Corpo e transicionalidade: uma possibilidade de encontro entre Winnicott e Merleau-Ponty
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UNESP |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/11449/157375 |
Resumo: | A transicionalidade talvez seja um dos temas mais amplos e complexos dentro da teoria de Donald Winnicott. Inicialmente, essa questão é abordada quando o autor descreve sobre a passagem percorrida pelo bebê entre o mundo subjetivo – isto é, puramente criado – e a realidade externa. Antes que o bebê possa encontrar o mundo externo, a fim de continuar a ser criativo e se sentir real, surgem os objetos e fenômenos transicionais, estes que ocupam uma área intermediária da experiência, onde as divisões entre sujeito e objeto, mundo interno e realidade externa, criatividade e princípio de realidade, não seriam questionadas. De acordo com Winnicott, essa área intermediária, denominada espaço potencial, continuará a existir por toda a vida do indivíduo, sendo a partir dela que surgiria o campo das artes, da religião, da filosofia, da ciência, do brincar e da experiência cultural. Além disso, seria apenas no espaço potencial onde poderia ocorrer uma verdadeira comunicação entre indivíduo e o outro. Neste sentido, poderíamos nos perguntar: como saber quando o sujeito está experienciando uma situação transicionalmente, isto é, por meio do espaço potencial? Seria possível pensar neste espaço concretamente, a partir do corpo, sem que, ao mesmo tempo, tratemo-lo de uma forma subjetivista ou puramente objetiva? Qual é a relação e o papel do corpo do outro (por exemplo, o analista) na facilitação dessa experiência? A fim de responder e problematizar estes questionamentos, propomos um diálogo entre Winnicott e a fenomenologia de Merleau-Ponty, tendo em vista que muitos comentadores sugerem que existe uma forte aproximação entre o conceito de espaço potencial e a noção de percepção, entendida por Merleau-Ponty. Nos trabalhos do filósofo, vemos um grande interesse pela relação entre corpo, percepção e intersubjetividade, além de sua afinidade com a psicanálise, como pelo problema do inconsciente, do recalque, da afetividade, da sexualidade e dos relacionamentos iniciais da criança com o outro. Um exame minucioso sobre o tema da percepção permitiu a Merleau-Ponty afirmar que a experiência no mundo ocorre a partir do corpo, e não por meio da reflexão. Além disso, a experiência nunca seria puramente subjetiva e fechada no indivíduo, mas ocorreria no encontro entre subjetivo e objetivo e a partir do relacionamento com outrem. Portanto, ao aproximarmos Winnicott e Merleau-Ponty, temos como objetivo de pesquisa o aprofundamento da relação entre corpo e espaço potencial. Ao longo da dissertação, observamos que os autores possuem diversas afinidades teóricas, como quando esclarecem que, na saúde, não há uma divisão rígida entre subjetivo e objetivo, entre experiência corporal e vida psíquica e entre a experiência no mundo e a descoberta de si mesmo. Por outro lado, consideramos que existem diferenças importantes entre a noção de percepção, em Merleau-Ponty, e o conceito de espaço potencial, de modo que eles não podem ser tratados como sinônimos ou equivalentes, especialmente, ao examinarmos e compararmos mais detalhadamente as concepções de experiência, criatividade, espontaneidade e afetividade. Nesse sentido, defendemos que a experiência corpórea se expressa no espaço potencial através de um estado de relaxamento, que ocorre no encontro entre o convite de um mundo de confiança e o gesto espontâneo do indivíduo. |
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Corpo e transicionalidade: uma possibilidade de encontro entre Winnicott e Merleau-PontyBody and Transitionality: a possibility of dialogue between Winnicott and Merleau-PontyCorpoTransicionalidadeEspaço potencialDonald Woods WinnicottMaurice Merleau-PontyPsicanáliseFenomenologiaBodyTransitionalityPotential spacePsychoanalysisPhenomenologyA transicionalidade talvez seja um dos temas mais amplos e complexos dentro da teoria de Donald Winnicott. Inicialmente, essa questão é abordada quando o autor descreve sobre a passagem percorrida pelo bebê entre o mundo subjetivo – isto é, puramente criado – e a realidade externa. Antes que o bebê possa encontrar o mundo externo, a fim de continuar a ser criativo e se sentir real, surgem os objetos e fenômenos transicionais, estes que ocupam uma área intermediária da experiência, onde as divisões entre sujeito e objeto, mundo interno e realidade externa, criatividade e princípio de realidade, não seriam questionadas. De acordo com Winnicott, essa área intermediária, denominada espaço potencial, continuará a existir por toda a vida do indivíduo, sendo a partir dela que surgiria o campo das artes, da religião, da filosofia, da ciência, do brincar e da experiência cultural. Além disso, seria apenas no espaço potencial onde poderia ocorrer uma verdadeira comunicação entre indivíduo e o outro. Neste sentido, poderíamos nos perguntar: como saber quando o sujeito está experienciando uma situação transicionalmente, isto é, por meio do espaço potencial? Seria possível pensar neste espaço concretamente, a partir do corpo, sem que, ao mesmo tempo, tratemo-lo de uma forma subjetivista ou puramente objetiva? Qual é a relação e o papel do corpo do outro (por exemplo, o analista) na facilitação dessa experiência? A fim de responder e problematizar estes questionamentos, propomos um diálogo entre Winnicott e a fenomenologia de Merleau-Ponty, tendo em vista que muitos comentadores sugerem que existe uma forte aproximação entre o conceito de espaço potencial e a noção de percepção, entendida por Merleau-Ponty. Nos trabalhos do filósofo, vemos um grande interesse pela relação entre corpo, percepção e intersubjetividade, além de sua afinidade com a psicanálise, como pelo problema do inconsciente, do recalque, da afetividade, da sexualidade e dos relacionamentos iniciais da criança com o outro. Um exame minucioso sobre o tema da percepção permitiu a Merleau-Ponty afirmar que a experiência no mundo ocorre a partir do corpo, e não por meio da reflexão. Além disso, a experiência nunca seria puramente subjetiva e fechada no indivíduo, mas ocorreria no encontro entre subjetivo e objetivo e a partir do relacionamento com outrem. Portanto, ao aproximarmos Winnicott e Merleau-Ponty, temos como objetivo de pesquisa o aprofundamento da relação entre corpo e espaço potencial. Ao longo da dissertação, observamos que os autores possuem diversas afinidades teóricas, como quando esclarecem que, na saúde, não há uma divisão rígida entre subjetivo e objetivo, entre experiência corporal e vida psíquica e entre a experiência no mundo e a descoberta de si mesmo. Por outro lado, consideramos que existem diferenças importantes entre a noção de percepção, em Merleau-Ponty, e o conceito de espaço potencial, de modo que eles não podem ser tratados como sinônimos ou equivalentes, especialmente, ao examinarmos e compararmos mais detalhadamente as concepções de experiência, criatividade, espontaneidade e afetividade. Nesse sentido, defendemos que a experiência corpórea se expressa no espaço potencial através de um estado de relaxamento, que ocorre no encontro entre o convite de um mundo de confiança e o gesto espontâneo do indivíduo.The transitionality is probably one of the vast and most complex subjects inside the Donald Winnicott theory. Initially, this point is approach when the author describes about the passage traversed by the baby between the subjective world – that is the created world – and the external reality. Before the baby could find the external world, to continue been creative and feel real, the transitional subjects and transitional phenomena appears, they occupy an intermediate area of experience, where the divisions between the subject and the object, the inside world and the external reality, creativity and reality principle wouldn’t be questioned. According to Winnicott, this intermediate area, named potential space, will continue exist through person’s all life, from that will origin the fields like arts, religion, philosophy, science, to play and the cultural experience. Besides, it’s only inside the potential space that the real communication happens between one subject and the other. In this case, we could ask ourselves: how do we know if the subject is experiencing one situation on a transitional way, that is through the potential space? Could we imagine this space in a concrete way, from body, without describing it in a subjectivist and objectivist perspective? Which is the other body’s participation (like the analyst) in that experience? To answer and to problematize these questions we propose some dialogues between Winnicott and Merleau-Ponty’s phenomenology, because a lot of academics suggest that there is a connection between potential space and perception concept, by Merleau-Ponty. In his works, we see a big interesting about the relation between body, perception and intersubjectivity, besides your sympathy with psychoanalysis, like the unconscious problem, the suppression, the affectivity, the sexuality and the first relationships between the child and the other. A depth study about the concept of perception allows Merleau-Ponty to confirm that the experience in the world begin with the body, not through the reflection. Besides, the experience would never be only subjective and closed in itself but would happens on the meeting of subjective and objective and through the relationship with the other. Therefore, putting Winnicott and Merleau-Ponty together, as a research objective, we want to deepen the relation between body and potential space. Throughout the dissertation, we note that the authors have several theoretical affinities, as when they clarify that, in health, there is no rigid division between subjective and objective, between the corporal experience and psychic life and between the experience in the world and the discovery of self. On the other hand, we consider there are important differences between the notion of perception, in Merleau-Ponty, and the concept of potential space, so that they cannot be treated as synonymous or equivalent, especially when we examine and compare more in detail the concept of experience, creativity, spontaneity and affectivity. In this regard, we defend that corporal experience expresses itself in the potential space through a relaxing state, that occurs in the meeting between the invitation of a trusted world and spontaneous gesture of an individual.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Verissimo, Danilo Saretta [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Amaral, Henrique Uva do [UNESP]2018-10-22T16:54:52Z2018-10-22T16:54:52Z2018-09-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/15737500090922433004048021P6porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2024-06-18T13:46:23Zoai:repositorio.unesp.br:11449/157375Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462024-08-05T23:43:23.670870Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false |
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