Psicologia na comunidade: a virtualidade da intervenção junto a sujeitos em situação de risco pessoal e social

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cruz, Soráia Georgina Ferreira de Paiva [UNESP]
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://proex.reitoria.unesp.br/congressos/Congressos/1__Congresso/Sa_de_e_Qualidade_de_Vida/Trabalho11.htm
http://hdl.handle.net/11449/148163
Resumo: Desde o ano de 1990 formamos, junto com alunos do Curso de Psicologia, um núcleo de Estudos em Psicologia Social. Nossos encontros ocorriam entre intervalos de aulas. Tínhamos como objetivo estudar as teorias sociais e suas implicações nos diversos movimentos da comunidade de Assis. Dentre as várias intervenções, a questão da violência relacionada à criança e ao adolescente mobilizou sobremaneira a nossa reflexão. A partir de discussões teóricas surgiu a oportunidade de se pensar uma atuação mais efetiva - inicia-se então o trabalho com adolescentes infratores. Posteriormente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), junto com o Conselho Tutelar de Assis, iniciamos em 1995 um projeto de atuação com crianças e adolescentes que viviam em situação de risco pessoal ou social. Encaminharam-nos 68 crianças e adolescentes que, segundo os conselheiros, seriam aqueles em via de serem mandados para alguma instituição. Essa população perambulava pelas ruas, se drogava, se prostituía, furtava e a maioria tinha uma história de evasão escolar. Como montar um projeto de intervenção com o objetivo de formar um grupo com todas essas crianças e adolescentes a fim de entender o processo de produção de identidades forjadas na exclusão e na violência? Foi um artigo publicado na Folha de São Paulo (07/02/95) que orientou nosso percurso. Uma reportagem sobre o mestre do cinema contemporâneo Abbas Kiarostami, em que ele dizia que gostava de se perder em São Paulo e andar como se fosse uma câmara subjetiva, como se estivesse filmando com os olhos. Em uma dessas vezes, passou a seguir uma menina de rua, negra, entre 12 e 13 anos. Diz ele que ficou impressionado com a desenvoltura e a elegância do andar da garota. Em uma das suas aproximações, a menina comeu restos de um hambúrguer no lixo de um "fast-food" e em outra ela achou uma revista feminina num lixo de escritório. Ela folheou a revista, separou algumas páginas e continuou andando. Kiarostami voltou ao seu quarto de hotel e começou a chorar e a escrever o que viveu e sentiu. Começava a nascer "The Good, Good Citizen". A partir daí, pensamos que nosso objetivo seria criar um campo no qual fosse possível às crianças e adolescentes expressarem o sentido que para elas assumia a transgressão, mais do que nos preocuparmos com um projeto de intervenção cuja finalidade fosse normatizar esses sujeitos. Queríamos conhecer, na medida do possível, os mecanismos que esses sujeitos ditos de rua se utilizam para sobreviver nessa sociedade que os marginaliza. Montamos então, desde 1996, grupos junto ao Projeto Adolescer com o objetivo de acolher o adolescente. Atentos à perspectiva do ser no mundo, atravessado por múltiplas inscrições, produzindo determinados modos de subjetivação, numa proposta de clínica ampliada e com o entendimento dos processos de subjetivação histórica e socialmente construídos e consequentemente a potencialização de pensamentos e ações instituídas. Método: triagem, encaminhamento do adolescente e de pais ou responsáveis, e alocação dos mesmos nas diferentes formas de atendimento propostas pelo projeto. Coordenamos 03 grupos de adolescentes e atendemos em média 40 adolescentes. Criamos uma oficina de cidadania, onde discutíamos o trabalho infantil e a situação de crianças e adolescentes no país. Fizemos discussões acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente e entrecruzamos o referencial teórico de educador e acompanhante terapêutico. Do trabalho realizado podemos falar que houve uma certa mudança nos adolescentes no sentido de que alguns deixaram de usar drogas, outros investiram em diferentes inscrições no campo social, por exemplo: passaram a fazer coisas que antes não faziam, tais como, jogar bola, fazer trilha, conhecer outros espaços da cidade, resgatar a vida escolar, entre outros. Benefícios à Universidade: vários debates sobre infância e juventude, produção de artigos e teses, bem como contribuir para que diferentes órgãos de atendimento ao adolescente tivessem locais onde esses jovens pudessem ser encaminhados. A Proposta é também problematizar a população categorizada como de risco pessoal e social objetivando criar práticas sociais que possam intervir nos modos de produção das políticas públicas que habitualmente tem normatizado o atendimento a essa população.
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Encaminharam-nos 68 crianças e adolescentes que, segundo os conselheiros, seriam aqueles em via de serem mandados para alguma instituição. Essa população perambulava pelas ruas, se drogava, se prostituía, furtava e a maioria tinha uma história de evasão escolar. Como montar um projeto de intervenção com o objetivo de formar um grupo com todas essas crianças e adolescentes a fim de entender o processo de produção de identidades forjadas na exclusão e na violência? Foi um artigo publicado na Folha de São Paulo (07/02/95) que orientou nosso percurso. Uma reportagem sobre o mestre do cinema contemporâneo Abbas Kiarostami, em que ele dizia que gostava de se perder em São Paulo e andar como se fosse uma câmara subjetiva, como se estivesse filmando com os olhos. Em uma dessas vezes, passou a seguir uma menina de rua, negra, entre 12 e 13 anos. Diz ele que ficou impressionado com a desenvoltura e a elegância do andar da garota. Em uma das suas aproximações, a menina comeu restos de um hambúrguer no lixo de um "fast-food" e em outra ela achou uma revista feminina num lixo de escritório. Ela folheou a revista, separou algumas páginas e continuou andando. Kiarostami voltou ao seu quarto de hotel e começou a chorar e a escrever o que viveu e sentiu. Começava a nascer "The Good, Good Citizen". A partir daí, pensamos que nosso objetivo seria criar um campo no qual fosse possível às crianças e adolescentes expressarem o sentido que para elas assumia a transgressão, mais do que nos preocuparmos com um projeto de intervenção cuja finalidade fosse normatizar esses sujeitos. Queríamos conhecer, na medida do possível, os mecanismos que esses sujeitos ditos de rua se utilizam para sobreviver nessa sociedade que os marginaliza. Montamos então, desde 1996, grupos junto ao Projeto Adolescer com o objetivo de acolher o adolescente. Atentos à perspectiva do ser no mundo, atravessado por múltiplas inscrições, produzindo determinados modos de subjetivação, numa proposta de clínica ampliada e com o entendimento dos processos de subjetivação histórica e socialmente construídos e consequentemente a potencialização de pensamentos e ações instituídas. Método: triagem, encaminhamento do adolescente e de pais ou responsáveis, e alocação dos mesmos nas diferentes formas de atendimento propostas pelo projeto. Coordenamos 03 grupos de adolescentes e atendemos em média 40 adolescentes. Criamos uma oficina de cidadania, onde discutíamos o trabalho infantil e a situação de crianças e adolescentes no país. Fizemos discussões acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente e entrecruzamos o referencial teórico de educador e acompanhante terapêutico. Do trabalho realizado podemos falar que houve uma certa mudança nos adolescentes no sentido de que alguns deixaram de usar drogas, outros investiram em diferentes inscrições no campo social, por exemplo: passaram a fazer coisas que antes não faziam, tais como, jogar bola, fazer trilha, conhecer outros espaços da cidade, resgatar a vida escolar, entre outros. Benefícios à Universidade: vários debates sobre infância e juventude, produção de artigos e teses, bem como contribuir para que diferentes órgãos de atendimento ao adolescente tivessem locais onde esses jovens pudessem ser encaminhados. A Proposta é também problematizar a população categorizada como de risco pessoal e social objetivando criar práticas sociais que possam intervir nos modos de produção das políticas públicas que habitualmente tem normatizado o atendimento a essa população.Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras (FCLAS), Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Assis, SPUniversidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras (FCLAS), Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar, Assis, SPUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Cruz, Soráia Georgina Ferreira de Paiva [UNESP]2017-01-18T15:46:04Z2017-01-18T15:46:04Z2001info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjecthttp://proex.reitoria.unesp.br/congressos/Congressos/1__Congresso/Sa_de_e_Qualidade_de_Vida/Trabalho11.htmhttp://hdl.handle.net/11449/148163PROEXreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESPporCongresso de Extensão Universitáriainfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-06-14T19:11:05Zoai:repositorio.unesp.br:11449/148163Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T20:30:17.937395Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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