Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Mateus Augusto Felix
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/193652
Resumo: A Psicanálise emerge da dialética entre a prática teórico-técnica e o sujeito histórico-social, objeto de seu estudo. Na década de 1920, quando a técnica de análise de crianças foi sistematizada por Melanie Klein, a infância moderna encontrava-se em sua preamar. Hoje, por sua vez, a infância contemporânea organiza outras formas de existir, de brincar, de se expressar e de se subjetivar, estando, particularmente, atravessada pela internet e pelos aparelhos tecnológicos, ainda mais em tempos de pandemia e da necessidade premente de distanciamento social. Tudo isso adentra ao setting analítico atual. Assim, se o sujeito da infância se transformou, a teoria e técnica de análise de crianças também precisou se atualizar. Partindo dessa premissa básica, o presente estudo objetivou conhecer as atualizações técnicas na clínica psicanalítica com crianças ao longo das últimas décadas a partir da experiência de psicanalistas atuantes. Como metodologia, utilizou-se da Historiografia da Psicanálise no campo da Abordagem Contextual, buscando integrar a análise de fatos históricos ao contexto social e científico do período averiguado. Logo, foram realizadas 5 entrevistas semi-dirigidas com psicanalistas de crianças que atuam há 10 anos ou mais, as quais foram gravadas, transcritas e analisadas. Nas análises, notou-se que a clínica psicanalítica de crianças na atualidade: a) tem consolidado suas últimas fronteiras epistêmicas ao abarcar, mais comumente, quadros de estados primitivos de mente e ao integrar os pais de pacientes ao setting, o que corrobora a passagem de uma técnica de interpretação do simbólico para uma técnica de manejo da relação; e, b) tem buscado alternativas para ler e significar, psicanaliticamente, seus desafios atuais diante da utilização da aparelhos tecnológicos, e afins, pelas crianças dentro do ambiente terapêutico. Segundo nossas entrevistadas, o trabalho analítico tradicional, centrado na clínica das neuroses e na interpretação do simbólico, não é mais predominante. Pois, cada vez mais, os estados psíquicos que têm dificuldade de articular o simbolismo estão mais presentes. E, nesses casos, a técnica se modula em direção ao manejo de setting e da relação entre o analista e o paciente, além da construção de encadeamentos simbólicos e da possibilidade de apropriação subjetiva da experiência, mais do que tornar consciente o inconsciente. Em outras palavras, a técnica atual ampliou suas possibilidades de intervenção consolidando tendência, e, ao mesmo tempo, continua a flertar com territórios epistêmicos desconhecidos, exigindo mais sensibilidade, análise pessoal, supervisão e formação teórica dos analistas.
id UNSP_a8cee9ba4e8d101c0ec012e72d972043
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/193652
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de criançasA Clinic for the Present Days: Technical Changes in Child PsychoanalysisPsicanáliseTécnica PsicanalíticaInfânciaContemporaneidadePsychoanalysisPsychoanalysis techniquePsychoanalytic TherapyChildhoodContemporaneityA Psicanálise emerge da dialética entre a prática teórico-técnica e o sujeito histórico-social, objeto de seu estudo. Na década de 1920, quando a técnica de análise de crianças foi sistematizada por Melanie Klein, a infância moderna encontrava-se em sua preamar. Hoje, por sua vez, a infância contemporânea organiza outras formas de existir, de brincar, de se expressar e de se subjetivar, estando, particularmente, atravessada pela internet e pelos aparelhos tecnológicos, ainda mais em tempos de pandemia e da necessidade premente de distanciamento social. Tudo isso adentra ao setting analítico atual. Assim, se o sujeito da infância se transformou, a teoria e técnica de análise de crianças também precisou se atualizar. Partindo dessa premissa básica, o presente estudo objetivou conhecer as atualizações técnicas na clínica psicanalítica com crianças ao longo das últimas décadas a partir da experiência de psicanalistas atuantes. Como metodologia, utilizou-se da Historiografia da Psicanálise no campo da Abordagem Contextual, buscando integrar a análise de fatos históricos ao contexto social e científico do período averiguado. Logo, foram realizadas 5 entrevistas semi-dirigidas com psicanalistas de crianças que atuam há 10 anos ou mais, as quais foram gravadas, transcritas e analisadas. Nas análises, notou-se que a clínica psicanalítica de crianças na atualidade: a) tem consolidado suas últimas fronteiras epistêmicas ao abarcar, mais comumente, quadros de estados primitivos de mente e ao integrar os pais de pacientes ao setting, o que corrobora a passagem de uma técnica de interpretação do simbólico para uma técnica de manejo da relação; e, b) tem buscado alternativas para ler e significar, psicanaliticamente, seus desafios atuais diante da utilização da aparelhos tecnológicos, e afins, pelas crianças dentro do ambiente terapêutico. Segundo nossas entrevistadas, o trabalho analítico tradicional, centrado na clínica das neuroses e na interpretação do simbólico, não é mais predominante. Pois, cada vez mais, os estados psíquicos que têm dificuldade de articular o simbolismo estão mais presentes. E, nesses casos, a técnica se modula em direção ao manejo de setting e da relação entre o analista e o paciente, além da construção de encadeamentos simbólicos e da possibilidade de apropriação subjetiva da experiência, mais do que tornar consciente o inconsciente. Em outras palavras, a técnica atual ampliou suas possibilidades de intervenção consolidando tendência, e, ao mesmo tempo, continua a flertar com territórios epistêmicos desconhecidos, exigindo mais sensibilidade, análise pessoal, supervisão e formação teórica dos analistas.Psychoanalysis emerges from the dialectics between the theoretic, technical practice and the social-historical subject, which is the object of its study. In the 1920s, when the technique of child analysis was systematized by Melanie Klein, modern childhood was at its peak. Nowadays, in its turn, contemporary childhood has set other ways of existing, playing, and expressing and subjectify itself, being particularly influenced by the internet and technological devices, especially in times of pandemic and the urgent need for social distancing. All of this composes the current analytical setting. Thus, if the subject of childhood has changed, the theory and technique in child analysis also needed to be updated. Starting with this basic premise, the present study aimed to know the technical updates in the psychoanalytic clinic with children over the last decades from the experience of active psychoanalysts. The methodology used was the Historiography of Psychoanalysis in the field of Contextual Approach, in order to integrate the analysis of historical facts into the social and scientific context during the examined period. Therefore, 5 semi-structured interviews were conducted with child psychoanalysts who have been working for 10 years or more, which were recorded, transcribed and analyzed. From the analyses, it could be noted that the psychoanalytical clinic for today’s children: a) has built up its latter epistemic borders in covering, more commonly, frames of primitive mental states and in integrating the patient’s parents to the setting, which corroborates to the transition from a technique of interpreting the symbolic to one of managing such a relationship; and b) has looked for alternatives to read and signify, psychoanalytically, its current challenges given by the use of technological devices and others by children in the therapeutic environment. According to our psychoanalysts interviewed, the traditional analysis, which is centered on the clinic of neuroses and on interpreting the symbolic, is not predominant anymore. This is because the psychic states which have difficulty in articulating symbolism have become common. In these, technique models itself towards the managing of the setting and the relationship between analyst and patient, and towards the construction of symbolic chaining and of the possibility of subjective appropriation of experience, rather than make it conscious or unconscious. In other words, the current technique has broadened its intervention possibilities, thus reinforcing a tendency, and, at the same time, it continues to flirt with unknown, epistemic territories. Hence, it demands sensibility, personal analysis, supervision and theoretical formation by the analysts.Universidade Estadual Paulista (Unesp)Abrão, Jorge Luís Ferreira [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Costa, Mateus Augusto Felix2020-10-02T14:17:00Z2020-10-02T14:17:00Z2020-09-02info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/19365233004048021P6porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-18T13:45:24Zoai:repositorio.unesp.br:11449/193652Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-06-18T13:45:24Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
A Clinic for the Present Days: Technical Changes in Child Psychoanalysis
title Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
spellingShingle Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
Costa, Mateus Augusto Felix
Psicanálise
Técnica Psicanalítica
Infância
Contemporaneidade
Psychoanalysis
Psychoanalysis technique
Psychoanalytic Therapy
Childhood
Contemporaneity
title_short Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
title_full Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
title_fullStr Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
title_full_unstemmed Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
title_sort Uma clínica para a atualidade: transformações técnicas em psicanálise de crianças
author Costa, Mateus Augusto Felix
author_facet Costa, Mateus Augusto Felix
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Abrão, Jorge Luís Ferreira [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Costa, Mateus Augusto Felix
dc.subject.por.fl_str_mv Psicanálise
Técnica Psicanalítica
Infância
Contemporaneidade
Psychoanalysis
Psychoanalysis technique
Psychoanalytic Therapy
Childhood
Contemporaneity
topic Psicanálise
Técnica Psicanalítica
Infância
Contemporaneidade
Psychoanalysis
Psychoanalysis technique
Psychoanalytic Therapy
Childhood
Contemporaneity
description A Psicanálise emerge da dialética entre a prática teórico-técnica e o sujeito histórico-social, objeto de seu estudo. Na década de 1920, quando a técnica de análise de crianças foi sistematizada por Melanie Klein, a infância moderna encontrava-se em sua preamar. Hoje, por sua vez, a infância contemporânea organiza outras formas de existir, de brincar, de se expressar e de se subjetivar, estando, particularmente, atravessada pela internet e pelos aparelhos tecnológicos, ainda mais em tempos de pandemia e da necessidade premente de distanciamento social. Tudo isso adentra ao setting analítico atual. Assim, se o sujeito da infância se transformou, a teoria e técnica de análise de crianças também precisou se atualizar. Partindo dessa premissa básica, o presente estudo objetivou conhecer as atualizações técnicas na clínica psicanalítica com crianças ao longo das últimas décadas a partir da experiência de psicanalistas atuantes. Como metodologia, utilizou-se da Historiografia da Psicanálise no campo da Abordagem Contextual, buscando integrar a análise de fatos históricos ao contexto social e científico do período averiguado. Logo, foram realizadas 5 entrevistas semi-dirigidas com psicanalistas de crianças que atuam há 10 anos ou mais, as quais foram gravadas, transcritas e analisadas. Nas análises, notou-se que a clínica psicanalítica de crianças na atualidade: a) tem consolidado suas últimas fronteiras epistêmicas ao abarcar, mais comumente, quadros de estados primitivos de mente e ao integrar os pais de pacientes ao setting, o que corrobora a passagem de uma técnica de interpretação do simbólico para uma técnica de manejo da relação; e, b) tem buscado alternativas para ler e significar, psicanaliticamente, seus desafios atuais diante da utilização da aparelhos tecnológicos, e afins, pelas crianças dentro do ambiente terapêutico. Segundo nossas entrevistadas, o trabalho analítico tradicional, centrado na clínica das neuroses e na interpretação do simbólico, não é mais predominante. Pois, cada vez mais, os estados psíquicos que têm dificuldade de articular o simbolismo estão mais presentes. E, nesses casos, a técnica se modula em direção ao manejo de setting e da relação entre o analista e o paciente, além da construção de encadeamentos simbólicos e da possibilidade de apropriação subjetiva da experiência, mais do que tornar consciente o inconsciente. Em outras palavras, a técnica atual ampliou suas possibilidades de intervenção consolidando tendência, e, ao mesmo tempo, continua a flertar com territórios epistêmicos desconhecidos, exigindo mais sensibilidade, análise pessoal, supervisão e formação teórica dos analistas.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020-10-02T14:17:00Z
2020-10-02T14:17:00Z
2020-09-02
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/193652
33004048021P6
url http://hdl.handle.net/11449/193652
identifier_str_mv 33004048021P6
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803045339161165824