Praeter Deum nulla substantia: o início da Ética como retificação da teoria da substância cartesiana

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gazola, Iago Orlandi
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/217900
Resumo: O objetivo da seguinte dissertação é propor e mostrar uma continuidade que liga a teoria da substância de Descartes à de Espinosa. Queremos mostrar que, a despeito das diferenças existentes entre espinosismo e cartesianismo, tidos esses como sistemas completos, há um pano de fundo de concordância, marcado sobretudo pelo pensamento racionalista comum a ambos que se manifesta também a respeito da ontologia. Contrapomo-nos, assim, a uma visão um tanto imprecisa do que foi o fazer metafísica na modernidade pré-crítica, segundo a qual os sistemas metafísicos então desenvolvidos se teriam destacado mais pela discordância, pela relatividade de princípios e pelos consequentes resultados divergentes do que pela concordância a respeito de temas fundamentais. Passaremos por obras de Descartes e de Espinosa. Inicialmente, evidenciaremos o plurissubstancialismo, o dualismo de atributos cartesianos e as dificuldades em que incorre Descartes a respeito da relação entre mente e corpo. Passaremos a textos secundários em que Descartes responde a seus objetores. Destacaremos nestes textos pontos que serão fundamentais ao pensamento espinosano, tais como a prioridade dada à prova a priori da existência de Deus a partir de sua própria definição e a maneira sintética de demonstrar, ambas destoantes do procedimento meditativo. Passaremos, então, aos Princípios da filosofia cartesiana e ao Tratado da emenda do intelecto, onde localizaremos a presença tanto da defesa da autossuficiência da ideia verdadeira de Deus para a prova da existência de Deus, que abre caminho para a prioridade da prova a priori, como da proposta de um discurso filosófico que reproduza a ordo Naturae partindo de Deus, possível, para Espinosa, somente nos termos da maneira sintética de demonstrar: os dois pontos encontrados nos escritos secundários de Descartes. Mostraremos que, enfim, na Ética, Espinosa aplica essas duas ideias. Mantém a austeridade da aplicação da definição de substância, numa incontornável demonstração de cuidado semântico, restringindo-a a Deus, a partir de uma definição semelhante à cartesiana; começa a reprodução da ordo Naturae pela prova a priori existência de Deus e recusa justamente as teses cartesianas que teriam levado às dificuldades do dualismo, teses já com pouca sustentação nos escritos secundários. Assim, explicitaremos que as concordâncias entre ambos resistem, subjacentes às suas discordâncias, e que podemos ver um projeto comum proposto por um e refinado por outro.
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Contrapomo-nos, assim, a uma visão um tanto imprecisa do que foi o fazer metafísica na modernidade pré-crítica, segundo a qual os sistemas metafísicos então desenvolvidos se teriam destacado mais pela discordância, pela relatividade de princípios e pelos consequentes resultados divergentes do que pela concordância a respeito de temas fundamentais. Passaremos por obras de Descartes e de Espinosa. Inicialmente, evidenciaremos o plurissubstancialismo, o dualismo de atributos cartesianos e as dificuldades em que incorre Descartes a respeito da relação entre mente e corpo. Passaremos a textos secundários em que Descartes responde a seus objetores. Destacaremos nestes textos pontos que serão fundamentais ao pensamento espinosano, tais como a prioridade dada à prova a priori da existência de Deus a partir de sua própria definição e a maneira sintética de demonstrar, ambas destoantes do procedimento meditativo. Passaremos, então, aos Princípios da filosofia cartesiana e ao Tratado da emenda do intelecto, onde localizaremos a presença tanto da defesa da autossuficiência da ideia verdadeira de Deus para a prova da existência de Deus, que abre caminho para a prioridade da prova a priori, como da proposta de um discurso filosófico que reproduza a ordo Naturae partindo de Deus, possível, para Espinosa, somente nos termos da maneira sintética de demonstrar: os dois pontos encontrados nos escritos secundários de Descartes. Mostraremos que, enfim, na Ética, Espinosa aplica essas duas ideias. Mantém a austeridade da aplicação da definição de substância, numa incontornável demonstração de cuidado semântico, restringindo-a a Deus, a partir de uma definição semelhante à cartesiana; começa a reprodução da ordo Naturae pela prova a priori existência de Deus e recusa justamente as teses cartesianas que teriam levado às dificuldades do dualismo, teses já com pouca sustentação nos escritos secundários. Assim, explicitaremos que as concordâncias entre ambos resistem, subjacentes às suas discordâncias, e que podemos ver um projeto comum proposto por um e refinado por outro.The aim of the present dissertation is to propose and show a deep connection between Descartes’ and Spinoza’s theories of substance. We shall argue that, despite of the differences between spinozism and cartesianism taken as whole systems, there is a common basis which also involves their ontologies. We oppose the assessment according to which Early Modern Metaphysics, at least regarding both philosophers, was marked by theoretical disagreement, relativity of principles and different results instead of accordance concerning main points and therefore was unable to establish a continuity from a philosopher to the other. We shall thus focus on Descartes‘ and Spinoza’s works. First of all, we shall go through the cartesian plurisubstancialism, dualism of attributes and the difficulties Descartes faces when trying to deal with the relation between body and soul. We shall then concentrate our attention on some secondary writings in which Descartes gives his replies to objections of opponents. We shall emphasize in these writings some points that are essential to Spinoza’s thought, such as the priority a priori proof of God’s existence based solely on his definition and the synthetical way of demonstration, which are nowhere to find in the Meditations. The next step will be the focus on two works of Spinoza: The Principles of Cartesian Philosophy and Treatise on the Emendation of the Intellect, in which we shall find the notion that God’s true idea (vera idea) is sufficient for the proof of his existence, which paves the way for the priority of the aprioristic proof, and the notion that the philosophical discourse must reproduce (referre) the ordo Naturae steming from God through the synthetical way of demonstration: two points already found in the secondary writings of Descartes. We shall then see that Spinoza applies these notions in the Ethics. Spinoza is austere on the definition of substance, showing the utmost semantical concern in his demonstration, restricting it only to God, steming from a definition very similar to the cartesian one; begins the discursive reproduction of the ordo Naturae from the aprioristic proof of God’s existence and refuses the theses that supposedly led Descartes to the difficulties regarding dualism, which had already lost strength in the secondary writings. This way, we aim to show that the accordances between Descartes and Spinoza persevere despite of their theoretical disagreement and that we can see a common program proposed by the former and improved by the latter.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)CAPES: 001Universidade Estadual Paulista (Unesp)Prado, Lúcio Lourenço [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Gazola, Iago Orlandi2022-04-18T19:33:56Z2022-04-18T19:33:56Z2022-02-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfGAZOLA, Iago Orlandi. Praeter Deum nulla substantia: o início da Ética como retificação da teoria da substância cartesiana. 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