De Castela a Al-Andaluz: o nacionalismo espanhol e a comunidade marroquina em foco

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Motta, Amanda Iglecias Guadanhim
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/242328
Resumo: O século XXI tem observado a emergência de diversos conflitos no Velho Continente, diretamente associados a um dos mais antigos catalisadores de choques entre grupos na Europa, revisto sobre os moldes da contemporaneidade: o nacionalismo. Herdando o desenvolvimento político e histórico da lógica da auto-identificação grupal e nacional, o nacionalismo ressurge como objeto de legitimação da nova guinada à direita radical no Ocidente europeu, sendo invocado como resposta a desassociação da antiga “Europa de Estados”, ao fenômeno das migrações inter-estatais e como instrumento de mobilização de massas à agenda neoconservadora de partidos da radical-direita. A Espanha, como seus Estados vizinhos herdeiros do pós-colonialismo, está diretamente centrada sobre a lógica da retomada conservadora dos “dias gloriosos”, observando a emergência de partidos tais quais o VOX, prevendo a construção do “inimigo nacional” sobre a figura do imigrante marroquino, representando o maior contingente étnico de estrangeiros na Espanha. Neste trabalho, serão estudadas as relações de transformação do mito do “mouro invasor” e a memória coletiva da Reconquista Cristã da Península Ibérica como elementos de legitimação da agenda xenófoba e segregacionista de setores nacionalistas radicais castelhanos na Espanha. Neste sentido, a Espanha observou o status de “nacionalismo tardio”, em razão da persistência do modelo regionalista frente aos esforços de centralização política e ideológica, especialmente associada à elementos da política de transformação da “identidade nacional espanhola” introduzidos pela ditadura de Francisco Franco. Observa-se, deste modo, a inter-relação estreita entre a evocação do nacionalismo diacrítico, saudosista e de teor segregacionista e os governos de aspiração autoritária. Ainda sobre essa lógica, constata-se o teor autoritário e racista de partidos da nova direita radical espanhola, mais notadamente o VOX, enquanto procura explorar os efeitos das seguidas crises econômicas e migratórias sobre a Península Ibérica e o Norte da África na última década, procurando apelar ao apoio do “español que madruga”, ou a massa operária espanhola nativa, unificando-a contra a figura do “marroquino invasor” e o “muçulmano perverso” enquanto possíveis responsáveis pelas altas taxas de desemprego entre espanhóis castelhanos e a perda de seu padrão de vida médio. O VOX, entretanto, utiliza-se de uma rivalidade histórica, exacerbada pela elevação nacionalista dos “heróis nacionais” da Reconquista Cristã, que retomaram a Península Ibérica da Conquista de 711 por Tariq. A fábula da Reconquista, neste sentido, tem sido explorada historicamente enquanto evoca o perigo da “invasão moura”, subversiva aos valores cristãos ocidentais, constantemente presente enquanto justificativa na Espanha à casos de islamofobia aberta e violenta, tais quais o episódio de El Ejido, nos anos 2000.
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Herdando o desenvolvimento político e histórico da lógica da auto-identificação grupal e nacional, o nacionalismo ressurge como objeto de legitimação da nova guinada à direita radical no Ocidente europeu, sendo invocado como resposta a desassociação da antiga “Europa de Estados”, ao fenômeno das migrações inter-estatais e como instrumento de mobilização de massas à agenda neoconservadora de partidos da radical-direita. A Espanha, como seus Estados vizinhos herdeiros do pós-colonialismo, está diretamente centrada sobre a lógica da retomada conservadora dos “dias gloriosos”, observando a emergência de partidos tais quais o VOX, prevendo a construção do “inimigo nacional” sobre a figura do imigrante marroquino, representando o maior contingente étnico de estrangeiros na Espanha. Neste trabalho, serão estudadas as relações de transformação do mito do “mouro invasor” e a memória coletiva da Reconquista Cristã da Península Ibérica como elementos de legitimação da agenda xenófoba e segregacionista de setores nacionalistas radicais castelhanos na Espanha. Neste sentido, a Espanha observou o status de “nacionalismo tardio”, em razão da persistência do modelo regionalista frente aos esforços de centralização política e ideológica, especialmente associada à elementos da política de transformação da “identidade nacional espanhola” introduzidos pela ditadura de Francisco Franco. Observa-se, deste modo, a inter-relação estreita entre a evocação do nacionalismo diacrítico, saudosista e de teor segregacionista e os governos de aspiração autoritária. Ainda sobre essa lógica, constata-se o teor autoritário e racista de partidos da nova direita radical espanhola, mais notadamente o VOX, enquanto procura explorar os efeitos das seguidas crises econômicas e migratórias sobre a Península Ibérica e o Norte da África na última década, procurando apelar ao apoio do “español que madruga”, ou a massa operária espanhola nativa, unificando-a contra a figura do “marroquino invasor” e o “muçulmano perverso” enquanto possíveis responsáveis pelas altas taxas de desemprego entre espanhóis castelhanos e a perda de seu padrão de vida médio. O VOX, entretanto, utiliza-se de uma rivalidade histórica, exacerbada pela elevação nacionalista dos “heróis nacionais” da Reconquista Cristã, que retomaram a Península Ibérica da Conquista de 711 por Tariq. A fábula da Reconquista, neste sentido, tem sido explorada historicamente enquanto evoca o perigo da “invasão moura”, subversiva aos valores cristãos ocidentais, constantemente presente enquanto justificativa na Espanha à casos de islamofobia aberta e violenta, tais quais o episódio de El Ejido, nos anos 2000.The 21st century has seen the emergence of several conflicts on the Old Continent, directly associated with one of the oldest catalysts of clashes between groups in Europe, revised according to contemporary standards: nationalism. Inheriting the political and historical development of the logic of group and national self-identification, nationalism resurfaces as an object of legitimation for the new turn to the radical right in Western Europe, being invoked as a response to the disassociation of the former “Europe of States”, to the phenomenon of inter-state migrations and as an instrument of mass mobilization to the neoconservative agenda of radical-right parties. Spain, like its neighboring states, heirs of post-colonialism, is directly centered on the logic of the conservative resumption of the “glorious days”, observing the emergence of parties such as VOX, foreseeing the construction of the “national enemy” on the figure of the Moroccan immigrant, representing the largest ethnic contingent of foreigners in Spain. In this work, the relations of transformation of the myth of the “invading Moor” and the collective memory of the Christian Reconquest of the Iberian Peninsula will be studied as elements of legitimation of the xenophobic and segregationist agenda of radical Castilian nationalist sectors in Spain. In this sense, Spain observed the status of “late nationalism”, due to the persistence of the regionalist model in the face of political and ideological centralization efforts, especially associated with elements of the policy of transformation of the “Spanish national identity” introduced by the dictatorship of Francisco Franco. In this way, the close interrelationship between the evocation of diacritical, nostalgic and segregationist nationalism and governments with authoritarian aspirations can be observed. Still on this logic, the authoritarian and racist content of parties of the new Spanish radical right, most notably VOX, is verified, while seeking to explore the effects of the repeated economic and migratory crises on the Iberian Peninsula and North Africa in the last decade, seeking to appeal to the support of the “español que madruga”, or the native Spanish working mass, uniting it against the figure of the “invading Moroccan” and the “perverse Muslim” as the responsible for the high unemployment rates among Castilian Spaniards and the loss of their average standard of living. VOX, however, makes use of a historical rivalry, exacerbated by the nationalist elevation of the “national heroes” of the Christian Reconquest, who retaken the Iberian Peninsula from the Conquest of 711 by Tariq. The fable of the Reconquista, in this sense, has been historically explored while evoking the danger of the “Moorish invasion”, subversive of Western Christian values, constantly present as a justification in Spain for cases of open and violent Islamophobia, such as the episode of El Ejido, in the 2000s.Não recebi financiamentoUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Vieira, Rosângela de Lima [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Motta, Amanda Iglecias Guadanhim2023-03-06T17:55:33Z2023-03-06T17:55:33Z2023-02-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisapplication/pdfMOTTA, Amanda Iglecias Guadanhim. De Castela a Al-Andaluz: o nacionalismo espanhol e a comunidade marroquina em foco. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023.http://hdl.handle.net/11449/242328porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-08-12T15:33:46Zoai:repositorio.unesp.br:11449/242328Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-12T15:33:46Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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