamento semiótico acerca da retórica está menos relacionada à reparação de uma falta — por que a semiótica preteriu o edifício retórico ao longo de seu desenvolvimento? — que a uma evolução das orientações de sua pesquisa. Voltada agora para apreensão do discurso em ato, a semiótica esforça-se para descrever, na base de seus fundamentos teóricos, a construção do sentido de um modo mais próximo da enunciação viva. Em tal perspectiva, a semiótica não podia deixar de interrogar novamente a retórica, enfocando-a, evidentemente, como um todo; isto é, rejeitando toda a divisão histórica entre retórica da argumentação e retórica dos tropos para tentar restabelecer a reflexão sobre a base comum em que originariamente ambas foram fundadas. No centro dessa nova abordagem, as hipóteses analíticas da “retórica tensiva” foram avaliadas essencialmente em um reexame tropológico. Diferentemente de uma abordagem substitutiva da figura, em que um conteúdo “figurado” substitui um conteúdo “próprio”, a retórica tensiva retoma as análises de Ricoeur e de Prandi e postula, na manifestação da figura, uma co-presença, tensa e concorrencial, de vários modos de existência da significação correlacionados uns aos outros em razão da convocação feita pelo enunciado. Um dos desafios de tal competição semântica é a articulação das relações entre as vertentes sensível, inteligível, passional e interpretativa da significação tropológica. Ora, pode-se considerar que essa hipótese tem um alcance global e diz respeito à dimensão discursiva geral da retórica e não apenas às figuras tomadas de forma isolada. Exercício do fazer persuasivo, tradicionalmente a retórica é, por excelência, “o lugar de encontro do homem e do discurso”, segundo a fórmula de Meyer. Em sua rica introdução à Retórica de Aristóteles , o autor se propõe a defini-la a partir de uma dupla polaridade: de um lado, ela trata “da problemática no discurso” , ocupa-se do que é provável, incerto, contestável, do que poderia ser diferente ou mesmo não ser; assim, determina o espaço da palavra frágil e a realidade de outras formas de discursividade que não as do apodíctico (o necessário, o intangível da lógica). De outro, a retórica surge como “a negociação da distância entre os sujeitos”, e chama necessariamente a atenção para as instâncias de enunciação e, mais além, marca sua implicação sensível nos atos de fala (nos quais se podem inferir, a partir de um enunciado descritivo, efeitos pragmáticos e passionais, tais como ameaça/benevolência, inveja/generosidade, etc.). Nesse sentido, a retórica “modaliza, escreve Meyer, o questionamento do outro, questionamento que revela uma ou outra paixão” . No coração da retórica instala-se, portanto, ao mesmo tempo, de um lado, pela ausência (o elíptico, o oculto, o incerto), o espaço do sentido, e, de outro, o engajamento, a inscrição do sujeito — instância de enunciação sensibilizada — que vem, interpretativa e passionalmente, “preencher” esse espaço (segundo a figura correntemente utilizada por Proust). Como se articulam essas duas dimensões, a vacância de uma significação imperfeita e a ocupação desse espaço pelo sujeito? 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Somos, desse modo, levados a refletir sobre o aporte da retórica tensiva para a abordagem semiótica da textualização, e a enfatizar especialmente os modos de co-presença das significações na assunção do sentido pelo sujeito interpretativo. Essa análise nos convida a isolar a componente tímica que se encontra no coração do entimema (a en-timia) e a visar à passagem do entimema em um sentido estrito (estrutura cognitiva da argumentação) para o entimema em uma acepção abrangente (integrante de direito da componente tímica da assunção e da dimensão passional do discurso). 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Em tal perspectiva, a semiótica não podia deixar de interrogar novamente a retórica, enfocando-a, evidentemente, como um todo; isto é, rejeitando toda a divisão histórica entre retórica da argumentação e retórica dos tropos para tentar restabelecer a reflexão sobre a base comum em que originariamente ambas foram fundadas. No centro dessa nova abordagem, as hipóteses analíticas da “retórica tensiva” foram avaliadas essencialmente em um reexame tropológico. Diferentemente de uma abordagem substitutiva da figura, em que um conteúdo “figurado” substitui um conteúdo “próprio”, a retórica tensiva retoma as análises de Ricoeur e de Prandi e postula, na manifestação da figura, uma co-presença, tensa e concorrencial, de vários modos de existência da significação correlacionados uns aos outros em razão da convocação feita pelo enunciado. Um dos desafios de tal competição semântica é a articulação das relações entre as vertentes sensível, inteligível, passional e interpretativa da significação tropológica. Ora, pode-se considerar que essa hipótese tem um alcance global e diz respeito à dimensão discursiva geral da retórica e não apenas às figuras tomadas de forma isolada. Exercício do fazer persuasivo, tradicionalmente a retórica é, por excelência, “o lugar de encontro do homem e do discurso”, segundo a fórmula de Meyer. Em sua rica introdução à Retórica de Aristóteles , o autor se propõe a defini-la a partir de uma dupla polaridade: de um lado, ela trata “da problemática no discurso” , ocupa-se do que é provável, incerto, contestável, do que poderia ser diferente ou mesmo não ser; assim, determina o espaço da palavra frágil e a realidade de outras formas de discursividade que não as do apodíctico (o necessário, o intangível da lógica). De outro, a retórica surge como “a negociação da distância entre os sujeitos”, e chama necessariamente a atenção para as instâncias de enunciação e, mais além, marca sua implicação sensível nos atos de fala (nos quais se podem inferir, a partir de um enunciado descritivo, efeitos pragmáticos e passionais, tais como ameaça/benevolência, inveja/generosidade, etc.). Nesse sentido, a retórica “modaliza, escreve Meyer, o questionamento do outro, questionamento que revela uma ou outra paixão” . No coração da retórica instala-se, portanto, ao mesmo tempo, de um lado, pela ausência (o elíptico, o oculto, o incerto), o espaço do sentido, e, de outro, o engajamento, a inscrição do sujeito — instância de enunciação sensibilizada — que vem, interpretativa e passionalmente, “preencher” esse espaço (segundo a figura correntemente utilizada por Proust). Como se articulam essas duas dimensões, a vacância de uma significação imperfeita e a ocupação desse espaço pelo sujeito? Essa interrogação está no centro de nosso estudo e será desenvolvida em três momentos: inicialmente, evocaremos a figura do entimema, essencial na retórica clássica, uma vez que define um modo de raciocínio específico e recobre precisamente a dupla polaridade definicional; em seguida, aproximaremos a concepção semiótica da textualização da concepção retórica do entimema para enfocar as interferências e as oposições entre os domínios abertos por esses conceitos; enfim, considerando a leitura como um ato de textualização, nos esforçaremos para mostrar como a dupla dimensão da leitura, segundo Proust, simultaneamente interpretativa e emocional, constitui uma variedade de entimema, “o entimema figurativo”. Essa hipótese de trabalho será examinada mediante a análise de um trecho de Combray.
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