Efeito da estimulação transcraniana por corrente contínua em um modelo animal do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade

• Autor(a) principal: Leffa, Douglas Teixeira
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/193136
• topic: Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade; Estimulação transcraniana por corrente contínua; Locomoção; Memória; Dopamina; Estresse oxidativo; Inflamação; Modelos animais

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno prevalente do neurodesenvolvimento cerebral que se caracteriza por sintomas inapropriados para o desenvolvimento nas dimensões de desatenção, hiperatividade-impulsividade, ou ambas. Sua fisiopatologia, apesar de não totalmente elucidada, aparenta envolver um déficit em sistemas de neurotransmissão dopaminérgica. Além disso, fatores inflamatórios e oxidativos têm sido propostos como coadjuvantes neste processo patológico. O tratamento do TDAH envolve principalmente o uso de fármacos estimulantes. Tais fármacos, apesar de efetivos, apresentam inúmeros efeitos adversos que reduzem sua aderência a longo prazo, o que estimula a busca por novas estratégias terapêuticas. A estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) é uma ferramenta de neuromodulação não-invasiva que promove a modulação da atividade neuronal espontânea. A ETCC tem sido proposta como uma estratégia terapêutica em diferentes transtornos neuropsiquiátricos, no entanto o entendimento de seus efeitos em diferentes estruturas do sistema nervoso central ainda é escasso. Neste sentido, o uso de modelos animais é de suma importância para a melhor compreensão do mecanismo de ação da ETCC em doenças neuropsiquiátricas. Nesta tese, avaliamos o potencial terapêutico da ETCC no modelo animal de TDAH mais comumente utilizado, os Ratos Espontaneamente Hipertensos (SHR). SHR adultos e os seus controles, os Ratos Wistar Kyoto, foram expostos a 20 min de ETCC diária por um período de 8 dias, utilizando uma corrente constante de 0,5 mA de intensidade, ou a uma estimulação sham. Os efeitos do tratamento foram avaliados por meio de testes comportamentais. A hiperatividade foi avaliada utilizando-se o teste do campo aberto, a memória de trabalho foi avaliada utilizando-se o teste do labirinto em Y, e a memória de curta e longa duração foram avaliadas com o uso do teste do reconhecimento de objetos. Além disso, objetivamos avançar o conhecimento dos mecanismos de ação da ETCC por meio da mensuração de marcadores 9 bioquímicos relacionados com o transtorno. Avaliamos os níveis de dopamina, fator neurotrófico derivado do cérebro, interleucinas (fator de necrose tumoral alpha, interleucina 1β e interleucina 10), e parâmetros oxidativos (níveis de 2′-7′-diclorofluoresceína diacetato e glutationa, e atividade das enzimas glutationa peroxidase, superóxido dismutase e catalase). As avaliações bioquímicas foram realizadas em córtex pré-frontal, córtex (demais regiões), hipocampo e estriado. Animais SHR expostos a um tratamento com ETCC apresentaram melhora da memória de curta duração e memória de longa duração quando comparados a animais expostos à ETCC sham. (Continuatiação) Do ponto de vista bioquímico, demonstramos que a ETCC induziu aumento dos níveis de dopamina no hipocampo e estriado de ambas as linhagens, aumento da produção de espécies reativas de oxigênio no hipocampo dos SHR e redução da resposta inflamatória em ratos controle. Demonstramos também, pela primeira vez, que os SHR se caracterizam por apresentam um perfil pró-oxidativo em estruturas cerebrais quando comparado aos controles. Além disso, esta linhagem apresenta níveis reduzidos de interleucinas pró-inflamatórias, indicando um déficit basal. Esses resultados caracterizam a ETCC como uma alternativa promissora para o tratamento de déficits mnemônicos em pacientes com TDAH, e apontam o aumento do aporte dopaminérgico em hipocampo como possível mecanismo envolvido nessa melhora.