De rio-grandense a gaúcho : o triunfo do avesso : um processo de representação regional na literatura do século xix (1847-1877)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gomes, Carla Renata Antunes de Souza
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/11154
Resumo: Este estudo quer, através do cruzamento de várias manifestações literárias sobre o Rio Grande do Sul do século XIX, acompanhar o percurso dos termos “rio-grandense” e “gaúcho”, principalmente, na Literatura regional e de viagem, buscando observar as alternâncias de sentido nas formas de designar o habitante do Rio Grande do Sul, iniciando em 1847 com José Antonio do Vale Caldre e Fião e o romance “A Divina Pastora”, que inaugura o gênero regionalista, estendendo-se até “O vaqueano”, de 1872, além de outros contos de Apolinário Porto Alegre. Assim, o problema central desta pesquisa foi descobrir quando e porquê o ser social “riograndense” assimila e é convertido no ser cultural denominado “gaúcho” e que circunstâncias históricas contribuem para esta transformação, que intenções contribuíram para a construção da imagem do gaúcho tal como a conhecemos hoje e como esta fabricação foi iniciada e se perpetuou ao longo da história.Tendo em vista que o capital cultural dos rio-grandenses é fruto de uma construção histórica, assentada em guerras e lutas que não foram fabricadas, nem imaginadas pelos homens das “belas letras”, foram, isto sim, representadas em prosa e verso, reconstituídas e embelezadas, recontadas à sua maneira, no firme propósito de perpetuação de uma memória, o que, sem embargo, exige um perseverante culto ao passado através de uma sempre seletiva memória histórica, pois se à historiografia cabe evidenciar e trazer à tona determinados fatos, também não é menos verdadeiro que quem a escreve também pode calar quando for conveniente. Considerando, portanto, que na Província do Rio Grande de São Pedro, o século XIX viera e se fora sob o signo da guerra, onde sob constante fogo cruzado se estabeleceram os parâmetros identitários dos rio-grandenses, e que nestas lutas alguns deles entraram como “monarcas” e “gaúchos”, outros se enfrentaram como “luso-brasileiros” e “hispano-platinos” e entre uns e outros surgiram os “gaúchos brasileiros”. E constatando ainda que a Literatura do período tratará com igual fervor este estado de permanente atuação militar, em que restará consagrada pela pena dos autores, a grande revolução de 1835, mas sem embargo da autoridade histórica deste fato, não foram de somenos importância as inúmeras guerras de manutenção das fronteiras, assim como a Guerra do Paraguai (1865 a 1870) e ainda, a Federalista (1893 a 1895), que constituíram os momentos mais tensos do processo de afirmação política nacional e regional, registrando na memória coletiva sul-riograndense o cheiro de pólvora e sangue que permeou um século de história do extremo sul do Brasil. De modo que a História forneceu os subsídios necessários à fabricação do estilo riograndense de ser e à Literatura coube forjar um caráter, um comportamento e um nome, num processo contínuo de construção cultural, que aderiu de tal modo ao imaginário social, que hoje é praticamente impensável outra denominação aos habitantes do Rio Grande do Sul, que não seja a de gaúchos, e que, todavia, não são caricaturas nem de guascas da cidade, nem de janotas do campo.
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spelling Gomes, Carla Renata Antunes de SouzaGuazzelli, Cesar Augusto Barcellos2007-11-20T05:10:10Z2006http://hdl.handle.net/10183/11154000604511Este estudo quer, através do cruzamento de várias manifestações literárias sobre o Rio Grande do Sul do século XIX, acompanhar o percurso dos termos “rio-grandense” e “gaúcho”, principalmente, na Literatura regional e de viagem, buscando observar as alternâncias de sentido nas formas de designar o habitante do Rio Grande do Sul, iniciando em 1847 com José Antonio do Vale Caldre e Fião e o romance “A Divina Pastora”, que inaugura o gênero regionalista, estendendo-se até “O vaqueano”, de 1872, além de outros contos de Apolinário Porto Alegre. Assim, o problema central desta pesquisa foi descobrir quando e porquê o ser social “riograndense” assimila e é convertido no ser cultural denominado “gaúcho” e que circunstâncias históricas contribuem para esta transformação, que intenções contribuíram para a construção da imagem do gaúcho tal como a conhecemos hoje e como esta fabricação foi iniciada e se perpetuou ao longo da história.Tendo em vista que o capital cultural dos rio-grandenses é fruto de uma construção histórica, assentada em guerras e lutas que não foram fabricadas, nem imaginadas pelos homens das “belas letras”, foram, isto sim, representadas em prosa e verso, reconstituídas e embelezadas, recontadas à sua maneira, no firme propósito de perpetuação de uma memória, o que, sem embargo, exige um perseverante culto ao passado através de uma sempre seletiva memória histórica, pois se à historiografia cabe evidenciar e trazer à tona determinados fatos, também não é menos verdadeiro que quem a escreve também pode calar quando for conveniente. Considerando, portanto, que na Província do Rio Grande de São Pedro, o século XIX viera e se fora sob o signo da guerra, onde sob constante fogo cruzado se estabeleceram os parâmetros identitários dos rio-grandenses, e que nestas lutas alguns deles entraram como “monarcas” e “gaúchos”, outros se enfrentaram como “luso-brasileiros” e “hispano-platinos” e entre uns e outros surgiram os “gaúchos brasileiros”. E constatando ainda que a Literatura do período tratará com igual fervor este estado de permanente atuação militar, em que restará consagrada pela pena dos autores, a grande revolução de 1835, mas sem embargo da autoridade histórica deste fato, não foram de somenos importância as inúmeras guerras de manutenção das fronteiras, assim como a Guerra do Paraguai (1865 a 1870) e ainda, a Federalista (1893 a 1895), que constituíram os momentos mais tensos do processo de afirmação política nacional e regional, registrando na memória coletiva sul-riograndense o cheiro de pólvora e sangue que permeou um século de história do extremo sul do Brasil. De modo que a História forneceu os subsídios necessários à fabricação do estilo riograndense de ser e à Literatura coube forjar um caráter, um comportamento e um nome, num processo contínuo de construção cultural, que aderiu de tal modo ao imaginário social, que hoje é praticamente impensável outra denominação aos habitantes do Rio Grande do Sul, que não seja a de gaúchos, e que, todavia, não são caricaturas nem de guascas da cidade, nem de janotas do campo.This study aims at, through crossing different literary expressions on Rio Grande do Sul in the XIXth Century, following the course of terms “rio-grandense” and “gaucho”, mainly in regional and journey literature. By doing this, I intend to find changes in meaning of calling the inhabitants of Rio Grande do Sul, from 1847, with José Antonio de Vale Caldre Fião, the author of novel “A Divina Pastora”, which opens regional genre, to “O Vaqueano” and other stories by Apolinário Porto Alegre, in 1872. Thus, the main question of this research was to find when and why “rio-grandense” social being incorporates and is converted into a cultural being called “gaucho”, and which historical circumstances contribute to that change, which intentions guided the construction of the gaucho’s image as seen nowadays and how this making of has began and persisted along history.This rio-grandense’s cultural capital is the result of a historical construction, founded in struggles and fights nor produced neither conceived before by men of “belles lettres”, but rather represented in prose and verse, restored and embellished, retold according to their own visions in order to perpetuate memory. Nevertheless, it demands a constant cult to the past through a historical selective memory, once if historiography must bring some facts into light, it’s also true that those who write history can also be silent when necessary. Considering that in Província do Rio Grande de São Pedro the XIXth Century has come and gone under the spell of war, when constant crossfire was a backcloth to establishing of people’s identities, and that some of them were “monarchs” or “gauchos”, otheres fought as “Lusitanian-Brazilians” or “Hispanic-Platines”, and others were “Braziliangauchos”; and considering that Literature at that time deals with this continuous warlike condition in which the history of 1835’s Great Revolution will be acclaimed by the author’s writings in spite of historic authority, the many struggles for border maintainance like Paraguay War (1865-1870) and Federalism War (1893-1895) were relevant likewise. These were the most tense facts in the process of regional and national political assertion, recording in sul-rio-grandenses’ colective memory the smell of gun powder which pervaded the history of deep South of Brazil. Thus, History provided the necessary instruments to constitution of rio-grandenses’ way of being, and it’s a task for Literature to shape character, behavior and a name, in a continuous process of cultural constitution so attached to social imaginary, that today another name is unthinkable to call “gauchos” the inhabitants of Rio Grande do Sul. These “gauchos” are not caricatures of neither natives from the city, nor fops from the country.application/pdfporHistória do Rio Grande do SulIdentidade regionalHistória e literaturaDe rio-grandense a gaúcho : o triunfo do avesso : um processo de representação regional na literatura do século xix (1847-1877)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em HistóriaPorto Alegre, BR-RS2006mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000604511.pdf000604511.pdfTexto completoapplication/pdf1453186http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/11154/1/000604511.pdf0ee65795db8cfb000eda6cd006106f7dMD51TEXT000604511.pdf.txt000604511.pdf.txtExtracted Texttext/plain1152280http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/11154/2/000604511.pdf.txtedeecb4b74ee7edef9a193ee9f65a2b0MD52THUMBNAIL000604511.pdf.jpg000604511.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1279http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/11154/3/000604511.pdf.jpgc73f5307880f8abd438e1ed6a889c855MD5310183/111542018-10-08 08:22:52.24oai:www.lume.ufrgs.br:10183/11154Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-08T11:22:52Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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