Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]
Data de Publicação: 2003
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/97704
Resumo: Partindo de um olhar histórico-genealógico proposto por Michel Foucault, problematizamos as práticas de Conselheiros Tutelares frente às denúncias de violência doméstica, perguntando que relações de saber-poder sustentam essas práticas e que efeitos elas disparam na sociedade. Consideramos os objetos violência, infância, família e as instituições de proteção e atendimento às crianças e aos adolescentes como produções históricas. O nome Conselho Tutelar já explicita um processo de governo e sujeição de corpos. Levantamos a hipótese de que o objeto dessa gestão são as crianças e adolescentes das camadas populares, categorizados como estando em risco psicossocial. Não que a infância de outras classes sociais não seja tutelada, elas também o são, porém são outros os mecanismos de controle exercidos sobre elas, como nos apontam Margareth Rago (1985) e Jacques Donzelot (1986). Consultamos os registros das denúncias e de seus desdobramentos, efetuados no período de 1994 a 1996, nos arquivos da referida instituição, em um município do interior paulista. Interrogamos esse regime de escrita e de construção de dossiês que transformam cada indivíduo em um caso, permitindo comparar, classificar e controlar crianças e adolescentes e seus familiares. Em nossas análises, indicamos que as práticas dos conselheiros tutelares normalizam e moralizam os corpos que tomam como alvo de intervenção, psicologizam a violência familiar, atribuem uma determinação econômica aos atos de violência familiar, culpabilizam as famílias pela situação em que se encontram as crianças e os adolescentes, ameaçam as famílias de perda do pátrio-poder e imprimem um caráter policialesco às suas ações. As práticas desses atores institucionais caracterizam-se como uma gestão dos riscos, baseadas em uma visão médico-higienista da infância e de um processo de normalização e moralização das famílias populares.
id UNSP_5ba44707bb38b9b23b68c0b300cff3b5
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/97704
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controleFoucault, Michel, 1926-1984Psicologia socialViolencia nas criançasPractice doubtsTutelary councilHousehold violenceProtection and controlPartindo de um olhar histórico-genealógico proposto por Michel Foucault, problematizamos as práticas de Conselheiros Tutelares frente às denúncias de violência doméstica, perguntando que relações de saber-poder sustentam essas práticas e que efeitos elas disparam na sociedade. Consideramos os objetos violência, infância, família e as instituições de proteção e atendimento às crianças e aos adolescentes como produções históricas. O nome Conselho Tutelar já explicita um processo de governo e sujeição de corpos. Levantamos a hipótese de que o objeto dessa gestão são as crianças e adolescentes das camadas populares, categorizados como estando em risco psicossocial. Não que a infância de outras classes sociais não seja tutelada, elas também o são, porém são outros os mecanismos de controle exercidos sobre elas, como nos apontam Margareth Rago (1985) e Jacques Donzelot (1986). Consultamos os registros das denúncias e de seus desdobramentos, efetuados no período de 1994 a 1996, nos arquivos da referida instituição, em um município do interior paulista. Interrogamos esse regime de escrita e de construção de dossiês que transformam cada indivíduo em um caso, permitindo comparar, classificar e controlar crianças e adolescentes e seus familiares. Em nossas análises, indicamos que as práticas dos conselheiros tutelares normalizam e moralizam os corpos que tomam como alvo de intervenção, psicologizam a violência familiar, atribuem uma determinação econômica aos atos de violência familiar, culpabilizam as famílias pela situação em que se encontram as crianças e os adolescentes, ameaçam as famílias de perda do pátrio-poder e imprimem um caráter policialesco às suas ações. As práticas desses atores institucionais caracterizam-se como uma gestão dos riscos, baseadas em uma visão médico-higienista da infância e de um processo de normalização e moralização das famílias populares.Starting from a genealogical historic look proposed by Michel Foucault, we questioned the Tutelary Counselors' practices facing the household violence accusations, asking what relationships of knowledge and power support these practices and what outcomes they throw into our society. The violence, childhood and family objects, and the institutions of protection and attendance to children and adolescents were considered as historic products. The name Tutelar Council already makes a process of body subjugation and control explicit. The hypothesis that the object of this administration are the children and adolescents of popular classes, distinguished as being in psychosocial risk, was raised. Not that the childhood in other social classes are not tutored, they also are, however the control mechanisms performed over them are different, as shown by Margareth Rago (1985) and Jacques Donzelot (1986). The accusation reports and their development, executed between 1994 and 1996, were checked in the mentioned institution files, in a São Paulo countryside city. The writing method and making of dossiers that change each individual into a case, allowing to compare, classify and control children and adolescents and their families were questioned. In our analysis, we point out that the tutelary counselors practices standardize and moralize the bodies taken as na intervention aim, psychologize the familiar violence, assign na economical determination to the acts of familiar violence, blame the families for the situation in which the children and adolescents are, threaten the families of parents' rights loss and print a police charater into their actions. These institucional actors practices define themselves as a risk administratio, based on a medical hyginist view of the childhood and of a popular families' standardization and moralization process.Universidade Estadual Paulista (Unesp)Guimarães, José Luiz [UNESP]Cardoso Júnior, Helio Rebello [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]2014-06-11T19:29:05Z2014-06-11T19:29:05Z2003-12-08info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis181 f.application/pdfLEMOS, Flávia Cristina Silveira. Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle. 2003. 181 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2003.http://hdl.handle.net/11449/97704000217817lemos_fcs_me_assis.pdf33004048021P6Alephreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESPporinfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-06-18T13:46:23Zoai:repositorio.unesp.br:11449/97704Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-06-18T13:46:23Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
title Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
spellingShingle Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]
Foucault, Michel, 1926-1984
Psicologia social
Violencia nas crianças
Practice doubts
Tutelary council
Household violence
Protection and control
title_short Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
title_full Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
title_fullStr Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
title_full_unstemmed Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
title_sort Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle
author Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]
author_facet Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Guimarães, José Luiz [UNESP]
Cardoso Júnior, Helio Rebello [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Lemos, Flávia Cristina Silveira [UNESP]
dc.subject.por.fl_str_mv Foucault, Michel, 1926-1984
Psicologia social
Violencia nas crianças
Practice doubts
Tutelary council
Household violence
Protection and control
topic Foucault, Michel, 1926-1984
Psicologia social
Violencia nas crianças
Practice doubts
Tutelary council
Household violence
Protection and control
description Partindo de um olhar histórico-genealógico proposto por Michel Foucault, problematizamos as práticas de Conselheiros Tutelares frente às denúncias de violência doméstica, perguntando que relações de saber-poder sustentam essas práticas e que efeitos elas disparam na sociedade. Consideramos os objetos violência, infância, família e as instituições de proteção e atendimento às crianças e aos adolescentes como produções históricas. O nome Conselho Tutelar já explicita um processo de governo e sujeição de corpos. Levantamos a hipótese de que o objeto dessa gestão são as crianças e adolescentes das camadas populares, categorizados como estando em risco psicossocial. Não que a infância de outras classes sociais não seja tutelada, elas também o são, porém são outros os mecanismos de controle exercidos sobre elas, como nos apontam Margareth Rago (1985) e Jacques Donzelot (1986). Consultamos os registros das denúncias e de seus desdobramentos, efetuados no período de 1994 a 1996, nos arquivos da referida instituição, em um município do interior paulista. Interrogamos esse regime de escrita e de construção de dossiês que transformam cada indivíduo em um caso, permitindo comparar, classificar e controlar crianças e adolescentes e seus familiares. Em nossas análises, indicamos que as práticas dos conselheiros tutelares normalizam e moralizam os corpos que tomam como alvo de intervenção, psicologizam a violência familiar, atribuem uma determinação econômica aos atos de violência familiar, culpabilizam as famílias pela situação em que se encontram as crianças e os adolescentes, ameaçam as famílias de perda do pátrio-poder e imprimem um caráter policialesco às suas ações. As práticas desses atores institucionais caracterizam-se como uma gestão dos riscos, baseadas em uma visão médico-higienista da infância e de um processo de normalização e moralização das famílias populares.
publishDate 2003
dc.date.none.fl_str_mv 2003-12-08
2014-06-11T19:29:05Z
2014-06-11T19:29:05Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv LEMOS, Flávia Cristina Silveira. Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle. 2003. 181 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2003.
http://hdl.handle.net/11449/97704
000217817
lemos_fcs_me_assis.pdf
33004048021P6
identifier_str_mv LEMOS, Flávia Cristina Silveira. Práticas de conselheiros tutelares frente à violência doméstica: proteção e controle. 2003. 181 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2003.
000217817
lemos_fcs_me_assis.pdf
33004048021P6
url http://hdl.handle.net/11449/97704
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv 181 f.
application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv Aleph
reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803650331014332416