Depressão e cidade: pare o mundo que eu quero descer!
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNESP |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/11449/148780 |
Resumo: | A melancolia é uma antiga companheira da humanidade e por muito tempo foi vista como a dor de existir, origem da genialidade e da loucura, essência dos excêntricos, daqueles que não se encaixam nos padrões, daqueles que têm na sua melancolia a fonte de sua criação artística, o impulso que os leva a rechear de sentido àquilo que os bem adaptados mal conseguem enxergar. Da loucura genial dos filósofos antigos à ação da bílis negra, da influência astral de Saturno à acedia cristã, da criação à inibição, a melancolia foi um tema que, desde a antiguidade, instigou a curiosidade investigativa do homem. Assim também acontece com a depressão nos mais diferentes discursos que a colocaram em destaque desde o século XIX, sobretudo, como uma patologia. Em que momento essa dor de existir se transformou em doença? Freud ([1930] 1996) referiu-se, certa vez, sobre a felicidade ser derivada de um contraste. Não um estado permanentemente estável e constante. A dor de existir pode ter se transformado em déficit por não combinar com os ideais de nossa cultura do desempenho e do bem-estar, disseminados pela modernidade. Os limites entre o que seja uma tristeza decorrente dos descaminhos que são próprios da vida e uma depressão passível de ser medicamentada são muito frágeis. Atualmente, ela é anunciada como o “mal do século” e dados nos mostram que ela está entre as principais causas de comorbidades e afastamento do trabalho, em todo o mundo. Salvo todas as imprecisões possíveis dessa intrincada discussão em torno das definições diagnósticas e das origens das depressões, bem como das intenções ideológicas eventualmente existentes na propagação desses dados, não há como não os levarmos em conta. Independentemente do que se está a chamar de depressão, essa apuração tem algo a nos dizer. O objetivo desse trabalho é investigar as relações da depressão com a experiência de compressão do tempo e espaço, típica da atualidade. Para tanto, recorremos à intertextualidade para compor uma análise polifônica da depressão apoiada em autores e teorias de diferentes áreas do conhecimento. A tese é a de que a aceleração objetiva promove uma desaceleração subjetiva, ou seja, a experiência do turbilhão da vida citadina resulta num esvaziamento dos processos de subjetivações, trazendo consigo sofrimentos vividos como a experiência da perda de sentido da existência. Não somente no universo científico, mas também na mídia, predomina o discurso médico-biológico que atribui à depressão uma determinação fisiológica-orgânica dissociada de qualquer injunção psicossocial. Independentemente de predisposições orgânicas, a depressão parece denunciar o esvaziamento do sujeito, esvaziamento da subjetividade e a despotencialização da experiência pela via da aceleração do tempo e pulverização do espaço. A cidade é o locus ideal para a produção de tal compressão tempo-espaço e anulação do sujeito ou para a produção da vida nua, vida racionalizada, automatizada e administrada. Mas é desse vazio angustiante citadino, escondido na aparente agitação da cidade, que estão dadas as condições para um exame do contemporâneo que pode, por esse sintoma, apontar saídas e outros caminhos, outras espacialidades e temporalidades da vida urbana. |
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Depressão e cidade: pare o mundo que eu quero descer!City and depression: stop the world that I want to go down!CidadeDepressãoSubjetivaçãoCityDepressionSubjectivationA melancolia é uma antiga companheira da humanidade e por muito tempo foi vista como a dor de existir, origem da genialidade e da loucura, essência dos excêntricos, daqueles que não se encaixam nos padrões, daqueles que têm na sua melancolia a fonte de sua criação artística, o impulso que os leva a rechear de sentido àquilo que os bem adaptados mal conseguem enxergar. Da loucura genial dos filósofos antigos à ação da bílis negra, da influência astral de Saturno à acedia cristã, da criação à inibição, a melancolia foi um tema que, desde a antiguidade, instigou a curiosidade investigativa do homem. Assim também acontece com a depressão nos mais diferentes discursos que a colocaram em destaque desde o século XIX, sobretudo, como uma patologia. Em que momento essa dor de existir se transformou em doença? Freud ([1930] 1996) referiu-se, certa vez, sobre a felicidade ser derivada de um contraste. Não um estado permanentemente estável e constante. A dor de existir pode ter se transformado em déficit por não combinar com os ideais de nossa cultura do desempenho e do bem-estar, disseminados pela modernidade. Os limites entre o que seja uma tristeza decorrente dos descaminhos que são próprios da vida e uma depressão passível de ser medicamentada são muito frágeis. Atualmente, ela é anunciada como o “mal do século” e dados nos mostram que ela está entre as principais causas de comorbidades e afastamento do trabalho, em todo o mundo. Salvo todas as imprecisões possíveis dessa intrincada discussão em torno das definições diagnósticas e das origens das depressões, bem como das intenções ideológicas eventualmente existentes na propagação desses dados, não há como não os levarmos em conta. Independentemente do que se está a chamar de depressão, essa apuração tem algo a nos dizer. O objetivo desse trabalho é investigar as relações da depressão com a experiência de compressão do tempo e espaço, típica da atualidade. Para tanto, recorremos à intertextualidade para compor uma análise polifônica da depressão apoiada em autores e teorias de diferentes áreas do conhecimento. A tese é a de que a aceleração objetiva promove uma desaceleração subjetiva, ou seja, a experiência do turbilhão da vida citadina resulta num esvaziamento dos processos de subjetivações, trazendo consigo sofrimentos vividos como a experiência da perda de sentido da existência. Não somente no universo científico, mas também na mídia, predomina o discurso médico-biológico que atribui à depressão uma determinação fisiológica-orgânica dissociada de qualquer injunção psicossocial. Independentemente de predisposições orgânicas, a depressão parece denunciar o esvaziamento do sujeito, esvaziamento da subjetividade e a despotencialização da experiência pela via da aceleração do tempo e pulverização do espaço. A cidade é o locus ideal para a produção de tal compressão tempo-espaço e anulação do sujeito ou para a produção da vida nua, vida racionalizada, automatizada e administrada. Mas é desse vazio angustiante citadino, escondido na aparente agitação da cidade, que estão dadas as condições para um exame do contemporâneo que pode, por esse sintoma, apontar saídas e outros caminhos, outras espacialidades e temporalidades da vida urbana.Melancholy is an old partner of humanity and for very long time it was seen as a pain of existence, origin of geniality and madness, essence of eccentrics, of those who don't fit the patterns, of those who their melancholy is the source of artistic creation, the impulse that takes them to fill of sense what the well-adjusted ones barely can see. From genial madness of the ancient philosophers to action of black bile, from the astral influence of Saturn to the Christian accidie, from creation to inhibition, melancholy has been a subject that instigated the human being's investigative curiosity since antiquity. The same thing happens with depression through the most different discourses that have highlighted it since the 19th century, comprehending depression mostly as pathology. In what moment that pain of existence turned to a disease? Freud ([1930] 1996) asserted once about happiness being derivative of a contrast. In other words, it is not a permanently and constant state. Pain of existence can be transformed in a deficit because it doesn't combine with the cultural ideals of performance and well-being that are widespread by Modernity. The boundary between a sadness caused by difficulties in life and a depression that can be medicated is too delicate. Nowadays, depression is announced as “the greatest evil of the century” and data show that it is among the main causes of comorbidities and take off from work around the whole world. Despite of all the possible inaccuracies of this complicated discussion about the diagnostics definitions and origins of depressions, as well as the ideological intentions that eventually exist in the transmission of those data, we cannot ignore them. Independently of what is being called depression, this debate has something to say about the topic. The goal of this research study is investigating the relationships between depression and time-space’s compression experience. Therefore, we use interterxtuality to compose a polyphonic analysis of depression supported by authors and theories from different knowledge areas. The thesis is the objective acceleration promotes a subjective deceleration, meaning that the busy experience of the urban-life results in a deflation of the subjectivation processes, bringing with it the sufferings lived such as an existence that lost its sense. Not only in the scientific universe, but also in mass media, the medical-biological discourse that assigns to depression a physiological-organic determination, dissociated of any psycho-social injunction, is dominant. Independently of the organics predispositions, depression seems to denounce the emptying of subject, the emptying of subjectivity and the potentiality decrease of experience through acceleration of time and pulverisation of space. The city is the ideal locus for the production of such time-space compression and subject annulment or for producing the naked life, rationalised, automated and managed life. But in this distressful empty city lifestyle, hidden within the apparent agitation of the city, is given the conditions for an exam of the contemporary that, because of this symptom, can show the ways out and other paths, other spaces and temporalities of urban life.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Justo, José Sterza [UNESP]Molina, José Artur [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Heguedusch, Carolina Villanova [UNESP]2017-02-14T17:25:55Z2017-02-14T17:25:55Z2017-02-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/14878000088021933004048021P6porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-18T13:44:51Zoai:repositorio.unesp.br:11449/148780Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T14:51:52.124429Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false |
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A melancolia é uma antiga companheira da humanidade e por muito tempo foi vista como a dor de existir, origem da genialidade e da loucura, essência dos excêntricos, daqueles que não se encaixam nos padrões, daqueles que têm na sua melancolia a fonte de sua criação artística, o impulso que os leva a rechear de sentido àquilo que os bem adaptados mal conseguem enxergar. Da loucura genial dos filósofos antigos à ação da bílis negra, da influência astral de Saturno à acedia cristã, da criação à inibição, a melancolia foi um tema que, desde a antiguidade, instigou a curiosidade investigativa do homem. Assim também acontece com a depressão nos mais diferentes discursos que a colocaram em destaque desde o século XIX, sobretudo, como uma patologia. Em que momento essa dor de existir se transformou em doença? Freud ([1930] 1996) referiu-se, certa vez, sobre a felicidade ser derivada de um contraste. Não um estado permanentemente estável e constante. A dor de existir pode ter se transformado em déficit por não combinar com os ideais de nossa cultura do desempenho e do bem-estar, disseminados pela modernidade. Os limites entre o que seja uma tristeza decorrente dos descaminhos que são próprios da vida e uma depressão passível de ser medicamentada são muito frágeis. Atualmente, ela é anunciada como o “mal do século” e dados nos mostram que ela está entre as principais causas de comorbidades e afastamento do trabalho, em todo o mundo. Salvo todas as imprecisões possíveis dessa intrincada discussão em torno das definições diagnósticas e das origens das depressões, bem como das intenções ideológicas eventualmente existentes na propagação desses dados, não há como não os levarmos em conta. Independentemente do que se está a chamar de depressão, essa apuração tem algo a nos dizer. O objetivo desse trabalho é investigar as relações da depressão com a experiência de compressão do tempo e espaço, típica da atualidade. Para tanto, recorremos à intertextualidade para compor uma análise polifônica da depressão apoiada em autores e teorias de diferentes áreas do conhecimento. A tese é a de que a aceleração objetiva promove uma desaceleração subjetiva, ou seja, a experiência do turbilhão da vida citadina resulta num esvaziamento dos processos de subjetivações, trazendo consigo sofrimentos vividos como a experiência da perda de sentido da existência. Não somente no universo científico, mas também na mídia, predomina o discurso médico-biológico que atribui à depressão uma determinação fisiológica-orgânica dissociada de qualquer injunção psicossocial. Independentemente de predisposições orgânicas, a depressão parece denunciar o esvaziamento do sujeito, esvaziamento da subjetividade e a despotencialização da experiência pela via da aceleração do tempo e pulverização do espaço. A cidade é o locus ideal para a produção de tal compressão tempo-espaço e anulação do sujeito ou para a produção da vida nua, vida racionalizada, automatizada e administrada. Mas é desse vazio angustiante citadino, escondido na aparente agitação da cidade, que estão dadas as condições para um exame do contemporâneo que pode, por esse sintoma, apontar saídas e outros caminhos, outras espacialidades e temporalidades da vida urbana. |
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