Investigação diacrônica de construções complexas formadas por [[achar] + [predicação não-verbal]]

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Parreira, Ana Caroline de Lima
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/154338
Resumo: Este trabalho investiga dois tipos de predicações não-verbais encaixadas no verbo achar e estruturadas por recurso a predicador de natureza adjetival, o primeiro designado predicação não-verbal encaixada simples (acho (que) a pesquisa (é) interessante) e o segundo, predicação não-verbal encaixada complexa (acho (que é) bom (que) você ir /vá embora). O principal objetivo do trabalho consiste em traçar o percurso de desenvolvimento diacrônico dessas construções na história do português, adotando-se como aparato teórico-metodológico os Modelos Baseados no Uso (KEMMER; BERLOW, 2000; BYBEE, 2010), perspectiva que procura conjugar pressupostos da Linguística Cognitiva e do Funcionalismo, estes representados, especialmente, pelos estudos sobre gramaticalização de orações (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; LEHMANN, 1988). A fim de atestar a trajetória de mudança das construções em análise, investigaram-se dois diferentes corpora: um primeiro, composto por amostras do português histórico dos séculos XIII a XX; e um segundo, que inclui amostras de fala representativas do século XXI. A análise dos resultados comprovou que as predicações não-verbais, ao longo da história do português, não resultam de um processo de integração de orações, como propõe Lehmann (1988) para as predicações verbais. Constatou-se que essas construções são resultantes de um processo de gramaticalização que leva à expansão da estrutura e do significado dos argumentos que as constituem, motivada por analogização. As mudanças observadas nas predicações não-verbais encaixadas envolvem três fatores: o primeiro de ordem formal, diz respeito ao tipo morfossintático do argumento sujeito da construção, que, de nominal passa a oracional; o segundo, de ordem funcional, relaciona-se ao tipo semântico da entidade representada pelo argumento sujeito, que de indivíduo passa a permitir a codificação também de estado-de-coisas, episódio e proposição (LYONS, 1977; DIK, 1989; HENGEVELD; MACKENZIE, 2008); o terceiro, também de ordem funcional, refere-se à classe semântica do predicado não-verbal, que se expande da classe dos qualificativos para a classe dos avaliativos e dos modais. Essas mudanças em conjunto, associadas à abstratização do verbo achar, permitiram comprovar a hipótese de que predicações não-verbais simples, mais integradas à construção matriz, submetem-se a um processo histórico de expansão semântica e estrutural, rumo a um complexo oracional menos integrado, e não a processo contrário. Conclui-se, portanto, que essa nova forma de organização do complexo oracional reflete o modo como a língua permite aos falantes avaliar experiências mais abstratas, a partir de experiências mais concretas, utilizando-se, para isso, de estruturas pré-existentes na língua.
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spelling Investigação diacrônica de construções complexas formadas por [[achar] + [predicação não-verbal]]Diachronic investigation of complex constructions formed by [[achar] + [non-verbal predication]]Verbo acharPredicação não-verbalSubordinaçãoDiacroniaVerb acharNon-verbal predicationSubordinationDiachronyEste trabalho investiga dois tipos de predicações não-verbais encaixadas no verbo achar e estruturadas por recurso a predicador de natureza adjetival, o primeiro designado predicação não-verbal encaixada simples (acho (que) a pesquisa (é) interessante) e o segundo, predicação não-verbal encaixada complexa (acho (que é) bom (que) você ir /vá embora). O principal objetivo do trabalho consiste em traçar o percurso de desenvolvimento diacrônico dessas construções na história do português, adotando-se como aparato teórico-metodológico os Modelos Baseados no Uso (KEMMER; BERLOW, 2000; BYBEE, 2010), perspectiva que procura conjugar pressupostos da Linguística Cognitiva e do Funcionalismo, estes representados, especialmente, pelos estudos sobre gramaticalização de orações (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; LEHMANN, 1988). A fim de atestar a trajetória de mudança das construções em análise, investigaram-se dois diferentes corpora: um primeiro, composto por amostras do português histórico dos séculos XIII a XX; e um segundo, que inclui amostras de fala representativas do século XXI. A análise dos resultados comprovou que as predicações não-verbais, ao longo da história do português, não resultam de um processo de integração de orações, como propõe Lehmann (1988) para as predicações verbais. Constatou-se que essas construções são resultantes de um processo de gramaticalização que leva à expansão da estrutura e do significado dos argumentos que as constituem, motivada por analogização. As mudanças observadas nas predicações não-verbais encaixadas envolvem três fatores: o primeiro de ordem formal, diz respeito ao tipo morfossintático do argumento sujeito da construção, que, de nominal passa a oracional; o segundo, de ordem funcional, relaciona-se ao tipo semântico da entidade representada pelo argumento sujeito, que de indivíduo passa a permitir a codificação também de estado-de-coisas, episódio e proposição (LYONS, 1977; DIK, 1989; HENGEVELD; MACKENZIE, 2008); o terceiro, também de ordem funcional, refere-se à classe semântica do predicado não-verbal, que se expande da classe dos qualificativos para a classe dos avaliativos e dos modais. Essas mudanças em conjunto, associadas à abstratização do verbo achar, permitiram comprovar a hipótese de que predicações não-verbais simples, mais integradas à construção matriz, submetem-se a um processo histórico de expansão semântica e estrutural, rumo a um complexo oracional menos integrado, e não a processo contrário. Conclui-se, portanto, que essa nova forma de organização do complexo oracional reflete o modo como a língua permite aos falantes avaliar experiências mais abstratas, a partir de experiências mais concretas, utilizando-se, para isso, de estruturas pré-existentes na língua.This study investigates two kinds of non-verbal constructions embedded in the verb achar and structured using a predicate of adjectival nature, the first one designated as predicação nãoverbal encaixada simples (simple non-verbal embedded construction) (acho (que) a pesquisa (é) interessante) and the second, predicação não-verbal encaixada complexa (complex nonverbal embedded construction) (acho (que é) bom (que) você ir /vá embora). The aim of this work is to trace the course of development of these constructions in the history of Portuguese language, adopting as theoretical-methodological approach Usage Based Models of Language (Kemmer; Berlow, 2000; Bybee, 2010), perspective that seeks to combine Cognitive Linguistics and Functionalism assumptions, especially represented by studies on clauses grammaticalization (Hopper; Traugott, 2003; Lehmann, 1988). In order to attest the path of changing of the constructions in analysis, we investigated two different corpora: the first composed of Portuguese historical samples from 13th to 20th centuries and the second, which includes representative speech samples of the 21st century. The analysis of the results proved that the non-verbal constructions, throughout the history of Portuguese, do not result from a clause integration process, as proposed by Lehmann (1988) for the verbal predications. It was noted that these constructions are result of a grammaticalization process that leads to the expansion of the structure and the meaning of the arguments which compose them motivated by analogy. The observed changes in non-verbal embedded constructions involve three factors: the first, from formal order, concerned to the morphosyntactic type of the construction subject argument, which changes from nominal to clausal; the second, from functional order, relates to the semantic type of the entity represented by the subject argument that from individuals allow the coding also of state of affairs, episode and proposition (LYONS, 1977; DIK, 1989; HENGEVELD; MACKENZIE, 2008); the third, also from functional order, refers to the semantic class of non-verbal predicate, which expands from qualificatives class to evaluation and modal class. These changes together, associated with the abstractization process of the verb achar, allowed to prove the hypothesis that simple non-verbal constructions, more integrated with the matrix construction, undergo a historic process of semantic and structural expansion, towards to a less integrated sentence complex, and not to the opposite process. It is therefore concluded that this new form of organization of complex sentence reflects the way language allows speakers to evaluate more abstract experiences, based on more concrete experiences, using for this, pre-existing structures in language.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Gonçalves, Sebastião Carlos Leite [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Parreira, Ana Caroline de Lima2018-06-25T13:16:44Z2018-06-25T13:16:44Z2018-05-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/15433800090543333004153069P5porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-12-18T06:13:30Zoai:repositorio.unesp.br:11449/154338Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462023-12-18T06:13:30Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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description Este trabalho investiga dois tipos de predicações não-verbais encaixadas no verbo achar e estruturadas por recurso a predicador de natureza adjetival, o primeiro designado predicação não-verbal encaixada simples (acho (que) a pesquisa (é) interessante) e o segundo, predicação não-verbal encaixada complexa (acho (que é) bom (que) você ir /vá embora). O principal objetivo do trabalho consiste em traçar o percurso de desenvolvimento diacrônico dessas construções na história do português, adotando-se como aparato teórico-metodológico os Modelos Baseados no Uso (KEMMER; BERLOW, 2000; BYBEE, 2010), perspectiva que procura conjugar pressupostos da Linguística Cognitiva e do Funcionalismo, estes representados, especialmente, pelos estudos sobre gramaticalização de orações (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; LEHMANN, 1988). A fim de atestar a trajetória de mudança das construções em análise, investigaram-se dois diferentes corpora: um primeiro, composto por amostras do português histórico dos séculos XIII a XX; e um segundo, que inclui amostras de fala representativas do século XXI. A análise dos resultados comprovou que as predicações não-verbais, ao longo da história do português, não resultam de um processo de integração de orações, como propõe Lehmann (1988) para as predicações verbais. Constatou-se que essas construções são resultantes de um processo de gramaticalização que leva à expansão da estrutura e do significado dos argumentos que as constituem, motivada por analogização. As mudanças observadas nas predicações não-verbais encaixadas envolvem três fatores: o primeiro de ordem formal, diz respeito ao tipo morfossintático do argumento sujeito da construção, que, de nominal passa a oracional; o segundo, de ordem funcional, relaciona-se ao tipo semântico da entidade representada pelo argumento sujeito, que de indivíduo passa a permitir a codificação também de estado-de-coisas, episódio e proposição (LYONS, 1977; DIK, 1989; HENGEVELD; MACKENZIE, 2008); o terceiro, também de ordem funcional, refere-se à classe semântica do predicado não-verbal, que se expande da classe dos qualificativos para a classe dos avaliativos e dos modais. Essas mudanças em conjunto, associadas à abstratização do verbo achar, permitiram comprovar a hipótese de que predicações não-verbais simples, mais integradas à construção matriz, submetem-se a um processo histórico de expansão semântica e estrutural, rumo a um complexo oracional menos integrado, e não a processo contrário. Conclui-se, portanto, que essa nova forma de organização do complexo oracional reflete o modo como a língua permite aos falantes avaliar experiências mais abstratas, a partir de experiências mais concretas, utilizando-se, para isso, de estruturas pré-existentes na língua.
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