A reestruturação produtiva canavieira e as implicações para a saúde dos trabalhadores assentados no Pontal do Paranapanema (SP)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Machado, Angela dos Santos
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/192762
Resumo: O tema central dessa pesquisa de mestrado é a venda da força de trabalho de assentados da reforma agrária ao setor canavieiro, no Pontal do Paranapanema. Esses assentados são agregados nos lotes dos pais, ou seja, são os filhos daqueles que lutaram e conquistaram a terra. Esses sujeitos são, ao mesmo tempo, camponeses e trabalhadores assalariados no agrohidronegócio canavieiro. Discutimos as relações de trabalho no setor e o processo saúde-doença na atual etapa de reestruturação produtiva caracterizada pelas atividades agrícolas mecanizadas, pelas mudanças na organização do trabalho e pelo trabalho precário, terceirizado e pelo desemprego gerado na lógica flexibilizada da acumulação capitalista. Percebemos que os maiores riscos para a saúde e a segurança dos trabalhadores que atuam nas funções mecanizadas são decorrentes do ritmo intenso das atividades laborais, da forte pressão para atingir as metas e a falta de pausas na jornada de trabalho. Esse ritmo frenético causa colisões, tombamentos e incêndios nas máquinas. Além disso, o trabalho noturno e em turnos de revezamento também podem constituir fatores de risco para os trabalhadores já que eleva o estresse, o cansaço e o desgaste do corpo. Assim, apesar da máquina estar fortemente presente nos canaviais e ter gerado um grande desemprego no setor, o trabalho humano ainda é imprescindível no plantio e corte de cana-de-açúcar. Esse trabalho mecanizado, representado como o oposto do corte manual de cana-de-açúcar, na verdade esconde faces perversas de superexploração do trabalho em que se pode evidenciar o prolongamento da jornada laboral, o ritmo intenso do trabalho e os baixos salários, sem o acréscimo de valor na força de trabalho em razão da elevação da qualificação profissional. A superexploração do trabalho e as formas de exploração da renda camponesa não são exclusivas do Brasil, mas foram construídas historicamente pelo modo como os países latino-americanos foram colonizados, inseridos na divisão internacional do trabalho e impactados pelas políticas neoliberais. Assim, analisamos o contexto da exploração e resistência camponesas em múltiplas escalas de análise (Pontal do Paranapanema, Brasil e América Latina) a partir da experiência de estágio de pesquisa no México, trazendo exemplos desse país que podem ser relacionados com nossa área de estudo. O Pontal do Paranapanema tem um complexo histórico de grilagem de terras em que diversas frações do território ainda estão em disputa judicial e mesmo uma parte das terras que já foram julgadas como devolutas ainda não foram redirecionadas para a reforma agrária. A expansão do agrohidronegócio canavieiro tem servido para legitimar a grilagem e limitar a reforma agrária. Além disso, a grande extensão dos canaviais tem causado impactos para toda a população que vive nos municípios canavieiros em razão da pulverização aérea de agroquímicos que contamina as áreas urbanas, rurais e florestais.
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Discutimos as relações de trabalho no setor e o processo saúde-doença na atual etapa de reestruturação produtiva caracterizada pelas atividades agrícolas mecanizadas, pelas mudanças na organização do trabalho e pelo trabalho precário, terceirizado e pelo desemprego gerado na lógica flexibilizada da acumulação capitalista. Percebemos que os maiores riscos para a saúde e a segurança dos trabalhadores que atuam nas funções mecanizadas são decorrentes do ritmo intenso das atividades laborais, da forte pressão para atingir as metas e a falta de pausas na jornada de trabalho. Esse ritmo frenético causa colisões, tombamentos e incêndios nas máquinas. Além disso, o trabalho noturno e em turnos de revezamento também podem constituir fatores de risco para os trabalhadores já que eleva o estresse, o cansaço e o desgaste do corpo. Assim, apesar da máquina estar fortemente presente nos canaviais e ter gerado um grande desemprego no setor, o trabalho humano ainda é imprescindível no plantio e corte de cana-de-açúcar. Esse trabalho mecanizado, representado como o oposto do corte manual de cana-de-açúcar, na verdade esconde faces perversas de superexploração do trabalho em que se pode evidenciar o prolongamento da jornada laboral, o ritmo intenso do trabalho e os baixos salários, sem o acréscimo de valor na força de trabalho em razão da elevação da qualificação profissional. A superexploração do trabalho e as formas de exploração da renda camponesa não são exclusivas do Brasil, mas foram construídas historicamente pelo modo como os países latino-americanos foram colonizados, inseridos na divisão internacional do trabalho e impactados pelas políticas neoliberais. Assim, analisamos o contexto da exploração e resistência camponesas em múltiplas escalas de análise (Pontal do Paranapanema, Brasil e América Latina) a partir da experiência de estágio de pesquisa no México, trazendo exemplos desse país que podem ser relacionados com nossa área de estudo. O Pontal do Paranapanema tem um complexo histórico de grilagem de terras em que diversas frações do território ainda estão em disputa judicial e mesmo uma parte das terras que já foram julgadas como devolutas ainda não foram redirecionadas para a reforma agrária. A expansão do agrohidronegócio canavieiro tem servido para legitimar a grilagem e limitar a reforma agrária. Além disso, a grande extensão dos canaviais tem causado impactos para toda a população que vive nos municípios canavieiros em razão da pulverização aérea de agroquímicos que contamina as áreas urbanas, rurais e florestais.The central theme of this master’s research is the sale of land reform settlers' work to the sugarcane sector at Pontal do Paranapanema. These settlers are aggregated in the parent's lots, that is, are the children of those who fought and conquered the land. These subjects are, at the same time, peasants and workers in the sugarcane agro-hydro-business. We have discussed working relations in the sector and the health-care process in the current phase of productive restructuring, characterized by mechanized agricultural activities, for changes in work organisation and precarious, outsourced work and the resulting unemployment in the flexible logic of capital accumulation. We understand that the greatest risks to mechanized workers' health and safety are due to the intense pace of work, strong pressure to achieve the goals and the lack of breaks in the working day. This frantic pace causes collisions, engine overturns and fires. In addition to this, night and shift works may also constitute risk factors for workers since it increases stress, fatigue and the wear of the body. Thus, although the machine is strongly present and have generated a great unemployment in the sugarcane fields, human labour is still imperative in the planting and cutting of sugarcane. This mechanized work, portrayed as the opposite of manual sugarcane cutting, in fact hides wicked faces of overexploitation of labour in which can be seen the extension of working hours, the intensified work schedule and the low pay, without the workforce value increase on account of the professional upgrading of skills. The overexploitation of work and the forms of peasant income-exploitation are not exclusive of Brazil, but were historically built by the way Latin American countries were colonized, within the international division of labour and impacted by neoliberal policies. Thus, we have analysed the context of peasant exploitation and resistance in multiple scales (Pontal do Paranapanema, Brazil and Latin America) from research internship experience in Mexico, bringing examples from this country that can be related to our study area. Pontal do Paranapanema has a historic land squatting complex in which several fractions of the territory are still in judicial dispute and even a portion of the land already found to be vacant has not yet been diverted to land reform. The expansion of the sugarcane agrohidronegobusiness has served to legitimize the squatting and to limit agrarian reform. In addition to this, the large extension of sugarcane fields has had an impact on the entire population living in the municipalities because of aerial spraying of agrochemicals that poisons urban, rural and forest areas.Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)FAPESP: 2017/11731-7Universidade Estadual Paulista (Unesp)Carvalhal, Marcelo Dornelis [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Machado, Angela dos Santos2020-06-15T18:49:42Z2020-06-15T18:49:42Z2020-03-31info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/19276200093164233004129042P3porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-20T13:36:48Zoai:repositorio.unesp.br:11449/192762Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T22:06:09.151478Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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