Leitura psicanalítica de experiência de trabalho no Japão com filhos de dekasseguis
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNESP |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/11449/183548 |
Resumo: | No início do século XX (1908), chegavam ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses que partiram da sua terra oriental para trabalhar nas lavouras cafeeiras. Contudo, antes de completar 100 anos da imigração japonesa no Brasil, acontece o fenômeno dekassegui, considerado o processo inverso da imigração japonesa à nossa terra. Em meados de 1980, esse fenômeno se destaca pelo grande contingente de descendentes de japoneses que começa a se deslocar para trabalhar nas fábricas japonesas, na terra dos seus avôs. A palavra dekassegui é de origem japonesa e significa aquele que sai da sua terra natal em busca de serviços temporários, para ganhar dinheiro e retornar novamente para a casa, depois de um longo período ou de sucessivas idas e vindas. Os próprios japoneses já utilizavam esse termo entre os seus que se deslocavam de regiões que se tornavam improdutivas em épocas de invernos rigorosos, mas que retornavam para a casa após o término da estação. Nesse mesmo período, o Brasil enfrentava uma grande crise política, econômica e social. Muitos brasileiros perderam os seus empregos e entre eles encontravam-se os filhos e netos de japoneses e também aqueles que tinham dupla nacionalidade. As primeiras gerações de dekasseguis foram os isseis (japoneses) e nisseis (filhos de japoneses) que migraram para a terra do sol nascente, onde o idioma não era visto como uma barreira entre as duas culturas, pois sabiam falar a língua japonesa. Diferentemente, para os sanseis (terceira geração) que não tinham conhecimento do idioma e agora, seus filhos yonseis (quarta geração) que vivem o chamado dobro limite em ambas as línguas, ou seja, apresentam a problemática de não dominarem nenhum dos dois idiomas. A proposta geral deste estudo elegeu, como objeto de investigação, a experiência de 3 meses, da pesquisadora, no Japão, em 2012, no “Programa de Desenvolvimento de Apoio Psicológico no Estado de São Paulo voltado aos dekasseguis e seus descendentes que retornam ao Brasil”, em parceria com a Unesp, campus de Assis/SP e a JICA (Japan International Cooperation Agency) Aichi/Japão, com o migrante dekassegui, particularmente com os filhos desses migrantes que vivem no Japão. O objetivo específico da pesquisa é promover uma leitura dessa experiência, com base no método psicanalítico, como a análise e a interpretação na transferência e contratransferência. A pesquisa nos revela que as dificuldades de imigração não atinge somente os adultos, mas as crianças têm sido as mais vulneráveis nesse processo migratório, pois mesmo junto as suas famílias, o sofrimento emocional diário surge de várias formas, que vão refletir e alterar a convivência familiar e a escolar dos filhos de dekasseguis no Japão. Os filhos de dekasseguis vivem o double limited em ambas as línguas (japonesa e portuguesa), as mudanças de escolas levam à várias vivências de separação e de luto, a de prejuízos com a prendizagem e de diagnósticos de deficiência e autismo, o ijime/bullyng sofrido pela criança imigrante, na escola japonesa, causa inibições emocionais e sintomas psiquiátricos – como ideação suicida. Além do mais, as crianças vivem o estudo de reforço eterno nas Organizações Sem Fins Lucrativos, além da barreira do idioma, a ausência dos pais na vida dos seus filhos, vem mostrando uma família fragmentada. Concluímos que a vida de imigrante e o excesso de trabalho dos pais, têm consumido o tempo de presença com os filhos e alterando o sentido do lar e fabricado novos modos de subjetivação em família, como o estrangeiro dentro do próprio lar. |
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Leitura psicanalítica de experiência de trabalho no Japão com filhos de dekasseguisPsychoanalytic reading of work experiences in Japan with dekasegi childrenImigração.DekasseguisSegunda geraçãoPsicanáliseIdentidadeNo início do século XX (1908), chegavam ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses que partiram da sua terra oriental para trabalhar nas lavouras cafeeiras. Contudo, antes de completar 100 anos da imigração japonesa no Brasil, acontece o fenômeno dekassegui, considerado o processo inverso da imigração japonesa à nossa terra. Em meados de 1980, esse fenômeno se destaca pelo grande contingente de descendentes de japoneses que começa a se deslocar para trabalhar nas fábricas japonesas, na terra dos seus avôs. A palavra dekassegui é de origem japonesa e significa aquele que sai da sua terra natal em busca de serviços temporários, para ganhar dinheiro e retornar novamente para a casa, depois de um longo período ou de sucessivas idas e vindas. Os próprios japoneses já utilizavam esse termo entre os seus que se deslocavam de regiões que se tornavam improdutivas em épocas de invernos rigorosos, mas que retornavam para a casa após o término da estação. Nesse mesmo período, o Brasil enfrentava uma grande crise política, econômica e social. Muitos brasileiros perderam os seus empregos e entre eles encontravam-se os filhos e netos de japoneses e também aqueles que tinham dupla nacionalidade. As primeiras gerações de dekasseguis foram os isseis (japoneses) e nisseis (filhos de japoneses) que migraram para a terra do sol nascente, onde o idioma não era visto como uma barreira entre as duas culturas, pois sabiam falar a língua japonesa. Diferentemente, para os sanseis (terceira geração) que não tinham conhecimento do idioma e agora, seus filhos yonseis (quarta geração) que vivem o chamado dobro limite em ambas as línguas, ou seja, apresentam a problemática de não dominarem nenhum dos dois idiomas. A proposta geral deste estudo elegeu, como objeto de investigação, a experiência de 3 meses, da pesquisadora, no Japão, em 2012, no “Programa de Desenvolvimento de Apoio Psicológico no Estado de São Paulo voltado aos dekasseguis e seus descendentes que retornam ao Brasil”, em parceria com a Unesp, campus de Assis/SP e a JICA (Japan International Cooperation Agency) Aichi/Japão, com o migrante dekassegui, particularmente com os filhos desses migrantes que vivem no Japão. O objetivo específico da pesquisa é promover uma leitura dessa experiência, com base no método psicanalítico, como a análise e a interpretação na transferência e contratransferência. A pesquisa nos revela que as dificuldades de imigração não atinge somente os adultos, mas as crianças têm sido as mais vulneráveis nesse processo migratório, pois mesmo junto as suas famílias, o sofrimento emocional diário surge de várias formas, que vão refletir e alterar a convivência familiar e a escolar dos filhos de dekasseguis no Japão. Os filhos de dekasseguis vivem o double limited em ambas as línguas (japonesa e portuguesa), as mudanças de escolas levam à várias vivências de separação e de luto, a de prejuízos com a prendizagem e de diagnósticos de deficiência e autismo, o ijime/bullyng sofrido pela criança imigrante, na escola japonesa, causa inibições emocionais e sintomas psiquiátricos – como ideação suicida. Além do mais, as crianças vivem o estudo de reforço eterno nas Organizações Sem Fins Lucrativos, além da barreira do idioma, a ausência dos pais na vida dos seus filhos, vem mostrando uma família fragmentada. Concluímos que a vida de imigrante e o excesso de trabalho dos pais, têm consumido o tempo de presença com os filhos e alterando o sentido do lar e fabricado novos modos de subjetivação em família, como o estrangeiro dentro do próprio lar.In the beginning of the 20th century (1908) the first Japanese immigrants came to Brazil leaving oriental lands to work at coffee harvests. However, before completing 100 years of the Japanese immigration in Brazil, the dekasegi event occurs, which is considered the reverse process of the Japanese immigration towards our country. In the 1980s this event is noted due to the large number of Japanese descendants that start moving in order to work at Japanese factories, in their grandparents’ land. The word dekasegi is Japanese and it means one who leaves his/her homeland searching for temporary jobs, in order to earn money and come back home once more after a long period or successive travels. Even Japanese are used to apply this term to those who move from regions that become unproductive during severe winter, returning home after the end of the season though. In this period there was a serious political, economic and social crisis in Brazil. Many Brazilian workers lost their jobs, and among them there were Japanese children and grandchildren, as well as those with dual citizenship. The first generations of dekasegi were the issei (a Japanese person) and the nissei (Japanese sons) who migrated to the land of the rising sun, where the language was not seen as a barrier between both cultures since they could speak Japanese. Nevertheless, for the sansei (third generation) it was more difficult since they did not know the languages. The same happens with the yonsei (fourth generation), who experience a double limit between the languages, i.e. they did not master none of the languages. The general proposal of this study selected as an object of investigation the three-month experience of the author in Japan, in 2012, in the Program of Development of Psychological Support in São Paulo offered to dekasegi and their descendants returned to Brazil”, a partnership with Unesp, Assis campus, and JICA (Japan International Cooperation Agency) in Aichi prefecture. It was an experience with dekasegi migrants, specifically the sons of these migrants living in Japan. The specific objective of this study is to promote a reding of this experience based on the psychoanalytic method, such as analysis and interpretation in transference and countertransference. The research reveals that difficulties in immigration do not affect only adults, but children have been the most vulnerable subjects in this migratory process, because even along with their families, the daily emotional suffering comes in many forms, reflecting and changing family and school living of sons of dekasegi in Japan. Dekasegi children have double limit in both languages (Japanese and Portuguese). Changing schools cause several experiences of mourning and separation, problems with learning and diagnosis of disabilities and autism. Bullying that migrant children suffer at schools in Japan cause emotional inhibition and psychiatric symptoms, such as suicide thought. Moreover, children have the study of eternal reinforcement at NGOs in addition to the language barrier and parents’ absence. We concluded that the life of migrants and the excessive work of parents have spent time of experiences with children, altering the sense of home and creating new modes of subjectivation in families, such as a foreigner inside own home.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Justo, José Sterza [UNESP]Okamoto, Mary YokoUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Resstel, Cizina Célia Fernandes Pereira2019-09-19T20:36:15Z2019-09-19T20:36:15Z2019-07-26info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/18354800092523633004048021P61361530389916807porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-18T14:02:54Zoai:repositorio.unesp.br:11449/183548Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T17:03:21.999086Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false |
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No início do século XX (1908), chegavam ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses que partiram da sua terra oriental para trabalhar nas lavouras cafeeiras. Contudo, antes de completar 100 anos da imigração japonesa no Brasil, acontece o fenômeno dekassegui, considerado o processo inverso da imigração japonesa à nossa terra. Em meados de 1980, esse fenômeno se destaca pelo grande contingente de descendentes de japoneses que começa a se deslocar para trabalhar nas fábricas japonesas, na terra dos seus avôs. A palavra dekassegui é de origem japonesa e significa aquele que sai da sua terra natal em busca de serviços temporários, para ganhar dinheiro e retornar novamente para a casa, depois de um longo período ou de sucessivas idas e vindas. Os próprios japoneses já utilizavam esse termo entre os seus que se deslocavam de regiões que se tornavam improdutivas em épocas de invernos rigorosos, mas que retornavam para a casa após o término da estação. Nesse mesmo período, o Brasil enfrentava uma grande crise política, econômica e social. Muitos brasileiros perderam os seus empregos e entre eles encontravam-se os filhos e netos de japoneses e também aqueles que tinham dupla nacionalidade. As primeiras gerações de dekasseguis foram os isseis (japoneses) e nisseis (filhos de japoneses) que migraram para a terra do sol nascente, onde o idioma não era visto como uma barreira entre as duas culturas, pois sabiam falar a língua japonesa. Diferentemente, para os sanseis (terceira geração) que não tinham conhecimento do idioma e agora, seus filhos yonseis (quarta geração) que vivem o chamado dobro limite em ambas as línguas, ou seja, apresentam a problemática de não dominarem nenhum dos dois idiomas. A proposta geral deste estudo elegeu, como objeto de investigação, a experiência de 3 meses, da pesquisadora, no Japão, em 2012, no “Programa de Desenvolvimento de Apoio Psicológico no Estado de São Paulo voltado aos dekasseguis e seus descendentes que retornam ao Brasil”, em parceria com a Unesp, campus de Assis/SP e a JICA (Japan International Cooperation Agency) Aichi/Japão, com o migrante dekassegui, particularmente com os filhos desses migrantes que vivem no Japão. O objetivo específico da pesquisa é promover uma leitura dessa experiência, com base no método psicanalítico, como a análise e a interpretação na transferência e contratransferência. A pesquisa nos revela que as dificuldades de imigração não atinge somente os adultos, mas as crianças têm sido as mais vulneráveis nesse processo migratório, pois mesmo junto as suas famílias, o sofrimento emocional diário surge de várias formas, que vão refletir e alterar a convivência familiar e a escolar dos filhos de dekasseguis no Japão. Os filhos de dekasseguis vivem o double limited em ambas as línguas (japonesa e portuguesa), as mudanças de escolas levam à várias vivências de separação e de luto, a de prejuízos com a prendizagem e de diagnósticos de deficiência e autismo, o ijime/bullyng sofrido pela criança imigrante, na escola japonesa, causa inibições emocionais e sintomas psiquiátricos – como ideação suicida. Além do mais, as crianças vivem o estudo de reforço eterno nas Organizações Sem Fins Lucrativos, além da barreira do idioma, a ausência dos pais na vida dos seus filhos, vem mostrando uma família fragmentada. Concluímos que a vida de imigrante e o excesso de trabalho dos pais, têm consumido o tempo de presença com os filhos e alterando o sentido do lar e fabricado novos modos de subjetivação em família, como o estrangeiro dentro do próprio lar. |
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