Leitura como aprendizagem : questões sobre o texto jornalistico e outros textos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marques, Sandra Maria Rabelo
Data de Publicação: 1991
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Texto Completo: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1575123
Resumo: Orientador: Laymert Garcia dos Santos
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spelling Leitura como aprendizagem : questões sobre o texto jornalistico e outros textosLeitura de jornaisSociologia educacionalOrientador: Laymert Garcia dos SantosDissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de EducaçãoResumo: Terminada a pesquisa - ao menos protocolarmente, pois sabe-se que ela continua para alem do seu termino - é com surpresa que acompanhamos "de fora", com a leitura do produto final, do fato consumado, como se diz, o seu próprio desenrolar. Ao contrário do que possa parecer, ao contrario do que trai a suposta organização do trabalho, nada ali, ou quase nada, foi premeditado. E alem de nao ter sido premeditado, em nenhum momento o mestrando teve o controle da situação para decidir com firmeza o rumo que a pesquisa tomaria em determinado momento. Não se trata de fazer aqui a apologia do espontaneísmo. Não se trata disso, mesmo porque, para se levar adiante o projeto, na que se valer de largas doses de trabalho, disciplina e planejamento. Planejamento que, se ministrado em excesso, ameaça esmagar o fator surpresa: a overdose pode ser letal. Partindo das questões iniciais, tentando desenrolar o novelo formado por elas e pelas sucessivas questões surgidas - pois basta um ponto de interrogação para que outros se descortinem numa reação em cadeia -, o que se tem como resultado e o aprofundamento dessas questões. E ao aprofunda-las, ao iniciar o movimento na tentativa de segui-las, de seguir o itinerário que se desenha, o que se cristaliza é o processo de transformação do projeto inicial. Quando menos se espera, quando, desanimados, julgamos estar andando em círculos, pois o movimento muitas vezes é lento e nem sempre caminha para a frente, somos surpreendidos. Sem querer, o projeto acaba ganhando tintas de cores antes desconhecidas. Mas o que se pede aqui e o resumo da dissertação. Terminada a pesquisa, o mestrando pode enfim elaborar o resumo pedido como faria qualquer leitor. Pois para o "autor" do texto, o produto final, como se viu, não foi de forma alguma pré-fixado, tanto é que o trabalho aparentemente banal, porém necessário, de organizar o texto em capítulos, revelou-se o mais penoso: como se parar e organizar um material que não nasceu "em ordem"? A partir das questões propostas por dois campos de escritura - a literatura e o jornalismo - foi se delineando um caminho que privilegiava a literatura enquanto linguagem viva e, por assim dizer, "desqualificava" o jornalismo por tudo aquilo que ele "não era". No decorrer do trabalho, no entanto, a dicotomia inicial foi se despregando, se desgarrando dessas posições fixas. Rebeldes, tanto a literatura se recusava a permanecer no seu posto, como o jornalismo não se limitava a figurar como o eterno vilão da historia. É que os pressupostos que fundavam a linguagem literária de um lado, e a jornalística de outro, começaram a se confundir, a se dissolver. A escala hierárquica elaborada pelo mestrando se espatifou. Por que privilegiar incansavelmente a tarefa grandiosa do escritor em detrimento da função menos nobre do jornalista se ambos - escritores e jornalistas - se defrontam com o desafio maior, também vivido por todos os homens, que é o desafio, enfim, de aderir ao que existe, de receber as coisas que se dão? 0 estremecimento na escala hierárquica encontrou eco na voz de Clarice Lispector: a Clarice Lispector escritora e a Clarice Lispector cronista do Jornal do Brasil. Pois nessas duas Clarices o que vemos despontar e um único esforço, partilhado ora na escritura de romances e contos, ora na escritura mais ligeira de uma crônica para jornal: o mergulho de alguém no mundo da linguagem e no mundo. 0 mergulho de alguém que, sem reivindicar para si o estatuto literário ou jornalístico, buscou, através da linguagem, entrar em contato com o outro. Não só entrar em contato, mas aprimorar e aprofundar a qualidade do contato firmado. Com Clarice houve enfim o encontro entre os dois campos de início irremediavelmente separados. Clarice Lispector não mascara as hesitações, os atropelos, as dúvidas que a tomavam ao escrever. Ela não nega ao leitor o lado menos "nobre" do embate com a escritura e na escritura. Embate que se alastra para alem do texto, pois não é exatamente sobre o mundo da ficção ou do puro imaginário que a escritora se debruça. A intervenção de Clarice Lispector na literatura é de outra ordem, como de ordem diversa é sua intervenção no jornalismo. Na literatura ela se recusava a simplesmente "criar", e no jornalismo, através das crônicas escritas para o Jornal do Brasil negava-se a reduzir a sua aproximação com o mundo ao denominador comum da leveza ou da ligeireza próprias ao gênero. Ela não tinha compromisso com a literatura ou com o jornalismo, e isso não implica ausência de responsabilidade. Ao contrário. Ao não se comprometer com gêneros -- afinal, "gênero não me pega mais" - Clarice amplia o horizonte de sua atuação na linguagem e fora dela. A partir do encontro acima mencionado, a pesquisa tomou outro rumo e desembocou na reavaliação do significado de uma palavra cara: objetividade. 0 que antes parecia ser o horizonte da linguagem jornalística e o contraponto que a diferenciava da literatura, acabou ganhando novos contornos. Pois a conquista da objetividade, sem aspas, não e tarefa apenas do jornalista. 0 mundo real e o mundo da ficção estão entrelaçados, e ao escritor não cabe apenas lidar com a criação, assim como não cabe ao jornalista somente o confronto com fatos desgarrados de sua sombra, de sua repercussão. A palavra, matéria-prima comum a ambos e comum a todos nós, escritores ou não, jornalistas ou não, intervém com força. A intervenção no mundo através da palavra é ato de responsabilidade perante a vida que se destrói. Vida que está por um fio. Escrever a tese foi - e tem sido - mais um esforço de desdobrar as perguntas surgidas do que de respondê-las. E foi sobretudo um ato de rendição. Rendição aos fatos e acasos que nortearam e desnortearam a pesquisa: o ponto de partida e as várias portas de entrada e de saída, as várias portas que o mestrando orgulhoso julgava ter aberto para em seguida ser invadido pela impressão inelutável de que não estava fazendo mais que abrir portas já abertas; a relutância em se aprofundar nas próprias descobertas - mistura de preguiça, pressa e pouco caso - e a vontade de partir logo para as próximas, como se "descobertas" se sucedes sem como fotogramas de um filme sem fim ou pudessem ser colhidas das arvores como frutos. Às vezes se colhem os frutos e eles nem ao menos estão maduros. A luta com e contra o tempo e, de repente, a satisfação de ter conseguido dizer algo que nem sequer reconhecemos como "nosso" ; a sensação algo freqüente de esgotamento e desanimo e o desejo confuso de agradar ora a si próprio, ora a academia, sem saber ao certo como. Pois não houve, durante o desenvolvimento do projeto, intenção deliberada de atender aos princípios da academia e escrever uma tese conforme o padrão; não houve tampouco a intenção contrária: produzir uma anti-tese, algo que fosse totalmente de encontro ao que pede a universidade. Afinal, a viagem foi feita dentro dela, durante um período em que cursos e leituras deram o tom. Se, em vez de passar três anos numa universidade, o "dono do discurso" tivesse passado numa prisão, num mosteiro, numa tribo ou num avião, certamente o resultado seria diverso do que o aqui apresentado. Escrever a tese foi um ato de rendição. Rendição ao processo de enunciação de um discurso cujo "sujeito" encontra-se mergulhado na enxurrada, e cujo "objeto", ao romper a casca do objeto, ganha vida própria e não se contenta em carregar as características anteriores ao dilúvio.Abstract: Not informed.MestradoCiências Sociais Aplicadas à EducaçãoMestre em Educação[s.n.]Santos, Laymert Garcia dos, 1948-Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Faculdade de EducaçãoPrograma de Pós-Graduação em EducaçãoUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASMarques, Sandra Maria Rabelo19911991-03-14T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdf174f.https://hdl.handle.net/20.500.12733/1575123MARQUES, Sandra Maria Rabelo. Leitura como aprendizagem: questões sobre o texto jornalistico e outros textos. 1991. 174f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1575123. 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