O RELATÓRIO GOLDMARK E A ENFERMAGEM FRENTE ÀS DOENÇAS ESTIGMATIZANTES (1923)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Faber, Carolina Oliveira
Data de Publicação: 2010
Outros Autores: de Amorim, Wellington Mendonça
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online
Texto Completo: https://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/789
Resumo: INTRODUÇÃOAs primeiras décadas do século XX no Brasil foram demarcadas pela República Velha, neste período os governos estaduais eram fortemente controlados por grupos oligárquicos, tendo destaque para o Estado de São Paulo, que obtinha supremacia econômica decorrente do café e o Estado de Minas Gerais, o mais populoso membro da federação, ou seja, tinha maior poder de influenciar nas votações (DEL PRIORE, 1952, 306).Essa política parecia favorecer pequenos, médios e grandes coronéis, mas na prática essa política contrariava grande parte da população. Nesse período o Brasil e em especial a Capital da República, enfrentava epidemias e endemias.A tuberculose no Brasil era fatal em metade dos indivíduos acometidos, devido principalmente às más condições de vida da população brasileira nessa época e à aglomeração nos cortiços comuns no centro do Rio de Janeiro. Por ser uma doença transmissível, o estado responsabilizava a população pela sua disseminação. Foi criado em 1920, o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Nesse momento Carlos Chagas foi nomeado diretor do DNSP e traz a enfermeira Ethel Parsons, para criar um serviço de enfermeiras no DNSP e uma escola de enfermagem. Essa estratégia ficou conhecida como Missão Parsons e perdurou no Brasil por 10 anos com o patrocínio da Fundação Rockefeller (SAUTHIER & BARREIRA, 1996, p. 66).Com a Reforma Carlos Chagas foi instituído o primeiro organismo governamental de combate à tuberculose, sediada no Rio de Janeiro e denominada Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose tendo como primeiro dirigente Plácido Barbosa. A inspetoria tinha como objetivo criar dispensários e sanatórios, onde seriam realizados o tratamento, a medicalização e a profilaxia da tuberculose. A situação dos doentes mentais também não era das mais confortáveis, como também, não fora contemplada por esta Reforma, possivelmente, por este grupo estar sob a responsabilidade do Serviço de Assistência a Psicopatas, e este ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores.Nesse momento havia um grande preconceito em relação ao trabalho da enfermagem nos hospitais psiquiátricos, por ser uma atividade degradante e insalubre. Esse preconceito também se dava pelo estigma das doenças mentais, devido à agressividade dos doentes, à superlotação e insalubridade dos hospícios.Em 1919, teve início uma pesquisa sobre a situação da enfermagem nos Estados Unidos, a qual resultou no Relatório Goldmark em 1923, e nesse mesmo ano chegou à Escola de Enfermeiras do DNSP (SILVA JÚNIOR, 2003, p.01), porém sua repercussão ocorreu no ano de 1927. Este relatório foi elaborado por um comitê especialmente criado para o estudo da Educação em Enfermagem, o produto gerou um impacto sentido mundialmente; vindo a influenciar o estabelecimento e a evolução de um modelo de Enfermagem anglo-americano.Desse modo, considerando a política de saúde brasileira da época, a presença e a atuação da Fundação Rockfeller junto à reorganização do DNSP e o andamento do estudo que resultaria no Relatório Goldmark, é que buscamos, a partir das informações documentais elucidar questões referentes ao cuidado de enfermagem nas situações relativas à tuberculose e doenças nervosas e mentais; organização da enfermagem de saúde pública no início da década de 20, do século XX, no Brasil.OBJETIVOS- Analisar as recomendações do Relatório Goldmark para o ajuste na formação das (os) enfermeira (os) em duas áreas especiais, a da tuberculose e as de doenças nervosas e mentais;- Caracterizar o ensino nas ações de enfrentamento contra a tuberculose e as doenças nervosas e mentais nos cursos e escolas de enfermagem, no Distrito Federal, no ano de 1923.METODOLOGIATrata-se de um estudo de natureza histórico-social, embasada na análise documental, e esta se apoiará na proposta metodológica de que um texto é sempre portador de um discurso, e que assim considerado, não poderá ser visto como algo transparente (CARDOSO E VAINFAS, 1997, p.377).Como fontes primárias serão utilizadas o Relatório Goldmark e outros documentos que caracterizem aspectos do ensino em cursos e escolas de enfermagem, no Distrito Federal, que serão explorados nos seguintes acervos: Arquivo Setorial Maria de Castro Pamphiro – EEAP – UNIRIO; Biblioteca do Ministério da Fazenda – RJ; Centro de Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery – RJ; e os acervos particulares de pesquisadores, situados no Rio de Janeiro. As fontes secundárias referem-se às produções em História do Brasil, Saúde Pública, História das Escolas de Enfermagem.No que tange ao Relatório Goldmark, consideramos, pelo critério de relação temática, o capítulo referente à tuberculose e as doenças nervosas e mentais, o Relatório do Comitê e o Relatório da Secretária, que iniciam o Relatório Goldmark.A análise e interpretação das informações são realizadas através da busca de nexos entre as informações obtidas nos documentos e a produção historiográfica do tema em questão (Félix, 1998, p. 93). Assim definimos como unidades de análise as propostas do Relatório Goldmark e a organização da enfermagem de saúde pública no DNSP.RESULTADOSNo ano de 1923 houve a publicação do Relatório Goldmark no Brasil e dentre inúmeras questões ligadas ao ensino da enfermagem destacou a necessidade de um incremento na formação de enfermeiros (as) de áreas especiais como tuberculose, doenças venéreas, doenças nervosas e mentais.Segundo o relatório Goldmark (1923), nos EUA é aceito como verdade que de 100 pessoas, 90 estão infectadas pela tuberculose, duas têm doença ativa e oito ou nove morrerão. Porém no ano de 1921 essa taxa teve queda de quase 50%.Em fins do século XIX e início do século XX, no Brasil a tuberculose matava mais da metade dos indivíduos acometidos e sua disseminação se dava principalmente devido às más condições de vida e à pobreza. Para o Relatório Goldmark a principal arma contra a tuberculose era a alteração diária dos hábitos individuais, que se dá através da educação.A contratação de ex-pacientes para o cuidado prestado a tuberculosos é uma maneira de persuasão norte-americana, visto que estes cuidam com mais compaixão nas reações físicas e mentais do paciente além de trazer incentivo e encorajar o paciente, pelo fato de seguir o tratamento receitado e poder buscar uma vocação.Concomitante ao fato de essas enfermeiras serem ideais para o tratamento de tuberculosos, poucas conseguem terminar o curso de enfermagem, pois o curso possui muitas horas práticas e elas estão debilitadas em função da doença.   Apesar da necessidade de mão-de-obra no cuidado de tuberculosos, identificada pelo Relatório Goldmark, pergunta-se até que ponto vale à pena formar enfermeiras para uma única especialização. Outros problemas identificados nas instituições de especialização em tuberculose são a falta de professores competentes para dar aulas e supervisionar as atividades práticas e a falta de equipamentos utilizados no ensino. O campo da saúde mental enfrenta maiores problemas que a área da tuberculose, para conseguir instituições preparadas para e equipadas para formar enfermeiras especializadas (RELATÓRIO GOLDMARK, 1923, p 403). Neste momento predomina o modelo asilar, tendo maior preocupação em separar os doentes e não promover um tratamento adequado. Mas com o avanço da psiquiatria e higiene mental a enfermagem tem progredido.    Esse avanço ocorreu também no Brasil nos anos 1920 e 1930, por meio de uma maior movimentação no campo da psiquiatria havendo produção científica nacional. Porém os estabelecimentos de ensino estruturados no modelo Nightingale (do qual a EAN foi precursora no Departamento Nacional de Saúde Pública) não prepararam suas alunas de enfermagem para trabalharem em hospitais psiquiátricos e em programas de higiene mental (KIRSCHBAUM).          Cabe destacar que a EPEE, tinha dificuldades em recrutar moças de família, pois estas teriam que lidar com psicopatas, estando sujeitas a episódios de violência. Devido à grande dificuldade para recrutar alunas, as instituições se viam obrigadas a baixar suas exigências relacionadas à escolaridade para que conseguissem um número mínimo de alunas que se dedicassem aos hospitais para doentes mentais. Para a medicina moderna a enfermeira psiquiátrica deveria trabalhar como uma cooperadora do médico, pois esta passa maior parte do tempo ao lado do doente, podendo detectar precocemente seus sintomas, facilitando o diagnóstico médico. E para que isso possa acontecer é necessária a menor proporção de pacientes por enfermeira, só assim estas poderão prestar um melhor cuidado e uma melhor supervisão psiquiátrica (RELATÓRIO GOLDMARK, 1923 p. 405).CONSIDERAÇÕESOs resultados encontrados até o momento da pesquisa demonstram que no âmbito dessas doenças estigmatizantes, há uma grande demanda por mão-de-obra, porém muitas dificuldades são enfrentadas pelas escolas e pelos hospitais especializados nessas duas áreas da enfermagem. Porém na área das doenças mentais havia um maior preconceito por parte da sociedade em aceitar o cuidado dispensado a doentes psiquiátricos, pois estes eram agressivos e os hospitais especializados nesse assunto estavam em condições insalubres, ou seja, não eram locais para moças de família trabalharem.
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Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online; Número Suplementar dos 120 anos da EEAP/UNIRIO
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