Evidencialidade não testemunhada: conceito e funcionamento temporal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Vítor Henrique Santos da [UNESP]
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: https://hdl.handle.net/11449/256565
Resumo: O objetivo deste trabalho é caracterizar o significado da evidencialidade não testemunhada, cuja função é indicar que o falante não presenciou a ocorrência de um estado de coisas. Mais precisamente, apesar de trabalhos tipológicos sobre a evidencialidade, como Willett (1988) e Aikhenvald (2004), atribuírem ao não testemunhado a indicação de raciocínios e relatos, esta tese parte da hipótese de que a “ausência de percepção sensorial” veiculada por esse evidencial não se resume a tais contextos de obtenção da informação. Essa hipótese é motivada pela coexistência e pela coocorrência entre o não testemunhado e evidenciais que de fato expressam informação inferida e relatada, o que sugere que há diferenças semânticas entre todos esses evidenciais. A partir da análise de 14 línguas faladas nas Américas e na Eurásia, esta tese conclui que o significado do não testemunhado não deve ser resumido à indicação de raciocínios e relatos: em primeiro lugar, esse evidencial é empregado em outros contextos de ausência de percepção sensorial, como em orações negativas, nas quais não se pode perceber a ocorrência de um evento por ela jamais ter acontecido, e em orações interrogativas, em que o falante desconhece em primeira-mão a informação que questiona. Em segundo lugar, enquanto evidenciais como dedução, inferência, reportatividade e citação especificam meios cognitivos e interacionais por meio dos quais o falante obtém informação, o não testemunhado funciona como um índice dêitico, que situa o falante como distante da ocorrência de um estado de coisas em termos de tempo e espaço. A análise parte dos pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional (GDF – Hengeveld; Mackenzie, 2008), e, como consequência, essa tese propõe uma reformulação do tratamento da evidencialidade não testemunhada no âmbito da teoria. Assim, apesar de Hengeveld e Mackenzie (2008) e Hengeveld e Hattnher (2015) agruparem a evidencialidade não testemunhada e a evidencialidade sensorial em um mesmo subtipo, denominado “percepção de evento”, este trabalho defende que elas dizem respeito a subtipos evidenciais distintos, pois têm escopo sobre diferentes camadas do enunciado: os evidenciais sensoriais operam na camada do Estado de Coisas; e o não testemunhado, na camada do Episódio.
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spelling Evidencialidade não testemunhada: conceito e funcionamento temporalNon-witnessed evidentiality: concept and temporalityTipologia (Linguistica)Gramatica comparada e geral Categorias gramaticaisGramática discursivo funcional.Typology (Linguistics)Grammar, Comparative and general Grammatical categoriesFunctional discourse grammarO objetivo deste trabalho é caracterizar o significado da evidencialidade não testemunhada, cuja função é indicar que o falante não presenciou a ocorrência de um estado de coisas. Mais precisamente, apesar de trabalhos tipológicos sobre a evidencialidade, como Willett (1988) e Aikhenvald (2004), atribuírem ao não testemunhado a indicação de raciocínios e relatos, esta tese parte da hipótese de que a “ausência de percepção sensorial” veiculada por esse evidencial não se resume a tais contextos de obtenção da informação. Essa hipótese é motivada pela coexistência e pela coocorrência entre o não testemunhado e evidenciais que de fato expressam informação inferida e relatada, o que sugere que há diferenças semânticas entre todos esses evidenciais. A partir da análise de 14 línguas faladas nas Américas e na Eurásia, esta tese conclui que o significado do não testemunhado não deve ser resumido à indicação de raciocínios e relatos: em primeiro lugar, esse evidencial é empregado em outros contextos de ausência de percepção sensorial, como em orações negativas, nas quais não se pode perceber a ocorrência de um evento por ela jamais ter acontecido, e em orações interrogativas, em que o falante desconhece em primeira-mão a informação que questiona. Em segundo lugar, enquanto evidenciais como dedução, inferência, reportatividade e citação especificam meios cognitivos e interacionais por meio dos quais o falante obtém informação, o não testemunhado funciona como um índice dêitico, que situa o falante como distante da ocorrência de um estado de coisas em termos de tempo e espaço. A análise parte dos pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional (GDF – Hengeveld; Mackenzie, 2008), e, como consequência, essa tese propõe uma reformulação do tratamento da evidencialidade não testemunhada no âmbito da teoria. Assim, apesar de Hengeveld e Mackenzie (2008) e Hengeveld e Hattnher (2015) agruparem a evidencialidade não testemunhada e a evidencialidade sensorial em um mesmo subtipo, denominado “percepção de evento”, este trabalho defende que elas dizem respeito a subtipos evidenciais distintos, pois têm escopo sobre diferentes camadas do enunciado: os evidenciais sensoriais operam na camada do Estado de Coisas; e o não testemunhado, na camada do Episódio.This work aims to typify the meaning of non-witnessed evidentiality, which indicates that the speaker did not witness the occurrence of a state of affairs. More precisely, although typological works on evidentiality, such as Willett (1988) and Aikhenvald (2004), attribute the meaning of reasonings and reports to non-witnessed evidentiality, I hypothesize that it is not limited to such contexts. This hypothesis is motivated by the coexistence and co-occurrence between nonwitnessed and evidentials of inferred and reported information, which suggests that they differ semantically. Based on the analysis of 14 languages spoken in the Americas and Eurasia, I conclude that non-witnessed evidentiality does not correspond to markers of inferred and reported information: first, non-witnessed evidentials cover other contexts of lack of sensory perception, such as those in negative clauses, in which one cannot perceive the occurrence of an event because it has never happened, and in interrogative clauses, in which the speaker does not know first-hand what he asks. Secondly, while deduction, inference, reportativity, and quotation specify cognitive and interactional means to acquire information, non-witnessed evidentiality functions as a deictic index, situating in terms of time and space the speaker’s distance concerning the occurrence of a state of things. This work bases its assumptions on Functional Discourse Grammar (FDG – Hengeveld; Mackenzie, 2008). As a consequence of the analysis, I propose a reformulation of how the theory should understand non-witnessed evidentiality: although Hengeveld and Mackenzie (2008) and Hengeveld and Hattnher (2015) group non-witnessed and sensory evidentiality into the same category, called event perception, I argue that they represent distinct evidential subtypes since they scope over different semantic layers — sensory evidentials operate at the layer of the State of Affairs; and non-witnessed markers, in the layer of the Episode.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)CAPES: 88887.488543/2020-00Universidade Estadual Paulista (Unesp)Hattnher, Marize Mattos Dall'Aglio [UNESP]Silva, Vítor Henrique Santos da [UNESP]2024-07-15T18:30:32Z2024-07-15T18:30:32Z2024-06-18info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfSILVA, Vítor Henrique Santos da. Evidencialidade não testemunhada: conceito e funcionamento temporal. 2024. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2024.https://hdl.handle.net/11449/25656541410991671016550000-0003-4649-2170porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-07-16T06:17:01Zoai:repositorio.unesp.br:11449/256565Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T21:41:35.080546Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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description O objetivo deste trabalho é caracterizar o significado da evidencialidade não testemunhada, cuja função é indicar que o falante não presenciou a ocorrência de um estado de coisas. Mais precisamente, apesar de trabalhos tipológicos sobre a evidencialidade, como Willett (1988) e Aikhenvald (2004), atribuírem ao não testemunhado a indicação de raciocínios e relatos, esta tese parte da hipótese de que a “ausência de percepção sensorial” veiculada por esse evidencial não se resume a tais contextos de obtenção da informação. Essa hipótese é motivada pela coexistência e pela coocorrência entre o não testemunhado e evidenciais que de fato expressam informação inferida e relatada, o que sugere que há diferenças semânticas entre todos esses evidenciais. A partir da análise de 14 línguas faladas nas Américas e na Eurásia, esta tese conclui que o significado do não testemunhado não deve ser resumido à indicação de raciocínios e relatos: em primeiro lugar, esse evidencial é empregado em outros contextos de ausência de percepção sensorial, como em orações negativas, nas quais não se pode perceber a ocorrência de um evento por ela jamais ter acontecido, e em orações interrogativas, em que o falante desconhece em primeira-mão a informação que questiona. Em segundo lugar, enquanto evidenciais como dedução, inferência, reportatividade e citação especificam meios cognitivos e interacionais por meio dos quais o falante obtém informação, o não testemunhado funciona como um índice dêitico, que situa o falante como distante da ocorrência de um estado de coisas em termos de tempo e espaço. A análise parte dos pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional (GDF – Hengeveld; Mackenzie, 2008), e, como consequência, essa tese propõe uma reformulação do tratamento da evidencialidade não testemunhada no âmbito da teoria. Assim, apesar de Hengeveld e Mackenzie (2008) e Hengeveld e Hattnher (2015) agruparem a evidencialidade não testemunhada e a evidencialidade sensorial em um mesmo subtipo, denominado “percepção de evento”, este trabalho defende que elas dizem respeito a subtipos evidenciais distintos, pois têm escopo sobre diferentes camadas do enunciado: os evidenciais sensoriais operam na camada do Estado de Coisas; e o não testemunhado, na camada do Episódio.
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