Poeticidade e vida do espírito no Livro do desassossego, o romance possível de Bernardo Soares

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Garcia, Ana Paula
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/202310
Resumo: Este trabalho tem como objetivo a leitura do Livro do desassossego, do semi-heterônimo de Fernando Pessoa, Bernardo Soares, como um exemplar do gênero romanesco, a partir principalmente da noção de indivíduo problemático, desenvolvida por Georg Lukács, em sua Teoria do Romance. Nessa obra, o teórico entende a forma do romance a partir da presença de um herói que emerge da realidade cotidiana burguesa e modernizada, mas não consegue realmente dela se sentir parte. Isso porque ele teve toda sua substancialidade dissipada em reflexão (LUKÁCS, 2000, p. 31), ou seja, a espontaneidade de sua relação com o mundo exterior foi fraturada pela mediação do pensamento, o que acabou por expandir a vida do espírito em detrimento da vida prática. A consequência disso na narrativa romanesca é que “a subjetividade e a mundividência do narrador [...] dominam o mundo narrado, que assim aparece intimamente ligado à instância da narração” (GOULART, 1946, p. 32), podendo fragmentar as marcações de tempo, o enredo e ocasionar o desprendimento das noções de causalidade. Desse modo, pretende-se compreender o caráter problemático de Bernardo Soares e a natureza romanesca do Livro do desassossego a partir da análise da poeticidade da linguagem de seus escritos; de sua declarada posição de escritor e da natureza fragmentária de seu Livro, na medida em que tais aspectos estão vinculados à cisão sofrida pelo herói com relação ao mundo moderno e à sua própria identidade.
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